Edição XXVII (Revista Terça Livre 117, revista A Verdade 57, opinião e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Terça Livre, da qual sou assinante, com autorização pública dos próprios autores da revista digital. Nenhum texto aqui pertence a mim, todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.



GERAL


ENTREVISTA COM DR. ALESSANDRO LOIOLA
(por Leônidas Pellegrini)


Na edição 83 da Revista Terça Livre, em fevereiro deste ano, publicamos uma entrevista com o Dr. Alessandro Loiola sobre seu livro “Covid-19: A Fraudemia(também já recomendado neste blog na edição IV), publicado em janeiro. Na época, conversamos sobre as fraudes envolvendo a pandemia da Covid-19, o que incluía, entre outras coisas, o uso de máscaras, o distanciamento social, a proibição ao tratamento precoce e, pincipalmente as vacinas. Também falamos sobre o totalitarismo sanitário que começava a se instaurar no mundo.

Oito meses após a publicação do “Fraudemia”, o Dr. Loiola, a paranoia em torno das vacinas cresceu significativamente, assim como recrudesceu sobremaneira o totalitarismo sanitário, o que fez o mundo entrar em ebulição, sobretudo em alguns países da Europa e na Austrália, que se tornaram uma distopia de fazer inveja a Orwell, Huxley, Bradbury, London, Benson, Burgess, Rand e Brabilla, entre outros. 

Neste meio tempo, o ativismo judicial, o modelo de censura e perseguição importado da China (censurar, limitar acesso às redes sociais e secar as fontes de renda) às vozes dissidentes em relação ao discurso oficial sobre a pandemia só fez crescer. O próprio Dr. Loiola, na mesma proporção em que se tornou cada vez mais conhecido e seguido nas redes sociais, onde esclarece o público sobre as verdades e mentiras por trás do teatro armado pela OMS, tem tido sua voz cada vez mais tolhida. Ainda assim, sua interação com os internautas, sobretudo no Telegram, tem gerado frutos, e um deles é justamente a publicação do livro “Covid-19: A Batalha das Vacinas”, que pode ser encarado como um desdobramento da publicação anterior, com base, além dessa interação ativa com o público cada vez mais interessado na verdade dos fatos, de um intenso estudo das pesquisas científicas sérias desses últimos meses, relativos à absurda vacinação em massa que tem acontecido no mundo. 

Na entrevista desta semana da Revista Terça livre, o Dr. Alessandro Loiola fala um pouco mais sobre seu novo livro e avalia o atual cenário distópico e corrupto do mundo em torno das vacinas contra a Covid-19. 

Terça Livre: Em janeiro desta ano, você lançou o livro “Covid-19: A Fraudemia”, sendo inclusive entrevistado pelo Terça Livre na época. Sete meses depois, em agosto, veio a lume “Covid-19: A Batalha das Vacinas”, uma espécie de desdobramento natural da publicação anterior. Fale um pouco sobre como e por que foi gestada essa nova publicação.

Alessandro Loiola: As estratégias de enfrentamento adotadas pela maioria dos países foram além de um mero (e enorme) equívoco: foram algo absolutamente anticientífico orquestrado por meio da OMS (e sabe-se lá por quais outros players obscuros) com o intuito de promover o caos. O livro “Covid19: A Fraudemia” mostra isso com todas as provas e fatos. É um registro da história para que as pessoas no futuro saibam que muitos em nossa época sabiam exatamente o que estava sendo feito.

Com o decorrer dos meses, entramos na paranoia das vacinas. Novos dados surgiram, centenas de milhões de doses de vacinas experimentais foram aplicados no planeta. Elas não resultaram no devido controle da pandemia, mas adicionaram problemas perigosíssimos, como os efeitos colaterais desconhecidos (muitos deles letais) e a “segregação sanitária” – que abre portas para um totalitarismo como jamais testemunhamos na história das civilizações humanas.

Terça Livre: Muitas pessoas (talvez a maioria delas) ainda não entendem o que são e como funcionam as fases de teste para que uma vacina seja considerada minimamente segura ou eficaz. Explique como exatamente funcionam essas fases. 

Alessandro Loiola: As vacinas são desenvolvidas em 4 fases.

Fase 1: a vacina é administrada em um pequeno número de pessoas saudáveis e avalia-se a segurança, a dose, a resposta imune e a incidência de efeitos adversos.

Fase 2: a vacina é administrada em centenas de pessoas separadas em diferentes grupos demográficos (p.ex.: idosos versus jovens). Novamente, avalia-se a segurança, a dose, a resposta imune e a incidência de efeitos adversos.

Fase 3: a vacina é administrada em milhares de pessoas para determinar sua eficácia. Nesta etapa, verifica-se qual o nível de redução na incidência da doença comparando-se grupos vacinados a grupos não-vacinados. Após completadas todas as 3 fases de testes em humanos, e determinada a segurança e a eficácia do imunizante, a vacina é submetida a revisão e aprovação pelos organismos de vigilância em saúde – p.ex.: FDA nos EUA; European Medicines Agency na Europa; Anvisa no Brasil, etc. Se aprovada, a campanha de vacinação em massa pode ter início, mas os organismos de vigilância devem permanecer atentos para as etapas de produção e a eficácia da vacina na população, registrando minuciosamente os efeitos adversos que podem aparecer – o que nos leva à…

Fase 4: nesta etapa, a vacina é monitorada quanto à ocorrência de efeitos colaterais que não foram detectados nas fases anteriores, além de ter sua eficácia e segurança conferidas durante um período de tempo maior e em situações do “mundo real”.

Terça Livre: Com base na resposta anterior, é possível, hoje, afirmar que existem ou que não existem vacinas seguras e eficazes contra a Covid-19? Por quê? 

Alessandro Loiola: Não existem vacinas eficazes. Se fossem eficazes, não veríamos países com alta cobertura vacinal – como Israel, por exemplo – tendo que retomar medidas de lockdown e distanciamento, e vários outros países recomendando doses de reforço ou combinações de vacinas que não foram devidamente avaliadas. As vacinas são tão eficazes que a própria OMS e o CDC dos EUA recomendam que medidas como máscaras e distanciamento social sejam mantidos, a despeito de a pessoa ter recebido um “esquema vacinal completo” contra a Covid-19.

Uma criança vacinada contra Poliomielite é orientada a não brincar com seus coleguinhas devido ao risco de entrar em contato com o vírus da Polio? Uma pessoa vacinada contra febre amarela é orientada a evitar locais onde a febre amarela ocorre? Mas pessoas vacinadas contra a Covid-19 têm risco de adoecer devido ao contato com pessoas não-vacinadas. Acredito que isto já diz o suficiente sobre a eficácia desses lixos que batizaram de “vacinas contra Covid-19”.

Quanto à segurança: simplesmente não existem dados suficientes sobre efeitos adversos de médio e longo prazo. E os debates sobre os efeitos adversos de curto prazo foram sumariamente proibidos e censurados – vide as mídias, as redes sociais e os órgãos do Judiciário que classificam qualquer debate neste sentido como “desinformação” e “fake news”.

Terça Livre: Atualmente, parece estar havendo certa confusão (proposital ou não) entre vacinação e imunização, e estes termos estão sendo usados indiscriminadamente pelas autoridades políticas e sanitárias como sinônimos. Gostaria que falasse um pouco sobre isso, esclarecendo as diferenças objetivas entre uma coisa e outra (vacinação e imunização). 

Alessandro Loiola: Vacinar uma pessoa contra uma doença não significa que ela desenvolveu defesa contra aquela doença. Olhe o caso da vacina contra Hepatite B, por exemplo: após o esquema vacinal completo, é realizado um exame para verificar se a pessoa produziu anticorpos contra a doença (algo que os médicos chamam de soroconversão). Algumas pessoas, apesar da vacinação, não realizam a soroconversão e precisam receber doses de reforço para que o sistema imune faça seu serviço e produza anticorpos. 

Além disso, pode ocorrer de os anticorpos serem insuficientes: a vacina pode não ser imunogênica o bastante, e os anticorpos produzidos não são capazes de evitar a doença. Este é o caso, por exemplo., da vacina contra Gripe Comum, que possui uma eficácia de menos de 50%.

