"Essa transformação do entretenimento em militância, é claro, não deixa de ser acompanhada de uma profunda crise criativa”
Já comentei em diversas matérias para a extinta Revista Terça Livre sobre como a crise da inteligência vem afetando o mundo dos quadrinhos, com o avanço cada vez maior de pautas das agendas comunistas e progressistas (feminismo, gayzismo, multiculturalismo, ambientalismo, ideologia de gênero, ataques ao cristianismo, promoção do Partido Democrata e propaganda pró-China, entre outras coisas) nas histórias dos super-heróis.
Essa transformação do entretenimento em militância, é claro, não deixa de ser acompanhada de uma profunda crise criativa, com histórias e sagas cada vez mais soporíferas, em proporção direta ao engajamento dos roteiristas e artistas.
Agora, no entanto, não basta mais à sanha dos militantes destruir personagens que eram símbolos de valores opostos à mentalidade reinante nas oficinas dos quadrinhos das grandes editoras, é necessário também expurgar aqueles que não rezam a cartilha do establishment.
Foi o que aconteceu com o talentoso Joe Bennett, que por ser conservador já estava na mira dos justiceiros sociais há alguns anos. Recentemente, quando concluía uma das últimas séries bem-sucedidas da Marvel, “O Imortal Hulk” (e digo sem medo de errar que foi bem-sucedida justamente por apresentar o Hulk casca-grossa e não sojado que todos queremos ver), Joe foi acusado de antissemitismo por um colega com quem trabalhava havia 4 anos, sendo expurgado da editora sem direito a qualquer defesa. A acusação, é claro, era totalmente infundada e baseada em mentiras e narrativas, especialidade dos esquerdistas mais inescrupulosos (lembremos das acusações de antissemitismo e supremacismo branco contra o judeu Felipe G. Martins, que geraram uma trama surreal que durou meses e terminou há bem pouco tempo), e a grande mídia brasileira fez seu dever de casa, enquadrando devidamente Joe no rol das pessoas mais odiosas da face da Terra. Como diz o próprio Bennett, seu grande “erro”, aos olhos da Marvel e da velha imprensa, foi ser direita, conservador e patriota.
No entanto, como diz certo clichê, há males que vêm para o bem. Joe agora segue entusiasmado com novos projetos, um dos quais o Witch Stalker (em destaque na imagem), herói caboclo baseado em um parente desse também caboclo ilustrador acusado de ser “supremacista branco”.
Confira na entrevista abaixo a história de Joe Bennett e seus posicionamentos sobre a atual crise das HQs nas grandes editoras, e espere por muita coisa boa vindo das mãos de Joe!
Esmeril News: Joe, em primeiro lugar, fale um pouco sobre você. Quem é Joe Bennett, sua formação como ilustrador, suas principais influências etc.
Joe Bennett: Comecei profissionalmente com quadrinhos há 17 anos, mas comecei a aprender a desenhar aos 5 anos de idade. Meu pai me trouxe alguns gibis para eu ver, já que ainda não sabia ler, e aquilo me impactou muito, com todos aqueles desenhos, que eu comecei a copiar, passei anos copiando. Assim, ao mesmo tempo que eu me apaixonava por gibis, também me apaixonava pelo estudo de desenho, comecei a estudar muito, e começaram ali as minhas influências:
Jack Kirby,
José Luis García Lopez,
John Buscema,
Sal Buscema,
Hal Forster, esses caras todos me influenciaram.
Quando eu cheguei à adolescência, decidi mandar meus trabalhos para algumas editoras aqui no Brasil, que na época publicavam gibis de terror. Fiquei enviando esses trabalhos às editoras, até que um editor,
Franco de Rosa, gostou do meu trabalho e me deu meu primeiro emprego, isso em 1985.
Para eu me tornar Joe Bennet, foi uma outra história. Seis anos depois, em 1991, uma agência de São Paulo que queria levar desenhistas para serem representados nos Estados Unidos me convidou. Eu topei, mandei meus trabalhos para eles. Não foi fácil, demorou muito, tive que fazer muitas e muitas amostras, adaptar meu estilo de desenho para o estilo americano. Somente três anos depois eu consegui meu primeiro trabalho com um super-herói, em 94, na Marvel. Essa foi minha jornada inicial nos quadrinhos americanos.
