Edição XXXII (Terça Livre, Revista A Verdade 62, Revista Esmeril 25, Opinião e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista A Verdade, da qual sou assinante, e outras publicações de outras fontes à minha escolha. Nenhum texto aqui pertence a mim (exceto onde menciono), todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.


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ÍNDICE

REVISTA A VERDADE

    A ‘nova ordem mundial’ e a mídia planificada (Carlos Adriano Ferraz)
    - Brasília e os heróis de areia (Gustavo Victorino)

REVISTA ESMERIL

    - A Concentração de Capital (Antonio Fernando Borges)

    - Finados (Leônidas Pellegrini)

    - O que os olhos não veem: nova HQ remonta a corrupção da Era PT e facada em Bolsonaro (Leônidas Pellegrini)

    - Entrevista com Joe Bennett (Leônidas Pellegrini)

    - O bom pastor (São José de Anchieta, traduzido por Leônidas Pellegrini)

BRASIL SEM MEDO

    - Quando a poesia encontra a história (Paulo Briguet)

ALLAN DOS SANTOS

    - O Brasil está acostumando-se com a barbárie

MEMÓRIA TERÇA LIVRE

    - Uma espécie em extinção? (Carlos Maltz, Rev. TL ed. 1)

    - Um pouco sobre Tavares Bastos… (Luis Vilar, Rev. TL ed. 1)

PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO

OPINIÃO DO AUTOR
    - 
Eu, você, e o nosso inimigo, parte 2

HUMOR 

LEITURA RECOMENDADA

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Boa leitura, e uma boa Terça Livre pra você!!

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👆 Com a palavra, Terça Livre!

 
O Terça Livre jamais pode ser esquecido. Por essa razão, esta seção aqui buscará cobrir o buraco que ficou no meu blog após o fim da empresa, dando a vocês links e caminhos fáceis para saberem o que os seus ex-membros estão pensando e onde encontrá-los sempre e com facilidade.

ALLAN DOS SANTOS:
você pode encontrar Allan através de três endereços que são os principais que ele usa agora: o próprio site dele (assine se puder, e acompanhe)Telegram e agora a rede social americana Clouthub; mais conteúdos e comentários dele ainda podem ser achados no YouTube (não sei ainda por quanto tempo) através do perfil não-oficial Artigo 220 (apenas trechos de vídeos antigos), Gettr e o Bom Perfil. O Terça Livre acabou, mas os produtos do Terça Livre, vinculados agora à empresa americana TL TV, cujo único proprietário é o Allan, podem ainda serem acessados por este endereço, incluindo todas as 119 edições da Revista Terça Livre, os Diários Terça Livre, os cursos do Terça Livre Escola, Terça Livre Academia e as Masterclasses, sem contar cortes de vídeos de boletins antigos.

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ÍTALO LORENZON: você poderá achar o Ítalo a partir de seu canal no YouTube, o Estudos Políticos, pelo canal Lives do Ítalo também lá no YouTube, pelo Telegram, pelo Gettr, pelo Twitter e pelo Instagram. Ítalo agora não é mais sócio do Allan, então ele não vai saber informar sobre o que o ex-sócio está fazendo nos EUA, mas apenas e tão somente sobre suas próprias atividades.

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MAX CARDOSO: você encontra o Max agora pelo seu próprio canal no YouTube, que se tornou sua principal fonte de renda com seus estudos de filosofia e teologia. Também poderá encontrá-lo pelo Telegram, pelo seu Twitter e pelo Instagram.

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CARLOS DIAS: agora o Carlos não aparece mais diante das câmeras, somente se pronuncia através do seu jornal, o Portal Factum, que tem também um perfil no YouTube, porém sem vídeos desde 2019, e através de seu Twitter, bem esporadicamente.

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KASSIO FREITAS: Kassio agora se comunica pelas suas contas no Telegram, no Instagram e no seu Twitter. Não atua mais como jornalista, segundo ele, fazia o Terça Livre como missão, mas vai ficar afastado do jornalismo, tocando a sua empresa que já tinha antes de embarcar no Terça.

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PEDRO ALAER: o ex-apresentador do programa Invasores no Terça Livre e participante do extinto quadro Zoeira da Tarde não tem mais sido visto recentemente. Tem uma conta no Instagram, mas não parece ter postado coisa alguma em tempos recentes. Provavelmente não vai se comunicar mais por um bom tempo.

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PAULO FIGUEIREDO: encontre Paulo Figueiredo agora pelo seu canal no YouTube, o Conexão América, além do novo programa ConservaTalk que se iniciou semana passada, todas as Segundas-Feiras, contando com Paulo, Ricardo Salles, Ernesto Araújo, Abraham Weintraub e outros conservadores formando um time de peso; encontre-o também no Telegram, no Gettr e no Twitter.

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JOSÉ CARLOS SEPÚLVEDA: o famoso "Seu Sepúlveda" pode ser encontrado pelo seu canal no YouTube, pelo canal do PHVox em programas como o Conexão Europa e o Análise da Semana por exemplo, e também pelas suas contas no Gettr, no Twitter e no Facebook.

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OPINIÃO


👆 A ‘nova ordem mundial’ e a mídia planificada
(por Carlos Adriano Ferraz)

Um dos aspectos centrais da chamada ‘nova ordem mundial’ é o seu caráter planificador. Isso significa que ela se opõe radicalmente à espontaneidade e às particularidades. Noutros termos, ela tende a impor a hegemonia.

Esse é, aliás, um de seus elementos tipicamente socialistas. Afinal, quando estudamos, por exemplo, a distinção entre socialismo e liberalismo, se sobressai o fato de no liberalismo haver um foco na “ordem espontânea”, não planificada, bem como no indivíduo (em sua liberdade individual). O socialismo, por seu turno, é marcado pela mentalidade planificadora (ou centralizadora), a qual pretende impor, à realidade, ideias engendradas artificialmente. E, diferentemente do liberalismo, ele é fortemente coletivista. Um dos exemplos mais comuns da mentalidade planificadora é a imposição de uma economia planificada, na qual os gestores decidem, desde suas mentes, o que produzir, em que quantidade produzir, os preços, etc. O resultado, todos conhecemos: miséria. O liberalismo, por sua vez, foca no aspecto espontâneo da ordem econômica, naquilo que autores como Mises e Hayek chamavam de ‘catalaxia’. Isso significa que, em uma economia de mercado, preços, quantidade a ser produzida, etc, seriam decisões oriundas dos indivíduos. Ou seja, as vontades individuais, somadas, determinariam quanto um determinado bem custaria, qual quantidade seria produzida, etc.

Assim, desde o ponto de vista liberal os indivíduos são livres para escolher. E suas escolhas determinam a economia, a cultura, a educação, etc. Acrescente-se que, ainda em acordo com o liberalismo, os indivíduos possuem alguns direitos fundamentais, “naturais”, como a vida e a liberdade (individual).

No entanto, estamos imersos em uma cultura cada vez mais planificada. E a ideia central da chamada nova ordem mundial é justamente estabelecer um mundo planificado de jaez socialista (que aqui se identifica, em aspectos centrais, com ‘globalista’).

Dessa forma, a ideologia que subjaz à ideia mesma de uma nova ordem mundial é planificadora em âmbito global. Trata-se de impor uma ideia de sociedade global regida por uma elite, a mesma que nesse momento está a manipular nossas instituições para assegurar o avanço dessa ideia de sociedade global (globalismo). E isso ocorre porque o socialismo nunca foi sobre causar a ascensão dos grupos menos favorecidos. Como a realidade nos revela, o socialismo sempre foi sobre levar um pequeno grupo ao poder, enquanto a maioria jaz na miséria. Tal foi o que ocorreu em todas as sociedades que tentaram implantar o socialismo.

Hoje, não obstante, a ideia de uma nova ordem mundial, globalista, é justamente realizar esse propósito em âmbito global, estabelecendo no mundo uma ordem na qual há uma elite se sobrepondo à maioria da população mundial.

Assim, a ideia é transformar o mundo em uma ordem única, com os mesmos valores, a mesma religião, etc, bem como a mesma mídia. Na verdade, se trata de impor, em nível mundial, aquilo que se tem tentado em alguns países desde a revolução russa. Ou seja, aquelas tentativas locais que ocorreram ao longo de um século estão em vias de ser implementadas em nível global, dessa vez com o apoio dos grandes conglomerados, dos quais cabe destacar os seguintes: Big Tech, Big Media e Big Pharma. A intenção é antiga, mas os meios surgiram apenas recentemente.

