Edição XXXIII (Terça Livre, Revista A Verdade 63, Revista Esmeril 25, Opinião e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na 
Revista A Verdade, da qual sou assinante, e outras publicações de outras fontes à minha escolha. Nenhum texto aqui pertence a mim (exceto onde menciono), todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.


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ÍNDICE

REVISTA A VERDADE

    Afinal, quem são os “donos do mundo”? (Carlos Adriano Ferraz)
    - A prisão da liberdade (Gustavo Victorino)
    - O que teria acontecido à publicidade brasileira? (Giorgio Cappelli)

REVISTA ESMERIL

    - Economia e História (Vitor Marcolin)

    - Entrevista com Giorgio Cappelli (Leônidas Pellegrini)

    - “Esperanças Destroçadas”: começa a pré-venda de graphic novel sobre massacre chinês de 1989 (Leônidas Pellegrini)

BRASIL SEM MEDO

    - Os 200 anos de Dostoiévski (Fabio Gonçalves)

ALLAN DOS SANTOS

    - Ponerologia: psicopatas no poder (Texto de Olavo de Carvalho)

MEMÓRIA TERÇA LIVRE

    - EM ENTREVISTA À REVISTA TERÇA LIVRE, SELMA PALENZUELA FALA SOBRE OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO (Terça Livre, Rev. TL ed. 2)

    - O resgate do pensamento de João Camilo Torres (Luis Vilar, Rev. TL ed. 2)

PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO

OPINIÃO DO AUTOR
    - 
Comentando o dia da INFÂMIA

HUMOR 

LEITURA RECOMENDADA

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Boa leitura, e uma boa Terça Livre pra você!!

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👆 Com a palavra, Terça Livre!

 
Terça Livre jamais pode ser esquecido. Por essa razão, esta seção aqui buscará cobrir o buraco que ficou no meu blog após o fim da empresa, dando a vocês links e caminhos fáceis para saberem o que os seus ex-membros estão pensando e onde encontrá-los sempre e com facilidade.

ALLAN DOS SANTOS: Allandossantos.com || Gettr || Clouthub || Telegram || Bom Perfil || Artigo 220 (não oficial) || TL TV.

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ÍTALO LORENZON: Estudos Políticos || Lives do Ítalo || Telegram || Gettr || Twitter || Instagram.

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MAX CARDOSO: YouTube || Telegram || Twitter || Instagram.

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CARLOS DIAS: Portal Factum || YouTube || Twitter.

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KASSIO FREITAS: Telegram || Instagram || Twitter.


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PEDRO ALAER: Instagram (sem novidades).

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PAULO FIGUEIREDO: Conexão América || ConservaTalk || Telegram || Gettr || Twitter.

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JOSÉ CARLOS SEPÚLVEDA: YouTube || Lives do Ítalo || PHVox || Gettr || Twitter || Facebook.
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OPINIÃO
👆 Afinal, quem são os “donos do mundo”?
(por Carlos Adriano Ferraz)

"O mundo é governado por personagens muito diferentes do que é imaginado por aqueles que não estão nos bastidores” (Benjamin Disraeli)

Gostaria, nessa semana, de ampliar algumas observações que fiz aqui em ‘A Verdade’ na semana passada:


Assim, sempre escutamos relatos sobre a mídia ser controlada por determinados grupos. Embora frequentemente fosse mencionada uma suposta “imparcialidade” no âmbito midiático (muitas emissoras e jornais se ufanavam – alguns ainda o fazem - de sua suposta isenção) suspeitávamos dessa pretensa neutralidade. Hoje, em virtude do advento da internet e da facilidade de acessarmos informações outrora inatingíveis, sabemos que tal imparcialidade inexiste. Por que? Ora, porque aproximadamente 90% da mídia está sob o controle de algumas poucas corporações internacionais: ViacomCBS, AT&T, NewsCorp, Fox, Walt Disney Company, ComCast, Daily Mail Group, DPG Media, Bertelsmann, etc, são proprietárias de quase todos os veículos midiáticos (jornais, emissoras de televisão, editoras, etc) aos quais acessamos em nível mundial. Mas ainda há um detalhe perturbador sobre tais corporações: todas estão sob o controle majoritário de dois grupos (stakeholders): BlackRock Inc e The Vanguard Group Inc. Qualquer concorrência é, pois, ilusória.

Além disso, como esclareci na semana passada, a maioria das notícias são planificadas, especialmente na medida em que nossos jornais, noticiários, etc, simplesmente reproduzem o que algumas poucas agências de notícias produzem. Ou seja, a tão evocada liberdade de imprensa é um mero joguete. Um dos exemplos que citei na semana passada foi a organização ‘Project Syndicate’, provavelmente a maior produtora de notícias do mundo, atingindo diretamente em torno de 156 países. Ela e a ‘European Journalism Center” são o elo de ligação da maior parte das redes de jornais, noticiários, etc. Assim, quando, por exemplo, o âncora de algum noticiário lê o teleprompter ele muito provavelmente está lendo um texto elaborado por alguma grande organização como as citadas aqui e em meu texto da semana passada. E por essa razão existe uma espécie de “harmonia pré-estabelecida” entre os principais veículos de notícias.

Essa impressionante “sincronia” nos noticiários pode ser observada, por exemplo, aqui:


Impressionante, não?

Assim, em suma, poder-se-ia dizer que algumas pouquíssimas megacorporações têm o controle de todas as informações que recebemos. Em verdade, elas dominam os mais diversos aspectos de nossas vidas. Por detrás dessas corporações midiáticas há companhias que controlam diversas outras corporações. Dito de outra forma, elas controlam boa parte do dinheiro que circula no mundo (o que lhes dá um poder – mundano - arrebatador).

Vejamos alguns exemplos com os quais nos deparamos cotidianamente. Sabemos que industrias como Pepsico, Unilever, Coca-Cola Company, Mondelez e Nestlé possuem o monopólio de alimentos industrializados (“packaged food”) e bebidas. Não obstante, elas estão sob o controle majoritário das maiores companhias de investimentos do mundo, das quais se destacam as já citadas BlackRock Inc. e The Vanguard Group Inc., assim como a State Street Company e a Berkshire. Portanto, para quem julgava que havia concorrência entre empresas tais quais Coca-cola e Pepsico, repense. Embora esses sejam os nomes que lemos nas embalagens dos produtos, eles são apenas a parte visível. Seus verdadeiros “donos” não aparecem em embalagens.

Mas tais companhias não estão por detrás apenas dos conglomerados midiáticos e das indústrias citadas. O Facebook possui o WhatsApp e o Instagram. Quando os colocamos junto ao Twitter temos as maiores plataformas de rede social do mundo. A Alphabet abarca, dentre outras empresas, o Google, o Youtube e o Gmail, bem como fomenta o desenvolvimento de um dos mais conhecidos sistemas operacionais, o Android. Contudo, elas também estão submetidas às companhias citadas acima, as quais também investem no sistema IOS da Apple e na Microsoft. Se não bastasse isso, elas investem na indústria de tecnologia que nos permite ter acesso a computadores, aparelhos de televisão, celulares, etc. Ou seja, no topo da pirâmide estão as “invisíveis” BlackRock Inc., The Vanguard Group Inc., State Street Company e Berkshire. Apenas BlackRock Inc. e The Vanguard Group Inc., juntas, gerem cerca de 20 trilhões de dólares em âmbito mundial.

Isso lhes confere um poder desmesurado.

Dessa maneira, não vivemos em uma economia de mercado. Afinal, monopólios são absolutamente lesivos à livre troca/concorrência. E corporações como as citadas asseguram que não haverá livre comércio ou concorrência. Em suma, vivemos em uma economia profundamente planificada, centralizada desde as determinações dessas companhias “invisíveis”.

Portanto, dificilmente a ideia de uma “nova ordem mundial” poderia prosperar sem a aquiescência dessas corporações. E aqui eu volto a um ponto que já explorei em diversos outros textos: a visão “globalista” de uma nova ordem mundial é uma nova versão do socialismo, pois a elite mundial é socialista. Por que? Ora, porque o socialismo nunca foi sobre assegurar a ascensão dos menos aquinhoados, mas sobre garantir que a elite jamais perderia seu poder. Simples assim.

Desse modo, chegamos àqueles por detrás da ideia de uma nova ordem mundial tal como defendida especialmente por Klaus Schwab, presidente e fundador do ‘Fórum Econômico Mundial’, sobretudo quando ele se refere a um “great reset”, isto é, a um grande reinício.

De acordo com Schwab, a atual pandemia é uma “excelente oportunidade” para “resetar” nossa sociedade de acordo com um plano, o que revela claramente o aspecto planificador de uma nova ordem mundial (eles chamam de “grande oportunidade” uma pandemia que eliminou centenas de milhares de pessoas) Diferentemente de nossas instituições tradicionais, surgidas espontaneamente a partir da “consagração pelo uso”, a nova ordem mundial é planificada, planejada pelos “donos do mundo” (as grandes corporações por detrás da mídia, da indústria, das redes sociais, etc). E aqui há, também, uma sincronia na fala dos líderes mundiais visíveis: eles se referem à nova ordem mundial a partir da ideia de “build back better” (‘reconstruir melhor’). Tal frase se tornou um slogan nas falas dos principais líderes mundiais. De acordo com eles nossa sociedade deve ser transformada a partir de uma nova ideia de sociedade. Nessa nova sociedade global, ou nova ordem mundial, os países abandonarão sua soberania em prol de um governo mundial no qual, como vemos em um vídeo do ‘Fórum Econômico Mundial’, as pessoas “não serão proprietárias de coisa alguma e serão felizes”. Não apenas isso, haverá uma única religião ecumênica, um único poder global (inicialmente coordenado pela ‘Organização das Nações Unidas’/ONU – a qual foi pensada, aliás, com esse propósito: suas raízes são claramente comunistas), etc. Na verdade, o que podemos entrever é um mundo com apenas duas classes, ou castas, a dos “donos do mundo” e a de seus “vassalos”, os quais não possuirão propriedade e serão mantidos com uma espécie de “renda básica universal”. Segundo a elite, não é sustentável todos terem acesso às benesses dos avanços civilizacionais. Por essa razão Schwab e outros líderes mundiais insistem que não voltaremos ao mundo anterior à pandemia. Viveremos no que eles chamam de “novo normal”.

