Edição XXVIII (Revista Terça Livre 118, revista A Verdade 58, opinião e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Terça Livre, da qual sou assinante, com autorização pública dos próprios autores da revista digital. Nenhum texto aqui pertence a mim, todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.




(Um pequeno adendo pós-publicação: 
acessem os links da TV Artigo 220, onde, após serem CENSURADOS no YouTube, o Terça Livre passará a fazer suas transmissões; para verem as lives, acessem este link de preferência.)


GERAL

ENTREVISTA COM 
PE BERNARDO MARIA
(por Leônidas Pellegrini)


Conheci o Padre Bernardo Maria por meio de um amigo em comum, Ivan Kleber, do PHVox, e ainda não sei se agradeci o suficiente ao Ivan. Na época, o contato era feito para que o padre pudesse vir a integrar o quadro de colunistas do Terça Livre, e, com a venda de seu trabalho intelectual, este extraordinário monge gaúcho, bom conhecedor da mentalidade revolucionária, seus movimentos e meios de ação no mundo, pudesse aumentar a receita de doações ao Mosteiro Cisterciense Nossa Senhora de Nazaré, de Rio Pardo (RS), onde vive há 23 anos.

Padre Bernardo segue uma impressionante rotina de trabalho (de todo o tipo que o leitor possa imaginar e que vai conferir abaixo), orações, sacramentos e estudos. Seu bom humor também é notável. Faz lembrar aqueles religiosos de histórias como Marcelino Pão e Vinho, trabalhadores, estudiosos, alegres e piedosos. 


Se com a estreia do Padre Bernardo Maria o Mosteiro Nossa Senhora de Nazaré ganha um reforço financeiro a ele tão necessário, o Terça Livre ganha um reforço espiritual sem preço. Seja bem-vindo, Padre Bernardo!  

Terça Livre: Padre, em primeiro lugar, fale um pouco sobre o senhor, sua formação e história no sacerdócio e etc. 

Pe. Bernardo Maria: Eu nasci em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 1972, cursei a Faculdade de Direito na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) durante dois anos (1992 e 1993), depois mudei para o curso de Filosofia, na mesma Universidade, mas logo o abandonei porque descobri minha vocação cisterciense, e precisei dedicar todo o meu tempo à formação monástica. Alguns anos depois ajudei a fundar, em 1998, na cidade de Rio Pardo, o Mosteiro Cisterciense Nossa Senhora de Nazaré, no qual vivo até hoje.

Cursei a Faculdade de Teologia na PUC-RS (de 2000 a 2003), sou tradutor em 4 idiomas (espanhol, italiano, inglês e francês – conversação só nos dois primeiros), escritor, eletricista, alfaiate, encadernador, arquivista e mestre de noviços. Fiz o Curso para Formadores da Ordem Cisterciense, em Roma, frequentando aulas intensivas (1 mês e 15 dias por ano) de 2001 a 2003. Ajudei em trabalhos de tradução de textos na Casa Geral da Ordem Cisterciense, também em Roma, em 2004 (por 4 meses), e trabalhei como chofer e tradutor simultâneo (italiano para português e vice-versa) nos Capítulos Gerais da Ordem em 2005 e 2010.

Sou sacerdote há 18 anos, atuando principalmente no interior do Mosteiro, servindo à minha Comunidade monástica, mas também dando palestras e celebrando Sacramentos em outros lugares, nas poucas vezes em que tenho disponibilidade, já que nosso Mosteiro é ainda uma fundação, com muitas coisas por construir e organizar.

A minha vocação ao sacerdócio surgiu naturalmente, somando-se à vocação para a vida monástica. Penso que tive a graça de ser conduzido com sabedoria por meu Superior, que me aconselhou a não me preocupar com a vocação sacerdotal antes de ter convicção de ser chamado por Deus para viver no Mosteiro. Um sacerdote que não é chamado autenticamente para a vida no claustro não se sentiria realizado aqui.

Terça Livre: Fale um pouco sobre sua missão no Mosteiro Nossa Senhora de Nazaré. Em que consistem suas atividades, como as pessoas podem ajudá-los e etc. 

Pe. Bernardo Maria: No Mosteiro, penso que a minha missão principal é espiritual, é sustentar a Igreja com a oração pessoal e comunitária, e com a celebração da Santa Missa. Porém, não somos anjos! É preciso realizar também o trabalho manual para a manutenção do Mosteiro e para o nosso sustento. Nesse sentido, participo com os Irmãos do cultivo de um pomar de nogueiras (mais ou menos 400 pés, dos quais colhemos noz-pecã), trabalhamos com apicultura, uma horta modesta e até já fomos produtores de cerveja, como os nossos antepassados monges europeus, mas abandonamos o projeto depois de 4 anos, porque a legislação brasileira é muito injusta com os pequenos cervejeiros, com custos para produção e comercialização que estão muito além de nossas possibilidades. 

Não temos empregados, então os trabalhos domésticos são todos por nossa conta, ou seja, ocupamos boa parte do nosso tempo cozinhando, lavando louça, varrendo os corredores, capinando, roçando o mato, preparando e levando comida aos cães e às galinhas, fazendo a manutenção elétrica e hidráulica dos recintos, fazendo faxina na cozinha, no refeitório, na capela, na biblioteca, na sala de recreio, nas oficinas, nas celas e na hospedaria, lavando e passando roupa, podando árvores, subindo em telhados para reparos, lixando e repassando verniz em janelas e portas, subindo e descendo a estrada principal para atender quem bate à porteira. Meu amigo, aqui ninguém morre de tédio! E ainda temos que estudar, porque aqui não tivemos ainda nenhum caso de progresso intelectual por “graça infusa” ...

Apesar de termos algum ganho financeiro com nossos trabalhos, ainda dependemos em grande medida de doações, que podem ser feitas por meio de nossa Associação civil (conforme explicamos em nosso site nazare.org.br).

Terça Livre: Durante estes quase dois anos da pandemia da Covid-19, temos visto os dois principais tentáculos da mentalidade revolucionária (comunismo e globalismo) avançarem com muita rapidez e voracidade sobre o mundo. O comunismo, sobretudo, parece estar se reorganizando de maneira extraordinária aqui na América Latina. Tais avanços, inclusive, têm tido como um dos principais alvos (senão o principal) a Santa Igreja, sendo cada vez mais atacada desde dentro como de fora. Como o senhor avalia essa situação? 

Pe. Bernardo Maria: Estou muito preocupado, principalmente porque é cada vez mais evidente que dentro da Igreja Católica nasceu uma outra Igreja, ou seja, existe hoje, em uma mesma Instituição, a Igreja Católica de sempre e a Outra – se usarmos os mesmos termos de Gustavo Corção, em seu artigo para O Globo, de 29 de dezembro de 1977. Há testemunhos confiáveis de que a Igreja Católica vem sendo infiltrada por revolucionários há pelo menos 70 anos (veja-se o testemunho da ex-agente comunista Bella Dodd). Os frutos amargos dessa infiltração estão sendo colhidos de forma mais dramática nesta geração, e os fiéis estão tendo dificuldade para saber em quem confiar, especialmente quando o assunto é doutrina. Assemelham-se a “ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). 

