Edição LXXXV (Terça Livre, Revista Esmeril 47, opinião e mais)
ESSE É O PAÍS QUE EU QUERO! A Brasil Paralelo em parceria com o Grupo Paris Filmes que recentemente comprou os direitos para exibir a série "The Chosen" da Angel Studios está lançando nos cinemas de todo país seu primeiro filme dramático, "Oficina do Diabo". Trata-se de uma obra baseada no livro "Cartas de um diabo a seu aprendiz", de C. S. Lewis, famoso autor das "Crônicas de Narnia". O livro de Lewis é como se fosse um 'Catecismo ao contrário', mostrando ao leitor como o diabo pensa para que possamos evitar sua influência. O Tempo de Leitura te convida a em breve conferir a obra cinematográfica que todos esperamos que seja importante e um grande marco na história do cinema brasileiro e na trajetória da BP. |
REVISTA ESMERIL 47
- O último profeta (Leônidas Pellegrini)
- Dogmas, dogmatismo e o papa Francisco (Oswaldo Viana Jr.)
A estratégia de se conectar com o mundo começou a ser montada pela China em 2008, durante os Jogos Olímpicos de Pequim. Ansiosos para melhorar a imagem do regime comunista na comunidade internacional, o Partido Comunista Chinês queria mostrar que poderia celebrar um evento perfeito. Entretanto, aqueles que se opuseram aos jogos foram silenciados e torturados pela ditadura. Manifestações contra as Olimpíadas e pedidos de boicote aos jogos ocorreram em várias partes do mundo. No mesmo período, após sentirem-se constrangidos, membros do PCCh perceberam que o “incidente” só aconteceu porque a sua mensagem não estava sendo ouvida o suficiente fora da China. Ou seja, precisa de uma voz maior.
Livremente baseado no martírio de São João Batista
I – A humilhação
Herodes gostava da pregação de João Batista, e com frequência ia ao Jordão para escutá-lo. Ainda que fosse uma ocasião de grande embaraço para si – pois conhecia bem seus muitos pecados, contra os quais não estava disposto a lutar –, o rei passava por cima de seu orgulho e ia. Aquele homem excêntrico, vestido com pelo de camelo e uma tira de couro cru à cintura, era para ele inofensivo, e o divertia. E as palavras do Batista agradavam ao velho monarca, sem que no entanto lhe entrassem no coração, muito mais duro que as imprecações do profeta.
Naquela manhã, no entanto, o rei cometera um erro imperdoável. Levara consigo a mulher – esposa roubada de seu irmão. Herodíade possuía uma beleza notável, que Herodes havia tempo já cobiçava, e à qual não resistira, arrebatando-a para si sem pensar duas vezes logo que lhe surgiu a oportunidade. Mas é bem verdade que o encanto durara pouco. A senhora era caprichosa e volúvel, cheia de vontades, e de um azedume e ranhetice que já andavam deixando o monarca bastante cansado, arrependido mesmo da sua precipitação. E foi justo naquele dia que o capricho dela foi querer acompanhá-lo ao rio para ouvir João. O monarca, ao vê-la toda produzida e pronta para sair, logo compreendeu tudo, e aceitou o fardo com um suspiro resignado.
Agora, lá estavam os dois à beira do Jordão, em uma luxuosa liteira, cercados de nobres e empregados, a passar por uma enorme humilhação pública. O profeta correra para eles tão logo vira a comitiva real, e não poupara palavras. Chamara-os de adúlteros e desavergonhados e, com olhos furiosos, imprecara contra Herodes:
– Arrepende-te de tuas faltas e separa-te dessa mulher que não é tua! Vives em pecado com a mulher de teu irmão, e isso é abominável aos olhos de Deus! Arrepende-te, jejua e te cobre de cinzas, filho do mundo!
João então olhou para Herodíade, mas ela desviou os olhos e cobriu-se com um manto. Irada, ordenou que a comitiva seguisse. Seu coração fervilhava de ódio. O de Herodes também, mas ele se mantinha mudo e pensativo enquanto escutava os esconjuros da mulher, em meio às risadas abafadas e comentários maldosos dos nobres e empregados em volta.