Mas podemos nos questionar, por fim: quem está planejando o “admirável mundo novo” no qual estamos adentrando?

Ora, aqueles que estão no topo da pirâmide. E, embora esse projeto esteja em desenvolvimento pelo menos desde o século XVIII, seu primeiro grande passo se deu quando a elite econômica subsidiou a revolução russa, em 1917. Na verdade, a revolução bolchevique foi financiada pela elite de Wall Street (como bem o demonstrou Antony Sutton em “Wall Street and the Bolshevik Revolution”), servindo como primeiro “laboratório” para a implementação de ideias que estão em vias de ser efetivadas com o “great reset”.

Desse modo, aqui é apropriada aquela célebre afirmação de Benjamin Disraeli: “o mundo é governado por personagens muito diferentes do que é imaginado por aqueles que não estão nos bastidores”.

Não obstante, apesar do avançado estado de implementação da nova ordem mundial, já podemos ter uma visão dos bastidores e ver quem são os titereiros.

Serão eles bem-sucedidos finalmente?

Pelo bem de nossa liberdade e de nossa dignidade, espero que não.

Carlos Adriano Ferraz é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). É professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

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👆 A prisão da liberdade
(por Gustavo Victorino)

O direito de pensar é uma reação quase fisiológica e imperceptível tanto no aspecto racional quanto no comportamental.

Os conceitos que definimos como norte em nossa conduta tem origem nos sinais que recebemos do cotidiano e que nos levam ao entendimento pessoal do mundo que nos cerca.

Do direito de pensar e avaliar, surge a livre manifestação do pensamento através da verbalização de tudo aquilo que nossa consciência filtrou e nos disponibilizou como dogmas, verdades e afinidades.

Essa transição ganha um contorno personalíssimo e identifica a gene de oratória de cada um.

Ser contundente em maior ou menor grau, no entanto, não elide a qualquer restrição à liberdade do pensamento nos limites da lei.

Fazer de palavras fortes motivo de punição penal subjetiva e totalitariamente imposta ao pensador está entre os piores crimes da humanidade, só superado pelo atentado à vida.

Impedir alguém de pensar e se manifestar deve ser limitado exclusivamente ao alcance da lei que infelizmente define os crimes verbais de forma pouco clara e sujeita a interpretações que aos poucos estão tolhendo a liberdade de um espectro político em nosso país.

Ver a esquerda pregar e propagar até atentados e na contra mão os conservadores serem silenciados por interpretações subjetivas de “indução ao descumprimento da lei” ou “atentar contra o estado democrático de direito” beira ao ridículo e mostra muito mais o perfil de quem desses argumentos distorcidos se utiliza para criticar ou censurar.

Vivemos momentos obscuros em nosso país e aprisionar um ser humano em seus próprios pensamentos está entre os pilares do totalitarismo.

As pessoas são responsáveis pelo que dizem, mas isso é definido pela lei e nunca por conceitos arbitrários que navegam entre a mediocridade e a covardia.

Ver prerrogativas, direitos civis e liberdade serem atacados, fazem do Brasil um simulacro de democracia que lentamente se dissolve e mostra suas entranhas a uma sociedade, que de forma letárgica aceita desmandos flagrantes e politiza algo que está acima de ideologias e afeta os direitos humanos.

Aprisionar o pensamento está entre os crimes contra a humanidade e nosso país parece caminhar a passos largos para a criminalidade que troca a arma pela caneta.

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SOCIEDADE



👆 O que teria acontecido à publicidade brasileira?
(por Giorgio Cappelli)

Qual a semelhança entre um celular Samsung, a OBABOX, a ONG ActionAid, 123Milhas, Havaianas, Fiat, Vick Vaporub, Centrum, Colchão Emma, Pampers e o Walt Disney Resort?

Quem prestou atenção ao título do artigo, acertou: a propaganda na TV. As atuais peças publicitárias (termo correto, aprendido na faculdade) dessas marcas têm a mesmíssima linguagem, que ora analiso.

São pessoas dos mais variados tipos, em atitudes dinâmicas ou passivas, sorrindo, em diferentes cenários, numa linguagem videoclipesca. Invariavelmente, há narração em off explicando ao expectador o quanto o produto ou serviço deles é sensacional. Comerciais que tratam o cliente potencial como idiota.

Pode conferir. Faz algumas semanas que percebi a tendência. Não citei uma de posto de combustível, outra de site de jogos, uma terceira, de curso de inglês e uma quarta, de empréstimo bancário (em que, curiosamente, alguns atores têm falas e quebram a quarta parede). Outras hão de vir, no mesmo padrão. Há uma exceção honrosa, que vale a pena assistir: cerveja Heineker.

De 1984 a 1987, frequentei os bancos de uma faculdade de propaganda e marketing, embora nunca tenha atuado na área. Só bem mais tarde, como revisor de texto, em poucas oportunidades. Assisti a pelo menos um festival internacional do ramo – o Cleo Awars – e conheci algumas das peças premiadas: material do Japão, dos EUA e do Brasil. Criatividade de cair o queixo. A da Pepsi, por exemplo, foi refilmada no Brasil com dez anos de atraso. E a campanha da Parmalat com crianças vestidas de mamíferos derivou de uma coleção de cartões ecológicos contendo bebês trajados como animais (não só mamíferos). Citei as duas apenas para mostrar a criatividade borbulhante do nosso meio publicitário.

Mas não é esse o ponto. Em algum momento, a imaginação dos profissionais da propaganda nacional pasteurizou-se. Podemos culpar o Marxismo Cultural? Decerto que sim.

Além desses comerciais que parecem ter vindo da mente preguiçosa e pouco criativa da mesma pessoa, há outro elemento a analisar: o elenco.

A criatura responsável pela direção de arte das mencionadas peças publicitárias costuma arranjar um jeitinho de lacrar. Preste atenção: há sempre uma intenção sutil de casal/par homossexual, um negro com uma branca ou um branco com uma negra – Neste caso, o diretor de arte já antevê, apavorado, que, se colocar um casal heterossexual branco, terá seu trabalho rotulado de racista.

Salta também aos olhos a quantidade de gente, digamos assim, esteticamente desfavorecida. Tento evitar, mas a imaginação me domina, e me vem à cabeça uma paródia do filme O Sexto Sentido. Deitado na cama, amedrontado e se cobrindo com lençóis, o garoto, personagem de Haley Joel Osment diz:

– Eu vejo gente feia.

– Com que frequência? – pergunta o médico vivido por Bruce Willis.

– O teeeempo toooodo... – responde Haley.

Ambos olham adiante e se deparam com uma televisão ligada.

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REVISTA ESMERIL - Ed. 25, de 24/10/2021 (Uma publicação cultural digital e mensal de Bruna Torlay. Assinar a revista


ENSAIO


👆 Economia e História



(por Vitor Marcolin)



Não se deve ter como crivo de análise da realidade um mero recorte apenas, uma ciência em mil, uma única ideologia ou corrente de pensamento. Quem assim age, seja por compromisso com este ou aquele grupo, ou seja por ignorância mesmo, arrisca-se a cair numa espiral de confusão que cresce na exata medida em que o indivíduo segura-se com mais e mais força em sua ciência, ideologia ou narrativa que lhe sirva de interpretação para a inabarcável estrutura do real.

Há o biólogo para o qual tudo é biologia; o físico, que interpreta todas as relações na clave da dinâmica da matéria; o matemático, que acredita piamente que desde as relações amorosas entre um homem e uma mulher até os lapsos neuronais são os números, as relações quantitativas, a alma da realidade; o sociólogo inábil vê em todas as relações humanas a atuação onipresente da dinâmica da luta de classes.

A lista poderia estender-se até os limites da capacidade humana em recortar a realidade em pacotes — para os quais ela dá o nome de “Ciências”. É bastante evidente que o risco em interpretar as coisas somente a partir desta ou daquela ciência está na alienação da própria percepção do indivíduo. E é bastante evidente também que a atitude sensata é aquela que leva o sujeito a concatenar todas as ciências numa somatória que tornem nítidos os contornos da própria realidade.

A relação entre as ciências, a interdisciplinaridade, portanto, expressa a lucidez do pensador honesto. Todas as ciências devem ser consideradas quando o propósito do investigador é alcançar o máximo de integralidade possível no âmbito do conhecimento. Contudo, tomemos aqui a ciência da Economia e a analisemos à luz de outra ciência, a História. Observar a dinâmica da Economia em função do tempo, das eras, não é a mesma coisa que observar toda a realidade a partir do crivo econômico, evidentemente.

Para Karl Marx, a História resume-se à dinâmica da Economia. A competição entre os indivíduos, grupos, classes e Estados por comida, combustível, matéria-prima e poder econômico é a gênese das relações humanas sob o humor de Cronos. As formas políticas, a religião e a cultura, portanto, têm suas raízes na realidade econômica — na ordem puramente material.

Desse modo, a Revolução Industrial implicara nas demandas da democracia, no feminismo, no controle da natalidade, no socialismo, no declínio da religião, no consequente afrouxamento moral, na liberação da literatura do patronato da aristocracia, na substituição do romantismo pelo realismo na literatura e, em suma, na interpretação da História nos moldes econômicos.

Assim, jamais teriam chegado aos nossos ouvidos as narrativas sobre Agamenon, Aquiles e Heitor se os gregos não tivessem conquistado o controle comercial do estreito de Dardanelos; fora, portanto, a ambição econômica, e não a face de Helena, “mais clara do que a noite iluminada por incontáveis estrelas”, que os impelira a enviar frotas de navios a Troia. É patente que a interpretação econômica ilumina generosamente a História.

O Partenon, a oferta dos homens à deusa Atena, fora edificado com o dinheiro da Liga de Delos; o tesouro de Cleópatra revitalizara a exaurida Itália de Augusto. Assim como as guerras de Roma contra a Pérsia, as Cruzadas foram tentativas do Ocidente de dominar as rotas comercias rumo ao Oriente; a descoberta, conquista e transporte do aparato civilizacional para a América fora consequência do fracasso das Cruzadas.

Em Florença, o Renascimento fora financiado pelo banco dos Médici. Na França, a mãe das revoluções levou às últimas consequências as suas transgressões não porque Voltaire escrevera sátiras brilhantes e Rousseau produzira romances sentimentais, mas porque a classe média chegara ao poder econômico e demandava liberdade legislativa. Os ricos burgueses tomaram de assalto o lugar dos antigos aristocratas.