Mas o que quero ressaltar é que, desde o ponto de vista da mídia, também temos uma planificação. Não é por mera coincidência que lemos as mesmas notícias nos mais diversos jornais, tampouco que escutamos as mesmas falas nos noticiários. A base de milhares de jornais e redes de notícias é a mesma, a saber, conglomerados tais quais ‘Time-Life’, ‘Reuters’, ‘Associated Press’, ‘France Presse’, ‘The New York Times’, ‘Sygma’, os quais estão entre os mais influentes em âmbito global. Há, também, o ‘Project Syndicate’, ligado à fundação ‘Open Society’, de George Soros, mediante o qual são produzidos milhares de materiais, encaminhados para milhares de jornalistas ao redor do mundo. Ou seja, agências como ‘Project Syndicate’ determinam o que será notícia, qual será a orientação daquilo que será noticiado, etc. E, tendo em mente o que sabemos sobre George Soros e sua ‘Open Society’, podemos ter uma ideia da ideologia por detrás das notícias que nos chegam. Não surpreende, pois, que elas costumem estar profundamente alinhadas com a típica agenda dita “progressista”, ou seja, favorável à glamourização da vulgaridade, da promiscuidade, do uso de drogas, bem como do aborto, da agenda ambientalista, da ideologia de gênero, etc.

Dessa forma, é inquestionável a existência de um monopólio no plano da informação. Tal hegemonia marca o ocaso da liberdade de imprensa. Lamentavelmente, a população, em geral, consome essa (des)informação em ampla escala. Emissoras de televisão, grandes órgãos da imprensa, agências internacionais, etc, estão sob o domínio dos grandes conglomerados da elite global e se limitam a simplesmente reproduzir o que lhes chega desses grandes conglomerados internacionais.

Por outro lado, a mídia chamada de “alternativa” é aquela em que ainda parece viger alguma liberdade de imprensa. Mas ela é um obstáculo para a elite globalista. Por essa razão estamos testemunhando, nesse momento, uma perseguição implacável àqueles meios de comunicação que ousam ser livres para noticiar. Exemplos de liberdade de imprensa nós ainda os encontramos no Jornal da Cidade Online e na revista ‘A Verdade’. Mas não são poucos os obstáculos enfrentados por aquelas mídias que ainda fomentam a liberdade de imprensa, o pensamento crítico, etc.

Mas, se não bastasse a existência dos conglomerados que citei acima, ainda há projetos como o ‘Project Origin’, coordenado pela BBC e pela Microsoft, ou seja, pela ‘Big Media’ e pela ‘Big Tech’. Tal projeto agrega as principais agências globalistas para assegurar – em nível mundial - o que é a verdade, determinando o que são as chamadas “fake News”. Trata-se de uma espécie de “tribunal da verdade”, com o poder auto concedido de definir o que sejam notícias dignas de serem divulgadas, incorrendo naquilo que John Stuart Mill chamou de “presunção de infalibilidade”, isto é, definindo qual posição é a correta em detrimento da possibilidade de se colocar argumentos diversificados durante o debate. Exemplos dessa “presunção de infalibilidade", atualmente abundam na mídia planificada. A atual pandemia despertou um espírito dogmático jamais visto na mídia. Dessa forma, nos dias que correm a liberdade de imprensa tem sido, inclusive, criminalizada em diversos casos. Jornais têm sido desmonetizados, jornalistas têm sido presos, e isso por rejeitarem a “presunção de infalibilidade” imposta pela mídia planificada.

Com efeito, o grande problema, segundo vejo, é assumir-se certas ideias como dogmas, como propostas infalíveis, ignorando todos os elementos que lhes são contrários e que apontam para o seu aspecto, no mínimo, controverso. Além disso, ao partir da “presunção de infalibilidade”, a mídia planificada rejeitaria a busca pela verdade. Como ainda podemos depreender do texto de Mill, “todo silencio que se impõe à discussão equivale à presunção de infalibilidade”. Quem julga ter encontrado a verdade oblitera, pois, sua busca. Assim, mesmo que se esteja certo sobre algo, sufocar a busca pela verdade é, segundo Mill, sempre um mal. Afinal, do ponto de vista de Mill a “liberdade de imprensa” nos ajuda na busca pela verdade. Ela é um dos instrumentos de busca pela verdade. Portanto, assume-se, aqui (no plano da liberdade de imprensa), que estamos, de fato, buscando pela verdade, e não pela satisfação de uma mera inclinação ou pela defesa de alguma idiossincrasia. Trata-se de um princípio de senso comum o princípio de acordo com o qual somos, dada nossa natureza racional, naturalmente impulsionados à busca pela verdade. E tal busca – bem como nossa plena realização humana - está em risco na medida em que liberdade de expressão e liberdade de imprensa são cerceadas e, mesmo, anuladas.

Urge, pois, identificarmos a mídia planificada e buscarmos pela verdade fomentando a liberdade de imprensa, a qual pode ser identificada claramente: ele destoa da visão dogmática.


Carlos Adriano Ferraz é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). É professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

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👆 Brasília e os heróis de areia
(por Gustavo Victorino)

Mas afinal, qual o critério que o tecido social brasileiro tem para criar seus heróis?

Ao longo do tempo os exemplos se multiplicaram em decepções que em alguns casos beirou o constrangimento.

Na terra em que um fato isolado ou uma simples bandeira comportamental cria heróis do dia para a noite, os verdadeiros heróis ficam sublimados pela forma distorcida de se reconhecer caráter e conduta em nosso país.

Chamar de heróis uma dúzia de personagens insignificantes e em alguns casos até desprezíveis em um programa de televisão soa até ofensivo para quem conhece a verdadeira definição de herói e heroísmo.

Durante décadas fomos escravos e reféns de opiniões distorcidas e manipuladoras que nos levavam a admirar personagens pinçados de uma sociedade sem verdades, contestações e completa informações dos fatos que cercavam essa idolatria.

E criamos os heróis de areia...

A tecnologia nos trouxe de presente a informação e a possibilidade de conhecer a fundo esses pseudo heróis construídos por opiniões e relatos tendenciosos e factuais.

O herói não tem relatividade no caráter, não tem louvor por circunstancia, não tem bandeira monocromática... herói tem postura e dignidade 24 horas por dia.

Nesse contexto, somos uma nação que notadamente ainda está aprendendo a lidar com esses vetores de reconhecimento dos verdadeiros heróis.

Um herói verdadeiro não trai, não omite, não dissimula, não se vitimiza e muito menos torna vilão quem dele discorda.

Um herói é transparente e sempre se sabe o que dele esperar.

Diante dessa realidade a construção de heróis de ocasião vendo sendo uma prática reiterada em nosso país, e tudo isso atendendo a interesses políticos nem sempre claros.

No Brasil se promove maniqueístas, oportunistas e dissimulados de vertentes políticas que tem como único objetivo chegar à chave do cofre público.

Nossa história é rica em exemplos e a esquerda brasileira se tornou pródiga nisso ao longo das últimas décadas nos fornecendo exemplos claros de como corruptos e aproveitadores podem se unir sob pretexto de uma ideologia que no fundo busca exclusivamente o poder como um fim em si mesmo.

Cuidado na hora de escolher o seu herói... Você pode estar acariciando o lobo e não o cordeiro ou o bandido que traiu o mocinho!

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REVISTA ESMERIL - Ed. 25, de 24/10/2021 (Uma publicação cultural digital e mensal de Bruna Torlay. Assinar a revista



O QUE HÁ DE ERRADO COM...


👆 A Concentração de Capital



(por Antonio Fernando Borges)


Distributismo: a boa-nova que nunca foi tentada

A
 primeira pergunta que há de ocorrer ao leitor medianamente distraído (e não muito acostumado à variedade de assuntos filosóficos, literários e apologéticos de Chesterton) é: mas, afinal, o que o grande escritor inglês está fazendo numa edição sobre a dinâmica e as crises do mercado financeiro?! E, posto a prosseguir na mesma trilha de perguntas: o Gordo se pareceria mais com o touro ou o urso, os dois animais que metaforizam o sobe-e-desce no mundo dos investimentos? Anatomicamente, é claro que a resposta poderia ser… qualquer dos dois. Mas não é disso que se trata. Chesterton foi sempre bem maior do que Chesterton – e, como ele mesmo alertou: “Só uma coisa é necessária: tudo. O resto é vaidade das vaidades”. Portanto, leitor impaciente, não vire a página ainda!

Em 1930, quando os EUA eram a locomotiva descontrolada de um trem que quase saiu dos trilhos, no ramal conhecido como a Grande Depressão, fazia já muito tempo que Chesterton tinha superado a sua prostração pessoal… Difícil imaginar, se nos ativermos à sua figura sorridente dos anos maduros, mas a verdade é que antes de se tornar o católico alegre e corajoso, ele atravessou uma longa noite juvenil de solipsismo agnóstico e depressivo.