II. A prisão
Aquela humilhação exigia de Herodes uma atitude. Ele virara motivo de piada entre os nobres e o povo. Ainda assim, relutava. Mais por superstição que por temor a Deus, não ousava mexer com Seus profetas. Preferiu, pois, deixar as coisas como estavam. Mandou prender o Batista e planejou para as semanas seguintes um grande número de suntuosas festas.
Era um bom plano, sem dúvida, mas que não arrefeceu a ira de Herodíade. Para ela, ainda que o Batista fosse posto a ferros e sofresse as piores torturas, isso não repararia a humilhação que sofrera. Apenas a morte do profeta a deixaria satisfeita.
III. A festa
Passado algum tempo, as coisas no reino pareciam ir voltando à normalidade para Herodes. As festas que ele havia planejado iam inebriando a nobreza a ponto de a humilhação diante do profeta do Jordão tornar-se uma lembrança vaga e sem importância. Até mesmo Herodíade melhorara de humor, parecia mais doce e submissa, agradável mesmo, uma grande companheira em todos os momentos. As coisas iam bem e o rei se sentia leve e de bem com a vida.
Então, houve mais uma festa, a maior de todas, para a qual fora anunciada uma homenagem especial de Salomé, a jovem filha de Herodíade, ao rei. Uma celebração realmente pomposa, cujo luxo e riqueza competiam com as do próprio César. Herodes mandara convidar nobres de muitas partes para aquela ocasião, em que, diziam, seu nome seria gravado para a eternidade. E assim foi.
Salomé vivia o ápice da adolescência e sua formosura fazia cativo um sem-número de nobres – entre eles, o próprio Herodes, que a cobiçava ainda mais que à sua mãe quando a arrebatara. O velho rei, publicamente, tentava conter seus impulsos pela sobrinha, mas seus olhares desejosos o denunciavam a quem quer que estivesse perto, e corria mesmo entre o reino, à boca pequena, que certa vez ele quase cedera a um conselho de um outro rei, de mandar Herodíade em viagem para uma terra distante da qual ela jamais retornaria, e arrebatar a pequena Salomé para si. Perfídia a que não se resolveu devido ao medo de que o escândalo viesse a causar alguma reviravolta política que lhe custasse o reino e a vida.
Mas a astuta Herodíade conhecia bem a volúpia do monarca e sua indisfarçável “afeição” por Salomé, de cujos encantos em mais de uma vez se valera para conseguir alguns favores mais delicados de Herodes. Agora, lá estavam mãe e filha, graciosamente trajadas, deslumbrantes e sedutoras, competindo por sua atenção, fazendo os olhos do velho rei derreterem em meio à grande festa. Insaciável, naquela ocasião mais que nunca ele cobiçava as carnes da sobrinha. E foi no ápice dos festejos que Herodíade anunciou a homenagem especial ao Grande Herodes: Salomé faria para ele a dança dos sete véus.
O monarca não pôde conter sua empolgação. Entre as centenas de olhos vidrados no corpo dançante da adolescente, os seus eram o mais famintos, os mais sequiosos. Embriagado, ele já não procurava disfarçar o que quer que fosse. Secava-a quase babando, o rosto vermelho e suado, o coração palpitante, acelerado, e na boca um sorriso abobalhado que chegou mesmo a escandalizar alguns convivas. A cada peça que a moça jogava pelos ares, a cada movimento de suas carnes jovens e sensuais, mais o rei arfava, desejoso, e esteve quase a ponto de enfartar quando viu, enfim, o corpo todo nu da adolescente ao final da dança. Arrependido por não ter cedido aos impulsos de se livrar de Herodíade para se deliciar logo no corpo juvenil da sobrinha, dizia de si para si, embasbacado: “O que ela quiser. Darei a essa jovem o que ela me pedir!”.