A Igreja Católica na América Latina experimenta hoje o resultado calamitoso de uma contestação reiterada – para dizer o mínimo – da liturgia, dos sacramentos, da interpretação da Sagrada Escritura, da catequese, das devoções populares e etc., infligida pelos adeptos da Teologia da Libertação, que já há algum tempo parecem ter-se refugiado numa espécie de crença ecofeminista. Meu coração sacerdotal se sente esmagado quando, no momento da confissão, alguém me diz: “Padre, o meu Pároco prega o marxismo!”; “Padre, o meu Pároco é a favor da bênção para casais homossexuais”; “Padre, o meu Pároco disse que o aborto é um problema de saúde pública”. Como explicar a um penitente – o qual, por culpa desses maus Párocos, e às vezes até de Bispos, muitas vezes não teve a necessária instrução para dar as “razões da sua esperança” (Cf. 1Pd 3,15) – que existe por aí uma Outra Igreja, sem que esse penitente se escandalize, sem que ele comece então a relativizar a sua pertença à Igreja verdadeira? Esse é apenas um dos grandes desafios que o demônio nos impõe hoje em dia, valendo-se dos tentáculos do comunismo e do globalismo: uma espécie de cisma informal. 

Quanto aos desdobramentos da pandemia de Covid-19, eu penso que, por exemplo, determinar o fechamento dos templos religiosos é o mesmo que dar um testemunho público de que no ser humano não existe uma dimensão transcendente, que precisa ser alimentada tanto quanto a dimensão imanente. É óbvio que é preciso tomar precauções de higiene, mas o lockdown dos templos religiosos, na minha opinião, definitivamente não faz parte da solução do problema. E se fechar os templos não serve à cura, resta-nos concluir que é apenas um experimento, um ensaio para a execução de planos de poder totalitário e anticristãos, tanto do comunismo quanto do globalismo.

Terça Livre: Quais conselhos o senhor tem a dar, como sacerdote, para os fiéis cristãos nos anos que se seguem, que sabemos, não serão fáceis? 

Pe. Bernardo Maria: Não podemos nos iludir, estamos em um tempo de guerra, e numa guerra todo soldado importa, mesmo aqueles que fazem os trabalhos mais simples, ou menos perceptíveis. 

Não subestimem os próprios dons, não superestimem os próprios limites, busquem a superação, disciplinem o corpo e exercitem a mente. Nunca acreditem que já aprenderam o suficiente. Tenham paciência. Conformem-se com a necessidade de sacrifícios. Aprendam a trabalhar em equipe. Aceitem que, como em toda guerra, muitas das pessoas que amamos serão abatidas pelo inimigo, e assumam que apesar disso precisamos seguir em frente, deixando-nos guiar pelo Cristo, que é Caminho, Verdade e Vida. Honrem a memória dos que tombarem dignamente na luta, e assegurem o bem aos que ainda nascerão. Lutem com sabedoria e estratégia pela preservação de direitos e liberdades individuais. 

Que os católicos recorram à poderosíssima intercessão da Virgem Maria, leiam repetidamente o Catecismo, a Bíblia, a vida e o ensinamento dos santos, para que não sejam enganados por falsas doutrinas. Rezem o quanto puderem e, acima de tudo, nunca esqueçam que, no momento em que tudo parecer perdido, aí então é que estará próxima a vitória definitiva de Cristo. 

Terça Livre: O senhor está estreando como colunista conosco. O que nossos leitores podem esperar de suas colunas? 

Pe. Bernardo Maria: Tenham certeza de que eu sempre vou rezar antes de escrever qualquer artigo, porque quero entregar aos leitores nada menos do que o melhor do meu trabalho, e para isso conto com a “assistência do alto” (Cf. Tg 1,17). Parafraseando Santa Teresa D’Ávila, sou um filho da Igreja, e, sendo assim, meus textos estarão inundados pela perspectiva católica de analisar o mundo, as ações humanas e os fatos, pois, do contrário, eu me sentiria um homem incoerente. Garanto aos leitores que todo texto será fruto de uma honesta busca pela verdade, e o que eles terão diante de seus olhos será o registro dessa busca.

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COMPORTAMENTO


Liberdade para concordar
(por Alexandre Costa)

"Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir" George Orwell.

A linguagem tem um papel que ultrapassa as funções descritivas e alcança as camadas psicológicas mais profundas, tanto pela força persuasiva da repetição, quanto pela capacidade de influir significados a signos dispersos armazenados na memória.

Quando a linguagem decai, além da confusão interpretativa que degenera a comunicação entre as pessoas, o imaginário passa a ser preenchido por símbolos ambíguos, abstratos e voláteis, o que pouco a pouco incapacita a tomada de decisões e transforma os indivíduos em seres inseguros e dependentes. 

Esse processo que decorre da degradação da linguagem interessa a quem pretende manter e expandir o poder por meio da manipulação das mentalidades. Como as palavras só passam a fazer sentido dentro de um conjunto de pressupostos, quem detém a prerrogativa de impor as bases da discussão tende a controlar o debate público – mesmo que isso não signifique o controle total sobre o fluxo dos acontecimentos.

Com o objetivo de conquistar a hegemonia cultural permanente, grupos de pressão investem contra a precisão e a naturalidade da língua para dar a ela um caráter subjetivo que permita distorções pontuais, de forma a favorecer interesses políticos, econômicos ou ideológicos. 

Toda manipulação começa na linguagem, e essa regra se desdobra em outra: todo aparelhamento da linguagem depende da sua relativização. 

O relativismo, que tem a capacidade de destruir até mesmo as distinções entre verdade e mentira, também torna a linguagem vazia de conteúdo, inicialmente, e disforme, com o passar do tempo. E ao subtrair da linguagem a precisão descritiva e a contextualização – impossíveis em um ambiente subjetivo e relativista – ela vira uma arma de guerra cultural ou, na melhor das hipóteses, um adereço, uma perfumaria. 

Como em uma guerra não se desperdiça arma alguma, a instrumentalização da linguagem é usada em tempo integral, e de forma a atingir todas as camadas da sociedade e todos os aspectos da vida das pessoas, mas só fica evidente quando surge uma oportunidade de utilizar os efeitos das inserções no imaginário para executar o que há tempos vinha sendo planejado. 

Em momentos de crise esse processo fica mais visível. Por causar transformação, a crise sempre tem um aspecto de oportunidade. Parece frase de coach, mas na prática as crises são responsáveis por grandes mudanças na sociedade, e talvez seja por isso que, em chinês, a palavra crise é composta de dois caracteres: perigo e oportunidade – nesse caso podemos entender “perigo” para o gado, “oportunidade” para seus condutores. 

A crise que atravessamos agora, que começou bem antes da Covid-19 e tem raízes na degeneração cultural e moral fomentada nas últimas décadas, serve de exemplo para demonstrar como a manipulação da linguagem pode aproveitar a instabilidade para mostrar seus reais efeitos. Desde o início da pandemia ficou claro, para quem pensa um pouco, que a crise estava (e continua) servindo para avançar uma agenda totalitária. Nem é preciso discutir a doença ou entrar no mérito dos culpados e do eventual dolo de seus atos para perceber que junto com o corona veio à tona o pensamento totalitário enraizado na mente de pequenos burocratas, de tiranetes regionais e de figurões da política, da academia e da imprensa.

Não há exemplo melhor dos efeitos nocivos da relativização da linguagem do que os recentes episódios de perseguição a jornalistas independentes. Mesmo diante de inquéritos inconstitucionais, quebra de sigilo de fonte e outros absurdos legais, boa parte da “classe pensante” resolveu relativizar os direitos naturais e a própria noção de “liberdade”.

Seja por interesse econômico pontual, seja por divergência política ou ideológica, parlamentares, intelectuais e jornalistas da grande mídia tentam construir um novo conceito de liberdade. Querem impetrar um significado diferente à palavra, minimizando e distorcendo a sua essência e mantendo apenas os acidentes mais periféricos.  