Terça Livre: Uma curiosidade sobre seu novo livro é que ele é composto de um último e extenso capítulo, todo dedicado a respostas às perguntas que são mais frequentemente feitas para você sobre as vacinas nas redes sociais, e chega a ser espantoso verificar o quanto as pessoas estão pouco informadas ou até desinformadas a respeito do assunto. Fale um pouco sobre essa experiência de contato com o público e o quanto você percebe que ainda falta de informação para as pessoas a respeito de todo esse processo da pandemia, vacinas etc.

Alessandro Loiola: Segundo o INEP, o Brasil possui cerca de 16 milhões de analfabetos plenos e 30 milhões de analfabetos funcionais – ou seja, temos 46 milhões de pessoas adultas neste país que são incapazes de compreender o que leem. Isso é mais gente que a população inteira da Espanha. (fonte: http://inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/estudo-detalha-situacao-do-analfabetismo-no-pais/21206).

Some a esse fardo o fato de que a pandemia espalhou um sentimento de histeria paranoica, e o fato de que o governo federal tem sido absurdamente incompetente no uso de suas ferramentas de comunicação, deixando-se pautar pela “grande mídia” e por outros profetas do apocalipse cujas agendas têm ZERO compromisso com a ciência ou o bem-estar da população. 

No meio de um caos como esse, ser um cidadão que tenta levar informações legítimas e sensatas para a população é como limpar os currais do rei Aúgias enquanto enfrenta a Hidra de Lerna ao mesmo tempo.

Terça Livre: Por falar em redes sociais, como tem sido seu relacionamento com as Big Techs, quando você se posiciona sobre ou simplesmente expõe dados relativos à pandemia e à vacinação? Abertura ao amplo debate, incentivo à diversidade de posicionamentos, estudos etc?

Alessandro Loiola: Meu canal no Youtube, com mais de 70 mil seguidores, foi banido da plataforma. Eles também retiraram dezenas de entrevistas que fiz, incluindo lives com Leda Nagle, Lacombe, Rodrigo Constantino, Daniel Silveira, Bia Kicis e outros.

Já passei meses em shadow ban no Instagram, além de ter várias publicações bloqueadas no Facebook e no Twitter.

Eu falo, eles me censuram. Este é o relacionamento. E isso tudo bem debaixo dos incisos IV e IX do Artigo 5o da Constituição Federal brasileira que, em teoria, nos garante a liberdade da manifestação de pensamento e a expressão da atividade intelectual e científica, independentemente de censura ou licença.

Terça Livre: Como você encara, como médico e cidadão brasileiro, a CPI da Covid?

Alessandro Loiola: Um circo grotesco.

Terça Livre: Quanto você foi entrevistado pelo Terça Livre em fevereiro deste ano, o cenário do mundo era um. Agora, é outro, com o avanço cada vez mais intenso de um ditadura sanitária em escala global, para a qual você já alertava na época, e que, na verdade, já podia ser prevista pelo menos desde dezembro de 2019, quando começou o jogo de cena da OMS. Com base no que veio acontecendo no Brasil e no mundo neste curto espaço de sete meses de lá para cá, qual é a sua leitura das possibilidades para os próximos meses, talvez mesmo, o próximo ano? 

Alessandro Loiola: Estamos entrando em uma versão aterradora do Édito de Tessalônica de 380 d.C. misturado ao artigo 58 do Código Penal da União Soviética de 1926. Uma prova disso é a Comissão de Verdade Orwelliana que se apossou do Supremo Tribunal Federal brasileiro. A essa “comissão”, os ministros que ocupam as cadeiras no STF deram o lustroso nome de Programa de Combate à Desinformação. Na prática, esse programa atropela a Constituição Federal Brasileira e cria uma ditadura do Judiciário em nosso país.

Nada disso irá se resolver da noite para o dia. Nem aqui, nem em lugar algum do mundo. Não se trata apenas de uma batalha de narrativas ou uma guerra cultural puramente ideológica: estão em jogo forças econômicas multibilionárias e interesses geopolíticos bem maiores que os 26 mil metros quadrados da Praça dos Três Poderes em Brasília.

A tempestade em que nos metemos deverá durar pelo menos uma década para começar a se dissipar. Talvez até mais que isso. E as fronteiras mudarão. Sobreviveremos a isto tudo, mas o mundo mudou. É tolice esperar “retornar” a “como era antes”. Nada será como antes. Estamos na fase de rompimento com um ciclo civilizacional. Outro ciclo será instalado. Ele será bom e ruim, como todos os ciclos foram ao longo de nossa história. Custará vidas, liberdades e soberanias, não tenha dúvida disso – até porque, já estamos pagando prestações desse preço. Minha esperança é que as pessoas não cedam às paranoias alienantes e tenham sabedoria e serenidade suficientes ao atravessar este período difícil.

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O mundo moderno e a opção dos cristãos
(por Cristian Derosa)

Entre os cristãos, a moda agora é ler A opção beneditina: Uma Estratégia para Cristãos no Mundo Pós-Cristão, de Rod Dreher, que defende o recuo dos cristãos, especialmente dos católicos, para comunidades menores e fechadas, a fim de preservarem as futuras gerações da degradação moral do Ocidente “pós-cristão” e suas mazelas. Sua percepção é a de que os cristãos estão perdendo a batalha cultural e, por isso, devem bater em retirada. Para provar isso, ele demonstra várias das incompatibilidades entre a fé cristã e a “fé” do mundo moderno e suas potencialidades futuras. O seu diagnóstico não está nada errado. Alguns o acusam de ser alarmista demais. Eu, se fosse fazer um diagnóstico sobre isso, talvez assustaria até mais. Seria possível acrescentar males muito maiores, mais profundos e permanentes como característica e potencialidades deste nosso velho mundo moderno. Mas a questão central e mais polêmica do livro nem é o estado atual de coisas, sobre o que em geral todos os cristãos concordam.

No Brasil, onde algumas novidades se alastram com facilidade, a ideia avançou como rastilho de pólvora entre os tradicionalistas católicos, que trataram de comprar suas terras no interior, nas serras, e trilhar em peso, de mala e cuia, para as bandas interioranas. Outros, menos abastados para a compra do sítio salvador, ficam em seus apartamentos postando no Facebook as suas acaloradas defesas do isolacionismo radical do catolicismo amish. Brincadeiras à parte, concordo com grande parte do diagnóstico e compartilho da preocupação dessa parcela de cristãos. O problema é que alguns defensores jamais suportariam uma semana sem internet, embora eu entenda o seu desejo de transformarem-se em nome de uma sociedade melhor. Mas pera lá. Será mesmo isso o cristianismo?

O padre Paulo Ricardo já deu uma aula espetacular sobre esse livro e sua polêmica, lembrando da importância central da relação pessoal e individual com a fé cristã. Não estou dizendo que os defensores da obra do escritor, que tem nome de conhaque, sejam desleixados com suas orações ou relação com Deus. Mas que mesmo mantendo todas as coisas que importam, talvez uma ênfase um tanto quanto equivocada lhes pode ter seduzido o coração devido ao constante ataque do mundo, da vida e da profunda impressão provocada pelas flagrantes derrotas do que gostaríamos de chamar de civilização cristã. Todos nós temos que lidar com a frustração diariamente. Mas nos importa muito aprendermos com ela, pois ela é nossa circunstância dada por Deus. 

Senão, imaginem comigo: São Paulo, São Pedro, diante da Roma pagã, chegando à conclusão de que o mundo jamais será cristão mesmo e que o melhor a se fazer é fugir para as montanhas, montar barracas e formar famílias isoladas para, quem sabe um dia, retornar e dominar tudo. É mesmo? Quando? Imaginem como seria o mundo hoje se eles tivessem pensado assim.

Imaginemos os missionários portugueses que, quando chegaram ao Brasil, viram civilizações inteiras de indígenas pagãos, praticantes de uma cultura totalmente avessa ao cristianismo. Vamos embora, esses índios jamais nos entenderão, diriam eles. Vamos voltar para nossa vila em Portugal. É isso.