Felizmente, àquela altura, tudo isso era já um passado distante. Afinal, desde 1901 Chesterton estava casado com Frances Blogg – uma união que durou até o fim da vida dele (1936). E, de mãos dadas, depois de atravessar um lento e seguro processo de conversão cristã, a partir de 1922 o casal viveu em plena comunhão com a Igreja Católica. Se a vida ia bem, sua obra também prosperava, marcada por uma série de pontos altos: além de romances, ensaios e dos clássicos apologéticos Hereges e Ortodoxia, o fecundo polígrafo já tinha sistematizado em letra de forma sua visão socioeconômica do mundo, nos livros O Que Há de Errado com o Mundo (1910) e Um Esboço da Sanidade – Pequeno Manual do Distributismo (1926). E eu até arriscaria dizer (sem abusar do direito de fazer conjecturas e especulações) que o mundo real da economia e da política teria se saído muito melhor, e trilhado caminhos menos desastrosos, se alguém tivesse colocado suas ideias em prática.

A rigor, por sua multiplicidade e extensão, a obra de Gilbert Keith Chesterton se assemelha a um casarão colorido e ensolarado, com muitas portas de entrada. E confesso que é difícil resistir à tentação de apresentar suas ideias por meio de longas citações dos próprios textos. Porque, no fim das contas, todo esforço de resumo acaba resultando numa miniatura pálida – como a vã tentativa de fazer caber todo o Saara numa simples ampulheta. Mas não custa tentar.

São dois títulos, de duas épocas, mas com a mesma intenção benigna: tornar o mundo um lugar melhor. De um lado (no livro de 1910), o esforço é identificar os erros pontuais da realidade. em variados aspectos, para em seguida tentar corrigir o “conjunto da obra”  – quer dizer, o mundo. De outro (no livro de 1926), há um propósito mais ambicioso, de delinear um modelo sadio de entendimento e ação, em meio à loucura da sociedade, naquele início de século. E assim o que no primeiro livro eram perguntas soltas (o que está errado, nisso e naquilo?) ganha no segundo a forma de um rascunho bem-intencionado de uma solução, anunciada desde o subtítulo: o distributismo.

Também chamado por alguns de “distribucionismo” ou “distributivismo”, o distributismo, em linhas gerais, é a espinha dorsal da teoria político-econômica desenvolvida por Chesterton em parceria com o escritor e historiador Hilaire Belloc (1870-1953), nascido na França mas naturalizado e atuante na Inglaterra. Couberam a Belloc os primeiros passos do projeto, cujo ponto mais atraente era o de se opor tanto ao capitalismo quanto ao comunismo, numa defesa intransigente da propriedade privada como única chance de liberdade e dignidade para o homem.

Se o leitor pensou numa famigerada “terceira via”, tão sugerida hoje em dia pelo laxismo dos liberais, posso adiantar: errou feio. Na origem da ideia, encontra-se algo muito mais grandioso e sublime: a Doutrina Social da Igreja, que tem como um dos marcos inaugurais a encíclica Rerum Novarum (literalmente, Sobre as Coisas Novas), publicada em 15 de maio de 1891 pelo Papa Leão XIII. Era uma primeira resposta da Igreja às questões levantadas a partir das “novidades” (as tais “coisas novas”) vindas a reboque da Revolução Industrial e dos regimes democráticos implantados na Europa desde o fim do século XIX.

Numa breve síntese, feita a partir do Tópico 89 do Compêndio da Doutrina Social da Igreja, a Rerum Novarum examina a condição dos trabalhadores assalariados, que era particularmente penosa para os operários das indústrias, “afligidos por uma indigna miséria”. A questão operária é abordada em sua verdadeira amplitude, nos principais aspectos sociais e políticos, deslocando-se o foco da discussão para os princípios da Doutrina Católica e suas raízes na Lei Natural.  Já de saída, isso exclui a opção comunista como remédio, mas não poupa o Capitalismo de sua profunda responsabilidade.

Tudo isso pertence à História e já é minimamente conhecido. Mas é preciso avançar, se quisermos analisar as contribuições de Chesterton e seu amigo-parceiro Belloc para o desdobramento do tema. E não foram poucas, nem pequenas.

Hilaire Belloc apresentou sua crítica central ao Capitalismo – que logo seria incorporada e desenvolvida por Chesterton nos artigos que integram Um Esboço… – no livro Servil State (Estado Servil), de 1913. Seu diagnóstico tinha por foco principal a grave acusação de que, neste sistema econômico, “os meios de produção ficam limitados a um número muito pequeno de cidadãos” e só a esses poucos proprietários a legislação oferece proteção e garantias. Em contrapartida, a massa que compõe o Estado capitalista, constituída por proletários, vê-se condenada a uma profunda servidão – marcada, segundo Belloc, pela ação de uma “legislação positiva” que só promove direitos e privilégios aos que possuem os meios para produzir.

Até aqui, não parece muito diferente do conteúdo de qualquer “Manual Prático de Comunismo Aplicado”. A novidade começa quando a dupla Chesterton-Belloc – ou “Chesterbelloc”, conforme o apelido cunhado por George Bernard Shaw – conclui e adverte que o problema primordial não é o Capital em si, tão demonizado pelos comunistas. A rigor, a questão efetiva é sua concentração na mão de poucos. Mas a equação ficaria capenga se não trouxesse também o “alerta vermelho” (sem trocadilhos) de que a solução comunista é uma das piores partes do problema. Seja nas mãos (sempre poucas) da “iniciativa privada”, seja nas do Estado, o fato é que a riqueza concentrada é no fim das contas injusta, cruel e perigosa.

Outra grande novidade da teoria do distributismo é que, logo no início de Um Esboço de Sanidade, Chesterton se adianta em separar com clareza (e na maioria dos casos, contrapor) os dois conceitos: iniciativa privada x propriedade privada. Neste ponto, vale a pena uma transcrição literal:

“O próprio fato de que os jornalistas falem tanto desta [iniciativa] e tão pouco daquela [propriedade] é, em si, uma medida do tom moral dos nossos tempos. Um batedor de carteiras é obviamente um campeão da iniciativa privada. Mas seria, talvez, um exagero dizer que um batedor de carteiras é um campeão da propriedade privada. O problema com o capitalismo e o mercantilismo, tal como têm sido propagados ultimamente, é que eles são realmente defendidos como uma extensão do comércio, e não como uma preservação dos bens e pertences de alguém. (…)  O problema com o comunismo é que ele apenas tenta corrigir o batedor de carteiras eliminando a existência dos bolsos”.
Capítulo 1, “O Início da Discussão”

Bem-vindos ao gênio original e brilhante de Chesterton, que em vários pontos divide as honras do espetáculo com Belloc. Mas também brilha – e muito – em carreira solo, ao propor nada menos do que a pulverização do capital e das riquezas, ao mesmo tempo em que denuncia que o Comunismo não trata disso, e até o proíbe e impede. Cada homem, diz Chesterton, deve ter direito a um mínimo de “três alqueires e uma vaca”, para a partir desse patrimônio inicial multiplicar seus bens e construir sua família.

(Esta, por sinal, é outra novidade do distributismo: a ideia de que o núcleo é sempre familiar, e não “social” ou “político”.)

O Comunismo, em outras palavras, não “socializa”: todas as vacas e todos os alqueires, antes concentrados nas mãos de um punhado de “empresários malvadões”, passam a estar concentrados nas mãos de um punhado de “burocratas ambiciosos e arrogantes”. A única solução, e a única esperança, é a desconcentração – ou, nas palavras do autor, “o único passo adiante a ser dado é o passo para trás”.

Em O Que Há de Errado com o Mundo, Chesterton fulmina com um golpe único e certeiro as teorias e práticas sociologizantes que mais complicam do que resolvem a questão social. Eis outra transcrição preciosa:

“Essa é uma das 50 falácias que têm origem na moderna compulsão por metáforas biológicas. É conveniente falar de um Organismo Social, como é conveniente falar da Inglaterra como o ‘Leão Britânico’. (…) Mas, a partir do momento em que damos a uma nação a unidade e a simplicidade de um animal, começamos a raciocinar de uma forma selvagem. Não é porque todo homem é um bípede que 50 homens serão uma centopeia”.
Capítulo “O Erro Médico”

Bingo, mais uma vez! Se você descreve uma “doença social”, acaba incorrendo no erro de prescrever um “remédio social”. E é assim que o coletivismo vai engolindo cada vez mais a dignidade individual, que só pode se manter íntegra nos limites do núcleo familiar. “Que todo negócio seja um pequeno negócio”, recomenda Chesterton – e, onde quer que sejam necessários negócios de grande porte, o aconselhável é que eles sejam governados por uma corporação, que combina suas contribuições e divide os resultados.