Esmeril News: Recentemente você teve seus contratos com a Marvel encerrados. Como e por que isso aconteceu?
Joe Bennett: A razão alegada foi por causa de uma ilustração que fiz em 2017, uma charge política. Eu fazia poucos trabalhos para a Marvel naquela época, estava trabalhando mais para a DC Comics, e usaram essa ilustração contra mim agora. O escritor de O Imortal Hulk, Al Ewing, com quem eu estava trabalhando, distorceu totalmente o sentido da minha ilustração e me acusou de ser antissemita, de desenhar judeus como ratos. Na verdade, ali não havia nenhum judeu retratado, eram políticos brasileiros sendo enxotados por um personagem que criei muitos anos atrás, o Dragão da Independência, que foi baseado nos Dragões da Independência originais.
Veja que em 2017, quando fiz aquela ilustração, Jair Bolsonaro ainda não era nem candidato à Presidência da República, mas em 2018, quando houve a facada em 6 de setembro, eu fiquei muito indignado e republiquei a ilustração. Naquela época acabou acontecendo uma primeira tentativa de cancelamento, que não foi muito longe.
Agora, em 2021, depois de muito êxito com a série do Hulk, cuja última edição saiu em setembro, veio um novo ataque. Eu já havia terminado essa edição no final de agosto, e de repente, no Twitter, o Ewing, com quem eu havia trabalhado por quatro anos sem nenhum problema, publicou uma mensagem, que também me mandou por e-mail, de forma extremamente agressiva, infundada, cheia de ódio contra mim, me acusando de antissemitismo.
Meu grande “erro”, na verdade, é ser de direita, cristão e patriota. Aí, entre demitir um escritor da “Agenda” ou um conservador, é claro que optaram por laurear o primeiro e afastar o segundo, no caso, eu. Agora, a história de que fui demitido é uma grande falácia, pois eu não tinha carteira assinada com a Marvel, eram contratos independentes. Inclusive, eu já estava em um novo projeto com eles, havia produzido oito páginas, e eles me pediram para parar. As manchetes que foram veiculadas aqui no Brasil distorceram totalmente a história, como se eu houvesse sido demitido da Marvel pelo próprio Ewing. Não foi isso que houve. A editora me afastou desse outro projeto, e não do Hulk, cuja série já estava concluída.
Esmeril News: Essa perseguição a quem segue um pensamento contrário ao do atual establishment ideológico/cultural vem acontecendo há quanto tempo? Você conhece outros casos como o seu no ambiente das HQs?
Joe Bennett: Essa perseguição já vem acontecendo há uns bons anos. Conheço outros artistas, como
Chuck Dickson e
Ethan Van Sciver, são pessoas que foram perseguidas por serem de direita, e sobre eles caíram acusações das mais absurdas, como racismo e “supremacismo branco”.
Agora, quiseram colocar essa pecha em mim, o que não faz sentido. Como vou ser um supremacista branco, se sou caboclo, um mestiço da Amazônia? Minha mãe era descendente de índios e meu pai era descendentes de negros do Nordeste. Inclusive, o primeiro personagem que vou lançar nessa nova fase da minha vida é um herói da Amazônia que é um caboclo também. Que supremacista branco é esse? Que editora supremacista branca é essa que me convidou para trabalhar, que permite que um mestiço lance uma obra de um herói mestiço? Ou seja, é “preguiça” da imprensa e da esquerda de pensar um pouco. Eles preferem colocar o rótulo, virar de costas e ir embora.
Esmeril News: Há pelo menos 2 décadas que certo engajamento ideológico, com a adesão a e a propaganda de pautas progressistas e lacradoras (feminismo, gayzismo, ativismo ambiental, teoria de gênero, promoção aberta do Partido Democrata e propaganda pró-China nas histórias etc.) têm avançado cada vez mais intensamente sobre as duas grandes casas dos quadrinhos nos EUA, Marvel e DC. Como você encara essa situação, que inclusive tem se traduzido em uma enorme crise criativa?
Joe Bennett: Eu encaro da seguinte forma esse avanço da “Agenda” nesses quadrinhos americanos: é o fim. O quadrinho americano das “major” Marvel e DC vai acabar. O público que consome quadrinhos de super-heróis é cada vez menor. Os jovens de 12, 13 anos, não consomem mais esse tipo de quadrinhos, eles consomem muito mais mangás e produtos do gênero. Quem consome quadrinhos de super-heróis são caras como nós, pessoas com mais de 35 anos, e essas pessoas não querem mais consumir o que essas duas editoras estão oferecendo. É um fim dessas empresas.