Marx subestimara a importância objetiva das ações não econômicas sobre o comportamento das massas: o fervor religioso, como nos exércitos muçulmanos e espanhóis; o ardor nacionalista, como infundido sobre as tropas de Hitler ou sobre os kamikazes japoneses… Em muitos casos sob o humor de Cronos, o poder político ou militar atua como causa, não como resultado, das operações econômicas.

Prova disto é a tomada da Rússia pelos revolucionários bolcheviques em 1917, e a tradição dos golpes de estado impregnada na política de praticamente toda a América Latina. Quem poderia afirmar que a conquista da Espanha pelos Mouros, a conquista da Ásia Ocidental pelos Mongóis, ou a conquista da Índia pelo império Mogol não foram engendradas pelos movimentos do poder econômico?

Por fim, concluímos que a riqueza é natural e inevitável, e que a sua busca — ou conquista — levara objetivamente a mudanças profundas e permanentes na sociedade — e nas esferas adjacentes à esfera social, como na cultura, na religião e na política. A atividade econômica está contida na condição humana; assim como esta, aquela também conserva os seus mistérios, os seus movimentos imprevisíveis e enigmáticos.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2021

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Esmeril, conteúdo gratuito de 9-10 de Novembro



ESMERIL NEWS


👆 Entrevista com Giorgio Cappelli
(por Leônidas Pellegrini)


Um erro que queria evitar, e que alguns autores cometem, é criar um “homem de saias”

Giorgio Cappelli, que se consagrou com as True Outstrips, tirinhas protagonizadas pelo professor Olavo de Carvalho, está de volta com uma nova publicação, A Fivela Ardente de Bila, publicada pela editora Inverso.

Com seu humor inteligente e muitas vezes escrachado, Giorgio nos apresenta, na figura da jovem guerreira Bila, uma espécie de “desconstrução da desconstrução”, uma fortuita zoeira, ao melhor estilo Monty Python, com personagens do atual modismo Girl Power na cultura pop.

Bila, as True Outstrips, novos projetos e publicações de Cappelli, lacração nos quadrinhos e muito mais podem ser conferidos na entrevista a seguir. Boa leitura!

Esmeril News: Giorgio, em primeiro lugar, diga como está a produção das True Outstrips. Existe alguma previsão para um próximo volume encadernado?

Giorgio Cappelli: Neste momento específico, comecei uma “série dentro da série”, com doze tirinhas inspiradas na Teoria das 12 Camadas, do Olavo. Apesar de eu não saber se a Opção C pretende editar um Volume 2 das True Outstrips, estou perto de ter material para tanto. Foram 160 tiras no álbum anterior, e quase 320 atualmente; a mesma quantidade, portanto.

Esmeril News: Você lançou recentemente o álbum de quadrinhos A Fivela Ardente de Bila, pela Editora Inverso. Fale um pouco sobre como nasceu essa personagem, e também sobre as influências que a inspiraram – algumas delas estão na própria folha de rosto  do álbum, não?

Giorgio Cappelli: A ideia da personagem Bila é antiga. Sempre trabalhei com protagonistas masculinos, turminhas e, claro, havia as “mocinhas” que eram os interesses românticos deles. Nesses anos todos que escrevo, nasceram também personagens do sexo feminino, como a Apolônia, uma mulher exuberante e ingênua, e Tânia Saginatta, uma trintona com sobrepeso e modos abrutalhados que faz de tudo para arranjar namorado. Tem tanto êxito quanto o Cebolinha com seus planos!

Chegou, porém, um momento em que eu quis desafiar a mim mesmo e criar uma protagonista divertida e mais densa que a Apolônia e a Tânia. Pensei numa guerreira “pós-adolescente” num universo de fantasia estilo Conan ou Senhor dos Anéis, com pitadas de humor.

Um erro que queria evitar, e que alguns autores cometem, é criar um “homem de saias”. A primeira oportunidade para a personagem veio em 1995: fiz uma página de mangá só de brincadeira e coloquei em meu portfólio. Essa página caiu nas mãos de uma moça que gostou do que viu e me chamou para desenhar hentais para a editora dela, a Vertical. A personagem chamava Bárbara, a bárbara, e as histórias… Vocês podem imaginar. Eu olhava aquilo e pensava: “Não fosse esse conteúdo hardcore, seria uma personagem e tanto!”

Resumo da história: mais de vinte anos depois, reformulei a Bárbara e rebatizei como Bila, em homenagem à minha esposa, Sandra. Ela é filha de cearenses e tem olhos verdes. Segundo um finado tio dela, eles parecem duas “bilas” – que é como se chamam as bolinhas de gude no Ceará.

Sobre as influências: há um pouco de tudo: Asterix, Groo, lendas, contos de fadas, HQs e filmes do Conan e a trilogia Senhor dos Anéis.

Esmeril News: Quando te entrevistei para a Revista Terça Livre, em setembro de 2020, falamos a respeito do avanço das agendas lacradoras nos quadrinhos, e de lá para cá as coisas pioraram consideravelmente, sobretudo com personagens icônicos (Capitão América e Superman, por exemplo), e também fora das páginas, com a perseguição aos artistas não alinhados ao establishment da lacração, como o Joe Bennett. Como você percebe essa “marcha da vaca para o brejo”, como diria o professor Olavo de Carvalho, no mundo dos quadrinhos?

Giorgio Cappelli: Acho bem triste e irritante, tanto quanto a atitude dos que aceitam isso passivamente. Você citou o Olavo. Ele diria algo como “Quem tem medo do insulto, já perdeu a briga”. Felizmente há artistas reagindo a essa palhaçada (porque não tem outro termo mais educado para definir), como o caso do Bennett. Há também um lado bom: o público abandona esses quadrinhos e qualquer artista com conteúdo conservador tem muito mais chances de se dar bem.  

Esmeril News: As outrora gigantes Marvel e DC tinham os justos títulos de Casa das Ideias e Casa das Lendas. Elas ainda são dignas de tais honrarias? Caso não sejam, quais títulos você daria hoje em dia a essas editoras?

Giorgio Cappelli: Eu chamo a Marvel de “Casa da Ideia Fraca” ou “Casa do Não Dá Ideia”. Já a DC a gente pode denominar “Distúrbio Cognitivo”, como bem definiu o Ricardo Cardoso, amigo português da página Heroilogia e do blog Fortaleza da Solidão.

Esmeril News: Já que estamos falando de lacração, vamos voltar à sua personagem Bila. Ela a princípio tem toda uma aparência de mais uma produção “moderninha”, digamos assim, seguindo a atual onda feminista da cultura pop, mas é perceptível que na verdade ela pode ser até considerada uma paródia disso tudo, algo como um Monty Python zoando as próprias modinhas feministas. Foi isso mesmo?

Giorgio Cappelli: Sabe que eu nunca tinha parado para pensar nisso? A intenção sempre foi fazer rir, divertir e atingir o maior número possível de pessoas. Tanto mulheres quanto garotas que leram, gostaram bastante. Se as feministas torcerem o nariz, melhor ainda! Não faço quadrinho pra elas.

Uma curiosidade: assim que eu havia terminado os primeiros roteiros com a Bila,  lá por 2013, quis que uma mulher desenhasse a HQ, para dar o “toque feminino”. Procurei ajuda numa página supostamente de mulheres que apreciam cultura pop (cujo nome não mencionarei, mas que parece algo como “Dork Girls”). Nem me responderam! Então, assumi o lápis e o nanquim, e meu parceiro de projetos, o Enéas Ribeiro, ficou responsável pelas cores. Ele apresentou duas histórias para a Inverso e, pronto! Por ironia do destino, uma editora composta por mulheres!

Esmeril News: pra finalizar, gostaria que falasse sobre outros projetos seus, se possível. Havia um romance juvenil que era sua menina dos olhos, não?

Giorgio Cappelli: É tanta coisa! No momento a Marco Editorial vai lançar meu romance A.E.I.O.U.P. – Alienígenas Extraterrestres Intergalácticos de Outro Universo ou Planeta. A trama se passa em 1987, e conta com um quarteto de garotos na faixa dos 16 anos que descobre uma invasão de ETs em curso. Além de suspense, ação e humor, eu me permiti dar uma alfinetada no gramscismo. Muito sutil. Quem não pegar na primeira leitura, insista até achar.

Recentemente, após um ano de empenho, concluí a segunda aventura do Extracurricular Cucaracha. Estou procurando uma editora que deseje publicar. Além disso, há anos tenho escrito duas séries: uma sobre um paleontólogo aventureiro, chamado Luís Viana Gomes, que se mete com dinossauros vivos nas duas primeiras aventuras; e outra, passada em 1912, sobre um clínico geral especializado em monstros, o alemão Adolph Rudolph. Ele já se encontrou com Gregor Samsa, de A Metamorfose, com o advogado do Dr. Jeckyll, de O Médico e o Monstro, e com um bem-sucedido discípulo do cientista louco de A Ilha do Doutor Moreau. Tudo, porém, de forma implícita. E a minha menina dos olhos: o romance histórico Isto Não É um Conto de Fadas também virá por aí. Espero ter tempo, saúde e condições para produzir essas e mais obras.

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ESMERIL NEWS | UNIVERSO GEEK
 

👆“Esperanças Destroçadas”: começa a pré-venda de graphic novel sobre massacre chinês de 1989
(por Leônidas Pellegrini)


Obra trata de um dos episódios mais tristes e brutais da história chinesa

Iniciou nesta quarta-feira (10) a pré-venda da graphic novel “Esperanças Destroçadas: Tiananmen – 1989”, de Lun Zhang, pela Editora Saquarema. Acesse aqui a página da editora no Facebook e conheça outras obras de seu acervo.


A obra é focada no massacre ocorrido na Praça Celestial da Paz, em Pequim, em 1989. Lu Zhang, hoje exilado na França, foi testemunha da carnificina comandada pelo Partido Comunista Chinês, e em parceria com o jornalista Adrien Gombeaud e o ilustrador Ameziane, registra a memória dos eventos que moldaram a China contemporânea.


Segundo o autor, a graphic novel “é o relato de como um povo que lutou por liberdade, teve seu sonho destruído pela tirania de um regime comunista”.