IV. A ordem
Ao final dos estrondosos aplausos, Herodes procurou recompor sua aparência de nobreza. Tomou um gole de vinho e, dirigindo-se à sobrinha, que arfava no centro do salão, falou-lhe:
– Foi uma bela dança, minha jovem. Uma homenagem digna de um rei. Por isso, hei de premiar-te com o que quer que me peças, ainda que seja a metade do meu reino!
Em meio ao burburinho geral, Salomé sorriu e fez uma longa mesura. Então, correu à mãe, que a abraçou, efusiva, enquanto lhe sibilava algo ao pé do ouvido. Naquele momento, Herodes curou-se repentinamente da embriaguez, e sua alegria desfez-se toda. Percebeu que havia caído numa armadilha. Enquanto Salomé voltava para o centro do salão, ele esperava apreensivo o pior. A jovem então fez seu pedido:
– Quero a cabeça de João Batista. Numa bandeja de prata.
O monarca empalideceu. Durante alguns segundos, fez-se silêncio geral. Logo, a quietude tornou-se novamente burburinho, cochichos e risadinhas. Um cônsul romano, bêbado, não pôde conter uma gargalhada, e logo foi acompanhado por outros nobres estrangeiros. Em torno, os olhares todos voltavam-se para Herodes. O rei olhou para Salomé e Herodíade, abraçadas e deliciadas com a situação, e teve ódio das duas. Fosse qual fosse sua decisão, sua imagem seria – junto ao povo ou aos nobres – ainda mais prejudicada. De cara fechada, olhou para os guardas e deu a ordem:
– Fazei o que a menina pediu.
V. A promessa
João Batista orava quando o foram buscar. Pedia perdão para seus algozes e olhou com piedade para um dos guardas, que se entristecia com a situação. Mas a execução foi rápida, e ele foi em paz.
Noutra parte da Judeia, Jesus também orava, e sentiu uma pontada no coração quando a cabeça de seu querido parente foi cortada. Chorava quando lhe foram levar a notícia, e disse consigo:
– Iremos nos rever em breve, primo. Não há de demorar agora.
Em recente entrevista à revista colombiana Vida Nueva, o papa Francisco deu a seguinte declaração:
Não gosto de rigidez porque é um mau sintoma da vida interior. O pastor não pode se dar ao luxo de ser rígido. O pastor tem que estar por perto para o que der e vier (…) Precisamos de seminaristas normais, com seus problemas, que joguem futebol e que não fiquem indo às ruas dogmatizar…
Há pessoas que vivem presas a um manual de teologia, incapazes de encarar problemas concretos e fazer a teologia avançar. A teologia estagnada me lembra que água parada é a primeira a apodrecer, e teologia estagnada gera corrupção. Tanto os movimentos de esquerda como de direita que ficam estagnados geram corrupção.
Estaria o Santo Padre, com essa fala, menosprezando a pregação dos dogmas da fé cristã? Ou estará ele fazendo uma crítica à postura dos que buscam expressar com máxima exatidão as verdades doutrinárias, sendo porém incapazes de se envolver com os “pecadores”, como Jesus escandalosamente fazia, sob o olhar de desprezo dos Mestres da Lei e dos fariseus?
Essa declaração do papa, que parece enfraquecer as fronteiras doutrinárias e permitir uma abordagem mais flexível da moral cristã, nos permite também refletir sobre o papel dos dogmas na compreensão e na vivência da fé.
No livro The Return of the Strong Gods, o teólogo e escritor Rusty Reno descreveu o esforço feito após a 2ª Guerra para erradicar o dogma. Diversos filósofos, economistas e teólogos, católicos e protestantes, refletindo sobre as duas guerras mundiais, concluíram que o caos na Europa dos últimos 5 séculos foi causado por dogmas: “o dogma divide”. Karl Rahner (importante teólogo do século passado), por exemplo, postulava que os ateus poderiam ser salvos, se fossem pessoas boas e bem-intencionadas. Sem dúvida, essa mensagem é atraente para os fiéis de outras religiões e para os sem fé nenhuma.