Segundo esses seres angelicais, liberdade é um conjunto de regras que uma elite superior e inalcançável define, e os simples mortais devem seguir a sua vida dentro desse espaço delimitado. Essa aristocracia autointitulada pretende abandonar toda e qualquer referência à liberdade como direito natural e inviolável. 

Se o povo aceitar essa nova interpretação do que vem a ser liberdade, em breve esse direito será esmagado e esquecido, e em seu lugar teremos um espaço cada vez mais restrito para manifestações contrárias ou minimamente diferentes do discurso oficial. Estaremos inaugurando a era da liberdade consentida, onde ela só poderá ser exercida se for pra concordar com o establishment.

Alexandre Costa

Autor de “Introdução à Nova Ordem Mundial”, “Bem-vindo ao Hospício”, “O Brasil e a Nova Ordem Mundial”, “Fazendo Livros”, “O Novato”; e organizador do livro coletivo “As várias faces da Nova Ordem Mundial”, lançado em fevereiro de 2021.



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Viva a exceção humana
(por Ernesto Araújo)


Tomemos como ponto de partida a definição tradicional do ser humano como “animal racional”. Na sua formulação grega, por vezes atribuída a Aristóteles mas que não se encontra textualmente na obra do estagirita, temos: zoon logon echon.

Zoon, traduzido como “animal”, mas que também poderia corresponder a “ser vivo”, relaciona-se com a palavra zoe, uma das duas palavras do grego antigo que traduzimos por “vida”, ao lado de bios. Basicamente, zoe refere-se à vida orgânica, material, enquanto bios se refere à vida mental, a vida percebida e experimentada como tal por uma consciência, a vida enquanto história pessoal. Misturaríamos completamente os radicais gregos, mas chegaríamos a uma definição mais sucinta e facilmente compreensível no nosso vocabulário corrente, se disséssemos que zoe é a vida biológica e bios é a vida psicológica.

O problema terminológico nesse último par de caracterizações consiste na estranha (ou não tão estranha) migração do radical bio, da designação da vida de um ser consciente, bios, para a designação do estudo dos seres vivos em geral, bio-logia de bios+logos, aí cobertos tanto os seres conscientes quanto inconscientes, e tanto os insconscientes semoventes (os animais, e sem querer entrar aqui na discussão sobre a existência ou não de uma consciência animal), quanto os não-semoventes, portanto os vegetais. Mas a palavra biologia é uma construção recente, do início do Século XIX, a partir de radicais gregos, e não aparece no grego clássico, nem mesmo em Aristóteles, que dedicou quase metade de sua obra ao que hoje chamaríamos a biologia.

Se examinarmos a etimologia latina de “animal” abriremos ainda mais caminhos de discussão, pois “animal” provém do latim animus ou anima, o sopro de vida, o princípio vital, da mesma raiz do grego ánemos, que significa “vento”. Anima dá origem nada menos do que ao vocábulo português alma. Assim, ao dizer “animal”, estamos dizendo “ser dotado de alma”.

A palavra grega traduzida em latim por anima é, naturalmente, psyché. Ambas contêm em suas raízes a ideia de sopro, respiração. Mas para nós soaria estranho dizer que um animal possui uma “psique”, uma alma, mas é exatamente disso que trata Aristóteles no tratado Perí Psychês, mais conhecido justamente pelo título em latim De Anima, onde examina a “alma” justamente como o princípio vital comum às plantas, animais e seres humanos. O que diferencia homem e animal em Aristóteles consiste antes na capacidade intelectual, noûs, e não na alma. Daí a definição do ser humano como zoon logon echon, entendendo-se logos no sentido de razão intelectiva, e não como zoon psychen echon.

Apenas para complicar um pouco, assinalemos que bios e zoé provêm ambos da mesma raiz indo-europeia, *gweyh, da qual também deriva o latim vita e portanto o português “vida”. A sutileza grega, portanto, separou o primitivo *gweyh em dois conceitos, bios e zoe, que o latim prático voltou a reunir na boa e velha “vita”.

Mas o que está aqui em questão? Saber o que caracteriza o ser humano em comparação com os animais, o que nos distingue da natureza mesmo mantendo-nos unidos a ela.

Esse “o que” está no coração da procura dos gregos, da sua “demanda” no sentido medieval de uma aventura em busca de algo. Tentam buscá-lo ao inventar uma bios distinta da simples zoe, como se tentassem colher, da mesma árvore, a velha árvore indo-europeia *gweyh, uma nova fruta, uma fruta mágica, talvez o pomo da imortalidade. Talvez a bios, seja justamente o fruto da árvore da vida, que é a árvore da zoé (xylon tês zoês na tradicional tradução grega do original hebraico, a Septuaginta).

Buscaram esse “o que”, essa estranheza do homem em relação ao mundo natural, também na alma psyché, em Platão, ou numa parte da alma, o noûs, em Aristóteles (mas não há lugar aqui para nos aprofundarmos na distinção entre o conceito de psyché em Platão e em Aristóteles). Se o sopro da vida é comum aos homens e aos animais, e mesmo aos vegetais, qual é este outro sopro que nos diferencia? Daí surge o conceito de pneuma, o espírito, aquilo que o ser humano tem em comum, não já com os animais, o princípio vital, mas com a divindade. Novamente a palavra grega pneuma, bem como o latim spiritus, do mesmo modo que anima e psyché, provêm da metáfora da respiração. Pneuma e spiritus são também um sopro (que reconhecemos na palavras respirar, inspirar, expirar, todas elas derivadas do verbo spiro, de onde vem spiritus). Mas um sopro diferente daquele que perfaz a vida dos animais e vegetais.

Vemos aí aparecer o homem como ser que se comunica com a natureza pela alma, o princípio vital que com ela compartilha, mas ao mesmo tempo se comunica com um mundo além da natureza, através do espírito. Ou antes: um ser vivo cuja alma se comunica tanto com a natureza quanto com o espírito, e recebe de cada uma delas um sopro distinto, faltando um dos quais já não podemos falar de ser humano, mas de um animal como os outros.

Eis a “exceção humana”, o caráter único do homem entre todos os seres do universo. 

Os gregos procuraram também essa exceção ou excepcionalismo humano na palavra logos. O animal dotado de palavra, de linguagem, o animal que fala, esse é o homem, zoon logon echon. Traduzida por animal racional, essa expressão decai justamente para um – se nos permitirem uma redundância – “racionalismo” bastante limitante, que não descreve a riqueza da experiência humana. Pois para nós a “razão” evoca sobretudo a capacidade dedutiva, analítica, matemática, quando o homem se caracteriza também pela capacidade indutiva, sintética e poética, regiões que a ratio não captura, mas o logos sim. O homem é o animal que fala, e ao falar não apenas comunica fatos, mas expressa sentimentos e aflições, questiona e se conecta a outros mundos. (Esses outros mundos não são necessariamente “sobrenaturais”, mas pertencem a aspectos da natureza inacessíveis à razão matematizante, porém acessíveis ao logos.)

Bios, psyché, noûs, logos. Todos esses termos exprimem – ou partem do anseio por exprimir – a exceção humana.

Nossa pós-modernidade parece haver desistido dessa excepcionalidade. Por trás de um estranho humanismo materialista com o qual nos acostumamos, e de um culto automático (e seletivamente fanático) pelos direitos humanos, esconde-se uma espécie de desistência de ser diferente. Como se o homem não quisesse mais ocupar o lugar de nobreza e solidão que antes lhe cabia no universo. Como se, cansado de viver numa ilha, olhando para o céu à espera de algo indefinido mas presente, decidisse afogar-se no mar em volta e dissolver-se no indiferenciado da matéria.