Infelizmente, a maioria dos cristãos nos últimos anos concentrou-se demais na guerra cultural, ao ponto de esquecer-se de quem irá lutá-la. Não se vence o demônio, o diabo ou a carne defendendo a família tradicional. Vence-os por meio da ligação individual, pessoal, com Deus, a partir da fé nEle, e isso significa colocar-se em Suas mãos. O mundo não se cristianizará sozinho. Ele nunca foi cristão por vontade própria, mas pelo trabalho e pela vontade de heróis, santos e mártires. Foi o sangue que fez brotar as instituições jurídicas, democráticas e políticas que hoje vemos ser derrubadas pela falta justamente do sangue dos heróis e mártires, que optaram por vidas cômodas. Pode ser o comodismo que tenha feito com que muitos desejem cidades do interior, em geral feias e ainda mais desvirtuadas moralmente, seduzidos por uma promessa de sossego ou de tranquilidade que Deus não prometeu.

Deus fez o mundo para o homem, embora o tenha entregado o governo a Satanás. Mas Ele o fez para que haja mérito no nosso trabalho e sacrifício de tomá-lo de volta e fazer deste velho mundo algo novo. Colocar Cristo nas coisas é dever do homem e as coisas estão aí para isso. As opções monásticas são uma coisa, as dos pais de família e dos homens adultos é outra bem diferente. A opção beneditina é defensável a idosos, crianças, doentes, ou dos monges que optam por uma vida fora da agitação do mundo, mas não a homens com saúde e fé forte para lutarem pela conversão do mundo, como um objetivo dentro da conversão diária, cotidiana e permanente, uma declaração diuturna de amor a tudo o que foi criado e pode, com a ajuda de Deus, ser revertido para o bem e para a Salvação.

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COMPORTAMENTO

Próximo, por favor!
(por Kauê Varela)


Imaginem uma sala de universidade de humanas, especificamente na licenciatura de filosofia, onde a divisão de apresentação dos trabalhos será de aproximadamente 10 min para cada um dos alunos. Tudo corre dentro do esperado até que um dos trabalhos é uma exposição das contradições internas de Friedrich Nietzsche. A leitura da pequena monografia levou aproximadamente 4 min, o restante dos 35 min seguintes seriam de “perguntas” (entenda como agressões verbais) de 70% dos alunos presentes e um clima de velório depois que todas foram respondidas satisfatoriamente.

Uma das coisas que aprendi com o Professor Olavo de Carvalho é que um debate que busca apenas a “vitória” dialética é masturbação mental com ares de intelectualidade. No entanto, em meados de 2014 eu era mais bocudo e gostava de jogar as faíscas no celeiro e observar a ordem natural das coisas. Eu notei, de forma imatura claro, que todo aquele ambiente impedia as opiniões discordantes com ares de democracia da opinião e impedia a livre manifestação de ideias com uma (“super”) estrutura hierárquica que amedrontava quem percebia esse sistema e não tinha coragem de rompê-lo. Aqui não há qualquer tentativa de me tornar um mártir, até porque essa fase durou pouco e fui me tornando mais discreto com o tempo. No entanto, no tempo em que gostava do caos, fiz algumas amizades peculiares. Vira e mexe vemos relatos semelhantes a esses, onde alguém percebe que as regras do jogo estão viciadas e não aceitam que o jogo comece, afinal, uma vez que se aceita as regras do jogo não podemos reclamar do arbítrio do juiz. O que nos leva a pensar: em todas as salas onde isso acontece, as pessoas se tornam críticas quanto ao que lhes é ofertado como conhecimento? Se sim, onde estão essas pessoas? A verdade é que as poucas pessoas que têm uma base moral forte, acabam por se tornar “mais um” estudante universitário(1) que acha que a pluralidade de ideias são os vários autores diferentes dentro da mesma esfera política, no caso, a progressista. Todo o “resto” precisa aceitar calado ou apenas, nos casos mais misericordiosos, não aceitar, mas ainda sim ficar calado do início ao fim do curso. 

Me parece que o “afegão médio” brasileiro não percebe o tamanho da gravidade desta situação, mas são essas pessoas que estarão nas posições de comando em escolas, mídias impressas ou digitais levando essa mesma premissa falsa como a verdade universal e que os discordantes disso são obscurantistas românticos que desejam apenas o retrocesso.

Essa batalha intelectual já foi vencida pela esquerda desde sua reformulação estratégica a partir de 1964, onde toda as bases do marxismo foram reorganizadas a partir das observações de Antônio Gramsci, grande teórico marxista italiano. Diante disso questiono o motivo da “surpresa” dos grupos conservadores ao se depararem com a censura prévia a qualquer conteúdo diferente do progressismo moderno. O que temos é a universalização do que já ocorre há pelo menos 20 anos, de forma descarada, dentro de cada universidade e escolas públicas de anos finais, só que agora para qualquer um, em qualquer lugar. Só que diferente da mera exclusão social dos centros de ensino, por aqui a punição pode ser o “cancelamento” (entendido como “assassinato de reputações”) e/ou a prisão.

O que devemos fazer? Imagino que em primeiro lugar, admitir que da velha guarda apenas um ou dois remanescentes dessa oposição à esquerda, agora octogenários, precisam descansar e confiar em seus alunos e aguardar que a nova geração, fruto desse trabalho de educação interior, tome a dianteira e dê continuidade a esse projeto de forma que honre a memória de quem tanto fez pela cultura dos brasileiros. Sem falso merchandising, o próprio Terça Livre é um dos melhores exemplos: mantém a memória dos que passaram e agregam suas próprias experiências na execução de estratégias que se somam às anteriores. Infelizmente são poucas essas iniciativas, mas todas com uma demanda reprimida, pois de forma geral, os valores do brasileiro não são representados em absolutamente nenhuma área da vida diária de todos nós. 

Uma das minhas indicações pessoais, se me for permitido, é começarmos pelas nossas raízes; o que se tinha planejado para o Brasil enquanto nação, valores internos e depois no que nos tornamos, sendo esse o grande estopim para as mudanças necessárias a serem traçadas no hoje. Para isso, temos disponível o documentário “Bonifácio, o fundador do Brasil”(2).


2- https://youtu.be/NKLlu-HLnJE (Trailer do filme "Bonifácio, o Fundador do Brasil")

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Sócrates contra os misólogos
(por Ernesto Araújo)

Todos sabemos que Sócrates morreu bebendo cicuta, condenado à morte pelas autoridades de Atenas. Mas nem sempre nos lembramos por que razão ele foi condenado: por crime de opinião. Foi condenado tanto por dar a sua própria opinião quanto por questionar as opiniões estabelecidas.

Sócrates foi condenado por, alegadamente, corromper a juventude, ensinar a existência de falsos deuses ao mesmo tempo contestando a existência dos deuses da cidade, e pela estranha acusação de “fazer o argumento mais fraco parecer o mais forte”.

Sócrates havia passado anos e anos pelas praças de Atenas perguntando às pessoas por exemplo o que é a coragem, o que é a virtude, e principalmente o que é o bem.

“O que é a coragem?” perguntava Sócrates. “A característica do homem corajoso”, respondia alguém. “E o que caracteriza o homem corajoso?” voltava a perguntar. “O fato de ter coragem, ora”. O famoso método socrático, raiz de toda a filosofia ocidental, nasce justamente da sua recusa em aceitar esse tipo de raciocínio circular, e de seguir indagando e aprofundando, confrontando as contradições e lugares-comuns que perfazem o pensamento geralmente aceito, o qual satisfaz à maioria das pessoas mas não satisfazia a ele, até extrair desse questionamento algum suco de verdade.

Se Sócrates viesse à Praça dos Três Poderes, e lesse o que sai na nossa imprensa “mainstream”, poderia perguntar: “Vejo vocês falarem o tempo todo de atos anti-democráticos, mas o que são atos anti-democráticos? O que os define?” Receberia rapidamente a resposta: “Atos anti-democráticos são os atos praticados pelos extremistas da direita conservadora, pessoas horríveis”. Sócrates não se daria por satisfeito: “Mas o que caracteriza esses horríveis extremistas da direita conservadora?” Resposta indignada: “O fato de serem pessoas que praticam atos anti-democráticos, evidentemente”. Sócrates talvez usasse então da sua famosa ironia, e dissesse: “Ah, perfeito, agora entendi. O crime reside em quem o pratica e não no ato praticado. Interessante o vosso conceito de justiça, ó brasileiros.”