Muito embora esse entendimento da religião cristã pareça torná-la mais “inclusiva”, isso não é, de fato, cristianismo. Na verdade, isso nem é religião, mas uma invenção humanista: é o tipo de coisa que você criaria se quisesse uma religião que todo mundo pudesse achar boa, e que exigisse pouca coisa além de gentileza. Como todas as falsificações, essa “religião” parece verdadeira, mas um exame atento prova ser uma farsa, porque o cristianismo é intrinsecamente dogmático.
“Dogma” é uma proposição teológica que expressa uma verdade sobre a religião, que deve ser crida não apenas intelectualmente, mas com confiança (= com fé) absoluta. Um dogma é algo específico: é ISSO, não AQUILO. O cristianismo é dogmático desde o princípio por causa da Encarnação: o Filho de Deus, a Segunda Pessoa da santíssima e indivisa Trindade, tomou a forma humana de sua santíssima Mãe e nasceu em um determinado momento e lugar da história humana, não em outro qualquer.
O catolicismo, em particular, é objetivo e específico de uma forma que o protestantismo não é. Os sacramentos da Igreja são definidos por sua forma, sua matéria e seu ministro: se não tiverem forma, matéria e ministro adequados, não serão válidos. Embora possa ser agradável para muitos imaginar e tentar viver uma religião sem dogmas, ela não seria a fé da Igreja – seria apenas uma invenção de pessoas bem-intencionadas, uma fé fantasiosa com tanta substância quanto uma bolha de sabão.
Para concluir esta breve reflexão*, é oportuno lembrar da advertência do autor sagrado, na Carta aos Hebreus, 2,1-4:
Portanto, precisamos prestar muita atenção às verdades que temos ouvido, para não nos desviarmos delas. (…) O que nos faz pensar que escaparemos se negligenciarmos essa grande salvação, anunciada primeiramente pelo Senhor e depois transmitida a nós por aqueles que o ouviram falar? E Deus confirmou a mensagem por meio de sinais, maravilhas e diversos milagres, e também por dons do Espírito Santo, conforme sua vontade.
* Texto escrito a partir do artigo do pe. Dwight Longenecker: Do We Need Dogma?.
Lamentando com toda a cristandade os males que afligiam o mundo no início do século passado, em especial a difusão do comunismo e de doutrinas antirreligiosas, quando não aberta e agressivamente ateias, o Papa Pio XI concluía sua Encíclica “Caritate Christi” recordando que o “Coração divino de Jesus não poderá deixar de se comover com as súplicas e sacrifícios de sua Igreja, e acabará por dizer à sua esposa que geme a seus pés sob o peso de tantas dores e males: ‘Grande é a tua fé. Faça-se como queres’ (Mt 15, 28)”.
Isso, é claro, sob a condição de que os fiéis recorressem o mais possível à oração e à prática de penitência cristã, que chegam ao seu ponto máximo quando se convertem naquela reparação satisfatória que o doloroso Coração de Jesus, saturado de tantas injúrias, espera de todos os membros da Igreja.
Como meio de estimular em nossos leitores o desejo de unir-se a esse espírito de reparação ao Sagrado Coração de Jesus, é conveniente recordar um pouco, a partir das lições sempre acessíveis do Padre Antonio Royo Marín [i], em que consiste esta preciosa devoção, que nas palavras do Papa Pio XII não só não se opõe à reta fé católica como constitui, antes, “a mais completa profissão da religião cristã”.
Quase todos os modernos tratados teológicos De Verbo incarnato reservam um capítulo, muito oportunamente, à doutrina sobre a devoção e o culto ao Sacratíssimo Coração de Jesus.
Esta devoção tão entranhável e este culto tão legítimo, de qualquer ponto de vista, foram alvo de duros ataques em diferentes épocas da história, sobretudo por parte dos jansenistas; mas sempre recebeu as bênçãos e recomendações da Igreja. Em nossos dias, o imortal Pontífice Pio XII publicou sobre esta grande devoção uma maravilhosa encíclica que tem por título Haurietis aquas. Nela, o Pontífice resolveu algumas questões discutidas, precisou com exatidão seu verdadeiro sentido, pôs em evidência sua soberana excelência e sua perene atualidade e deu a esta preciosíssima devoção um impulso definitivo como uma das mais mais importantes e fundamentais do cristianismo.