Semelhante atitude não é “teoria da conspiração”. Está expressa em muitas obras, mas principalmente – e explicitamente – em um livro inquietante, da autoria do pensador francês Jean-Marie Schaeffer, publicado em 2007 justamente sob o título de La fin de l’exception humaine, ou “O Fim da Exceção Humana”. A tese de Schaeffer é simplesmente de que nada no ser humano justifica a sua pretensão de distinguir-se da natureza, de possuir algo que o eleva acima ou o separa dos demais seres vivos. 

Para alguns comentaristas, semelhante tese é uma decorrência natural da destruição do “sujeito” pelo pensamento marxista, pelo desconstrucionismo e pelo pós-estruturalismo. Sem alma, sem espírito, sem logos, sem bios, o homem reduz-se a um conjunto de impulsos mais ou menos administráveis, mas que não fazem sentido em seu conjunto e não apontam para qualquer realidade não sensorial (nem para qualquer realidade sensorial tampouco, pois esse tipo de destruição do sujeito também destrói o objeto e inviabiliza qualquer tipo de relação estruturada entre pessoas e coisas, muito mais entre pessoas e pessoas). Sem identidade consigo mesmo, sem qualquer referência seja ao céu, seja à própria terra, o indivíduo humano torna-se uma simples criatura do poder – que tanto pode ser um poder estatal, nas ditaduras “clássicas”, quando, e pior ainda, um poder impessoal e inidentificado, o poder que nasce de si mesmo e se afirma sem limites quando morre o sentido da exceção espiritual. No mundo sem logos e sem espírito, sem a palavra e sem o sopro que vem de algum outro lugar, todo o poder emana da realidade bruta da matéria, que o exerce seja indiretamente, por meio dos cada vez mais difundidos dogmas do pensamento único global, seja diretamente, na forma de opressão pura e simples.

Toda resistência ao poder total provém de algum tipo de alteridade, em algum “outro” em relação ao sempre “mesmo” do poder (esse poder puro corresponde talvez à “vontade de poder” de Nietzsche, e esse mundo sem outro, sem saída, sem esperança que ele cria corresponde ao “eterno retorno do mesmo” nietzscheano). Só a alteridade confronta o poder: seja  sob a forma da crença em um poder divino, seja de um povo como entidade coletiva com um destino de algum modo transcendente a si mesmo, seja de um direito natural, seja – em todos esses casos – da possibilidade de falar: o logos. Falar não para repetir o que o poder exige, esse eterno retorno das mesmas palavras de ordem e dos mesmos chavões, mas para dizer o que o poder não quer.

Somente falando o que quisermos, contra o poder e a despeito do poder, poderemos manter a exceção humana, que se chama liberdade.

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INTERNACIONAL

Qual é a Cuba que a Teologia da Libertação apoia?
(por Pe Bernardo Maria)

Um fato revelador

Minha intenção ao escrever este artigo não é a de fazer uma análise política, nem tampouco a de emitir uma opinião política; necessitarei, contudo, valer-me de alguns fatos políticos e sociais para evidenciar a triste impostura de alguns membros da Igreja Católica, especificamente membros adeptos da Teologia da Libertação (TdL) que, a despeito de todas as evidências da inspiração comunista do Governo de Cuba, pós-revolução de 1959 até hoje, insistem em apoiar os Governos que lá foram se sucedendo, em detrimento do que o Magistério da Igreja orienta a respeito do comunismo; agindo, portanto, como revolucionários que desejam implantar uma mudança de paradigma no seio dessa mesma Igreja.

Pelo que se tem notícia, desde o dia 11 de julho(1) deste ano os cubanos têm saído às ruas para protestar contra o regime comunista. A ilha foi sacudida na capital, Havana, e em outras 40 cidades, e os grupos estavam sendo liderados, muitas vezes, por jovens. O governo reprimiu com violência feroz os movimentos, detendo mais de 170 pessoas até o dia 14, inclusive jornalistas. Muitos manifestantes levaram surras aplicadas por guardas armados com cassetetes. “As imagens da violência rodaram o mundo e foram exibidas no site Cubanet, da oposição em Miami (EUA)”(2). O ditador comunista Miguel Díaz-Canel, nas primeiras horas dos protestos, foi à televisão e, afirmando mais de uma vez que “Las calles son de los revolucionários” (“as ruas são dos revolucionários”), como se pode verificar pelo vídeo do Partido Comunista de Cuba que foi publicado no Youtube, fez uma convocação chocante: “Tienen que pasar por encima de nuestros cadáveres se quieren enfrentar la revolución, y estamos dispuestos a todo, y estaremos en las calles combatiendo (...), habrá una respuesta revolucionaria, y por eso también aquí estamos convocando a todos los revolucionários del país, a todos los comunistas, a que salgan a las calles, en qualquier de los lugares donde se vayan a procucir estas provocaciones, hoy, desde ahora, y en todos estos días, y enfrentarlas con decisión, con firmeza, con valentia”(3) (“Têm que passar por cima de nossos cadáveres se querem enfrentar a revolução, e estamos dispostos a tudo, e estaremos nas ruas combatendo (...), haverá uma resposta revolucionária, e por isso também aqui estamos convocando a todos os revolucionários do país, a todos os comunistas, para que saiam às ruas, em qualquer dos lugares onde se vão produzir essas provocações, hoje, desde agora, e em todos estes dias, e enfrentá-las com decisão, com firmeza, com valentia”).

Não há como negar que o sucessor de Raúl Castro conclamou uma espécie de guerra civil para que seja defendida a Revolução Cubana. Díaz-Canel disse literalmente que essa revolta que se opõe ao Governo de Cuba terá que “pasar por encima de nuestros cadáveres” (“terá que passar por cima de nossos cadáveres”) se quiserem enfrentar a Revolução – e consequentemente o Comunismo que ali se estabeleceu por meio dela.

Está muito claro que Cuba vive sob uma ditadura comunista; qual é, porém, a relação disso com o Brasil? O escritor Percival Puggina nos dá algumas pistas:

“ ‘Por que esse seu interesse sobre Cuba e a pobreza que lá viu, quando aqui, sob seus olhos, uma terça parte da população vive abaixo da linha da miséria’?, indagou-me, certa feita, um comunista. E eu respondi que essa pergunta deveria ser dirigida à caravana petista que acompanhou Lula à Ilha no início de 2001, deveria ser dirigida aos participantes do Fórum Social Mundial que disputaram às cotoveladas o privilégio de assistir à conferência do presidente do Parlamento cubano, deveria ser dirigida a quem estendeu a bandeira daquele país na sacada do Palácio Piratini(4) durante a posse do governador Olívio Dutra e aos que deixaram que ela ali permanecesse, deveria ser dirigida aos jornalistas, sociólogos e professores universitários que escreveram os vários livros de exaltação do regime cubano que tive o cuidado de ler antes da minha primeira viagem a Havana, e deveria ser dirigida, por fim, aos que andam por nossas ruas ostentando camisetas com a estampa do Che ou enfeitadas com a iconografia da revolução de 1959. Minha curiosidade era pura consequência e produto de grande preocupação”(5).