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Brasil Sem Medo - LITERATURA (11/11/2021)



👆 Os 200 anos de Dostoiévski
(por Fabio Gonçalves)


Hoje o mundo comemora os duzentos anos de nascimento de um dos maiores escritores da literatura mundial. Entenda por que ele ainda deve ser lido

Dostoievski foi o primeiro romance que li, e foi lendo Dostoievski que tive ímpeto de escrever meu primeiro romance. Em 2013 li Crime e Castigo, livro que me fez gostar de literatura. Em 2016, lendo Os Demônios, tive repelos de escrever minha própria versão da história. Estava na USP e vi muito de perto, desde dentro, como nascem os Piotr e os Stavróguin, sob os ensinamentos dos Stiepan. O romance não deu pé, mas me deixou um personagem que, mais tarde, meti na minha primeira novela, Um Milagre em Paraisópolis, toda repleta da influência deste russo. Aliás, em dada altura, Saulo, dos personagens principais, cita um trecho de Irmãos Karamazov, em busca de resolver um drama moral de sua irmã Silvana.

Apesar das intenções desviadas do sujeito, Dostoievski é mesmo desses autores que nos ajudam a resolver certos dramas morais, ou pelo menos a compreendê-los desde seus mecanismos mais profundos e sutis.

Tenho a impressão de ele seja o último clássico, o último dos autores que se pode colocar na mesma prateleira de um Homero, um Virgílio, um Dante, um Shakespeare, um Cervantes. Quem teria afinal delineado a alma do homem contemporâneo em traços tão vivos, tão nervosos e vibrantes? E quem teria revelado, a partir das tensões do homem atual, tantas realidades da condição dos homens de todos os tempos?

Escreveu Otto Maria Carpeaux:

Dostoievski é o mais russo dos russos; e por isso, ou apesar disso, não importa, é o mais universal dos russos”.

É essa universalidade, a universalidade dos grandes clássicos, o que desde o início me impressionou e me levou a tomá-lo na conta de mestre — cuja maestria me será sempre tão distante e inconquistável quanto a Rússia.

Falo de Dostoievski porque se comemora hoje, dentre os bons e civilizados, os duzentos anos de seu nascimento. Ele rebentava num dia como esse no distante 1821, uma outra era, quase outra dimensão.

Teria que escrever sobre sua vida, mas encontrei um trecho da enorme Rachel de Queiroz, em texto que comemorava o lançamento das traduções brasileiras do autor, projeto da editora José Olympio do qual ela mesma fez parte, metendo o russo a falar português em Recordação da Casa do Mortos, Humilhados e Ofendidos e nos já mencionados Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazov. Diz ela:

“A 30 de outubro de 1821 [a data está incorreta], nascia na Rússia um homem a quem estava reservado um dos mais trágicos destinos de vivente, e que, simultaneamente, talvez como compensação à sua vida dramática, foi o autor de uma das mais importantes obras literárias do mundo inteiro, em todos os tempos.

Chamou-se esse homem Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski. Menino ainda, viu o pai ser assassinado numa revolta de servos, a quem ele oprimia em excesso. Rapaz, apaixonou-se pelas ideias socialistas da época; por causa disso foi julgado e condenando à morte; quase no momento da execução o czar comutou a sentença para trabalhos forçados na Sibéria. Durante quatro anos foi presidiário, mais seis anos exilados; só passados dez anos voltou das terras geladas da Rússia Asiática. Perdoado afinal, reiniciou a carreira literária, viajou, casou duas vezes, foi pai, amou, sofreu — sim, acima de tudo, sofreu terrivelmente. Sempre enfermo — teve o primeiro ataque epilético por ocasião do assassinato do pai — pobre, endividado, atormentado por problemas políticos, sentimentais e familiares, poucos dias de sossego terá conhecido nos sessenta anos da sua vida dolorosa.

E do vagaroso, sangrento calvário que foi essa existência, nasceu entretanto uma obra literária que mais parece de um iluminado que de um simples escritor — densa, terrível, a nos revolver o coração como se usasse pinças de fogo, pondo a nu, com implacável crueza, os mais escondidos mistérios da natureza humana”.

Obra de um iluminado. É o mesmo elogio extremo que lhe faz Henri de Lubac, em O Drama do Humanismo Ateu:

“Podemos afirmar que, a medida que passam os anos, aumenta a altura de Dostoiévski. Este romancista não aparece apenas como psicólogo e metafísico: tem os ares de um profeta”.

Menoscabando o fato de que o escritor tenha adivinhado lances da política de seus dias, inclusive alegando que precisaria muita boa vontade para crer que Os Demônios prenunciassem a Revolução Russa, opinião de que humildemente discordo, diz o cardeal francês:

“O que Dostoiévski antecipou são novas formas de pensamento e de vida interior, o que, graças a ele, se impõe ao homem e constituem para sempre seu patrimônio”.

E segue:

“Raríssimos são os gênios a que se faz semelhante afirmação. A um profeta, sim. Porque não revelou ao homem apenas os seus abismos, mas, de certa maneira, abriu outros novos, lhe dando novas dimensões; de maneira que prefigurou, ou seja, anunciou um novo estágio da humanidade, porque nele se concentrou a crise do nosso mundo moderno, como num pico agudo, reduzido ao essencial, e porque esboçou vitalmente uma solução, fonte luminosa para nosso presente caminhar pelo deserto”.  

Claro que a imagem do caminhante pelo deserto nos leva a Moisés. Dostoiévski seria o Moisés das almas escravizadas pelos verdugos da modernidade, os humanistas ateus, de que Lubac trata em sua célebre obra.

Talvez a analogia seja forçada, todavia ela serve para notarmos o maravilhamento e o assombro que a criação dostoievskiana produz em seus leitores, inclusive, e quiçá sobretudo, em homens e mulheres de gênio, como a nossa principal escritora e o grande filósofo cristão.

Contrastando com isso, temos que não raro os livros de Dostoiévski, ao invés de serem aproveitados, a um tempo, como esses terremotos que nos abalam e rasgam fendas abissais em nossas almas e como essas luminárias poderosas que nos ajudam a percorrer os novos desfiladeiros, ao invés disso, são lidos como peças doutrinárias de um ideologismo pateta para servir a causa deste ou daquele grêmio político-partidário.

Segundo o que se vê na tradição crítica de sua obra, resumida nas páginas que Carpeaux lhe reservou na sua História da Literatura Ocidental, tanto a direita quanto a esquerda reclamam o gênio para o seus respectivos times, como reforço de peso que pode resolver mais uma discussão desonesta e vaidosa.

Os comunistas querem-no um anarquista, um pré-bolchevique, querem nele um entusiasta do Raskholnikov, do Ivan Karamazov, dos encapetados Piotr Vierkhoviénski, Nikolai Stavróguin e Chigalióv, homem que desejava apinhar uns milhões de cadáveres para melhorar a vida no mundo. Os conservadores querem nele a Sônia, a santa redentora do revolucionário, o Aliócha, o Chatov, com seu nacionalismo fanático, querem, sobretudo, o Príncipe Míchkin.

No entanto ele é tudo. Ao longo de sua dura caminhada pela floresta da vida, conheceu todas essas possibilidades, e as desvendou como suas, assim como Dante, que em relances místicos deve ter antevisto na própria alma tanto as misérias do mais miserável pecador quanto a beleza do coro dos anjos.

Diz Carpeaux, na sequência do trecho em que chama a Dostoiévski o mais clássico dos russos:

“Das suas contradições dialéticas, que se refletem em interpretações contraditórias, nasceu uma grande poesia, grande e terrível".

O homenageado do dia é, pois, antes de tudo poeta, desses visitados pelas Musas, que lhes sopraram nos ouvidos, em voz melodiosa e suave, as verdades mais angustiantes e terríveis dos nossos tempos. E é por isso que deve ser lido; por todos.

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Allan dos Santos - 
CENSURA / COMUNISMO


👆 Ponerologia: psicopatas no poder
(por Allan dos Santos - texto de Olavo de Carvalho)


Prefácio do livro "Ponerologia: psicopatas no poder", por Olavo de Carvalho

MUITAS VEZES O LEITOR JÁ DEVE TER-SE PERGUNTADO como é possível que tantas pessoas, aparentemente racionais, amem e aplaudam os governos mais perversos e genocidas do mundo e se recusem a enxergar a liberdade e o respeito de que elas próprias desfrutam nas democracias ocidentais, ao mesmo tempo que continuam acreditando, contra todas as evidências, que são moral e intelectualmente superiores aos que não seguem o seu exemplo.

Hoje em dia essas pessoas, no Brasil, são a parcela dominante no governo, no Parlamento, nas cátedras universitárias, no show business e na mídia. A presença delas nesses altos postos garante a este país setenta mil homicídios por ano, o crescimento recorde do consumo de drogas, o aumento da corrupção até a escala do indescritível, cinqüenta por cento de analfabetos funcionais entre os diplomados das universidades e, anualmente, os últimos lugares para os alunos dos nossos cursos secundários em todos os testes internacionais, abaixo dos estudantes de Uganda, do Paraguai e da Serra Leoa. Sem contar, é claro, indícios menos quantificáveis, mas nem por isso menos visíveis, da deterioração de todas as relações humanas, rebaixadas ao nível do oportunismo cínico e da obscenidade, quando não da animalidade pura e simples.

Isso torna a pergunta ainda mais crucial e urgente. A resposta, no entanto, vem de longe.


Sessenta e tantos anos atrás, alguns estudantes de medicina na Polônia, na Hungria e na Checoslováquia começaram a notar que havia algo de muito estranho no ar. Eles haviam lutado na resistência antinazista junto com seus colegas, e isto havia consolidado laços de amizade e solidariedade que, esperavam, durariam para sempre. Aos poucos, após a instauração do regime comunista, novos professores e funcionários, enviados pelos governantes, estavam alterando profundamente o ambiente moral nas universidades daqueles países. Um jovem psiquiatra escreveu:

(...) sentíamos que algo estranho tinha invadido nossas mentes e algo valioso estava se esvaindo de forma irreparável. O mundo da realidade psicológica e dos valores morais parecia suspenso em um nevoeiro gelado. Nosso sentimento humano e nossa solidariedade estudantil perderam seus significados, como também aconteceu com o patriotismo e nossos velhos critérios estabelecidos. Então, nos perguntamos uns aos outros, “isso está acontecendo com você também?”.