Sócrates examinava os seus próprios argumentos com o mesmo rigor com que inquiria os argumentos dos interlocutores, pois não estava interessado em vencer uma discussão, mas em chegar à verdade por meio da discussão. “As pessoas incultas”, diz Sócrates (Fédon de Platão, 91.A) “quando discutem sobre algo, não se importam em qual é a verdade do tema discutido, mas se afanam apenas para fazer seus argumentos parecerem verdadeiros aos ouvintes.” Logo no início de seu discurso em defesa própria, no julgamento, após ouvir os discursos de acusação, Sócrates comenta para o júri: “Não sei quanto a vocês, mas eu mesmo quase me convenci com os argumentos dos meus acusadores. Só que praticamente nada do que eles disseram é verdade.” (Platão, Apologia, 17.A)

O diálogo constitui o caminho para a verdade, certamente – mas não do diálogo tal qual o entendemos geralmente hoje em dia, onde duas ou mais partes fazem concessões mútuas para chegar a um meio termo. O diálogo socrático, tal qual o preserva Platão, não é uma forma de negociação e não nasce da “tolerância”. Não é uma solução de compromisso. Não é uma “arte do possível”. É a arte da verdade, que requer dedicação pura e busca incansável, sem concessões. A arte de aprender a pensar por si mesmo, deixando de repetir as ideias recebidas e impostas de fora. “A filosofia é a mais alta forma de música”, proclama Sócrates no Fédon (61.A), onde “música” tem o sentido de tudo aquilo que diz respeito às musas, podendo-se portanto traduzir: “A filosofia é a suprema forma de arte.”

Diante do tribunal, Sócrates tampouco aceita que a justiça constitua alguma forma de negociação ou toma lá dá cá. Quer ser absolvido porque sabe que tem razão diante das acusações infundadas, e não por alguma espécie de favor dos julgadores. “Os juízes não estão aí para conceder a justiça como um favor, mas para decidir onde está a justiça... Não para presentear este ou aquele conforme as suas preferências pessoais, mas para pronunciar uma sentença justa conforme a lei.” (Apologia, 35.C)

No caminho para o tribunal no qual será julgado e condenado, Sócrates encontra um conhecido, Eutífron, que também se dirige ao tribunal, onde irá acusar seu próprio pai pela morte de um servidor (conforme o Eutífron de Platão). Diante desse tremendo drama humano, onde o dever sagrado de um filho para com o pai conflita com o dever também sagrado de denunciar um assassinato, Sócrates questiona Eutífron justamente sobre a essência do sagrado. Mas ao cabo da conversa, não consegue extrair de Eutífron senão uma definição circular: sagrado é aquilo que agrada aos deuses. Mas o que agrada aos deuses? O sagrado. Na base das ideias recebidas, daquilo que é “óbvio” e do que “todo o mundo sabe”, Sócrates até o fim se dedica a mostrar que só há contradições, meias-verdades e preconceitos.

Em sua defesa durante o julgamento, Sócrates mostra justamente as contradições e deficiências flagrantes nos argumentos dos acusadores. Se ele “corrompe os jovens” ensinando-os a questionar os lugares-comuns do pensamento corrente, os acusadores não conseguem demonstrar o que seria então que beneficia os jovens. A conclusão absurda, mas que o tribunal acolhe, é de que tudo beneficia os jovens, menos o ensinamento de Sócrates. Claro, porque só o ensinamento de Sócrates fazia pensar para além da ideologia dominante, avançando com humildade soberana rumo ao terreno da verdade.

Se ele descrê dos deuses de Atenas, como pode ser que sua busca da sabedoria consista fundamentalmente em procurar entender uma fala do oráculo de Delfos (onde quem fala é o deus Apolo) segundo o qual não há nenhum homem mais sábio do que Sócrates? A palavra do deus inquietou Sócrates durante toda a sua vida, pois sempre soube que não é sábio, mas no julgamento ele diz haver finalmente compreendido: ele é o mais sábio não porque possua mais sabedoria, mas justamente porque não pressupõe em si nenhuma sabedoria, ao contrário de todos os outros pretensos sábios, que acham que sabem tudo. A sabedoria – essa sophía que o philosóphos ama – consiste portanto não num conteúdo ou conjunto de conhecimentos, mas sim numa atitude, num método, ou seja, num caminho de busca (a palavra méthodos, de metá + hodos, pode ser traduzido segundo a etimologia como “aquilo que acompanha no caminho”.) Diz Sócrates, no ponto central de sua defesa no julgamento: “A verdade, senhores, é que a verdadeira sabedoria pertence à divindade, e esse oráculo foi sua maneira de nos dizer que a sabedoria humana tem pouco ou nenhum valor.” (Apologia, 23.A). O filósofo aqui antecipa o apóstolo Paulo, quando este prega: “A sabedoria do mundo é loucura aos olhos de Deus.” (I Coríntios, 3:19).

E se Sócrates “faz o argumento mais fraco parecer o mais forte”, isso resulta exatamente das fraquezas e contradições da argumentação dominante, aquela que se satisfaz com a superfície do “todo mundo sabe”, com as asserções consideradas verdadeiras simplesmente porque infinitamente repetidas pela boca de pessoas cujos cérebros jamais as examinaram.

Sócrates não contesta os deuses do panteão helênico. Ao contrário, parece genuinamente acreditar neles, mas acima deles coloca a verdade. Acima dos conceitos e preconceitos da tribo, da pólis, dos impérios então já existentes ou dos ainda por nascer, Sócrates situa a verdade e o caminho até ela, e estima que a autêntica vida consiste, mesmo após a morte, em contemplar a verdade em sua pureza. 

Não me estenderei aqui na discussão sobre o célebre e jamais inteiramente compreendido daimon socrático. Apenas mencionarei que Sócrates dizia possuir um daimon, uma espécie de voz interior que o advertia quando estava a ponto de cometer um erro. Por vezes traduzido como “gênio”, penso que o daimon corresponde mais propriamente ao que entendemos por “consciência”. Aqui não seria talvez excessivo enxergar um primeiro e grande passo rumo a algo que se concretizará na visão de mundo cristã, a estrutura do indivíduo autônomo dotado da capacidade de identificar o mal e o bem por si mesmo, por sua luz interior, e não seguindo os ditames do poder. Pode-se, de fato, conjeturar se o caminho socrático mais adiante convergirá com o caminho cristão. Mas o certo é que o caminho socrático, esse caminho da liberdade de consciência representada pelo daimon e do questionamento dos dogmas politicamente impostos, conduz ao espírito e ao método científico, à própria ciência hoje tão celebrada. Sem liberdade de opinião não há ciência. Quando o poder começa a arvorar-se o direito de proclamar o que é ciência e o que deixa de ser, estamos longe do caminho de Sócrates e trilhamos a senda escura dos seus algozes e perseguidores, por onde não chegaremos a nenhum lugar senão ao totalitarismo.

No Fédon, o diálogo com amigos e discípulos no seu último dia de vida, logo antes de beber o veneno, Sócrates alerta para o perigo de que as pessoas se tornem “misólogas” (misólogoi, cf. Fédon, 89.D) ou seja, de que passem a detestar o logos, a palavra, a linguagem, a razão oriunda da livre discussão: o logos, esse conceito infinitamente rico e inesgotável, que misteriosamente constitui a própria realidade à qual aponta, que permite falar do inefável e ver o invisível, o logos que fascinava Heráclito e que, em São João, viria a designar a divindade incarnada.

Precisamos escutar esse alerta de Sócrates. Tal como a Atenas muito “democrática” que matou Sócrates, somos hoje um país comandado por misólogos, pessoas que simplesmente colocam o poder acima da verdade. Esse imenso perigo nos confronta. Se os donos da nossa pólis – descendentes daqueles que mataram Sócrates – continuarem a cancelar, perseguir e prender todos aqueles que questionam e que buscam a verdadeira sabedoria, mergulharemos na barbárie e na servidão.