Essa relação do Governo revolucionário de Cuba com as esquerdas brasileiras é notória; contudo, desde que a Revolução tomou o poder na Ilha, em 1959, o comunismo ainda lutava por mais espaço no Brasil. “Depois da queda do Muro de Berlim, em 1989, a primeira vez que a estrela, símbolo da esquerda (presente nas bandeiras da China e de Cuba, e também do PT; e na boina de Che), fez uma curva ascendente”(6) foi com a eleição de Lula para a Presidência da República, em 2002. “Lula é fruto das CEBs e da Teologia da Libertação”(7), e aí é que entra a responsabilidade de alguns setores da Igreja Católica na ascensão do marxismo na política e no âmbito eclesial brasileiros. De maneira mais esquemática, podemos afirmar: os Governos revolucionários de Cuba têm vínculo com líderes da esquerda política brasileira, os quais foram catapultados ao poder contando com o auxílio de membros da TdL que, por sua vez, passaram também a estreitar vínculo com os Governos revolucionários e comunistas de Cuba. Assim, os Governos (desde 1959) de Cuba, as esquerdas políticas brasileiras, e os adeptos da TdL passam a ter vínculos mútuos, formando um só bloco de influência e poder, compartilhando objetivos e agindo em estratégias conjuntas, no sentido de disseminar o comunismo na América Latina por meio da política e da ação, apoiadas pela pregação de setores da Igreja. Atentemos para o fato de que esses membros da TdL não se uniram ao povo pobre de Cuba, mas aos seus governantes maquiavélicos, opressores, e que sempre viveram mergulhados no fausto. Os integrantes da TdL sempre bradaram que o povo cubano foi beneficiado com a ascensão do regime comunista, que este o teria levado a uma espécie de “paraíso”(8) na Terra; o relato dos habitantes da ilha, porém, mostra exatamente o contrário. Em meio a pedidos contínuos de liberdade e mudança de regime na ilha controlada pelos comunistas, Eduardo Cardet, líder do Movimento Cristão de Libertação (Movimiento Cristiano Liberación – MCL) em Cuba, é muito claro na descrição do que está acontecendo este ano na ilha:

“A ditadura mantém a internet e as redes sociais bloqueadas para evitar que os cubanos se comuniquem uns com os outros e espalhem imagens e notícias sobre o que está acontecendo atualmente na ilha. No entanto, as manifestações pacíficas em nossa cidade e em várias cidades em toda a Cuba têm sido uma manifestação autêntica e civil de nosso povo exigindo liberdade, exigindo mudanças radicais que nos permitam viver com qualidade.

A resposta do regime tem sido a repressão excessiva, o uso letal da força que tem causado muitas vítimas, incluindo mortes e ferimentos. Infelizmente, aquele que ocupa o cargo presidencial, o ‘ditador de plantão’ do nosso país, Miguel Díaz Canel, deu a ordem direta de confronto, para que o sangue flua, para aqueles que supostamente se identificam com a revolução, bem como as forças repressivas do regime para atacar civis desarmados com total impunidade. Estes civis estavam pacificamente demonstrando, fazendo uso de um direito legítimo.

Atualmente, as forças repressivas do governo estão realizando uma onda maciça de prisões em todo o país. Eles estão supostamente detendo e transferindo para prisões aqueles que participaram das manifestações pacíficas, especialmente os jovens. Depoimentos de funcionários do governo indicam a possibilidade de julgamentos rápidos e sentenças de prisão de até 20 anos.

Muitas pessoas dentro e fora da ilha que fazem parte do regime ou querem defendê-lo a todo custo vendem a falsa ideia de que os protestos do povo cubano são devido à dolorosa situação causada por fatores externos, como o que chamam erroneamente de embargo norte-americano, a situação do COVID e outros. A causa da profunda crise sistêmica e estrutural que nós cubanos sofremos é um regime fracassado; é a ditadura que nos oprime, que viola nossos direitos, tira nossas liberdades, e torna impossível para nós construir um presente e futuro de esplendor. (...) A resposta da hierarquia da Igreja tem sido muito lamentável porque sempre consideramos que o papel fundamental da Igreja Católica é identificar-se com a dor dos outros, independentemente da raça, religião ou realidade econômica. A Igreja deve se identificar com aquele que sofre, com aquele que é espancado, perseguido e necessitado. Essa é a mensagem do Evangelho. A Igreja precisa deixar de lado alinhamentos políticos e outros interesses obscuros, e identificar-se totalmente com as necessidades humanas, lutando pelo bem-estar do homem, não importa onde ele esteja.

Felizmente, há um grande número de padres e pastores que estão acompanhando seus paroquianos, o povo de Cuba. Alguns foram até reprimidos ou até mesmo agredidos por ajudar nosso povo em marchas pacíficas. É o caso do padre Castor Alvarez, que foi espancado e detido por mais de um dia depois de participar das marchas na cidade de Camagüey. Isso nos enche de orgulho e transmite uma mensagem de força e esperança”(9).

Por herança, a ditadura

Esse relato de um regime violento e impiedoso combina com a descrição que se faz do comportamento dos primeiros revolucionários que tomaram o poder na ilha, há 62 anos. Ou seja, nada mudou de lá para cá. Che Guevara, por exemplo, foi famoso por seus pelotões de fuzilamento, que executavam prisioneiros mesmo sem terem sido julgados:

“Embora Che Guevara fosse o chefe supremo dos tribunais, muitos dos executados não receberam qualquer julgamento. Os poucos – e farsescos – julgamentos horripilavam e nauseavam os presentes, inclusive alguns antigos defensores da revolução. O já citado Erwin Tetlow, correspondente do London Daily Telegraph em Havana, começou a reconsiderar sua opinião à medida que assistia às condenações e sentenças de morte anunciadas quase que mecanicamente. E ficou especialmente aturdido quando viu vários desses veredictos anunciados num quadro – antes que os julgamentos começassem. Certo dia, no início de 1959, uma das cortes revolucionárias de Che declarou que Pedro Morejón, capitão do exército cubano, era na verdade inocente. Isto levou o também comandante  Camilo Cienfuegos a procurar por Che. ‘Se Morejón não for executado’, gritou, ‘eu mesmo vou meter um balaço nos seus miolos!”. A corte, frenética, se reuniu novamente e logo chegou a um novo veredicto. Morejón foi executado no dia seguinte.

‘Eu fui a um julgamento como repórter da NBC’, lembra a lenda do rádio nova-iorquino Barry Farber. ‘O caso do réu Jesús Sosa Blanco me deixou especialmente horrorizado. Tive que sair daquele lugar. Depois um colega me disse que a promotoria – é simplesmente odioso ter de dar nomes legais a estes procedimentos – e apenas a promotoria pediu para que uma das testemunhas apontasse o culpado – e ela apontou um revolucionário! Ela não pôde reconhecer o suposto ‘criminoso de guerra’ que eles estavam julgando. Este tipo de coisa se prolongou por horas a fio. Não havia uma única testemunha de defesa. Eu estive entre os jovens idealistas que de início aplaudiram a revolução, mas logo em seguida, e relativamente cedo, percebi algo de muito errado – percebi que Cuba se encaminhava para uma situação muitíssimo mais problemática que a anterior’”.(10)

Talvez o mais famoso dos revolucionários cubanos, Fidel Castro, por sua vez, exigia um certo nível intelectual e cultural de sua escolta, e o que formava esses homens era um ensino cubano impregnado pelo clima de Guerra Fria e pelo pensamento marxista. Eis algumas das matérias estudadas: “materialismo dialético”, “materialismo histórico”, “história do movimento operário cubano”, “ação subversiva inimiga”, “contraespionagem”, e ainda “crítica da corrente burguesa contemporânea”(11). Um dos guarda-costas de Fidel, que conviveu com ele por pelo menos 17 anos, denunciou traços impressionantes da personalidade desse ditador:

“Minha conclusão: Fidel é uma pessoa egocêntrica que gosta de ser o centro das conversas e que monopoliza a atenção de todas as pessoas a seu redor. Por um lado, como muitos superdotados, não presta nenhuma atenção ao que veste, daí sua preferência por uniformes militares. Várias vezes o ouvi dizer: ‘Faz muito tempo que solucionei o problema do terno e gravata’. Idem para a barba. Ele dizia: ‘Farei a barba quando o imperialismo morrer’. Na verdade, era sobretudo por comodidade que evitava se barbear todos os dias. Outro traço de sua personalidade: era absolutamente impossível contradizê-lo no que quer que fosse. Tentar convencê-lo de que estava errado, que seguia pelo caminho errado ou que deveria modificar e melhorar um de seus projetos, mesmo que levemente, constituía um erro fatal a quem o cometesse. Quando isso acontecia, Fidel deixava de ver seu interlocutor como uma pessoa inteligente. Para viver ao seu lado, o melhor era aceitar tudo o que ele dizia e fazia, mesmo durante uma partida de basquete ou uma pescaria. (...) Ao contrário do que sempre se afirmou, Fidel nunca renunciou ao conforto capitalista, nem escolheu viver com austeridade. Seu modo de vida é exatamente o oposto, assemelha-se ao de um capitalista sem qualquer tipo de restrição. Nunca considerou ter que seguir seus discursos sobre o modo de vida austero próprio a todo bom revolucionário. Ele e Raúl nunca aplicaram a si mesmos os preceitos que recomendavam aos compatriotas. De onde podemos concluir que Fidel é um homem extremamente manipulador. Dotado de uma inteligência intimidante, ele é capaz de manipular uma pessoa ou um grupo de pessoas sem dificuldade ou escrúpulos. (...) O problema é que mentir sem pudor fazia parte dos muitos ‘talentos’ de Fidel...”(12).

[CONTINUA]

Pe. Bernardo Maria Goulart

Monge do Mosteiro Cisterciense Nsa. Sra. de Nazaré

Rio Pado – RS


Telegram: @cister_riopardo




4- Sede do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

5- PUGGINA, Percival. Cuba: A tragédia da utopia. Porto Alegre: Literalis. 2004, pp. 18-19.

6- BETTO, Frei. Lula: Um operário na Presidência. São Paulo: Casa Amarela. 2002, p. 97.

7- CEBs (=Comunidades Eclesiais de Base). BETTO, Frei. Op. Cit., p. 100.

8- Em seu livro “Paraíso perdido – viagens ao mundo socialista”, Frei Betto lamenta a ruína de seu sonho com um mundo submisso ao socialismo real. Entre os anos de 1979 e 2012, Frei Betto andou pela China, Rússia, Letônia, Lituânia, Polônia, Tchecoslováquia, República Democrática da Alemanha, Nicarágua sandinista e por Cuba, relatando o fim de um projeto político.


10- FONTOVA, Humberto. O verdadeiro Che Guevara: e os idiotas úteis que o idolatram. São Paulo: É Realizações. 2009, pp. 142-143.

11- Cf. SÁNCHEZ, Juan Reinaldo. A vida secreta de Fidel: as revelações de seu guarda-costas pessoal. São Paulo: Paralela. 2014, p. 42.

12- SÁNCHEZ, Juan Reinaldo. Op. Cit., pp. 42, 43 e 103.

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CULTURAL

Aparecida
(por Leônidas Pellegrini)


Aconteceu num Brasil

de três séculos atrás

a história que aqui se traz

da graça primaveril

que Maria aqui nos faz. 



Felipe, Dinho e João

saíram para pescar,

pra poder alimentar,

de passagem na região,

um tal Conde de Assumar.



Não tinha peixe no rio

e a coisa não ia bem:

“Ali, acolá e além,

nada para o senhorio

esta pobre água tem”,



disse o Dinho encafifado,

“será que não haveria,

seguindo por esta via,

algum peixe do outro lado?

É rezar para Maria!”



Pois foi o que eles fizeram:

o Ave Maria rezaram

e a rede outra vez lançaram, 

e que surpresa tiveram:

Maria de lá puxaram,



o corpo e então a cabeça.

Não era um tambaqui,

mas mexendo aqui e ali,

juntando peça com peça,

a Mãe de Deus lhes sorri!



A rede mais uma vez

eles jogaram, e agora

não podiam tirar fora,

tão pesada ela se fez,

com peixe brotando afora.



Pelos séculos adiante

muito mais intercedeu

pelo brasileiro Seu

a escurecida radiante

santinha que apareceu



no rio por aquele dia. 

Obrigado, Mãe querida,

“doçura, esperança e vida”,

abençoai-nos, Maria,

Senhora de Aparecida!
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REVISTA "A VERDADE" - Ed. 58, de 11/10/2021 (Uma publicação digital semanal do Jornal da Cidade OnlineAssinar a revista


OPINIÃO


Verdades inconvenientes

(por Carlos Adriano Ferraz)

“Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário”

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32)

“A evidência é agora tal que não deixa espaço para dúvida ... que a prolongada privação de uma criança do cuidado maternal pode ter graves e amplos efeitos em seu caráter e em toda sua vida futura” (John Bowlby)

“Cuidado maternal na infância .... é essencial para a saúde mental” (John Bowlby)

***************

Algumas verdades são não apenas libertadoras: são autoevidentes. Ou seja, não é preciso nem estudos nem formação acadêmica para que delas nos apercebamos. Por exemplo, mesmo o senso comum sabe que uma criança que nasce em uma família “funcional”, com seus pais biológicos, tem uma menor probabilidade de enfrentar problemas psicológicos (desordens mentais, por exemplo) e socioeconômicos (dependência de assistência estatal, gravidez na adolescência, prisão, drogadição, etc). Nossos pais, avós, bisavós, etc, estavam cientes dessa verdade. E por essa razão entendiam que era muitas vezes necessário aprender a enfrentar certas dificuldades tendo em vista a boa formação de um ser humano que estava sob sua responsabilidade. Ou seja, muitas vezes cediam em seus interesses privados tendo em mente o bem dos filhos. Essa era, aliás, outra verdade: ao começar uma família o indivíduo sabia que o estava fazendo não apenas para satisfazer seus desejos particulares, mas para fomentar o bem comum, entendido como bem de todos enquanto condição do bem de cada um, individualmente. Nesse sentido, sua liberdade para formar uma família estava ligada à sua responsabilidade (dever) de cuidá-la. O matrimônio, assim se entendia, deveria envolver uma relação de ‘continuidade’ (“até que a morte os separe”) e ‘exclusividade’ (“fidelidade” – que significa não apenas não trair, mas também promover o florescimento do outro, do cônjuge e dos filhos).

No entanto, a exemplo do que ocorre com outras verdades, essa tem sido vilipendiada para que, com isso, se possa usufruir de prazeres egoísticos, desvinculados do bem comum. O casamento, assim como outros “bens humanos”, evoluiu e, com sua evolução, acompanhamos o fomento à plena realização humana. Há outros “bens” desse tipo, como ‘trabalho’, ‘atividades lúdicas’, ‘vida’, ‘amizade’, ‘livre troca’, ‘propriedade privada’, etc. De alguma forma nossos ancestrais se aperceberam que tais “bens” eram valiosos e precisavam ser protegidos e fomentados. Por essa razão, surgiram instituições (como o casamento, protegido pela Igreja e pelo estado). Mas antes delas tais bens já eram acalentados. Por exemplo, pessoas já formavam famílias e cuidavam uns dos outros. Já havia alguma forma de amizade, e assim por diante.

Não obstante, ainda que abundem evidências, mesmo científicas, dessa verdade, o egoísmo hedonista e narcisista tem prevalecido de forma cada vez mais abrangente e lesiva.