A bem da verdade – e em defesa da boa-fé da proposta –, é importante ressaltar que o distributismo foi sobretudo um movimento de ideias. Em suma: nenhum Partido ou Sindicato o levantou ou defendeu como bandeira. É fato que chegou a existir uma Liga Distributista, fundada em setembro de 1926, e Chesterton foi seu primeiro presidente. Tratou-se, no entanto, de uma agremiação intelectual, que rendeu muitos artigos na imprensa – mas se você olhar em volta, leitor, vai perceber facilmente: a ideia nunca vingou. Talvez porque, pela própria natureza imperfeita do homem, propostas assim pressupõem fanatismo de princípios e brutalidade nos meios – ou, em palavras mais cruas: decretos, tirania, confisco. A contrapartida positiva é que o distributismo não carrega nas costas nenhum prontuário de mortos e feridos. De um jeito ou de outro, salvaram-se todos…

Que o leitor me perdoe este retrato diminuto e talvez pálido que apresentei. Mas um artigo capaz de explorar todos os aspectos de livros e ideias tão requintados precisaria ser tão extenso quanto as próprias obras comentadas. Seria semelhante à missão de um cartógrafo obsessivo e perfeccionista que, ao desenhar o mapa de uma cidade em todos os detalhes, acabasse por reconstruir em pergaminho uma cópia da cidade, em tamanho real – exata, redundante e, portanto, desnecessária.

Que este artigo possa ao menos funcionar como mensagem lançada ao mar numa garrafa imaginária, espalhando a boa-nova de que, em algum lugar do reino das ideias (quer dizer, num recanto potencial do mundo real), existe uma proposta que foi abandonada não por não ter dado certo, mas simplesmente porque nem sequer foi tentada. Não é pouca coisa, convenhamos.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2021

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Esmeril, conteúdo gratuito de 2-7 de Novembro - LITERATURA




👆 Finados
(por Leônidas Pellegrini)
(TdL: Leônidas é um cara que já considero meu amigo, mesmo estando distante, e por isso sempre terá espaço garantido no meu blog, escreva de onde escrever.)

I

Dos bisos conheci o Nona e a Nono,

avós do pai, bem pouco conhecidos,

na verdade, em seus mundos recolhidos,

alçados quase à mente em abandono,

 

não fosse o pai, que os imortalizou

em diversos registros literários

(relatos, crônicas e versos vários)

e aqui em meu coração os radicou.

 

Também avós do pai foram João

e Sebastiana, heróis de guerra e vida,

causos contados pela avó querida

e pelo pai, com sua imaginação.

 

Avós da mãe, só uma conheci

de ouvir falar, Vó Lola, muito amada

por minha mãe, com tal amor contada,

que dela sinto tudo o que não vi.

 

II

Também não conheci Vô Manuel,

mas de sua honra e coragem ouvi tanto,

que até me causaria certo espanto

se acaso não morasse ele no Céu.

 

A esposa desse avô, a Vó Maria,

de Deus filha fiel, feliz beata,

o Rosário rezava sempre grata,

e ensinou-me o Pai-Nosso e o Ave-Maria.

 

Também era Maria a outra avó,

bocuda, desbocada e barraqueira;

tão querida, que quando aqui se esgueira

na memória, no peito eu sinto um nó.

 

Vô Domingos valia um livro inteiro

de versos só para este avô paterno,

tão bom, e forte, e amável, e tão terno,

foi motorista e atleta, e foi barbeiro,

 

e em regime integral, avô querido,

meu “pai” na prima infância e meu padrinho.

Não me vexo em dizer que este santinho

é entre todos os avós, meu preferido.

 

III

Ainda entre os avós, mas sendo tio,

irmão do Vô Domingos foi Tio Clério,

alegre e piadista, e nunca sério,

lembrei dele e meu coração sorriu…

 

Há mais de duas décadas Tio Zé

levado por um câncer foi embora.

Nas fotos, um pequeno eu de outrora

no colo desse tio sorri até.

 

Tia Lula, sua esposa, foi há pouco,

numa queda que a coxa lhe rompeu,

e quando nela penso, escuto eu

o peito da minha mãe chorando rouco.

 

Também de câncer foi minha madrinha

Tia Ly, entre amarguras e perdões;

por ela peço aos anjos guardiões,

a São José e à nossa Mãe Rainha.

 

IV

Com misto de tristeza e de saudade,

nestes versos eu trouxe aqui cantados

de memória meu mortos, meus finados,

que um dia espero ver na Eternidade.

 

Que Deus se apiede deles e de mim,

para que eu possa vê-los novamente,

na Cruz unida toda a minha gente,

no Céu felizes para sempre enfim.

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ESMERIL NEWS | UNIVERSO GEEK


👆 O que os olhos não veem: nova HQ remonta a corrupção da Era PT e facada em Bolsonaro
(por Leônidas Pellegrini)

Começou nesta quarta-feira (3) a campanha para publicação da HQ “O que os olhos não veem”, do estreante artista Jhonas Afonso Vieira.

Constando de 60 páginas, a HQ envolve atuação do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional nos casos de corrupção da Era PT no Brasil, chegando a culminar na facada que (quase) mudou nossa história em 2018.

A campanha de financiamento ficará aberta por 70 dias na plataforma da Catarse e pode ser acessada no seguinte link: https://www.catarse.me/oqueosolhosnaoveem. A previsão para lançamento é para janeiro de 2022.

Será Jhonas um talento em que devemos apostar? Só mesmo apostando para saber. Fiquemos de olho. Por aqui, um exemplar já foi garantido.

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ESMERIL NEWS | ENTREVISTA


👆 Entrevista com Joe Bennett
(por Leônidas Pellegrini)

"Essa transformação do entretenimento em militância, é claro, não deixa de ser acompanhada de uma profunda crise criativa”


Já comentei em diversas matérias para a extinta Revista Terça Livre sobre como a crise da inteligência vem afetando o mundo dos quadrinhos, com o avanço cada vez maior de pautas das agendas comunistas e progressistas (feminismo, gayzismo, multiculturalismo, ambientalismo, ideologia de gênero, ataques ao cristianismo, promoção do Partido Democrata e propaganda pró-China, entre outras coisas) nas histórias dos super-heróis.

Essa transformação do entretenimento em militância, é claro, não deixa de ser acompanhada de uma profunda crise criativa, com histórias e sagas cada vez mais soporíferas, em proporção direta ao engajamento dos roteiristas e artistas.

Agora, no entanto, não basta mais à sanha dos militantes destruir personagens que eram símbolos de valores opostos à mentalidade reinante nas oficinas dos quadrinhos das grandes editoras, é necessário também expurgar aqueles que não rezam a cartilha do establishment.  

Foi o que aconteceu com o talentoso Joe Bennett, que por ser conservador já estava na mira dos justiceiros sociais há alguns anos. Recentemente, quando concluía uma das últimas séries bem-sucedidas da Marvel, “O Imortal Hulk” (e digo sem medo de errar que foi bem-sucedida justamente por apresentar o Hulk casca-grossa e não sojado que todos queremos ver), Joe foi acusado de antissemitismo por um colega com quem trabalhava havia 4 anos, sendo expurgado da editora sem direito a qualquer defesa. A acusação, é claro, era totalmente infundada e baseada em mentiras e narrativas, especialidade dos esquerdistas mais inescrupulosos (lembremos das acusações de antissemitismo e supremacismo branco contra o judeu Felipe G. Martins, que geraram uma trama surreal que durou meses e terminou há bem pouco tempo), e a grande mídia brasileira fez seu dever de casa, enquadrando devidamente Joe no rol das pessoas mais odiosas da face da Terra. Como diz o próprio Bennett, seu grande “erro”, aos olhos da Marvel e da velha imprensa, foi ser direita, conservador e patriota.

No entanto, como diz certo clichê, há males que vêm para o bem. Joe agora segue entusiasmado com novos projetos, um dos quais o Witch Stalker (em destaque na imagem), herói caboclo baseado em um parente desse também caboclo ilustrador acusado de ser “supremacista branco”.

Confira na entrevista abaixo a história de Joe Bennett e seus posicionamentos sobre a atual crise das HQs nas grandes editoras, e espere por muita coisa boa vindo das mãos de Joe!

Esmeril News: Joe, em primeiro lugar, fale um pouco sobre você. Quem é Joe Bennett, sua formação como ilustrador, suas principais influências etc.

Joe Bennett: Comecei profissionalmente com quadrinhos há 17 anos, mas comecei a aprender a desenhar aos 5 anos de idade. Meu pai me trouxe alguns gibis para eu ver, já que ainda não sabia ler, e aquilo me impactou muito, com todos aqueles desenhos, que eu comecei a copiar, passei anos copiando. Assim, ao mesmo tempo que eu me apaixonava por gibis, também me apaixonava pelo estudo de desenho, comecei a estudar muito, e começaram ali as minhas influências: Jack Kirby, José Luis García Lopez, John Buscema, Sal Buscema, Hal Forster, esses caras todos me influenciaram.

Quando eu cheguei à adolescência, decidi mandar meus trabalhos para algumas editoras aqui no Brasil, que na época publicavam gibis de terror. Fiquei enviando esses trabalhos às editoras, até que um editor, Franco de Rosa, gostou do meu trabalho e me deu meu primeiro emprego, isso em 1985.

Para eu me tornar Joe Bennet, foi uma outra história. Seis anos depois, em 1991, uma agência de São Paulo que queria levar desenhistas para serem representados nos Estados Unidos me convidou. Eu topei, mandei meus trabalhos para eles. Não foi fácil, demorou muito, tive que fazer muitas e muitas amostras, adaptar meu estilo de desenho para o estilo americano. Somente três anos depois eu consegui meu primeiro trabalho com um super-herói, em 94, na Marvel. Essa foi minha jornada inicial nos quadrinhos americanos.