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Passaporte sanitário: o que vem depois?
(por Alexandre Costa)


As pessoas preferem acreditar que o melhor é transferir todas as responsabilidades para o deus Estado, que há de tomar as decisões certas.

Quem não for como todo mundo, 
quem não pensar como todo mundo,
Corre o risco de ser eliminado.
José Ortega Y Gasset ("A rebelião das massas")

A Covid-19 trouxe à superfície alguns elementos totalitários que estavam latentes na mentalidade e no ambiente social. Durante décadas, as estruturas sociais e o próprio imaginário foram transformados por influência de um pensamento ideológico revolucionário disfarçado de boas intenções, camuflado em um discurso que promete “aprimoramento do convívio”. Foi assim com o politicamente correto, que limitou e rebaixou a expressividade da linguagem, além de criar o patrulhamento da opinião e delimitar a liberdade de expressão; e tem sido assim com praticamente todas as pautas identitárias, que desprezam o objetivo, o concreto e o verificável e dão ao subjetivo um caráter “inquestionável”. 

Essa mentalidade transformada, esse ambiente corrompido que alcança quase todas as áreas da conduta humana, certamente, contribuíram para a tímida reação diante das inúmeras iniciativas totalitárias que brotaram logo após a Organização Mundial de Saúde declarar que existia uma pandemia. Tiranos, tiranetes e burocratas megalomaníacos aproveitaram a oportunidade e a ausência de obstáculos para avançar sobre os direitos naturais dos indivíduos. 

Ao dar supremacia para o coletivo, em detrimento ao individual, a sociedade passou a operar no intangível, no subjetivo, no abstrato. Dessa forma, ao invés de agir pontualmente, conforme a situação e de acordo com a própria percepção da realidade, o povo passa a ter suas ações dirigidas por uma abstração. E como aquilo que é abstrato, por definição, não pode produzir informações, tomar decisões e conduzir qualquer movimento, alguém ocupará esse espaço e preencherá o discurso coletivista com seus interesses personalíssimos. 

Junte a esse ambiente intoxicado pelos ideais coletivos o aumento do poder do estado e a química totalitária começa a agir com mais intensidade. 

Uma das constantes desde pelo menos a Revolução Francesa, tem sido a crescente concentração de poder nas mãos do Estado. Consequentemente, o indivíduo tem seu campo de ação reduzido, seus direitos violados e suas liberdades cerceadas. Na verdade, o Poder, como conceito de “capacidade de mobilização em prol de um objetivo”, sempre tende a crescer e se concentrar, principalmente quando as mentalidades estão adestradas para submeterem a experiência real à narrativa oficial. Em outras palavras, é quando a população aceita esmagar a percepção, a memória e o bom senso apenas por obediência cega a algum argumento de autoridade. 

A usurpação do poder, nesse sentido, ocorre sem muitos sobressaltos, tendo em vista que os indivíduos, manipulados desde a gênese dos seus pensamentos – as palavras –, e fragilizados pela insegurança causada pela dependência intelectual e afetiva que resulta da idolatria do coletivo, tendem a transferir alegremente as suas decisões para um conceito fluido, volúvel e, acima de tudo, abstrato. Pensam estar seguindo um consenso resultante de um amplo debate, quando na verdade estão obedecendo, feito manada, aos comandos implantados na sua mente por ideólogos que determinam os rumos do “coletivo”.  

Com o “terreno preparado” para o avanço das pautas totalitárias, burocratas e oportunistas aproveitam para expandir o seu poder e impor suas vontades a um povo desmotivado e carente por uma condução que prometa solucionar os seus problemas sem exigir o mínimo comprometimento.

Nesse momento, tudo pode ser usado como pretexto para a transferência de poder. E o medo, mais ainda que a moda, sempre oferece o contexto ideal, onde a covardia e a subserviência podem ser camufladas sob o manto das falsas manifestações de virtude solidária. 

O Passaporte Sanitário surge como consequência desse ambiente viciado e intelectualmente corrompido. Passa a ser aceito ou, pelo menos, tolerado, porque as mentalidades foram conduzidas a essa dependência emocional. Por preguiça intelectual ou pura covardia, preferem acreditar que o melhor a fazer é transferir todas as responsabilidades para o deus Estado, que há de tomar as decisões certas.

Na prática, a exigência de um documento que “autoriza” sua locomoção, sua permanência ou o seu ingresso em um estabelecimento – público ou privado –, representa a obrigatoriedade do procedimento mais invasivo possível: injetar uma substância em seu corpo sem a sua vontade. O que pode ser mais invasivo que isso?

Além de invadir de forma inquestionável o espaço privado em nome de um suposto – e improvável – benefício coletivo, o Passaporte Sanitário também colabora para a criação de “jurisprudências” que podem se alastrar por todas as áreas da sociedade em pouco tempo.

Se um órgão governamental pode exigir que você injete algo em seu corpo, invadir a sua casa, espiar o seu saldo ou vasculhar suas conversas particulares e isso passa a ser algo trivial, desde que o pretexto seja “o bem comum”. Pense: quem pode espetar uma agulha em um ”negacionista”, pode muito bem proibir a circulação de adversários políticos ou expropriar as propriedades de um “rebelde”.  

A implantação de um Passaporte Sanitário ou de qualquer documento que exija a submissão a procedimentos médicos ou ingestão de remédios – incluindo as interações medicamentosas – deveria sofrer resistência imediata e implacável, por duas simples razões. Em primeiro lugar, pela confusão deste momento específico, onde estamos vendo nitidamente um esforço exagerado em apontar os benefícios da vacinação obrigatória, no mesmo instante em que se despreza os riscos e os resultados destoantes do discurso oficial. E em segundo lugar, porque a manutenção desse instrumento totalitário vai contaminar a sociedade de forma a dar aos poderosos o direito de decidir tudo em nome de todos e sem resistência. 

Alexandre Costa

Autor de “Introdução à Nova Ordem Mundial”, “Bem-vindo ao Hospício”, “O Brasil e a Nova Ordem Mundial”, “Fazendo Livros”, “O Novato”; e organizador do livro coletivo “As várias faces da Nova Ordem Mundial”, lançado em fevereiro de 2021.



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BRASIL

Memória seletiva é o apogeu da vigarice
(por Allan dos Santos)

Gustavo Corção caiu em profundo esquecimento após uma forte campanha de difamação da esquerda e com complacência dos militares. O motivo é simples. Após trabalhar na Companhia Telefônica Brasileira (CTB), onde teve estreita amizade com Carlos Lacerda, um ex-esquerdista como ele, torna-se um dos responsáveis, juntamente com Alceu Amoroso Lima, por sua conversão ao catolicismo. Corção, a convite de Lacerda, torna-se colaborador no jornal carioca Tribuna da Imprensa, destacando-se como grande polemista. A direita tinha um jornal com dois grandes escritores que conheciam a esquerda melhor que ninguém. Corção lança, em 1950, o romance Lições de abismo, premiado pela ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 1955, sendo traduzido para vários idiomas. O colunista passa, então, a ser um escritor renomado. Como não podiam vencê-lo no debate, os esquerdistas difamaram-no o mais que puderam, a ponto de seu nome não ser tão conhecido assim por essa Nova Direita que quando muito, sabe quem é Enéas Carneiro. Pesquisando sobre Corção nos jornais, passei os olhos no seguinte texto do Estadão publicado em junho do ano passado:

Em sua crônica “E, por toda a semana, o artigo de Corção começou a badalar” (em O Óbvio Ulultante), Nelson Rodrigues relata a perplexidade de um seu amigo, “uma flor das esquerdas”, com certo artigo em que Gustavo Corção tratava ternamente do filho que fora enviado, à época, como representante do Brasil ao Vietnã. O homem estava perplexo porque “imaginava que, se o Corção passasse a mão pela face, havia de sentir a própria hediondez. Nunca lhe ocorrera que aquela besta-fera pudesse ter costumes, usos, gestos, como outro qualquer”.