Impossibilitados de reagir, eles começaram a trocar idéias, perguntando como poderiam se defender da devastação psicológica geral. Aos poucos essas conversações evoluíram para o plano de um estudo psiquiátrico da elite dirigente comunista e da sua influência psíquica sobre a população.

O estudo prosseguiu em segredo, durante décadas, sem poder jamais ser publicado. Aos poucos os membros da equipe foram envelhecendo e morrendo (nem sempre de causas naturais), até que o último deles, o psiquiatra polonês Andrej (Andrew) Lobaczewski (1921- 2007), reuniu as notas de seus colegas e compôs o livro que veio a sair pela primeira vez no Canadá, em 2006, e que agora a Vide Editorial, de Campinas, está a publicar em tradução brasileira de Adelice Godoy: “Ponerologia: Psicopatas no Poder”, do qual extraí o parágrafo acima.

“Poneros”, em grego, significa “o mal”. O mal, porque o traço dominante no caráter dos novos dirigentes, que davam o modelo de conduta para o resto da sociedade, era inequivocamente a psicopatia. O psicopata não é um psicótico, um doente mental. Só lhe falta uma coisa: os sentimentos morais, especialmente a compaixão e a culpa. Não que ele desconheça esses sentimentos. Conhece-os perfeitamente, mas os vivencia de maneira puramente intelectual, como informações a ser usadas, sem participação pessoal e íntima. Quanto maior a sua frieza moral, maior a sua habilidade de manipular as emoções dos outros, usando-as para os seus próprios fins, que, nessas condições, só podem ser malignos e criminosos. Justamente porque não sentem compaixão nem culpa, os psicopatas sabem despertá-las nos outros como quem toca um piano e produz o acorde que lhe convém.

Não é preciso nenhum estudo especial para saber que, invariavelmente, o discurso comunista, pró-comunista ou esquerdista é cem por cento baseado na exploração da compaixão e da culpa. Isso é da experiência comum.

Mas o que o dr. Lobaczewski e seus colaboradores descobriram foi muito além desse ponto. Eles descobriram, em primeiro lugar, que só uma classe de psicopatas tem a agressividade mental suficiente para se impor a toda uma sociedade por esses meios. Segundo: descobriram que, quando os psicopatas dominam, a insensitividade moral se espalha por toda a sociedade, roendo o tecido das relações humanas e fazendo da vida um inferno. Terceiro: descobriram que isso acontece não porque a psicopatia seja contagiosa, mas porque aquelas mentes menos ativas que, meio às tontas, vão se adaptando às novas regras e valores, se tornam presas de uma sintomatologia claramente histérica, ou histeriforme. O histérico não diz o que sente, mas passa a sentir aquilo que disse – e, na medida em que aquilo que disse é a cópia de fórmulas prontas espalhadas na atmosfera como gases onipresentes, qualquer empenho de chamá-lo de volta às suas percepções reais abala de tal modo a sua segurança psicológica emprestada, que acaba sendo recebido como uma ameaça, uma agressão, um insulto.

É assim que um grupo relativamente pequeno de líderes psicopáticos destrói a alma de uma nação.

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MEMÓRIA TERÇA LIVRE
(matérias de edições antigas da revista que ainda são atuais)

Hoje voltaremos no tempo para a edição 2 da Revista Terça Livre.

Se você como eu ainda tem seu cadastro de membros do TL Juntos, pode acessar neste endereço.


COMPORTAMENTO


👆 EM ENTREVISTA À REVISTA TERÇA LIVRE, SELMA PALENZUELA FALA SOBRE OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO
(por Terça Livre)

Em sua avaliação porque é tão necessário, atualmente, se discutir modelos de Educação clássica no Brasil?

Primeiramente, porque as mentes mais brilhantes da humanidade foram formadas pelos princípios e ferramentas de aprendizagem da Educação Clássica, como os grandes mitos Galileu, Shakespeare, Charles Darwin, Albert Einstein, São Tomás de Aquino, Leonardo da Vinci, Martinho Lutero, G.K. Chesterton, Lewis Carrol, Mortimer J. Adler, Irmã Miriam Joseph, Dorothy Sayers, C.S. Lewis, John Ronald Reuel Tolkien. Abraham Lincoln, Thomas Alva Edison, Isaac Newton, Oliver Wendell Holmes, John Dewey entre tantos outros, homens e mulheres, que ajudaram a escrever a história do mundo. Segundo Chris Perrin, autor de Introdução à Educação Cristã Clássica, “certamente, as primeiras gerações dos Pais Fundadores dos Estados Unidos da América foram educadas de maneira clássica: seus conhecimentos da língua, literatura e história clássicas são amplamente reconhecidos pelos historiadores e desempenharam um papel fundamental na formação da Constituição Americana e da filosofia política. [...] Artigos federalistas [The Federalist (Papers)] provam esse ponto; escritores como James Madison, John Jay, Alexander Hamilton e Thomas Jefferson citam frases em latim, referem-se a precedentes políticos e lições da história dos gregos, romanos e europeus e escrevem com elegância e estilo que surpreendem ainda hoje”. No Brasil, também foram formados pela Educação Clássica: Anísio Spínola Teixeira, Cora Coralina, Adélia Luzia Prado Freitas, Manuel Bandeira e outros tantos. Além do mais, a Educação Clássica é uma educação segundo a filosofia perene e faz parte da base dos pilares que moldaram a civilização ocidental e a alta cultura, trabalha em busca do desenvolvimento das virtudes, daquilo que é Bom, Belo, Verdadeiro e Duradouro, e detém as “ferramentas perdidas da aprendizagem” e os segredos das ciências e tecnologia. Outro ponto importante é que, há décadas o mundo tem sido dominado por um processo conhecido como globalização, sistema político-econômico que esvazia e corrói as tradições, os costumes e as religiões de uma cultura, e isso o faz enquanto condiciona as populações a confiarem na experiência de uma pequena classe de tecnocratas para cada aspecto da vida social e econômica. A partir desta armação é preciso compreender outros fatores que nos colocam diante deste status quo devastador e trazer soluções concretas que possam reverter o problema do Sistema Educacional Brasileiro.

No final da década de 80, uma grande reforma e/ou revolução psicológica baseada nos resultados da pesquisa psicopedagógica iniciou-se no Brasil, e já havia sido iniciada em décadas passadas no mundo inteiro. Ela foi conduzida por especialistas de Ciências da Educação que, segundo Pascal Bernadin, em Maquiavel Pedagogo (2013), logo dominaram os departamentos de educação de diversas instituições internacionais: UNESCO, Conselho da Europa, Comissão de Bruxelas e OCDE. “Na França, o Ministério da Educação e os IUFMS (Institutos Universitários de formação de mestres), estavam submetidos a sua influência. Essa revolução pedagógica visou a impor uma “ética voltada para a criação de uma nova sociedade e a estabelecer uma sociedade intercultural. A nova ética não é outra coisa senão uma sofisticada representação da utopia comunista””. Assim, como ocorreu na França, essa nova ética faz hoje parte dos programas escolares no Brasil, e é obrigatoriamente ensinada em todos os níveis do sistema educacional. Bernadin, ainda, aponta que, “dentre os traços mais relevantes dessa revolução pedagógica, é preciso destacar os seguintes: testes psicológicos; projetados ou já realizados, em grande escala; informatização mundial das questões do ensino e, particularmente, o censo (ora em curso) de toda a população escolar e universitária, a pretexto de “aperfeiçoamento do ensino”. Noventa por cento das crianças norte-americanas já foram fichadas; asfixia ou subordinação do ensino livre; pretensão a anular a influência da família”. No Brasil, influenciados pela Pedagogia do Oprimido, o método construtivista foi tomando cada vez mais espaço nas faculdades de Pedagogia e demais licenciaturas, promovendo uma verdadeira “caça às bruxas” às professoras e autoras das famosas cartilhas que faziam parte de programas de alfabetização nacional, substituindo assim, os métodos clássicos de alfabetização. Seguindo a cartilha da reforma psicológica, Freire desenvolveu uma teoria radical de alfabetização, propondo a problematização a partir de palavras geradoras, o questionamento dos métodos de ensino, da disciplina e autoridade do professor em sala de aula - uma teoria crítica, cujo propósito era promover uma revolução cultural e a mudança de comportamento da nossa sociedade. Para Paulo Freire (1970), “não basta saber ler que 'Eva viu a uva'. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”. Ele queria que, por intermédio de uma simples cartilha, Caminho Suave - um método silábico de aprendizagem do sistema alfabético –, os professores incentivassem os alunos a questionarem o Capitalismo e os meios de produção, a vida do homem no campo, a reforma agrária e a Revolução Industrial.