Resultado?

Ora, cada vez mais indivíduos estão imersos em problemas de ordem psicológica, social, econômica, etc. Em suma, poder-se-ia dizer que, do ponto de vista humano, temos decaído vertiginosamente. E isso ocorre pois temos ignorado aquilo que possui valor – que promove nossa plena realização humana, nossa ‘felicidade’ em seu sentido mais profundo. Ou seja, temos esquecido do amor matrimonial, da amizade, etc.

Já que usei o exemplo da família, vejamos algumas verdades referentes a ela.

***************

A partir dos anos 60 do século XX o psiquiatra John Bowlby passou a desenvolver a hoje conhecida “teoria do apego” (“Attachment Theory”), a qual demonstrou, teoricamente e com base em diversas pesquisas empíricas, que as crianças nascem, biológica e evolutivamente, “programadas” para se apegarem aos pais, pois tal apego se mostrou eficiente (desde a perspectiva evolutiva) para sua sobrevivência. Esse ‘apego’, “attachment”, é chamado frequentemente de “monotropia”.

Com efeito, o interessante sobre as pesquisas de Bowlby é que ele realizou experimentos empíricos sobre os efeitos da separação de crianças de seus pais. Ele percebeu que certos comportamentos infantis pretendem, justamente, evitar sua separação dos pais, como choro, gritos, etc. Esses seriam, conforme a teoria desenvolvida por Bowlby, mecanismos evolutivos reforçados pela seleção natural, tendo em vista a sobrevivência das crianças. Ou seja, uma vez que tais comportamentos funcionaram e as crianças que os adotaram foram mais bem-sucedidas em sobreviver, no decorrer de algumas gerações eles se tornaram instintivos (inatos).

Portanto, aqueles que possuem os cuidados dos pais, isto é, que estão “apegados” a eles, têm menos probabilidade de sofrer com ansiedade, por exemplo. Assim, o fato é que a criança precisa, primeiramente, desenvolver uma relação de segura dependência de seus pais antes de experimentar situações fora de seu ambiente familiar. Daí podermos concordar com Rui Barbosa: “a família é a célula máter da sociedade”.

Aliás, isso não se restringe aos humanos. Há um experimento paradigmático muito citado, o qual corrobora os resultados das pesquisas de Bowlby: o ‘experimento Harlow’, conduzido pelo psicólogo Harry Harlow. Esse experimento, com macacos rhesus, foi feito nos anos 1950, uma década antes de Bowlby começar a desenvolver sua teoria do apego. A ideia principal desse experimento era estudar o amor e as relações entre pais e filhos.

Com efeito, as pesquisas de Harlow mostraram que o “vínculo maternal” é altamente influente na vida presente e futura dos filhos. Em um experimento em específico, Harlow separou dois macacos recém-nascidos de sua mãe. Um deles foi colocado com uma “mãe” artificial feita de arame (metálica), a qual provia leite para o macaquinho. Outra “mãe” era igual à primeira, mas coberta com tecido de algodão. Embora a “mãe” “fria” (apenas coberta de arames) tivesse leite a oferecer, os macaquinhos optavam sempre pela “mãe” coberta com tecido de algodão, se aninhando junto dela. Ou seja, a questão não se restringia a obter alimento, mas envolvia, também, se “apegar” à mãe. Em suma, o experimento mostrou que existem motivações que não são apenas alimentares.

Mas o experimento de Harlow fica ainda mais interessante. Posteriormente ele manteve macacos separados, alguns com a “mãe” fria de arames e os demais com a “mãe” coberta de tecido de algodão. Ambos os grupos de macacos se desenvolveram fisicamente bem. No entanto, seu comportamento divergia de forma impressionante. Aqueles “criados” com a “mãe” coberta com tecido de algodão, retornavam a ela quando algum estranho se aproximava, como se estivessem buscando sua proteção. Os do outro grupo, ao invés de retornarem à “mãe” metálica, gritavam em pânico, se jogavam, etc. Isso mostrou que o apego na infância determinou, por exemplo, a reação dos macacos diante de situações de estresse e outras emoções.

Mas algo similar ocorre com humanos, como foi demonstrado posteriormente por Bowlby e pela teoria do apego tal como desenvolvida por outros pesquisadores.

Assim, as pesquisas de Harlow seriam posteriormente fundamentais para o desenvolvimento da teoria do apego, evidenciando os impactos das experiências de apego, no início da vida, posteriormente na vida adulta.

Com efeito, de acordo com Bowlby, crianças de até sete anos, privadas do cuidado maternal, especialmente aquelas criadas em instituições, podem ser seriamente afetadas em seu desenvolvimento físico, intelectual, emocional e social. Aliás, crianças criadas em instituições, sem contato com a mãe (“amor maternal”), têm maior probabilidade de enfrentar certos problemas, como atraso na aquisição da linguagem, dificuldade para estabelecer bons relacionamentos, maior propensão de incorrer em relações promíscuas, etc. E, claro, são mais propensas à delinquência, o que conduz a uma série de colateralidades que apenas mostram que crianças privadas de “amor maternal” estão em grande desvantagem relativamente àquelas criadas pelos pais em um ambiente “funcional”, sem violência.

Mas essa é uma das verdades sobre a importância da família. Outras verdades eu as expus, por exemplo, nesses dois textos:



Com efeito, em tempos nos quais vigem “narrativas”, a verdade se tornou inconveniente e, em alguns casos, passou a ser criminalizada. No caso da família e do casamento, hoje vige a narrativa segundo a qual qualquer ajuntamento é uma família. Ou seja, que não haveria diferenças entre os modelos existentes. Pior: dentre as “mentiras universais” está aquela segundo a qual a mais adequada constituição familiar, a dos pais biológicos com seus filhos (“tradicional”), é a mais nociva. Daí o ataque odioso à família dita “tradicional”. Não apenas isso, há também a insistência em se ocultar as verdades sobre a família e sobre sua importância. Mas a realidade não se submete às narrativas. Ela inevitavelmente emerge.

E a realidade é que o modelo familiar dito “tradicional” surgiu de forma espontânea e se enraizou em nossa cultura, tornando-se, por muito tempo, a regra para a constituição matrimonial e familiar. E, quando digo “espontaneamente”, quero dizer evolutivamente. A partir das interações sociais, a família “tradicional” se consolidou e posteriormente passou a ser protegida pela religião e pelo estado. Todavia, com o avanço do hedonismo niilista e egoísta algumas ideias totalmente desvinculadas da realidade, engendradas artificialmente, corromperam instituições surgidas de forma espontânea para assegurar nossa plena realização humana. Uma das consequências óbvias dessa corrupção é o atual estado de coisas pernicioso em que vivemos. Exemplos disso são oriundos da dissolução do tecido social moral e o crescimento da violência. Mortes violentas por causa indeterminada (aquelas em que não é possível identificar a motivação), homicídios, suicídios, por exemplo, são hoje as principais causas de óbito, sobretudo entre os jovens. Sem falar na drogadição, na prostituição (uma forma de escravidão), na promiscuidade (uma forma de reificação), dentre outras realidades inconvenientes que apontam para um problema subjacente: o vilipêndio de valores e de instituições como a família “tradicional”.

Em suma, voltando ao aspecto central do presente texto, existem verdades sobre a família e sobre seu papel essencial à plena realização individual e social. Negar tal realidade não a suprime, mas causa problemas cuja solução demanda que resgatemos a verdade sobre instituições como a família e seu papel central em nossa plena realização humana.

Carlos Adriano Ferraz é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). É professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

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PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO!