Esmeril News: Recentemente você teve seus contratos com a Marvel encerrados. Como e por que isso aconteceu?

Joe Bennett: A razão alegada foi por causa de uma ilustração que fiz em 2017, uma charge política. Eu fazia poucos trabalhos para a Marvel naquela época, estava trabalhando mais para a DC Comics, e usaram essa ilustração contra mim agora. O escritor de O Imortal Hulk, Al Ewing, com quem eu estava trabalhando, distorceu totalmente o sentido da minha ilustração e me acusou de ser antissemita, de desenhar judeus como ratos. Na verdade, ali não havia nenhum judeu retratado, eram políticos brasileiros sendo enxotados por um personagem que criei muitos anos atrás, o Dragão da Independência, que foi baseado nos Dragões da Independência originais.

Veja que em 2017, quando fiz aquela ilustração, Jair Bolsonaro ainda não era nem candidato à Presidência da República, mas em 2018, quando houve a facada em 6 de setembro, eu fiquei muito indignado e republiquei a ilustração. Naquela época acabou acontecendo uma primeira tentativa de cancelamento, que não foi muito longe.

Agora, em 2021, depois de muito êxito com a série do Hulk, cuja última edição saiu em setembro, veio um novo ataque. Eu já havia terminado essa edição no final de agosto, e de repente, no Twitter, o Ewing, com quem eu havia trabalhado por quatro anos sem nenhum problema, publicou uma mensagem, que também me mandou por e-mail, de forma extremamente agressiva, infundada, cheia de ódio contra mim, me acusando de antissemitismo.

Meu grande “erro”, na verdade, é ser de direita, cristão e patriota. Aí, entre demitir um escritor da “Agenda” ou um conservador, é claro que optaram por laurear o primeiro e afastar o segundo, no caso, eu. Agora, a história de que fui demitido é uma grande falácia, pois eu não tinha carteira assinada com a Marvel, eram contratos independentes. Inclusive, eu já estava em um novo projeto com eles, havia produzido oito páginas, e eles me pediram para parar. As manchetes que foram veiculadas aqui no Brasil distorceram totalmente a história, como se eu houvesse sido demitido da Marvel pelo próprio Ewing. Não foi isso que houve. A editora me afastou desse outro projeto, e não do Hulk, cuja série já estava concluída.

Esmeril News: Essa perseguição a quem segue um pensamento contrário ao do atual establishment ideológico/cultural vem acontecendo há quanto tempo? Você conhece outros casos como o seu no ambiente das HQs?

Joe Bennett: Essa perseguição já vem acontecendo há uns bons anos. Conheço outros artistas, como Chuck Dickson e Ethan Van Sciver, são pessoas que foram perseguidas por serem de direita, e sobre eles caíram acusações das mais absurdas, como racismo e “supremacismo branco”.

Agora, quiseram colocar essa pecha em mim, o que não faz sentido. Como vou ser um supremacista branco, se sou caboclo, um mestiço da Amazônia? Minha mãe era descendente de índios e meu pai era descendentes de negros do Nordeste. Inclusive, o primeiro personagem que vou lançar nessa nova fase da minha vida é um herói da Amazônia que é um caboclo também. Que supremacista branco é esse? Que editora supremacista branca é essa que me convidou para trabalhar, que permite que um mestiço lance uma obra de um herói mestiço? Ou seja, é “preguiça” da imprensa e da esquerda de pensar um pouco. Eles preferem colocar o rótulo, virar de costas e ir embora.

Esmeril News: Há pelo menos 2 décadas que certo engajamento ideológico, com a adesão a e a propaganda de pautas progressistas e lacradoras (feminismo, gayzismo, ativismo ambiental, teoria de gênero, promoção aberta do Partido Democrata e propaganda pró-China nas histórias etc.) têm avançado cada vez mais intensamente sobre as duas grandes casas dos quadrinhos nos EUA, Marvel e DC. Como você encara essa situação, que inclusive tem se traduzido em uma enorme crise criativa?

Joe Bennett: Eu encaro da seguinte forma esse avanço da “Agenda” nesses quadrinhos americanos: é o fim. O quadrinho americano das “major” Marvel e DC vai acabar. O público que consome quadrinhos de super-heróis é cada vez menor. Os jovens de 12, 13 anos, não consomem mais esse tipo de quadrinhos, eles consomem muito mais mangás e produtos do gênero. Quem consome quadrinhos de super-heróis são caras como nós, pessoas com mais de 35 anos, e essas pessoas não querem mais consumir o que essas duas editoras estão oferecendo. É um fim dessas empresas.

Esmeril News: Mesmo sendo um duro golpe, sua saída da Marvel pode representar uma oportunidade de mudança e crescimento, no sentido de você poder ser mais livre, digamos assim, em seu trabalho. Você tem em mente novos planos e projetos?

Joe Bennett: O maior golpe foi a acusação injusta. Eu odeio injustiças, procuro ser um homem honrado, procuro sempre honrar meus compromissos com meus amigos e meus compromissos profissionais. Quando eu não posso fazer algo, digo que não posso fazer. Não gosto de mentira, não minto. Então, esse tipo de acusação que eu sofri, pra mim, é terrível, é algo que me fere muito. São acusações terríveis, principalmente tendo vindo de algumas pessoas nas quais confiei durante 4 anos, pessoas às quais fui leal durante esse tempo.

Mas, na verdade, vejo agora que fui liberto. A partir do momento em que cortaram essas asas e disseram pra mim “olha, você está ferrado, acabou pra você”, eu disse “não, não acabou não”. Ninguém consegue deter a arte, a arte é igual água: a esquerda é uma peneira, e nós, artistas de direita, somos a água, vamos passar por essa peneira, contornar, passar por dentro, e vamos continuar em frente. É isso o que eu vou fazer.

Tenho muitos plano sim, e o primeiro estou colocando em prática agora, um personagem de aventura que vou lançar pela editora americana Arkhaven e também pela Super Prumo, editora do meu amigo Luciano Cunha, aqui do Brasil. E tenho vários outros projetos, inclusive com personagens bem direcionados à história do Brasil. Meu objetivo é, através do super-herói e das histórias infanto-juvenis, mostrar para as crianças e para os jovens os valores em que acredito: pátria, família, o bem sempre vencendo o mal.

Acredito que o futuro seja um vasto campo agora na minha frente. Tenho que seguir em frente com alegria e determinação, estou me sentido um garoto de 25 anos, e tenho 53. Muita coisa ainda vai acontecer.

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LITERATURA


👆 O bom pastor
(por Leônidas Pellegrini)

Poema de São José de Anchieta

Ele pronto foi chamar

por desertos e povoados,

vales, montes elevados,

por rios e pelo mar,

seus rebanhos espalhados.

 

Com sua palavra sagrada,

os lobos afugentava.

Com sua palavra ajuntava

a manada dispersada

e segura a conservava.

 

Trinta e três anos inteiros

trabalhou o bom pastor,

todo vencido de amor,

recolhendo seus cordeiros

com incansável ardor.

 

E querendo se afastar

sem afastar-se de todo,

fez, para aqui ficar,

de si, prato singular,

por um soberano modo:

 

tendo perdoado as velhas

culpas do pastor primeiro,

este novo pegureiro

ordenou que suas ovelhas

o comessem por inteiro.

 

Sua carne e sangue real

deixou para que comessem,

e para sempre vivessem

com seu pastor eternal,

e a Ele se convertessem.

 

Porque o rebanho viver

não podia, sem sua morte,

escolheu, por boa sorte,

a morte na cruz sofrer,

em caridade tão forte.

 

Do madeiro de tal cruz

fez-se o leito tão amado,

onde o corpo judiado

deste bom pastor Jesus

de todo foi arrasado.

 

Dele se põem a verter

cinco fontes perenais,

e cinco rios caudais

pra de sede não morrer

o seu rebanho jamais.

 

O pastor perdeu sua vida

pela grei, que se perdeu,

e o chagado peito deu

para que fosse guarida

do gado que recolheu.

 

Ao me recolher, rasgastes,

ó, pastor, a vestimenta

carnal que aqui usastes,

e em vosso peito se assenta

o abrigo em que me guardastes.

 

Ganhai-me, pois me perdi!

(E perdestes vossa vida

pra que eu viva além daqui!)

Eu sou a ovelha perdida,

e de Vós sempre fugi…

 

Fazei que eu morra por Vós,

ó pastor tão amoroso,

pois sendo tão glorioso,

morreis por amor a nós,

em tormento tão penoso.

 

Poema da lírica castelhana de Anchieta, traduzido por Leônidas Pellegrini.


In: Poesias Completas, Editora Itatiaia, 2000 (págs 442 – 444).