Em 2020, o Sistema de Avaliação do Ensino Básico (SAEB) do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), autarquia do Ministério da Educação (MEC) completará três décadas de serviços prestados à sociedade brasileira. Este Sistema de Avaliação “é composto por um conjunto de avaliações externas em larga escala que permitem ao Inep realizar um diagnóstico da educação básica brasileira (ensino fundamental e médio) e de alguns fatores que possam interferir no desempenho do estudante, fornecendo um indicativo sobre a qualidade do ensino ofertado. As médias de desempenho do Saeb, juntamente com os dados sobre aprovação, obtidos no Censo Escolar, compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) (Fonte: Portal INEP). Segundo Alessandra Gotuzo Seabra e Fernando Capovilla (2011), em Problemas de Leitura e Escrita: como identicar, prevenir e remediar numa abordagem fônica, apontam que, “os resultados das avaliações bienais do Saeb, em suas edições de 1995, 1997, 1999 e 2005, mostram queda significativa da competência de leitura de todas as séries avaliadas na década de 1995-2005, numa clara demonstração do fracasso do modelo de alfabetização empregado pela Secretaria de Educação Fundamental (SEF) do Ministério da Educação (MEC). Na Escala do Saeb de Língua Portuguesa a pontuação varia de 0 a 500 pontos, e a pontuação mínima esperada da 4ª série do Ensino Fundamental é de 200-250 pontos. Na década de 1995 a 2005, a pontuação da 4ª série, que já estava 60 pontos abaixo do mínimo esperado em 1995, caiu ainda mais 16 pontos, terminando 2005 com 76 pontos a menos que a pontuação mínima considerada pelo próprio MEC como aceitável. [...]. Novamente, a pontuação mínima esperada da 8ª série do Ensino Fundamental é de 250-300 pontos. Na década de 1995 a 2005, a pontuação da 8ª série, que já estava 44 pontos abaixo do esperado em 1995, caiu ainda mais 34 pontos, terminando 2005 com 78 pontos a menos na pontuação mínima estabelecida pelo próprio MEC como aceitável” (SEABRA & CAPOVILLA, 2011). A Síntese dos Indicadores Sociais de 2008, divulgada pelo IBGE, com base em dados de 2007, aponta que 1,3 milhão das crianças de 8 a 14 anos de idade não sabem ler e escrever, apesar de 1,1 milhão frequentar estabelecimento de ensino. Desse número, 65,3%, ou seja, 745,9 mil vivem no nordeste. Ainda segundo o estudo, entre os alunos de 14 anos, que deveriam estar em vias de concluir o Ensino Fundamental, 46,8% não sabem ler e escrever apesar de frequentarem a escola. Esses números não são resultados de avaliações educacionais, mas sim reflexo da percepção das famílias entrevistadas na Pnad de 2007, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE. Os números referentes ao Ensino Médio demonstram que a taxa de frequência líquida, ou seja, o número de alunos de 15 a 17 anos que frequentam esta etapa do ensino é de apenas 48%. (Fonte: Mundo Vestibular). Notícia veiculada no Portal do INEP, aponta que, “Saeb 2017 revela que apenas 1,6% dos estudantes brasileiros do Ensino Médio demonstraram níveis de aprendizagem considerados adequados em Língua Portuguesa (Fonte: Portal INEP) Relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). De acordo com a avaliação PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), aplicada no ano de 2015 em 70 países e economias, entre 35 membros da OCDE e 35 parceiros, incluindo o Brasil, o ranking demostra uma queda brutal de pontuação nas três áreas avaliadas: ciências, leitura e matemática. A queda de pontuação também refletiu uma queda do Brasil no ranking mundial: o país ficou na 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática (Fonte: Portal Educação, G1). De acordo com o Banco Mundial, os estudantes brasileiros podem demorar mais de 260 anos para atingir a proficiência em leitura dos alunos dos países ricos. Em matemática, a previsão é de que os brasileiros levarão 75 anos para atingir a pontuação média registrada nos países desenvolvidos. Ou seja, com bases nestes dados, de 1995 para cá absolutamente nada mudou no cenário qualitativo, comprovando que a raiz do problema não está relacionada ao avanço no número de vagas, mas tem como principais fatores a abordagem pedagógica, as metodologias de ensino e os métodos de aprendizagem.

Mediante este diagnóstico, é preciso compreender que, a corrida construtivista nas últimas décadas, e a insistência em investir recursos públicos em programas de alfabetização fracassados, não têm tido quaisquer resultados satisfatórios. Outros problemas que envolvem a falência do ensino no país, é a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, uma lei
demasiadamente subjetiva e complexa, o desmantelamento do magistério e da  Escola Normal, a centralização da distribuição PNLD (Programa Nacional do Livro e Material Didático) e a concentração de milhões de reais do contribuinte no MEC. 

Em 2003, o governo federal lançou o Programa intitulado Brasil Alfabetizado, insistindo em manter o mesmo modelo inepto e nocivo que destruiu a educação no Brasil, e mais uma vez o modelo construtivista foi imposto, de cima para baixo, pela SEF-MEC e recomendado pelos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) acarretando um prejuízo de 700 milhões de reais aos cofres públicos, em função de uma metodologia de ensino completamente equivocada (SEABRA & CAPOVILLA, 2011).

Ou seja, apesar de provas e questionários, aplicados periodicamente pelo Inep e PISA, estes resultados não têm promovido o debate verdadeiro sobre os problemas que afligem o modelo atual de educação, e, nem tão pouco, tem auxiliado para a elevação da qualidade do ensino esperada pelas famílias, muito pelo contrário, o quadro de doutrinação ideológica, o bullying e a violência têm tomado proporções aterradoras nas escolas de educação básica e universidades, e nenhuma medida tem sido tomada no sentido contrário.

Um dos problemas enfrentados para implantar uma nova filosofia em relação ao modelo de Educação que adotamos é justamente o fato da Educação ser centralizada. Em sua visão, qual seria o caminho a ser adotado pelo atual governo federal para conseguir êxito em discutir a Educação Clássica?

Na minha visão, é preciso reverter este jogo, zerando o cronômetro. Mas, a boa notícia é que na última década temos visto o ressurgimento do ensino domiciliar, de escolas, pesquisadores independentes (como eu), literários, faculdades e universidades confessionais, no mundo todo, ressurgindo das cinzas e
resgatando os princípios da verdadeira educação – e buscando redescobrir o legado ou herança da Educação Clássica e da alta cultura. 

A centralização de fato é um dos principais problemas da educação, principalmente, porque os sistemas de ensino atuais estão nas mãos de poucas editoras e a escolha do referencial bibliográco (livros didáticos e literatura) estão nas mãos de meia dúzia de burocratas do MEC.

Muitos não fazem ideia, mas, o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), por exemplo, foi criado de acordo com a concepção da reforma pedagógica marxista, já mencionada nesta entrevista. Apesar dos objetivos serem de avaliar, disponibilizar obras didáticas, pedagógicas e literárias, entre outros materiais de apoio à prática educativa, de forma sistemática e regular às escolas públicas de educação básica das redes federal, estaduais, municipais e distrital e também às instituições de educação infantil comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos e conveniadas com o Poder Público, este modelo tem sido prejudicial para a liberdade de crença e econômica, já que os livros não podem ser escolhidos nos distritos escolares pelos próprios professores de cada disciplina e pelas famílias. E, apesar do MEC informar  no site que a distribuição deste material é gratuita, o gasto com material didático pode chegar à casa de 800 milhões de reais do dinheiro do contribuinte, sem que haja qualquer diminuição nos índices de analfabetismo funcional, moral e intelectual, O Decreto nº 9.099, de 18 de julho de 2017, unificou as ações de aquisição e distribuição de livros didáticos e literários, anteriormente contempladas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Com nova nomenclatura, o Programa Nacional do Livro e do Material Didático – PNLD também teve seu escopo ampliado com a possibilidade de inclusão de outros materiais de apoio à prática educativa para além das obras didáticas e literárias: obras pedagógicas, softwares e jogos educacionais, materiais de reforço e correção de fluxo, materiais de formação e materiais destinados à gestão escolar, entre outros. Apesar dessas informações, muitos livros apresentam erros ortográcos, semânticos, científicos e cronológicos, impossibilitando a adoção dos clássicos de todos os tipos e gêneros, autores e obras regionais, que são de altíssima qualidade literária e cientíca.

Ou seja, é preciso ter coragem para romper com a “Educação Moderna” e abraçar de uma vez por todas a Educação Clássica - base dos sistemas de ensino dos países mais desenvolvidos do mundo. Em A Abolição do Homem, C.S. Lewis aponta, “agora, quais são as consequências disso? O que acontecerá se não mudarmos o rumo? O que acontecerá se a educação continuar neutra em termos de valor, por assim dizer, impedindo os alunos de um encontro transcendente? Lewis reconhece que se todos os valores forem relegados ao aspecto pessoal-relativo, se todas as concepções de Verdade, Bondade e Beleza desmoronarem para meras preferências subjetivas e pessoais, então a única maneira de haver um consenso moral na sociedade será por meio da coerção. Se um sentimento de obrigação divina e, portanto, de autogoverno foi apagado, então apenas a coerção, compulsão e extorsão podem constituir uma motivação de conformidade ética”. “Se quisermos ver uma restauração da virtude cívica em nossa sociedade, devemos levar a sério a reforma das instituições que educam as próximas gerações”.

A senhora desenvolveu um projeto de Educação Clássica Integrada. Quais são os pontos principais desse projeto e por qual razão ele é tão necessário à infância?

A ECI (Educação Clássica Integrada) é uma Abordagem Pedagógica Tradicional, desenvolvida a partir de quatro eixos norteadores: Tradição, Disciplina, Ciências e Tecnologia e referencial teórico testado e comprovado. É integrada porque abrange os principais métodos de alfabetização e ensino, metodologias
ativas, instrumentos e critérios de avaliação, rubricas e feedbacks, as TDIC (Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação) e a Interdisciplinaridade, em contrapartida à educação atual, tão fragmentada.

O projeto é necessário, pois prepara o professor para atuar de forma lógica com os processos de ensino e aprendizagem, de forma estruturada, pela transmissão dos conhecimentos científicos que remontam as
grandes obras e eventos da humanidade, a escada da inteligência, a taxonomia dos objetivos educacionais, e o desenvolvimento das virtudes, valores e princípios para a formação de mentes brilhantes, pessoas produtivas e cidadãos íntegros.

Nossa metodologia de ensino tem o foco na pesquisa cientíca, nos modos de ensinar e de aprender – da menor para a maior parte -, ela é sustentada por três Colunas que correspondem aos objetivos específicos, meios, áreas, operações e atividades pedagógicas.

Os planos de ensino nas escolas precisam ser simplificados, de modo a gerar mais eficiência, qualidade e o desenvolvimento de competências. O Currículo é o caminho a ser percorrido durante todo o ano letivo – indica qual ponto o estudante está e aonde pretende chegar. Na primeira etapa da educação os estudantes deverão desenvolver a Gramática, na segunda etapa a Lógica ou Dialética e na terceira etapa, a Retórica.  Um dos pilares mais importantes da Educação Clássica Integrada (ECI) é a Coluna de Aprendizagem Dois, em que o aluno é levado a trabalhar a memorização, aperfeiçoar habilidades individuais e competência em projetos colaborativos.

Neste aspecto, o professor tem a responsabilidade de preparar o Plano de Trabalho Docente, e propor com estratégias e atividades, com temas relacionados à didática, e realizar a avaliação formativa, supervisionando, coletando dados, corrigindo e ajudando o aluno a desenvolver todas as habilidades pretendidas e objetivos específicos.  Nesta metodologia o aluno aprende a desenvolver a sua percepção estética produtividade e criatividade visto que a teoria e a prática são indissociáveis.