Esmeril News: Mesmo sendo um duro golpe, sua saída da Marvel pode representar uma oportunidade de mudança e crescimento, no sentido de você poder ser mais livre, digamos assim, em seu trabalho. Você tem em mente novos planos e projetos?
Joe Bennett: O maior golpe foi a acusação injusta. Eu odeio injustiças, procuro ser um homem honrado, procuro sempre honrar meus compromissos com meus amigos e meus compromissos profissionais. Quando eu não posso fazer algo, digo que não posso fazer. Não gosto de mentira, não minto. Então, esse tipo de acusação que eu sofri, pra mim, é terrível, é algo que me fere muito. São acusações terríveis, principalmente tendo vindo de algumas pessoas nas quais confiei durante 4 anos, pessoas às quais fui leal durante esse tempo.
Mas, na verdade, vejo agora que fui liberto. A partir do momento em que cortaram essas asas e disseram pra mim “olha, você está ferrado, acabou pra você”, eu disse “não, não acabou não”. Ninguém consegue deter a arte, a arte é igual água: a esquerda é uma peneira, e nós, artistas de direita, somos a água, vamos passar por essa peneira, contornar, passar por dentro, e vamos continuar em frente. É isso o que eu vou fazer.
Tenho muitos plano sim, e o primeiro estou colocando em prática agora, um personagem de aventura que vou lançar pela editora americana
Arkhaven e também pela
Super Prumo, editora do meu amigo Luciano Cunha, aqui do Brasil. E tenho vários outros projetos, inclusive com personagens bem direcionados à história do Brasil. Meu objetivo é, através do super-herói e das histórias infanto-juvenis, mostrar para as crianças e para os jovens os valores em que acredito: pátria, família, o bem sempre vencendo o mal.
Acredito que o futuro seja um vasto campo agora na minha frente. Tenho que seguir em frente com alegria e determinação, estou me sentido um garoto de 25 anos, e tenho 53. Muita coisa ainda vai acontecer.
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LITERATURA
(por Leônidas Pellegrini)
Poema de São José de Anchieta
Ele pronto foi chamar
por desertos e povoados,
vales, montes elevados,
por rios e pelo mar,
seus rebanhos espalhados.
Com sua palavra sagrada,
os lobos afugentava.
Com sua palavra ajuntava
a manada dispersada
e segura a conservava.
Trinta e três anos inteiros
trabalhou o bom pastor,
todo vencido de amor,
recolhendo seus cordeiros
com incansável ardor.
E querendo se afastar
sem afastar-se de todo,
fez, para aqui ficar,
de si, prato singular,
por um soberano modo:
tendo perdoado as velhas
culpas do pastor primeiro,
este novo pegureiro
ordenou que suas ovelhas
o comessem por inteiro.
Sua carne e sangue real
deixou para que comessem,
e para sempre vivessem
com seu pastor eternal,
e a Ele se convertessem.
Porque o rebanho viver
não podia, sem sua morte,
escolheu, por boa sorte,
a morte na cruz sofrer,
em caridade tão forte.
Do madeiro de tal cruz
fez-se o leito tão amado,
onde o corpo judiado
deste bom pastor Jesus
de todo foi arrasado.
Dele se põem a verter
cinco fontes perenais,
e cinco rios caudais
pra de sede não morrer
o seu rebanho jamais.
O pastor perdeu sua vida
pela grei, que se perdeu,
e o chagado peito deu
para que fosse guarida
do gado que recolheu.
Ao me recolher, rasgastes,
ó, pastor, a vestimenta
carnal que aqui usastes,
e em vosso peito se assenta
o abrigo em que me guardastes.
Ganhai-me, pois me perdi!
(E perdestes vossa vida
pra que eu viva além daqui!)
Eu sou a ovelha perdida,
e de Vós sempre fugi…
Fazei que eu morra por Vós,
ó pastor tão amoroso,
pois sendo tão glorioso,
morreis por amor a nós,
em tormento tão penoso.
Poema da lírica castelhana de Anchieta, traduzido por Leônidas Pellegrini.
In: Poesias Completas, Editora Itatiaia, 2000 (págs 442 – 444).
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