É difícil conter o espanto ao ler o texto de Fabrício Tavares de Moraes em ‘Direita e Esquerda na Literatura’ (Parte I) – O processo da História. Moraes – esse nome parece Palpatine para mim – afirma, sem qualquer vergonha, que Nelson Rodrigues chama Corção de “reacionário“, colocando na pena de Nelson o seguinte trecho da obra “Óbvio Ululante”:

Ao que parece, a humanidade do escritor católico e (usando os termos de Nelson) reacionário – seus outros aspectos e cuidados que não as opiniões políticas – jamais havia sido cogitada pelo companheiro de Nelson.

Um leitor desavisado ou que desconhece a obra de Nelson pensa que ele chama Corção de reacionário, visto estar subtraída no texto do Estadão as aspas usadas no livro. Nelson não teria problema em chamar a si mesmo de reacionário, palavrão evitado por muitos até hoje. Pelo contrário, Nelson, em uma clara tentativa de não se deixar abater pelo enquadramento da esquerda, chegou a intitular seu último livro assim. Nas famosas páginas amarelas da VEJA, respondeu ao jornalista que o questionou ser ele um reacionário: “Na televisão, sempre que me lembro, eu digo que sou reacionário, só pra chatear.” Vejamos o que diz o trecho do livro sem os recortes desse tal de Moraes, o qual nunca foi advogado da Transcooper, mas se quisesse pararia no STF facilmente:

O assombro do meu amigo tinha a sua lógica. Durante anos, criara, e recriara, dia após dia, uma imagem hedionda do “reacionário”. Ele imaginava que, se o Corção passasse a mão pela face, havia de sentir a própria hediondez. Nunca lhe ocorrera que aquela besta-fera pudesse ter costumes, usos, gestos, como outro qualquer. Impossível um Corção tomando cafezinho ali na esquina; inadmissível uma gargalhada do Corção, ou um assovio do Corção. E aquele Corção pai, simplesmente pai, e simplesmente terno, e simplesmente infeliz, e simplesmente órfão do próprio filho, contrariava toda uma imagem feita de palavrões de insultos, de baba.

O colunista do Estadão, entre um malabarismo e outro, omite o que Nelson conclui sobre Gustavo Corção: tudo em Corção é amor. E o escriba de Lúcifer, o pai da mentira, faz isso na empreitada fracassada de apontar para um ambiente saudável entre pessoas, pasmem, de opiniões políticas divergentes. Sou pago para ler mentirosos. Não pude parar a leitura e continuei.

Nos parágrafos seguintes, lamenta que a obra Fome de Knut Hamsun é lembrada em associação à sua exaltação ao nacional-socialismo, ou seja, um novelista nazista. A ingenuidade evidente é a seguinte: ele quer fazer com que um autor e/ou sua obra, valiosa por seu conteúdo estético e até a genuína experiência transmitida pelas palavras, seja, de algum modo, separada de suas idéias políticas. Incapaz de observar o que qualquer pessoa madura percebe ao se deparar com um canalha profissional, não vê – ou não deseja ver – o que certa vez descreveu Olavo de Carvalho que quando um discurso é errado no seu conteúdo explícito mas tem qualidades estéticas, isso mostra que a experiência de fundo que o inspira é genuína, só falsificada no percurso da representação direta à transmutação em “idéias”.

Sei que sou pago para ler essa turminha do mainstream, mas quando menciona Mario Vargas Llosa e descreve que “é desdenhado por parte da esquerda, não sem certa afetação, devido aos seus posicionamentos à direita“, omite que o vencedor do prêmio Nobel de literatura é odiado pela esquerda porque a deixou. Precisei parar a leitura para poupar meu estômago. Mario Vargas Llosa apoiou Fidel e o comunismo na América Latina, como muitos escritores latino-americanos, mas depois acordou. Esquecer-se de algumas coisas ou omitir outras ao narrar fatos é comum aos mortais, mas adulterar autoria de adjetivos, omitir a causa de desafetos e falar tanta bobagem com ares de intelectual não é algo que suporto por mais do que uns minutos.

O artigo de Nelson, utilizado pelo Moraes do Estadão, foi publicado em O Globo em março de 1968. Imaginar o outro como um espelho da própria sordidez não é algo recente e merece recordação. Nelson escreveu:

“Mas, vejam toda a operação psicológica do meu amigo. A princípio, não entendera uma palavra, tão desconhecido, tão estrangeiro, tão alienado parecia aquele Corção vergado, sofrido, perdidamente solitário. Só depois é que, limpando a figura dos palavrões, dos ultrajes, das calúnias, é que o freguês do Antonio’s pôde chegar à luz última e verdadeira do inimigo. Por fim, quem estava infeliz, na volta do Estádio Mário Filho, era o membro da “festiva”. A partir daquele momento, os seus palavrões soariam falsos aos próprios ouvidos. O meu amigo estava comovido e, pior, furioso com a própria comoção. E, então, chegou a minha vez. Não me lembro de tudo o que disse de Gustavo e de Rogério. O esquerdista ouvia só, numa desesperada impotência para negar a imagem que eu ia elaborando de Corção. Expliquei-lhe que tudo em Corção é amor; poucas pessoas conheço com tanta vocação, tanto destino, para o amor. O que parece ódio, nos seus escritos, é ainda amor. Amor que assume a forma das grandes e generosas procelas. Bate forte, muitas vezes. Mas sempre por amor. Está fatalmente ao lado da pessoa e contra a antipessoa. É a luta que o apaixona. Todos os dias, lá vai ele atirar o seu dardo contra as hordas da antipessoa. Eis o que eu repeti para o meu amigo das esquerdas: — o Corção tem um coração atormentado e puro de menino. Quem o sabe ler, percebe em todos os seus escritos o pai de Rogério, sempre o pai de Rogério, querendo salvar milhões de filhos, eternamente.

A memória seletiva dessa trupe é enojante e asquerosa, é o apogeu da vigarice. Nelson estava certo: “Pode parecer uma verdade exagerada, violentada, mas eu diria o seguinte: — no Brasil, a glória está mais no insulto do que no elogio. Se não me entendem, paciência”.
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REVISTA "A VERDADE" - Ed. 57, de 04/10/2021 (Uma publicação digital semanal do Jornal da Cidade OnlineAssinar a revista


OPINIÃO


Sobre o relativismo: Como nossa cultura está impregnada pela ideologia demoníaca


(por Carlos Adriano Ferraz)


“Ninguém pode pretender ser um Cristão, muito menos um Católico, se duvida ou nega o demônio. Cristo veio para redimir a humanidade do domínio de satã e de suas legiões apóstatas de anjos caídos” (“No one can claim to be a Christian, much less Catholic, who doubts or denies the Devil. Christ came to redeem mankind from the dominions of Satan and his apostate legions of fallen angels”. Bispo Robert F. McKenna).

No volumoso “Diccionario Enciclopédico de las Sectas” (“Dicionário Enciclopédico das Seitas”, 1998), de Manuel Guerra Gómez, encontramos informações importantes sobre uma realidade que muitos (talvez a maioria) desconhecem: a do ‘demonismo’ no qual nossa cultura está imersa.

Ao longo do “dicionário enciclopédico”, que representa uma exaustiva análise das mais diversas seitas, encontramos a descrição de 158 seitas de inspiração satânica, as quais atuam no mundo com um propósito muito claro: corromper a criação tal como ela é descrita no livro do Gênesis. Isso está implícito, a propósito, no conceito mesmo de “demônio”: “designação dos seres reais, supra-humanos, criaturas de Deus, inteligentes, puramente espirituais que se rebelaram contra Deus, declarando-se inimigos seus e indutores do pecado nos seres humanos, e que buscam sua perdição eterna” (“Dicionário Enciclopédico das Seitas”, p. 210).

Portanto, enquanto há aqueles que creem em Deus e no relato bíblico e agem de acordo com a teologia moral, respeitando, por exemplo, os dez mandamentos, há também aqueles que não apenas rejeitam tais mandamentos, mas que agem contrariamente a eles. Por que?

Ora, porque desejam desesperadamente fazer colapsar a criação divina, especialmente o ser humano (causando sua “perdição eterna”), criado, conforme o relato bíblico, à imagem e semelhança de Deus. É como se, dada a impossibilidade de atingirem a Deus, eles tentem, então, corromper aquela criatura por ele criada à sua imagem e semelhança.