As principais conclusões teológicas que se depreendem da encíclica Haurietis aquas, de Pio XII, e da Miserentissimus Redemptor, de seu imediato predecessor, Pio XI, são as seguintes:
O objeto final ou terminativo do culto ao Sacratíssimo Coração de Jesus é a pessoa do Verbo divino, à qual está hipostaticamente unido. Por isso, o Coração de Jesus deve ser adorado com rigorosa adoração de latria.
Ouçamos a Pio XII:
Portanto, neste assunto tão importante como delicado, é necessário ter sempre presente que a verdade do simbolismo natural, que relaciona o Coração físico de Jesus com a pessoa do Verbo, repousa toda na verdade primária da união hipostática. Quem isto negasse renovaria erros mais de uma vez condenados pela Igreja, por serem contrários à unidade da pessoa de Cristo em duas naturezas íntegras e distintas (n. 59).
O culto de latria, com efeito, não pode ser oferecido senão a uma pessoa divina. Por isso, a pessoa do Verbo encarnado deve ser o objeto final ou terminativo sobre o qual recaia o culto tributado a seu Sacratíssimo Coração.
O objeto material próximo ou imediato é o Coração físico de Jesus, enquanto expressão natural do amor divino e humano do mesmo Cristo.
O próprio Cristo mostrou seu divino Coração a S. Margarida Maria de Alacoque enquanto lhe dizia: “Eis aqui o Coração que tanto amou os homens”. O Coração físico como natural expressão de seu imenso amor: esse é o objeto material sobre o qual recai imediatamente o culto ao Coração de Jesus.
Nada, portanto, proíbe que adoremos o Coração Sacratíssimo de Jesus Cristo, enquanto é participante, símbolo natural e sumamente expressivo daquele amor inexaurível em que ainda hoje o divino Redentor arde para com os homens (n. 42).
Como se sabe, o coração não é o órgão do amor espiritual (que procede da vontade racional), nem mesmo do amor sensível (que é uma paixão do apetite sensitivo). Mas sobre o coração físico repercute ordinariamente nossa vida afetiva e sentimental. Isto basta para considerá-lo como expressão natural do amor, conforme o uso consagrado e o costume universal dos homens.
O objeto formal, ou seja, o motivo ou a razão principal do culto ao Coração de Jesus é a divina excelência da pessoa do Verbo encarnado com especial atenção a seu tríplice amor por nós: divino, humano-espiritual e humano-sensível.
Ouçamos a Pio XII explicando tudo isso em diferentes passagens de sua encíclica:
É preciso entender bem o motivo pelo qual a Igreja tributa ao Coração do divino Redentor o culto de latria. Duplo, veneráveis irmãos, como bem sabeis, é tal motivo: o primeiro, que é comum também aos demais membros adoráveis do corpo de Jesus Cristo, funda-se no fato de, sendo o seu Coração parte nobilíssima da natureza humana, estar unido hipostaticamente à pessoa do Verbo de Deus, e, portanto, dever-se-lhe tributar o mesmo culto de adoração com que a Igreja honra a pessoa do próprio Filho de Deus encarnado. Trata-se, pois, de uma verdade de fé católica, solenemente definida no concílio ecumênico de Éfeso e no II de Constantinopla (n. 12).
O outro motivo concerne de maneira especial ao Coração do divino Redentor, e, pela mesma razão, confere-lhe um título inteiramente próprio para receber o culto de latria. Provém ele de que, mais do que qualquer outro membro do seu corpo, o seu Coração é o índice natural ou o símbolo da sua imensa caridade para com o gênero humano (n. 12).