Como a senhora avalia os primeiros meses do Ministério da Educação no governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL)? É possível destacar avanços e quais os pontos ainda críticos?

O MEC é um dos Ministérios mais aparelhados dos últimos 50 anos. Para se ter uma ideia, a Lei Orçamentária Anual de 2019 destinou R$ 122,9 bilhões para o Ministério da Educação, um orçamento que atrai muita pressão de grupos organizados e um jogo de interesses aguçado sobre Políticos e o Poder Público. Em relação ao governo atual, apesar de muitas controversias e ataques da imprensa nacional e estrangeira, o MEC tem atuado de modo a enxugar a máquina pública, pagar as contas atrasadas, a fim de promover mais eficiência na gestão das universidades. Sobre os pontos críticos, creio que a falta de um Planejamento Estratégico de médio e longo prazo, com a finalidade de resgatar a Educação Básica e o Magistério são os pontos centrais do debate público, além da falta de liberdade de ensino para os pais da Educação Domiciliar/ Homeschooling. O projeto apresentado pelo governo, nasce centralizado no MEC, implicando, inclusive na apresentação de um Plano Pedagógico e participação de uma avaliação anual, com possibilidade de recuperação, já a partir de 2020. É uma avaliação que ocorre como no ambiente escolar, ou seja, desde o segundo ano do ensino fundamental até o último ano do ensino médio. De acordo com o secretário adjunto da Secretaria Nacional da Família, Pedro Hollanda, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o projeto seguirá um princípio da isonomia [igualdade] entre o estudante da escola e aquele que aprende com a educação domiciliar e as regras definem que, caso o aluno seja reprovado na avaliação anual por dois anos consecutivos ou três anos não consecutivos, não compareça e não justifique a falta na avaliação anual e o cadastro anual não seja renovado, os pais ou os responsáveis legais perderão o exercício do direito à opção pela educação domiciliar. O que, na minha opinião, considero uma patrulha do Estado, já que a Educação Domiciliar não tem como base o princípio de aprovação escolar, mas sim, a formação do caráter, do espírito e das habilidades intelectuais das crianças. A maioria dos pais do Homeschooling promovem uma educação cristã, com base na literatura clássica, fundamentos científicos e nas escrituras, mas sem seguir um plano de ensino padrão ou uma linha cronológica do tempo.

A senhora comentou – em entrevista – que o Brasil tem um grave problema na formação dos professores por conta da visão que possui em relação à formação dos profissionais de pedagogia. Por que isso acaba se tornando um problema e como começar a mudar essa realidade?

Até a década de 80, prevalecia a formação do professor, no auge da sua vocação, pelo método clássico, na Escola Normal. Essa formação visava compreender e aplicar os métodos de alfabetização sintéticos, leitura, ortografia e os conhecimentos de gramática, matemática, ciências, literatura e belas artes. Durante o magistério, o estudante e candidato a futuro professor participava de programas de adaptação nas Escolas Públicas, primeiro, como Professor Observador, depois como Professor Assistente e no final da formação como Professor Substituto. Porém, após a grande reforma psicológica, exportada da Europa e Estados Unidos, pelos mestres e doutores brasileiros, os professores passaram a ser formados na Faculdade de Pedagogia, com o intuito de serem submetidos à doutrinação marxista e construtivista. A Pedagogia é uma Ciência que estuda fenômenos da Educação, e até então era um tipo de formação própria para gestores e coordenadores de escola.

De acordo com o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), em 2017, dos 1.212 cursos de Pedagogia no Brasil, 73% receberam nota abaixo de 4 no exame, o que é considerado abaixo da média. Outro fator alarmante é a violência disseminada no ambiente escolar, uma pesquisa feita em 2015 pelo Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp) apontou que 44% dos docentes que atuavam no estado disseram já ter sofrido algum tipo de agressão. Sendo assim, 84% dos professores afirmam já ter presenciado atos de violência, 74% falam em agressão verbal, 60% em bullying, 53% em vandalismo e 52% em agressão física. Para piorar a situação, outra pesquisa global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizada em 2013, com mais de 100 mil professores e diretores de escola do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio (alunos de 11 a 16 anos) põe Brasil no topo de um ranking de violência em escolas.

Na enquete da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana.

A realidade versus expectativa tem sido o grande desafio para os honrados professores que decidiram não abandonar a carreira, mesmo com tantos problemas e precariedades e, têm buscado por conta própria trabalhar com dedicação em sala de aula.

Na sua visão, o principal problema se encontra na Educação infantil ou na universitária? Qual o pior gargalo da Educação?

Acredito que tudo começa na educação básica. O pior “gargalo”, é o fato, de que as crianças são submetidas, diariamente, a um programa educacional de baixa cultura, além do agravamento do aprendizado por causa da ausência de métodos eficazes. Método é uma palavra que provém do termo grego methodos, signica “caminho” ou “via”, e se refere ao meio utilizado para chegar a um fim ou objetivo. Também pode ser um conjunto de regras para a pesquisa e investigação cientíca, um conjunto de princípios nos processos de ensino e aprendizagem e modos de agir.  A ausência de métodos na práxis docente nos ciclos iniciais têm contribuído para os baixos índices de desempenho dos rankings nacionais e internacionais de alfabetização. Não é possível que os professores continuem esperando que uma maçã caia na cabeça de um de seus alunos para que, este, descubra sozinho a lei da gravidade. De acordo com a lenda popular, Newton teve a primeira centelha de sua ideia sobre a gravitação sentado aos pés de uma macieira, ao observar a queda de uma maçã. Um outro erro que veriquei na Educação, não diz respeito exatamente a formação superior, mas o meio pelo qual o aluno acessa a Universidade. Na minha opinião o ENEM não tem contribuído, de modo algum, para o fortalecimento da Educação, muito pelo contrário, esse modelo tem aberto portas de entrada para alunos que não possuem as competências de aprendizagem e intelectuais para assumirem os bancos universitários. Baseada nas minhas pesquisas, sobre processos de admissão universitário, acredito que o modo de corrigir essa falha, e ao mesmo tempo alavancar os índices educacionais, é a implementação de Boletim Único, em que as notas da Educação Básica, mais a participação em Esportes, Projetos Sociais e Música, devem formar uma média para a admissão na Universidade. Pelo lado da Universidade, as Instituições de Ensino deveriam ser livres para aplicar uma redação, uma prova de gramática e outra dematemática, além de uma entrevista para conclusão do processo de admissão. A inversão do processo de acesso ao nível superior fará com que os pais passem a se preocupar com a formação das crianças, desde os primeiros ciclos de aprendizagem, e cobrar da escola mais eficiência e qualidade no ensino. Creio que esse modelo, adotado nos Estados Unidos e demais países seja a única solução para salvarmos a próxima geração. Sobre os cursos de Licenciatura, devem ser todos revistos. É importante que uma reforma seja feita no sentido de implementar um Curso de Artes Liberais. Escolas de Gramática plantadas em todas as universidades, em cursos livres e de educação online. De nada adiantará Paulo Guedes abrir a Economia e fazer a reforma tributária, se os nossos jovens continuarem a serem formados (desde a educação infantil) com o pensamento socialista e de dependência do Estado, e somente uma nova visão de educação poderá mudar essa perspectiva.

França, Inglaterra e Estados Unidos conseguiram enfrentar o problema que os assolava até 1995. Mas foi preciso mais do que um ato de coragem para arrancar o mal pela raiz, entretanto, conseguiram fazê-lo depois que profundos estudos revelaram que a raiz do fracasso escolar estava num modelo de alfabetização totalmente errôneo e contraproducente. (SEABRA & CAPOVILLA, 2011). Em relação ao governo brasileiro, basta ter a mesma coragem e humildade para reconhecer o problema e corrigi-lo.

No início do governo do Presidente Donald Trump, o treino da ortografia e o treino da letra cursiva voltaram a ser prioridade na educação infantil e, na França, ler, escrever, contar, respeitar voltou ao básico na educação, assim, como o resgate das línguas clássicas no ensino está entre as novas prioridades do Governo Francês.

Como conseguir integrar a família no processo educacional? Quais seriam os primeiros passos?

Existem muitas formas de integrar a família ao ambiente escolar, pelos processos de ensino e aprendizagem que envolvem a admissão na universidade, com base no currículo pregresso do aluno, pela formação oficial de Conselhos eletivos tanto para o acompanhamento do currículo, supervisão do material didático, inspeção do mobiliário escolar quanto em atividades sazonais, que ocorrem no dia a dia da escola – da manutenção das torneiras do bebedouro à avaliação ou revisão do material didático e verificação da qualidade da merenda. A Escola também pode realizar essa reaproximação com uma agenda anual mais atrativa, incluindo no Currículo Feiras Científicas e de Tecnologia, Exposições e Apresentações Artísticas, a Lição de Casa e criação de projetos de maquetes para reforçar o vínculo entre pais e filhos (na verdade, as maquetes são parte importante do meu Projeto).  Palestras, campeonatos esportivos, cursos de saúde, economia doméstica, educação financeira e empreendedorismo, aulas de artesanato, marcenaria, palestras sobre alcoolismo e drogas, saúde, higiene e etiqueta, além da organização de festas típicas, são meios de atrair a presença dos pais no ambiente escolar. Na verdade, a escola precisa recuperar o senso de comunidade (os antigos mutirões), o espírito de cooperação, que visam fortalecer o vínculo entre família e escola. Na minha opinião, a escola deve ser vista como uma extensão do lar e não como um aparelho do estado. Inclusive, no meu projeto busco incentivar as parcerias com a iniciativa privada e demais instituições da sociedade civil.

Devido à decadência dos sistema de ensino, nos últimos cinquenta anos, muitas ferramentas de aprendizagem se perderam em meio as ideologias e muitas famílias precisam reaprender matérias básicas e métodos de alfabetização para ajudarem seus filhos. Além de um Projeto Piloto de restauração da Educação Clássica, o governo pode contribuir para a formação de Mães Alfabetizadoras.