Sem embargo, embora a raiz de todas essas seitas satânicas esteja arraigada no inimigo de Deus, naquele que se rebelou e disse ‘non serviam’ (“não servirei”), Gómez faz algumas divisões para que possamos compreender as diferenças entre as seitas que adotam o “inimigo” como uma espécie de deidade. Assim, temos, por exemplo, sobre essas seitas, algumas definições mais gerais, expressas no 1. “Demonismo” e em suas subdivisões: 1.1. “Satanismo” e 1.2. “Luciferianismo”.

Com efeito, ao longo das mais de mil páginas do “Dicionário Enciclopédico das Seitas”, Manuel Guerra Gómez logra esclarecer algumas diferenças cruciais entre as diversas seitas satânicas existentes. Por exemplo, ele distingue o 1.1.1. “satanismo descrente”, o qual não crê realmente em satanás enquanto uma realidade, mas apenas como uma espécie de símbolo ou força (tal seria o caso da “Igreja de Satã”, de Anton LaVey), do 1.1.2. “satanismo crente”, seguido por aqueles que efetivamente “creem na existência e realidade de satanás”. (esse seria, segundo Gómez, o caso do “Templo de Set”).

Quanto às divisões do luciferianismo, Gómez nomeia a primeira de 1.2.1. “luciferianismo prático”, ou seja, daquelas seitas que “creem na existência de lúcifer, mas considerado como princípio bom, (...), portador da luz”. Desse ponto de vista, lúcifer seria uma espécie de Prometeu, um “benfeitor da humanidade”. Seitas que, segundo Gómez, estariam alinhadas com esse “luciferianismo prático” seriam a “Ordem do Dragão”, a “Ordem Illuminati”, etc.

Em segundo lugar, haveria o 1.2.2. “luciferianismo monoteísta”, “segundo o qual não há deus além de lúcifer”. Em suma, eles não apenas afastam Deus “da realidade de suas vidas e de seus rituais, mas negam sua existência em teoria”. Aqui ele cita, por exemplo, o “Caoismo”.

Com efeito, Gómez estabelece diversas divisões apenas para expor que, na prática, essas seitas mantêm diversas peculiaridades, as quais as distinguem umas das outras. Todavia, elas possuem um elemento comum: Tendo em vista que o demônio representa negação, todas essas vertentes do 'demonismo' rejeitam tanto Deus quanto os sinais de sua divindade, assim como o ‘bom’, o ‘verdadeiro’, o ‘belo’ e o ‘justo’. Com isso percebemos, então, como nossa cultura está imersa no demonismo.

Afinal, atualmente, vige um discurso relativista que nega quaisquer morais absolutos, isto é, que nega a existência de valores absolutos: o bom, o belo, o justo, etc. Desde o final do século XIX, com ênfase a partir da metade do século XX, o tema dos valores passou a ser considerado, especialmente a partir dos “intelectuais” e do meio acadêmico, uma mera questão de “perspectiva” (perspectivismo). Isso significa dizer que já não teríamos algo como o “certo”, o “bom”, o “justo”, etc. Tudo seria uma questão de ponto de vista. Dito de outra forma, o que seria “certo” para alguém poderia ser “errado” para outro sujeito. Nesse sentido, caímos em um relativismo que não se sustenta. Afinal, se tudo é uma questão de perspectiva, então mesmo o perspectivismo seria relativo. Portanto, como levá-lo a sério? Como colocado de forma perspicaz pelo filósofo conservador britânico Roger Scruton, alguém que nos diz que tudo é relativo está nos pedindo para não crer nele. Então, não creiamos.

Mas é interessante observar que, mesmo os “perspectivistas”, ou relativistas, crêem firmemente em valores morais absolutos, quando se tornam vítimas do relativismo. Por exemplo, se um professor de filosofia, que insiste que não há nem certo nem errado absolutos, isto é, que tudo é uma mera questão de perspectiva, tem seu Iphone 12 tomado por um estudante, ele imediatamente reivindica seu celular de volta. E, se questionado pelo aluno, que lhe dirá que não há morais absolutos (e que, portanto, roubar não é, para ele, errado), ele muito provavelmente alegará que roubar é errado. Ou seja, apesar de seu discurso “relativista” e “negacionista” (negando a realidade do ‘certo’), suas ações anulam sua fala “perspectivista”. Ele certamente evocará o oitavo mandamento: “não roubarás!”. E ele o fará pois sabe que somente uma sociedade regida por valores morais absolutos funciona adequadamente. Ou seja, o relativismo nos conduz à barbárie e à violação dos direitos humanos e de seu fundamento, a saber, a dignidade da pessoa humana.

Assim, o fato é que existem verdades. “Não matar”, “não roubar”, “não cometer adultério”, “não mentir”, “não cobiçar”, etc. são princípios morais absolutos que asseguram nossa vida social e nossa prosperidade, assim como nossa plena realização humana. E eles não valem apenas desde a perspectiva religiosa, mas são necessários mesmo de um ponto de vista secular. Assim, existe a realidade e nem tudo é “narrativa”, como insiste especialmente a esquerda universitária, a qual espraiou sua visão distorcida, relativista, “demoníaca”, e seus vícios para diversos outros âmbitos, inclusive para a sociedade. Aliás, as ideias mais torpes que têm feito colapsar a sociedade e as vidas individuais vêm justamente do ambiente acadêmico.

Poder-se-ia dizer que a ideologia demoníaca encontrou no ambiente acadêmico, supostamente “intelectual”, um solo fértil para semear ideias perniciosas cujo propósito é precisamente corromper a natureza humana. Sob o relativismo, diversas ideias vis puderam ser avançadas por mentalidades abjetas.

Colocado de outra maneira, focados nos vícios inerentes à imperfeita natureza humana, os “intelectuais” inicialmente flexibilizaram nosso senso moral. A chamada “revolução sexual” foi um ponto fundamental para o avanço da ideologia demoníaca. Afinal, o instinto sexual é um móbil fortíssimo, o qual exige uma virtude robusta para ser controlado humana e inteligentemente. A seguir foram popularizadas as mais diversas formas de sexo sem vínculo reprodutivo, isto é, sem responsabilidade. O aborto veio de forma conveniente para eliminar definitivamente o “problema” da responsabilidade (ainda que ao custo de vidas humanas individuais, mortas – sacrificadas - brutalmente no início de seu desenvolvimento). O divórcio também contribuiu para que a responsabilidade fosse solapada. E novas formas de busca desesperada pelo prazer sexual prosperaram, de tal forma que hoje já se fala em “normalizar” a zoofilia, a pedofilia, etc, as quais são desdobramentos de uma ideologia que vem avançando ao longo das últimas décadas.

Mas vejam: tais aberrações só se tornaram possíveis sob a ideia de “perspectivismo”, ou seja, de relativismo, o qual tem sido causa de nossos piores flagelos. Desse modo, a partir do relativismo se pôde corromper tanto o mundo quanto a natureza humana. O propósito mais elementar das seitas demoníacas tem sido levado a efeito de forma bem-sucedida, e isso mesmo sem que muitos saibam que estão servindo a uma ideologia demoníaca. Muitos são satanistas e sequer se apercebem desse fato. Simplesmente desconhecem a que “forças” estão servindo. Em geral, o fazem motivados pelos seus vícios.

Pensemos novamente no ambiente acadêmico. Dado se tratar de um ambiente hoje dominado pelo relativismo, alguém que deseje prosperar institucionalmente irá naturalmente aderir ao discurso relativista. Isso vai lhe assegurar bolsas, recursos, status, etc. Atualmente há, no mundo ocidental, uma ampla e escancarada guerra contra o Cristianismo. Embora ele seja, como esclareceu de forma erudita o historiador Christopher Dawson, a “alma do ocidente”, ele tem sido escarnecido e banido de diversos ambientes, inicialmente do plano acadêmico, mas, hoje, de demais instituições e, mesmo, da sociedade civil. Inicialmente, tal guerra ao Cristianismo estava mais restrita ao âmbito acadêmico. No entanto, lamentavelmente a sociedade civil incorporou o ódio acadêmico ao Cristianismo.