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Brasil Sem Medo - LITERATURA (3/11/2021)


👆 Quando a poesia encontra a história
(por Paulo Briguet)

Após visitar o Cemitério Militar de Pistoia, Cecília Meireles escreveu um poema antológico para os jovens heróis brasileiros

A Itália foi uma grande inspiração para Cecília Meireles. De 1953 a 1958, ela publicou no jornal “Diário de Notícias”, de Carlos Lacerda, uma série de poemas dedicados à cultura, a história e ao povo italiano. Reunidos postumamente no volume “Poemas Italianos”, publicado em 1968, quatro anos após a morte da autora, os versos de Cecília compõem um vitral de impressões e reflexões sobre suas viagens ao país.

Nos seus “Poemas Italianos”, Cecília sonda a identidade de um rosto romano talhado em mármore, emociona-se com uma velha florista, revive as tragédias do Coliseu, adivinha as palavras de um morto de Pompéia, homenageia um poeta inglês enterrado em Roma (cujo nome foi “escrito sobre as águas”), canta as pedras de Florença ― enfim, lega-nos um testemunho lírico inigualável sobre o espírito comum entre a terra de Machado e a terra de Dante.

Entre as belíssimas canções italianas de Cecília Meireles, destaca-se “Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro”, que ela escreveu depois de visitar a cidade em que o presidente Jair Bolsonaro esteve ontem. Sua homenagem aos jovens brasileiros mortos na Segunda Guerra Mundial é uma página maior da literatura brasileira:


Eles vieram felizes, como
para grande jogos atléticos:
com um largo sorriso no rosto,
com forte esperança no peito,
– porque eram jovens e eram belos.

Marte, porém, soprava fogo
por estes campos e estes ares.
E agora estão na calma terra,
sob estas cruzes e estas flores,
cercados por montanhas suaves.

São como um grupo de meninos
num dormitório sossegado,
com lençóis de nuvens imensas,
e um longo sono sem suspiros,
de profundíssimo cansaço.

Suas armas foram partidas
ao mesmo tempo que seu corpo.
E, se acaso sua alma existe,
com melancolia recorda
o entusiasmo de cada morto.

Este cemitério tão puro
é um dormitório de meninos:
e as mães de muito longe chamam,
entre as mil cortinas do tempo,
cheias de lágrimas, seus filhos.

Chamam por seus nomes, escritos
nas placas destas cruzes brancas.
Mas, com seus ouvidos quebrados,
com seus lábios gastos de morte,
que hão de responder estas crianças?

E as mães esperam que ainda acordem,
como foram, fortes e belos,
depois deste rude exercício,
desta metralha e deste sangue,
destes falsos jogos atléticos.

Entretanto, céu, terra, flores,
é tudo horizontal silêncio.
O que foi chaga, é seiva e aroma,
– do que foi sonho, não se sabe –
e a dor anda longe, no vento...

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Allan dos Santos - 
CENSURA / COMUNISMO


👆 O Brasil está acostumando-se com a barbárie
(por Allan dos Santos)

primeira coisa que você precisa entender antes de continuar a ler esse texto é o que publiquei ontem na rede social americana GETTR:

Lembrem-se que histérico não fala o que sente, mas sente o que fala. Se tudo desmorona, o histérico fala que está tudo bem, não porque sente que está tudo bem, mas porque passa a sentir o que fala.

Sem entender o que significa esse importante traço da histeria é capaz que você não se dê conta que existe a possibilidade de você ser um histérico.

Toda vez que comento com as pessoas sobre a existência de animais selvagens como leões, jacarés e até porcos que são usados parar comer carne humana das vítimas do narcotráfico, não raramente há quem duvide ou quem diga nunca ter sabido disso até me ouvir. Como é um fato que isso ocorre, já demonstra por si só que as pessoas vivem em uma fantasia travestida de realidade. Um verdadeiro Show de Truman.

Já vi um homem ser cortado em pedaços e ter seu corpo picotado colocado em um carrinho de compras no meio da rua ao voltar da missa no Complexo da Maré. É assim que narcotraficantes tratam os caguetas, conhecidos como X9. Esse é o tipo de pessoa que o Supremo Tribunal Federal manda soltar baseando-se na lei vigente, ao passo que o mesmo STF aceita pedido de prisão de jornalistas, ativistas e políticos por crime de opinião, não baseando-se nas leis vigentes.

Na notícia do G1 está o título: "STF mantém proibição de ações policiais em favelas do RJ durante a pandemia de Covid". E o subtítulo: Corte formou maioria na terça-feira (4) e manteve impedidas as operações, que só podem ser realizadas em 'hipóteses absolutamente excepcionais'. Se você não é do Rio de Janeiro, veja ao vídeo abaixo e tente imaginar o que para além do que está no vídeo é absolutamente excepcional.


Quando seminarista, fiz trabalho pastoral por dois anos no Complexo da Maré, onde cotidianamente eu vi cenas como a do vídeo acima. E não só, como o caso do homem que era picotado pelas juntas no meio da rua que descrevi acima.

Um bom exemplar infinitesimal da realidade do verdadeiro problema do Brasil pode ser visto em vídeos do BOPE ou artigos como Dossiê do Caveirão do site Defesa Em Foco.

Granadas de bocal são frequentemente apreendidas no Rio de Janeiro, e também possuem capacidade de destruir veículos blindados leves a curtas distâncias, entretanto não são práticos para usar e requerem treinamento, o que geralmente não é o perfil dos Narco-Guerrilheiros.

Um dos policiais que lutava bravamente contra esses narcoterroristas está encarcerado pelo mesmo STF que impede outros policiais de atuar nas favelas. O narcotráfico é poupado se não existir um motivo absolutamente excepcional. Quem não deve ser poupado de modo algum é o Dep. Daniel Silveira, Roberto Jefferson e outras vítimas do tirano De Moraes. Ah, já quase ia esquecendo de mencionar o jornalista de "condutas de elevado grau de periculosidade" por causa dos meros“crimes de opinião”: eu.

Não sou político, não possuo filiação partidária, não sou rico - sim, os ricos são bem recebidos em Brasília - e por isso não há qualquer interesse em falar contra o absurdo de aceitar um pedido de prisão baseando-se em crimes de opinião. Para bem da verdade, se os burocratas do Ministério da Justiça quiserem, estarei em uma cela junto dos criminosos dos vídeos acima. O assunto já "esfriou" e o debate público já voltou a falar do clima, da economia e questões outras que são mais importantes do que a liberdade de um indivíduo jornalista, um deputado inocente, um presidente de partido etc. Afinal, é preocupando-se com ciclos eleitorais que os traficantes deixarão de matar, a justiça deixará de ser tirana e o Brasil voltará à normalidade, pensam os que se calam e ficam omissos. Há também os que se calam e cumprem ordens absurdas.

Tudo isso que descrevi acima deixa qualquer americano assustado. Não sei se será possível reverter a dramática situação brasileira. Os brasileiros estão se acostumando. Assim como tiveram de se acostumar os que passaram a comer carne humana na ilha canibal de Stálin*, mas sobre isso falarei amanhã.

Enquanto isso for normal e aceito, só um milagre de fato pode salvar esse país. E tenho lá minhas dúvidas se o povo quer esse milagre.

* TdL: refere-se à matéria exclusiva para assinantes do site do Allan que eu não vou reproduzir aqui.

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MEMÓRIA TERÇA LIVRE
(matérias de edições antigas da revista que ainda são atuais)

Hoje voltaremos no tempo para a edição 1 da Revista Terça Livre, quando surgiu em 2019.

Se você como eu ainda tem seu cadastro de membros do TL Juntos, pode acessar neste endereço.



COMPORTAMENTO


👆 Uma espécie em extinção?
(por Carlos Maltz)

Em artigo publicado em 1957 e incluído no volume X de suas obras completas, o grande psicólogo suíço, Carl Jung, chamava a atenção para algumas de suas maiores preocupações para o futuro da humanidade: as trevas do absolutismo de Estado, a ditadura do cienticismo pretensamente iluminista, e a submissão completa do indivíduo a essas duas entidades abstratas e esfomeadas.

Jung alertava que uma época desprovida de símbolos e mitos religiosos vivos poderia endeusar e transformar qualquer coisa, desde o fanatismo político, até o próprio cientificismo estatístico numa espécie de “revelação” acima de qualquer possibilidade de questionamento ou relativização.