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CULTURAL


👆 O resgate do pensamento de João Camilo Torres
(por Luis Vilar)

O Brasil vive um momento difícil de sua história. Quando o assunto é educação, ocupamos os últimos lugares dos principais rankings. Isso atesta um desconhecimento profundo sobre o básico, quanto mais sobre a História do país e sobre como as ideias – sejam elas liberais, conservadoras, positivistas ou revolucionárias – influenciaram os que ascenderam ao poder nas últimas décadas. Associa-se a isso um fenômeno de uma hegemonia de esquerda em universidades e no mercado editorial que acabaram por tirar de cena importantes pensadores como Gustavo Corção, Meira Penna, José Guilherme Merquior, Mário Ferreira, dentre outros.

Nessa lista de poucos citados, mas de fundamental importância para compreender o Brasil, está João Camilo de Oliveira Torres. A obra de Camilo Torres andava praticamente desaparecida pelo retrato preciso que faz do Brasil ao historiar as ideias políticas que influenciaram o rumo do país.

Não raro, quando seu nome surge no debate público atual é logo associado a rótulos como monarquista, conservador, católico etc. Todavia, o conteúdo de seu texto não ganha a luz como deveria.

Nascido em 1915, João Camilo de Oliveira Torres faleceu (1973) deixando uma vasta obra que é incapaz de se definir por um rótulo. Trata-se do maior estudo publicado sobre o pensamento político brasileiro, analisando cada uma das correntes e posições ideológicas – dentro de seu tempo – que foram responsáveis por influenciar decisões sobre os rumos do país.

Ao analisar o período monárquico, por exemplo, o autor se mostra como um reformista, com posições democráticas, mas apaixonado pelo país. Não por acaso, ao falar de si mesmo – em sua autobiografia – se posicionou como um “homem interino”.

Enxergou na filosofia conservadora a busca pelas verdades que – como diria o filósofo Ortega y Gasset – não se banham no rio do tempo. A partir disso foi um ferrenho crítico do pensamento revolucionário que enxergava a sociedade como uma folha em branco onde se escreveria a fórmula perfeita para o paraíso na terra. Isso faz de João Camilo de Oliveira Torres um dos principais conservadores brasileiros. 

Biografia

João Camilo de Oliveira Torres nasceu em Itabira (MG) em 31 de julho de 1915. Faleceu em sua mesa de trabalho em 31 de janeiro de 1973, ao escrever um artigo que se chama “Os Mitos da Nossa Época”. Ao logo da vida foi jornalista, professor e servidor público. Enxergava a família como principal responsável pela formação do homem. A obra do autor recebeu vários prêmios e a de maior destaque é A Democracia Coroada.

Fortemente inuenciado por Santo Tomás de Aquino, saiu em busca da verdade e não da relativização ao compor um conjunto de obras que leva o título de História das Ideias Políticas no Brasil. Cada volume – que retrata um período específico da nossa história – mostra desde a disputa entre as visões liberais e conservadoras no Império, como o embate entre D. Pedro II e os ideais que podem ser representados no alagoano Aureliano Cândido Tavares Bastos, tidos por muitos como o Tocqueville brasileiro, ao estudo sobre a introdução das ideias revolucionárias no país, mostrando o germe do positivismo na fundação da República ao pensamento socialista/comunista ainda no início do século XX.

Em suas obras, Camilo Torres dialoga com diversos outros autores. Razão pela qual conhecê-lo é também abrir o leque para outras leituras que aprofundam a visão de Brasil. Ao todo, incluindo a História das Ideias Políticas no Brasil, foram mais de 41 obras publicadas.   
       
Identidade

Nos escritos, João Camilo buscava interpretar o país na busca pelo chamado “pensamento político nacional”, estudando a compreensão da formação do país, da identidade da nacionalidade, estabelecendo – desta forma – o diálogo entre o passado e o presente, para se ter a noção das conquistas, bem como dos erros ao tomarmos caminhos errados.

Nessa radiografia do país, o autor nos mostra os detalhes da organização imperial, a análise sobre a centralização promovida pela monarquia como forma de não permitir que o país se despedaçasse em pequenos “Brasis”, diante das forças políticas existentes no Império. Portanto, em A História das Ideias Políticas no Brasil, vemos um João Camilo que aponta para a realidade brasileira do ponto de vista político, cultural, religioso e a influência de outras nações na construção da nação.

Tudo isso estabelecendo um diálogo com o pensamento de gigantes que tiveram posições mais liberais, como Tavares Bastos e Joaquim Nabuco e até mesmo com as reflexões de Gilberto Freyre e outros, como os governantes, ao analisar o modo de refletir de D. Pedro II.

Pensamento

Camilo enxergava o conservadorismo justamente como um “estado de espírito” que – semelhante ao pensador Michael Oakeshott – rejeita a visão de um racionalismo articulado capaz de promover a “sociedade perfeita” desconhecendo o passado, não mirando no reconhecimento do próprio processo histórico e de como as ideias influenciaram cada tempo. Afinal, ideias possuem consequências.

Por essa razão, o autor brasileiro nos leva a compreender o que determina as mudanças sociais e em quais condições elas ocorrem, não quebrando o elo entre passado, presente e futuro, por compreender exatamente o berço das nossas conquistas e os valores que determinam o progresso.

O conservadorismo – portanto – não é reacionário, no sentido de que se coloca avesso às mudanças. Mas, a busca pelo que sustenta a liberdade, a vida e o caminhar para a frente sem que se ameace perder importantes virtudes.

Com diz o próprio João Camilo, o conservador não quer regressar ao passado, mas sim chegar em boas condições no futuro. Da coleção A História das Ideias Políticas no Brasil, talvez o volume mais urgente seja A Ideia Revolucionária no Brasil, em que Camilo mostra que as revoluções propostas – dentro do espectro marxista – acabam sempre por romper com a história por meio de processos violentos - em maior ou menor grau – que nos levam a tiranias com problemas mais graves do que aqueles que os ideólogos dizem combater.

É o caso da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, por exemplo, que acabou por criar um sistema muito mais totalitário do que o dos czares, com mais repressão e maior número de mortos. Aliás, ao todo, os regimes comunistas formaram a maior tragédia do século XX. Representam genocídios, fome, miséria e o fim de qualquer liberdade. Por essa razão, Camilo Torres era um defensor da prudência em relação às ações dos agentes políticos diante de situações novas no tecido social, para que – sensíveis as demandas – pudessem evitar catástrofes e assim tanto evitar as revoluções como o reacionarismo que pudesse impedir soluções para problemas reais.

Em resumo, João Camilo é um dos principais expoentes na tradição conservadora no Brasil, justamente por conseguir compreender e expor os males das ideologias seculares que desprezavam a realidade concreta e a substituía pela abstração do “mundo melhor”, das utopias. Como ele mesmo ressaltava, era “o primado da vontade sobre o conhecimento”. Assim como Oakeshott – portanto – nos ensina a ter cuidado com a fé política, guardando o ceticismo diante de todo e qualquer governo.

Obras

Por essas e outras razões, o resgate das obras de João Camilo de Oliveira Torres é fundamental. E a Livraria da Câmara de Deputados cumpre um papel importante ao relançar a coleção A História das Ideias Políticas no Brasil. A obra começou a ser lançada no ano de 2017. Agora, nesse ano, mais três volumes ganharam as prateleiras: O Positivismo no Brasil, o Presidencialismo no Brasil e Estratificação Social no Brasil.

É nessa coleção que está a obra A Democracia Coroada, bem como Interpretação da Realidade Brasileira, Os Construtores do Império, A Formação do Federalismo no Brasil, dentre outras que fazem parte do projeto de levar ao público o pensamento de Oliveira Torres.

Os livros estão à venda a preço de custo na Livraria da Câmara e podem ser adquiridos pelo site da editora sem frete. E na página livraria.camara.leg.br, estes também podem ser baixados gratuitamente. João Camilo de Oliveira Torres é fundamental aos nossos tempos.

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👆 PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO!

"Comprar a Rede Manchete foi a primeira coisa inteligente que a direita brasileira faz desde que começou a existir." (11/11/2021)

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👆OPINIÃO DO AUTOR

Comentando o dia da INFÂMIA
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
15 de Novembro de 2021




Hoje não proferirei muitas palavras. Apenas reproduzirei aqui pequenos comentários sobre o dia da infâmia, o 15 de Novembro.

"O mito Fundador da monarquia brasileira tem por base valores elevados e eternos que precedem os seus personagens, como Cristo, amor à verdade, fé e caridade, que levam ao conhecimento pleno do "eu" individual, bem como o papel de todos neste mundo. Já o mito Fundador da RÉ-pública brasileira tem como valores a soberba e arrogância de um marechal traíra com dor nos cornos. Aí vocês que se decidam aí o que vocês querem ter como referência para suas vidas." (15/11/2021, via Facebook)
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"A pessoa diz não gostar do Brasil império e justifica dizendo que nessa época havia escravos no Brasil.

Dom Pedro II já tinha feito uma legislação impedindo a entrada de novos escravos no Brasil e a Princesa Isabel chegou até o limite de aceitar a chantagem do Deodoro no intuito de acabar com a escravidão no país.

Mas a pessoa imputa o crime de escravidão no Brasil ao Império.

Putakiopariu!!! Vai ser BURRO lá longe!!

Então pela mesma lógica do IMBECIL, é desejo do Bolsonaro que haja comunismo no país pelo fato de haver comunismo no país.

Estão vendo o tamanho do ABSURDO??

Paulo Freire é o representante PERFEITO da educação brasileira, infelizmente. 🤦🏻‍♂️🤡" (15/11/2021, via Bom Perfil)
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Bom dia, e continuem sonhando com liberdade! E um pouco menos de ignorância.

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👆 HUMOR (agora com meus comentários!)

E na série do Giorgio essa semana, romance, drama, dinheiro... e frustração...
(12/11/2021)
...  frustração heróica!... oh, well!
(15/11/2021)


... à propósito, digam ao arrombado que já pode sair! Ou talvez... deixem ele lá trancado mais um pouco! Quem sabe ele de repente não descobre os prazeres da leitura? Nãããão... tô sendo otimista demais! 😂



Sal Conservador tá bem otimista! Não sei se devo ficar também, mas... não custa nada! #DerreteGrobu!
(12/11/2021)

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👆 LEITURA RECOMENDADA

Leiam, por obséquio! Leiam para não caírem mais em historinhas relativas ao INFAME 15 de Novembro de 1889. O dia do VERDADEIRO GOLPE que esse país levou, tristremente. 

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