"Alguém ainda não percebeu que o Foro de São Paulo domina o Brasil inteiro?" (11/10/2021)

"O que mata o Brasil é o desprezo pelo conhecimento, somado ao amor idolátrico pelas formalidades, títulos e cargos." (11/10/2021)

"O Brasil será sempre o país dos bacharéis." (11/10/2021)

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OPINIÃO DO AUTOR

Eu, você, e o nosso inimigo
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
10 de Outubro de 2021



Começarei hoje uma série dedicada ao livro de Jeffrey Nyquist lançado em 2017, "O Tolo e Seu Inimigo". Por ter me dedicado à leitura de geopolítica, filosofia e assuntos correlatos durante um bom tempo, tive um grande apreço em encontrar por aí autores que possuem uma articulação verbal fantástica e merecem mais divulgação. Nyquist é um deles. Jornalista independente, analista político e escritor, ele ganhou notoriedade aqui no Brasil por causa de suas participações em quadros passados do Terça Livre, de uma entrevista que deu para o site Mídia Sem Máscara (de Olavo de Carvalho) em 2004 e por seu livro "Origins of the Fourth World War", de 1998, e por isso eu gostaria de me debruçar na análise, capítulo a capítulo, do seu livro de 2017, "O Tolo e Seu Inimigo", o qual considero extremamente pertinente para o momento que vivemos.

Este livro foi diversas vezes citado por Allan dos Santos em boletins antigos do Terça Livre, Allan ainda morava no Brasil, e eu, acompanhando os boletins, comecei a observar com mais atenção a certas citações que Allan fazia. Quando estava no Facebook um certo dia, reparei que Nyquist, não sei por qual razão, me incluiu em seus contatos. Muito embora eu tenha achado o máximo na época, não me considerava (e ainda não me considero) merecedor de tal coisa, mas após ler o seu livro, percebi que pensamos de forma muito semelhante sobre diversos assuntos e disse a ele que iria tecer comentários sobre a obra. Bom, aqui estou eu cumprindo essa promessa, e acho sinceramente que isso pode servir de fonte de inspiração para outras pessoas.

Iniciemos então pelo Capítulo 1 - O Tolo Consigo Mesmo, ao qual vou me debruçar neste texto aqui. Jeffrey começa tecendo comentários bastante ácidos sobre o domínio dos globalistas e (para usar um termo de Pascal Bernardin) "criptocomunistas", e o que almejam alcançar. Saindo de si mesmo e assumindo um papel de gênio do mal, ele profetiza o reino do anticristo na terra por 14 longas páginas iniciais. Você poderia pensar, ao ler toda essa conversa de controle global e manipulação da mente das pessoas através da educação e da auto-sugestão, ou da substituição da ordem civilizacional vigente por uma Nova Ordem Mundial, você que não se informa ou que não acompanha nada, que só faltou a risada macabra de gênio do mal no final. Ledo engano, amigo! O irônico disso tudo é que se poderia pensar que tudo que foi falado não passa de uma baita teoria da conspiração, como a velha imprensa gosta de pregar (se você ainda a acompanha)... mas não é. Tudo isso a qual Nyquist se referiu em seu texto é SIM, muito real. Miseravelmente real. E está acontecendo neste momento, ENQUANTO VOCÊ ME LÊ. Isso é o mais assustador de tudo. E toda essa teatralidade da qual Nyquist se serve no início de sua obra é feita para explicar que, no fim das contas, são esses mesmos gênios do mal que querem nos fazer passar por loucos. Nós, que tentamos alertar as pessoas dos absurdos que estão ocorrendo. Nós que tentamos armar a sociedade contra seus inimigos, como declara Nyquist em suas palavras iniciais: "Nosso objetivo deve ser a defesa da sociedade contra seus inimigos."

Mas nada é tão ruim assim que não possa piorar. Como se diz no dito popular, assim que se chega no fundo do poço, você descobre que lá embaixo existem inúmeros porões. E alguns desses porões são habilmente enumerados por Nyquist quando se refere à invasão islâmica à Europa que destruiu e continua destruindo inúmeras vidas e culturas, e o mais importante: ao próprio descaso do paciente doente que se encontra frente a frente com seu inimigo. Este paciente, por sua vez, está com AIDS, pois o vírus que causa a doença não sabe reconhecer quem é amigo e quem é inimigo no corpo da pessoa; a analogia bate com a atualidade de muitas pessoas. Este é o paciente que não faz a menor ideia do que está acontecendo. É o cara que diz que nós vemos comunistas debaixo da cama, o tempo todo. É o cara que acha que a Guerra Fria acabou. Que a KGB acabou. Que o Comunismo foi extinto por Ronald Reagan e pelo Santo Papa João Paulo II... é a pessoa que vive no mundo de Narnia, passeando na montanha feliz com os Ursinhos Carinhosos.

Esta é uma categoria de tolo ao qual o texto de Nyquist faz menção indireta. Mas existe um outro, ao qual o texto do capítulo se dedica. E esse é um tolo pior ainda. É o tipo de tolice que acomete todas as pessoas do mundo moderno. É o tipo de loucura a qual a pessoa é acometida pela ilusão da sociedade tecnocrática. O tipo de soberba que no fim acaba destruindo o ser humano. Cito aqui o texto de Nyquist:

"E nesse contexto, mais uma vez, é a vitória que nos enche de falsa esperança e orgulho. Vemos a vitória do homem na tecnologia e na riqueza atual, e dizemos: 'Essa é a vitória representada pela nossa liberdade'. quão depressa damos tudo isso por garantido e nos esquecemos daqueles ensinamentos e escarnecemos daquelas virtudes que tornaram essas vitórias possíveis?"

A sociedade de hoje parece querer substituir os três pilares que fundaram nossa civilização por outros três: a filosofia marxista, o direito oligárquico aleatório e a moral apostática e tecnicista. Tudo nos leva a crer que são essas as coisas que vão reinar daqui pra frente. O tolo encara a falta de ética e moral como uma virtude na sociedade tecnocrática. Acredita que é inviolável e indetectável por detrás de sua tela, seja de computador, smartphone, etc. Acredita na conquista e na sua própria independência através da vitória da tecnocracia. Ele nem sequer sonha que está sendo controlado, levado a crer que está a salvo. Basta ver os exemplos desesperados de hoje: milhares de pessoas concordando em tomar uma substância experimental nas veias para terem as suas liberdades de volta. Papai Estado "agarante". Escolinha do Seu Crêisson também diz que a independência financeira é o máximo! Créptomoeda e bitcóio passando em seu app de investimentos futuros como um raio. Pra quê saber das coisas mais elevadas? Pra que buscar a verdade? Pra quê dar a cada um o que é seu com justiça verdadeira? ... Pra quê Deus? Ele nem mesmo existe, não é mesmo?...

Apertem os cintos para os próximos anos. Até 2030, vamos saber o que realmente vai acontecer com essa nova sociedade iluminista de Voltaire, Marx e Maquiavel. Vocês podem entrar na roda e tentar a sorte com ela se quiserem. Eu prefiro ficar aqui mesmo, na minha família Cristã, com meus valores Cristãos retrógrados e ultrapassados, criando minha filha para um dia habitar o Reino prometido por Cristo junto comigo, se merecedores formos de tal empreendimento.

O próximo capítulo eu já até adiantei acima, vai investigar determinadas farsas que nos são passadas até hoje pelos meios tradicionais. Mas isso fica para uma próxima vez.

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HUMOR


(11/10/2021)



"Charge de hoje. Discurso da Pirralha. #JindeltCartunista." (@PS_Jindelt_60)
(01/10/2021)

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