Sob a égide dos pressupostos científicos, tanto a psique quanto o homem individual, quanto qualquer acontecimento singular poderia sofrer um nivelamento e um processo de deformação que distorce a imagem da realidade e a transforma em uma média ideal que causa forte impacto psicológico coletivo. Reprime o fator individual em favor de unidades anônimas que se acumulam em formações de massa. Em lugar da essência singular concreta, surgem nomes de organizações e, no ápice desse processo, o conceito abstrato do Estado enquanto princípio da realidade política. Neste caso, é inevitável que a responsabilidade moral do indivíduo seja substituída pela razão do Estado. Diz Jung:

“Em lugar da diferenciação moral e espiritual do indivíduo, aparecem os serviços públicos e a elevação do padrão de vida. O sentido e a finalidade da vida individual (a única vida real) não repousam mais sobre o desenvolvimento individual, mas sobre uma razão de Estado, imposta de fora para dentro do homem, ou seja, na objetivação de um conceito abstrato cuja tendência é colocar-se como a única instância de vida. A decisão moral e a conduta de vida são, progressivamente, retiradas do indivíduo que, encarado como unidade social, passa a ser administrado, nutrido, vestido, formado, alojado e divertido em alojamentos próprios, organizados segundo a satisfação da massa. Os administradores, por sua vez, constituem também unidades sociais, com a diferença apenas de que são os defensores especializados da doutrina do Estado. Para essa função não são necessárias personalidades com grande capacidade de discernimento, mas somente especialistas que nada mais saibam fazer senão coisas de sua especialidade. A razão de Estado decide o que se deve ensinar e aprender... Um dos principais fatores da massificação é o racionalismo científico. Este deita por terra os fundamentos e a dignidade da vida individual ao retirar do homem a sua individualidade, transformando-o em unidade social e num número abstrato da estatística de uma organização... O indivíduo, portanto, nesse horizonte possui uma importância mínima. É uma espécie em extinção”.

Passados mais de sessenta anos da publicação destas palavras podemos perguntar: A pré-visão de Jung estava correta? Se sim, então estaremos mesmo caminhando para a nossa extinção enquanto indivíduos neste começo da tal da “nova era de Aquário” que ele próprio anunciava?

Penso que qualquer semelhança com o que vivemos hoje no Brasil não é mera coincidência. No Brasil e no Mundo.

Basta observamos o espírito que inspira o direito praticado em nosso país atualmente, que tende sempre a ver o indivíduo como alguém que pode chegar ao extremo de cometer um crime, mas não pode ser responsabilizado pelo mesmo, ou tem sua responsabilidade individual relativizada em função de ser uma “vítima” de uma entidade abstrata coletiva como a sociedade, ou o capitalismo, ou a sociedade capitalista, ou coisa que o valha.

Literalmente coisa.

Penso também que a onda avassaladora de depressão e suicídio que assola o mundo, especialmente a juventude, também tem a ver com a pergunta. E com a coisificação. especialmente no trecho onde Jung arma que “o sentido e a finalidade da vida individual (a única vida REAL) não repousam mais sobre o desenvolvimento individual, mas sobre uma razão de Estado, imposta de fora pra dentro do homem, ou seja, na objetivação de um conceito abstrato cuja tendência é colocar-se como única instância de vida”.

Sim, por que se essa for realmente a única instância de vida, e eu não for mais do que uma coisa, um número dentro de uma multidão anônima e estatística, a minha vida não vale praticamente nada e não justifica a sua existência em um abominável mundo novo onde todos são “iguais e felizes”.

E Aldous Huxley terá sido um visionário ainda maior do que George Orwell.

Será realmente o indivíduo, uma espécie em extinção? Espero, sinceramente que não. Mas deixo aberta, a questão..

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CULTURAL

👆 Um pouco sobre Tavares Bastos…
(por Luis Vilar)

Já publiquei diversos textos em que busquei resgatar o pensamento do alagoano Aureliano Cândido Tavares Bastos. É, de certa forma, viajar novamente ao século XIX, mas não ficar por lá.

Em A Província, que é uma de suas mais importantes obras, Bastos discutiu o federalismo e a centralização de forma bem superior a qualquer outro republicano de sua época. Viu o Brasil de maneira visionária, defendendo princípios como o da subsidiariedade que vai de encontro ao que temos hoje em nosso pacto federativo nefasto e promotor do “Estado-babá”.

Atualmente, vemos um crescimento do poder coercitivo do Estado para cima das liberdades individuais. Paralelamente, entramos em uma espiral de degradação moral e intelectual que despreza o debate em função de fincar pé na visão ideológica, onde cada um se acha dono da razão e perde a razão em atos extremos.

Tavares Bastos enxergou um outro Brasil e apontou caminhos em detalhes que servem de visão para hoje e para o futuro.

Infelizmente, suas obras são pouco lidas!

Falar sobre a visão federalista de Bastos e de como ele entendia que valores de uma sociedade precisam ser respeitados, colocando o Estado em seu devido lugar e entendendo a política como parte dessa comunidade, mas jamais o seu todo é encontrar os conselhos deste alagoano, quando afirmava que um Estado centralizador - que quer que todas as decisões da vida comunitária passem por ele - não apenas mata a livre iniciativa dos indivíduos, como tornam esses incapazes de questionar a realidade na qual se inserem, por esperarem sempre a solução do “panteão” dos “engenheiros-sociais”.

Em pouco tempo, como coloca Bastos, estes mesmos “engenheiros-sociais” serão sugados pela burrice da própria ideologia, tornando-se infeccionados pelo “despotismo” ao se verem iluminados para decidir a melhor forma de vida para os outros. Bastos antecipa com isso as tragédias do século XX e condena o pensamento fascista, só surgido depois, de que tudo tem que ser pelo Estado e com o Estado.

Tavares Bastos foi um verdadeiro defensor da liberdade, mas sem esquecer que esta é condição do homem; e que para florecer uma civilização é preciso que esta nutra valores e respeito ao próprio passado, refletindo sempre sobre sua formação histórica, seus erros e suas conquistas. Como diz em A Província, a outra face do livre-arbítrio é a responsabilidade de arcar com as consequências das próprias escolhas. Não há progresso sem reflexão sobre o que se avança e o que se conserva. Essa é uma lição primordial do pensamento de Tavares Bastos.

Assim, o alagoano analisou a realidade dos EUA sem deixar a dever a A. Tocqueville, no qual se inspirava. Assim, fez análises sobre as mudanças na França de forma crítica e denunciando o centralismo. Da mesma forma, falou do Brasil e, se vivo fosse, se espantaria com os rumos de nossa República por sua gênesis militarista e positivista. Tavares Bastos não poderia jamais estar escondido nas bibliotecas, mas sim sendo analisado por pensadores atuais e circulando, de forma extremamente acessível, nas livrarias.

Pergunto-me com espanto por qual razão grandes editoras não redescobriram Tavares Bastos. Na boa leva de obras que estão sendo resgatadas e trazidas pela Record, por exemplo, poderia estar o alagoano. Não é bairrismo. Seria fã de Tavares Bastos se alagoano não fosse. Como alagoano é, aumenta ainda mais o meu orgulho por ter nascido no chão que Tavares Bastos nasceu.

Desde 2012, quando comecei a estudá-lo, este alagoano se tornou para mim uma referência. Indagava-me como não o tinha descoberto antes. Por qual razão ele não se encontra nas faculdades por aí afora? São questionamentos cujas respostas me entristecem.

Destaco aqui alguns trechos de Bastos que me levaram a refletir e produzir alguns dos meus textos. Em A Província, ele sacramenta: “O que caracteriza o homem é o livre arbítrio e o sentimento da responsabilidade que lhe corresponde.

Suprimi na moral a responsabilidade, e a História do mundo perde todo o interesse que aviventa a tragédia humana. Os heróis e os tiranos, a virtude e a perversidade, as nações que nos transmitiram o sagrado depósito da civilização e os civis que apodreceram no vício e nas trevas, não se poderiam mais distinguir, confundir-se-iam todos no sinistro domínio da fatalidade”.

É justamente o que penso sobre a questão da liberdade e os demais valores necessários para manter esta liberdade viva. Numa sentença que é atribuída a Thomas Jefferson é dito o seguinte: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. Mas o que vigiar? Essa reflexão é profunda em Bastos. Além de profunda, necessária ao nosso tempo.

Afinal, como diz o intelectual alagoano, “a inversão das posições morais é fatalmente o resultado da centralização”. Ou seja: quanto mais o Estado cresce, mais ele precisa modificar costumes, culturas e tradições para impor uma forma de viver que desrespeita aquilo que as comunidades construíram ao longo da História. Sem essa vigilância, em nome do progresso se joga fora o bebê com a água suja do banho, como é posto no ditado popular.

Bastos segue afirmando que essa inversão de posições morais é um “efeito necessário, fato experimentado, não aqui ou ali, mas no mundo moderno e no mundo antigo, por toda parte, onde quer que tenha subsistido (...) uma das consequências morais do sistema político que suprime a primeira condição da vida”. Esta primeira condição é a liberdade. É justamente a denúncia do que se encontra presente na mentalidade revolucionária ao tentar forjar o novo homem. É preciso - nessa visão de revolução - que se ocupe espaços, se tome o poder, e se eleve um partido ou grupo ao status de “consciência”.