Os resultados são, hoje, mensuráveis. A barbárie, os altíssimos índices de suicídios, acelerada violência interpessoal, a drogadição, etc, revelam os resultados do relativismo quando esse chega à sociedade. E, claro, as instituições que deveriam resguardar e fomentar certos bens já não o fazem: os educandários já não se empenham em buscar pela verdade, o judiciário já não crê em justiça, a estética despreza a beleza e enaltece o torpe, e assim por diante.

Em suma, o relativismo simplesmente aniquila aqueles valores que pretende relativizar: ele não os relativiza, mas os elimina. E, com isso, ele atende ao propósito perverso da ideologia demoníaca, fazendo colapsar o mundo e o ser humano enquanto criações divinas, ou seja, enquanto coisas sagradas.

Carlos Adriano Ferraz é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). É professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

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PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO!

"Respeitar o desprezível é desrespeitar o respeitável. Entre os políticos brasileiros ditos conservadores, não conheço um único que compreenda essa obviedade." (01/10/2021)

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OPINIÃO DO AUTOR

Metrópolis, de 1926: Um filme anti-marxista e muito atual (Parte 2/3)
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
04 de Outubro de 2021

Vamos à segunda parte desta série de artigos sobre o filme Metropolis, de Fritz Lang, série que iniciei na edição XXIV. No texto anterior, vimos o histórico de quase-destruição do filme, e seu lento e quase centenário processo de restauração. Vimos também que ele tem algo a ver com Marx e Engels. Pois bem, aqui apresentaremos detalhes da trama com os personagens.

O filme começa apresentando os trabalhadores e sua cidade abaixo do solo. Na trama, estamos no ano de 2026. Perto de chegarmos, não? Apesar de sabemos a essa altura que grande parte do processo técnico pela qual o roteiro "profetiza" o futuro já está datado, sua mensagem e essência finais permanecem intactos, portanto vamos nos concentrar nos elementos alegóricos, que no fim das contas é o intuito per se. Bom, vemos a triste situação dos trabalhadores em sua troca de turnos nas máquinas da cidade, a vida de completa escravidão que levam. Da mesma forma, vemos a radiante vida no alto da metrópole, com os "escolhidos" levando sua idílica vida de prazeres. Entre eles, conhecemos Freder, que está entretido com algumas garotas no Jardim dos Prazeres, uma espécie de "Paraíso" na terra. 

Vejam bem que a diferenciação entre cidadãos de primeira e de segunda classe aqui já é premeditada. Considerem também a estruturação completamente socialista da sociedade, onde a ralé trabalha feito escravos apenas para se sobreviver a um outro dia, e os jovens cidadãos privilegiados das castas superiores não fazem nada senão passar o dia inteiro com diversões seculares e descartáveis.

Mas eis que um dia, diante dos olhos de Freder, surge Maria. Maria é uma mulher que cuida dos filhos dos trabalhadores e que ensina os pais e mães das crianças em uma caverna secretamente. Ela ensina sobre a Bíblia, as grandes histórias edificantes; ela é como se fosse uma pregadora, uma beata. Bondosa e caridosa, ela irrompe em um dos andares do alto da cidade para mostrar às crianças do submundo que o povo privilegiado da metrópole é um povo irmão, que todos são irmãos, e que essa separação, esse abismo entre irmãos como nos é proposto aqui não deveria existir. Maria é a entidade "redpill" da história, a profetiza que vem abrir os olhos dos homens de boa vontade, e que mantém os valores tradicionais ainda pelo menos na imaginação dos trabalhadores para que continuem a acreditar em dias melhores. Acontece que Freder a vê e se apaixona por ela. Perdidamente. Loucamente. Miseravelmente. Tão apaixonado ele fica, que não resiste à tentação de conhecê-la, tão logo ela sai de cena, expulsa pelo "mordomo" do lugar.

Freder então descobre a cidade dos trabalhadores e, em meio a visões e desastres, vê que eles vivem uma vida de eterna escravidão dando suas vidas para manter a cidade de pé em meio às engrenagens, e decide que precisa ajudá-los, tentando convencer seu pai, Jon Fredersen, dono e senhor de Metropolis, a libertá-los, ou pelo menos dar a eles melhores condições de vida. Fredersen, no entanto, não se mostra tão generoso, por isso Freder decide fazer algo ele mesmo, e acaba encontrando em Josaphat, recém-demitido de seu pai, um aliado para isso.

Os dois descobrem que Fredersen e o cientista louco Rotwang tem uma macabra parceria e um passado meio suspeito. Eles também descobrem que Fredersen e Rotwang conspiram tirar Maria do meio dos trabalhadores, para que eles parem de perder tempo com as pregações dela e trabalhem mais.

Moses Hess, pensador alemão sionista, diria que "A Religião pode fazer suportável... a infeliz consciência de servidão... de igual forma o ópio é de boa ajuda em angustiantes doenças." Já Karl Marx, biruta de plantão, resumiria essa ideia em algo bem mais simples e sinistro: "A religião é o ópio do povo". Um conceito que Lang parece ter compreendido muito bem.

Estamos aqui diante da secularização dos valores elevados a tanto tempo guardados por pessoas representadas pela personagem Maria, nas catacumbas, e à total coisificação da sociedade através de um elemento anárquico e disruptivo. Conforme nos ensina Padre Paulo Ricardo em seu curso sobre Igreja dos primeiros tempos, antes do imperador Constantino, os primeiros Cristãos, perseguidos e mortos por assim o serem, tinham que celebrar missas clandestinas nas catacumbas, longe dos olhares de autoridades. Aqui em Metropolis, diante da secularização da sociedade, o mesmo conceito é aplicado: expurgar a religião do coração do homem. Para isso, Rotwang deve transformar seu robô em uma cópia de Maria, para enganar os trabalhadores e fazê-los esquecer a doce mulher.

Feito isso, no alto da cúpula da alta sociedade, a robô começa seu espetáculo satânico, entretendo o povo rico da cidade para despistá-los da situação calamitosa que a cidade está prestes a enfrentar. 

Logo após isso, a Maria robô causa a fúria nos trabalhadores, pregando o ódio e a maledicência e fazendo com que eles comecem a sentir vontade de se rebelar contra Fredersen. Porém, as malogradas ações deles atacando as máquinas que antes operavam acabam fazendo com que o reservatório de água da cidade estoure, colocando em perigo as vidas das crianças que estão em suas casas.

Com a ajuda de Maria, Josaphat e Freder, a situação é contornada e as crianças são salvas. Fazendo o papel de Moisés, Freder faz com que o povo escravo atravesse as águas para a sua liberdade. A robô é queimada pelos trabalhadores no meio da praça, revelando assim a face da falsa Maria. Freder então enfrenta o cientista Rotwang numa batalha mano a mano, e mata o cientista.

Então vem o gran finale, que é o ponto onde toda e qualquer referência incutida no filme por Lang culmina, seja de Marx, seja da Bíblia, seja de qualquer outra referência. Mas para entendermos este final, precisaremos primeiro elencar mais algumas analogias essenciais que elementos do filme nos trazem, até para que possamos amarrar tudo direito e fechar essa análise. No próximo artigo, ficará provado que Metropolis é de fato um filme anti-marxista e o quanto ele parece mais atual do que em sua própria época. Talvez tenhamos mais uma ou duas matérias no meio do caminho antes dessa conclusão. Aproveite então a espera para assinar o Lumine.tv e ir atrás de assistí-lo, garanto que você não vai se arrepender.

Semana que vem vamos falar de Jeffrey Nyquist.

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HUMOR


(04/10/2021)


(04/10/2021)


"Charge de hoje. Apagão. #JindeltCartunista." (@PS_Jindelt_60)
(04/10/2021)


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LEITURA RECOMENDADA

Hoje vou lhes indicar um livro para servir de alimento intelectual e também espiritual. São sete ensaios em que C. S. Lewis, de maneira maravilhosa e, por vezes cômica e irônica, nos inspira com ideias envolvendo o conceito de fé e nos remonta aos textos do Apocalipse de forma muito inspiradora. Compre, leia e expanda o seu imaginário!

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