O “ser ontológico” passa a ser fundado pela necessidade de revolução, rouba-se do homem a possibilidade de qualquer transcendente e individualidade, coletivizando-o para ser instrumento de um projeto de poder tocado pelo Estado agigantado e presente em cada minúsculo detalhe da vida do ser humano, dizendo o que ele pode e o que não pode. Não se trata, portanto, apenas de uma questão econômica ou política. Mas sim da real luta contra a possibilidade de qualquer tirania, venha esta de onde vier.

Neste sentido, em alguns de seus trechos, Tavares Bastos parece que está sentado ao nosso lado, como quem puxa uma cadeira e pede um café e diz ao interlocutor: senta aí também que eu preciso te falar o que anda acontecendo. A leitura de Bastos é, portanto, um diálogo a estar sempre presente. É um dos vigilantes da liberdade.

Se acham que exagero, eis o retrato de nossos dias sendo traçado no século XIX: “Nesses dias nefastos em que o poder, fortemente concentrado, move mecanicamente uma nação inteira, caracterizam o estado social a inércia, o desalento, o ceticismo, e, quem sabe, a baixa idolatria do despotismo, o amor às próprias cadeias. Daí a profunda corrupção das almas, abdicando diante da força ou do vil interesse. E não é as classes inferiores somente que lavra a peste: os mais infeccionados pelo vício infame da degradação, são os que se chama as classes elevadas”.

Que Tavares Bastos encontre o seu devido lugar nas prateleiras das livrarias pelo mundo afora...

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👆 PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO!

"Profético: "A política é o destino inevitável do nosso tempo." (Napoleão Bonaparte)" (28/10/2021)

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👆OPINIÃO DO AUTOR

Eu, você, e o nosso inimigo, parte 2
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
06 de Novembro de 2021



Continuemos hoje a série dedicada ao livro de Jeffrey Nyquist, "O Tolo e Seu Inimigo", que eu iniciei na Edição XXVIII. Se não leu o meu artigo sobre o Capítulo 1, clique aí no link e leia.

Logo no início do Capítulo 2 - A quem isso beneficia, Jeff destaca no título a famosa frase do juridiquês "cui buono", que pode também ser lida como uma indagação. Esta expressão norteia toda análise dele, e nela Jeff cita um cara chamado Georgy Arbatov, agente russo do Partido Comunista em missão americana nos anos 80, que acabou influenciando toda a esquerda americana nas universidades. E não só isso: ele também acabou influenciando pastores, artistas, celebridades, políticos e diversos outros membros da sociedade que tinham um espectro mais à direita. Jeff teve a oportunidade de ver de perto essas coisas, e traz aqui no seu texto a história de como um agente inteligente da KGB enganou toda uma direita burra e inocente.

Desculpem usar um termo tão agressivo, mas a ideia é essa: o tolo inocente que não sabe o que está acontecendo e simplesmente acha que existe algum tipo de comunicação possível de ocorrer com pessoas que sabem o que estão fazendo e são diametralmente opostas ao seu pensamento está fadado a mais completa obliteração, algo bem semelhante ocorre com a direita aqui no Brasil. É como o paciente com AIDS que eu me referi no artigo anterior. Este texto do Jeff, e especialmente este capítulo do livro nunca foi tão atual quanto agora. Em nome da paz, tentamos conversar com o diabo; em nome da paz, procuramos obedecer acordos espúrios; em nome da paz, procuramos fazer as mais absurdas concessões que podemos imaginar. Em determinado ponto do texto, ele cita uma passagem de Os Homens Ocos, do autor TS Elliot, que eu reproduzo aqui.
 
"Nós somos os homens ocos,
nós somos os homens empalhados
apoiados uns aos outros,
a cabeça cheia de palha. Ai de nós!
Nossas vozes rouquenhas, quando
sussurramos juntos,
são suaves e não têm sentido,
como o vento na relva seca
ou os pés dos ratos que passam sobre vidro quebrado
na nossa adega vazia."
[...]
"É assim que acaba o mundo.
É assim que acaba o mundo.
É assim que acaba o mundo.
Não com um estrondo, mas com um gemido."

Na simples ação de você querer "apagar a imagem do inimigo", você acaba condenando um monte de pessoas ao limbo e à tirania de uma minoria barulhenta. Foi o que aconteceu com os Estados Unidos durante todos os anos 90, e o que fortaleceu também a indústria bélica dos países em que a ditadura se mostra na sua forma mais forte e opressora, como a Coréia do Norte. É o que está acontecendo no Brasil de agora - exceto pelo fator bélico. E ainda sobre as minorias, ele dá o exemplo dos muçulmanos invadindo a Europa. Todos nós sabemos o resultado e as repercussões disso nos dias de hoje, eu não preciso entrar em detalhes em relação à tamanha tragédia.

Mas me permitam perguntar de novo:
 
"CUI BUONO?"

A quem tudo isso beneficia? Oraporra, isso tudo beneficia obviamente os poderosos que querem se manter no poder: o PCCh, todos os globalistas, ONU, Unesco, OCDE, o narcotráfico internacional, a patota que você bem conhece: aquele povinho que você não elegeu, nunca viu mais gordo e que quer controlar cada aspecto de sua vida. Se você ler com muita atenção o livro Maquiavel Pedagogo de Pascal Bernardin, vai chegar à inevitável conclusão de que todos esses planos vem sendo traçados há muito tempo, pelo menos desde os anos 80, enquanto nós ficamos inertes durante todo esse tempo vendo a banda passar e cantando "Imagine" em meio a discussões inúteis e sem sentido.

Dessa forma eu sou obrigado a trazer à tona uma investigação que o jornalista Allan dos Santos realizou na noite do dia 5 de novembro de 2021 no seu canal na rede Clouthub, em seu programa "Guerra de Informação". Allan destacou uma jornalista chinesa que desmascarou algumas mentiras no país dela, e por isso a imprensa local passou a chamá-la de jornalista-cidadã. A armadilha foi tão estrategicamente meticulosa e simples, quanto maliciosa. Uma vez que você consegue separar pessoas de um determinado grupo, fica muito fácil você caçar aqueles que você não gosta. É como no esporte da caça, em que primeiro você assusta um determinado bando de animais para separá-los, porque juntos e organizados eles são mais fortes e podem vencer você, mas depois, isolados, você consegue abater alguns deles com alguns tiros de rifle e até mesmo intimidar os mais fortes.

O conceito é exatamente o mesmo. Deixamos por muito tempo que a esquerda nos separasse entre negros e brancos, gays e héteros, e outras denominações, e mais recentemente, entre mascarados e não-mascarados, vacinados e não-vacinados. Esperem portanto que, no ano da eleição mais importante do Brasil, irão novamente fazer essa separação, e as possibilidades são inúmeras: blogueiro e jornalista... opa, já fazem! Jornalista e jornalista-cidadão. Professor e professor-cidadão. Médico e médico-cidadão. É preciso afugentar a manada para abater alguns cervos.

Por fim, Jeff neste capítulo faz uma reflexão se perguntando se o Ocidente é realmente tão estúpido quanto aparenta. A resposta é óbvia, mas eu não vou ficar dando ela aqui de bandeja para você; e não, não é nada positiva. Vou apenas terminar esse meu pequeno comentário sobre o capítulo 2 e os tolos que caíram na história da carochinha, no elogio fácil do inimigo ("encontrei-me com um representante do governo, uma pessoa maravilhosa", rev. Bill Graham sobre o agente russo Arbatov, em 1982) e na sedução tentadora da televisão com uma breve citação do Pravda que Jeff faz na página 67 do livro: "quando os americanos perceberam que foram derrotados, já era tarde demais."

"Feio sem forma, sombra sem cor, força paralisada, gesto sem movimento;
os que já cruzaram com o olhar para frente,
o outro reino da morte recordam-se de nós - se é que assim seja –
não como almas perdidas, exaltadas,
mas simplesmente como homens ocos, homens empalhados."
(TS Elliot)

No terceiro artigo desta série vamos falar de religião. E não, a coisa não melhora, por isso vou dar tempo para recuperarem o fôlego.

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👆 HUMOR (agora com meus comentários!)

Hoje, em meio às profundas análises de nosso mestre, tem gente tentando fazer a pipa sair da camada 4...
(04/11/2021)
...  e animais sem controle...
(08/11/2021)


... à propósito, vejam o arrombado que resolveu dar o ar da graça de novo! E voltando com fúria! Fúria... fúuuria!!! Mas o Maurício Souza dá uma acalentada no eterno bixo... hehehe!
(04/11/2021)


... mas aí... eita... sou só eu que acho que o Sal Conservador não deveria se arriscar com essas forças... ééé... trevosas da velha mídia? ...
(02/11/2021)


... enfim... lamento aí Jindelt, táoquêy? Não se fazem mais heróis como antigamente! Pelo menos não nos veículos... hãnnn... tradicionais.
(08/11/2021)

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👆 LEITURA RECOMENDADA

Leiam mais sobre os verdadeiros heróis brasileiros, sobretudo do período monárquico do país. Essa é a minha recomendação de hoje, que trata de José Bonifácio. 

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