E, assim, do elemento corpóreo, que é o Coração de Jesus Cristo, e do seu natural simbolismo, é legítimo e justo que, levados pelas asas da fé, nos elevemos não só à contemplação do seu amor sensível, porém a mais alto, até à consideração e adoração do seu excelentíssimo amor infuso, e, finalmente, num vôo sublime e doce ao mesmo tempo, até à meditação e adoração do amor divino do Verbo encarnado; já que à luz da fé, pela qual cremos que na pessoa de Cristo estão unidas a natureza humana e a natureza divina, podemos conceber os estreitíssimos vínculos que existem entre o amor sensível do Coração físico de Jesus e o seu duplo amor espiritual, o humano e o divino. Em realidade, não devem esses amores ser considerados simplesmente como coexistentes na adorável pessoa do Redentor divino, mas também como unidos entre si com vínculo natural, já que ao amor divino estão subordinados o humano, o espiritual e o sensível, os quais são uma representação analógica daquele (n. 58).
O culto ao Coração de Jesus tem por finalidade a perfeição de nosso amor a Deus e aos homens.
Ouçamos de novo a Pio XII:
Assim sendo, facilmente deduzimos que, pela própria natureza das coisas, o culto ao Sacratíssimo Coração de Jesus é o culto ao amor com que Deus nos amou por meio de Jesus Cristo, e, ao mesmo tempo, o exercício do amor que nos leva a Deus e aos outros homens; ou, dito de outra forma, este culto dirige-se ao amor de Deus para conosco, propondo-o como objeto de adoração, de ação de graças e de imitação; e tem por fim a perfeição do nosso amor a Deus e aos homens mediante o cumprimento cada vez mais generoso do “mandamento novo”, que o divino Mestre legou como sagrada herança aos seus Apóstolos quando lhes disse: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei… O meu preceito é que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei” (Jo 13, 34; 15, 12) (n. 60).
Os elementos essenciais do culto ao Coração de Jesus são os atos de amor e de reparação tributados ao amor de Deus, em desagravo das ofensas que Ele recebe dos homens.
Pediu-o expressamente o mesmo Cristo à sua fiel confidente Santa Margarida Maria de Alacoque e o confirmaram plenamente Pio XI e Pio XII. Eis aqui os textos:
Cristo: Então, descobrindo-me seu divino Coração, disse-me: “Eis aqui este Coração que tanto tem amado os homens, que tudo perdoou até esgotar-se e consumir-se, a fim de lhes mostrar seu amor; e, como agradecimento, não recebe da maior parte deles senão ingratidões, com suas irreverências e sacrilégios e com a frieza e os desprezos que têm para com Ele no sacramento de seu amor… Tu, ao menos, dá-me esta satisfação: de suprir suas ingratidões tanto quanto te seja possível [ii].
Pio XI: E, efetivamente, o espírito de expiação ou reparação sempre teve o primeiro e principal lugar no culto que se presta ao Sacratíssimo Coração de Jesus; e, como se confirma pela história, os costumes, além da Sagrada Liturgia e os decretos dos Sumos Pontífices, nenhum outro é mais adequado à origem, à natureza, à eficácia e às práticas próprias desta particular forma de devoção (n. 9).
Pio XII: Desde quando se promulgaram os primeiros documentos oficiais relativos ao culto do Coração Sacratíssimo de Jesus, tem sido constante persuasão da Igreja, mestra da verdade para os homens, que os elementos essenciais desse culto, quer dizer, os atos de amor e de reparação tributados ao amor infinito de Deus para com os homens, longe de estarem contaminados de materialismo e de superstição, constituem uma forma de piedade em que se põe plenamente em prática aquela religião espiritual e verdadeira que o próprio Salvador anunciou à samaritana: “Já chega o tempo, e já estamos nele, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade” (Jo 4, 23-24) (n. 56).
Em razão disso tudo, a veneração e o culto ao Coração Sacratíssimo de Jesus constitui a mais completa profissão da religião cristã.
Pio XII o diz expressamente com essas mesmas palavras:
Essa verdade fundamental permite-nos entender como o Coração de Jesus é o Coração de uma pessoa divina, quer dizer, do Verbo encarnado, e que, por conseguinte, representa e nos põe ante os olhos todo o amor que ele nos teve e ainda nos tem. E aqui está a razão por que, na prática, o culto ao Sagrado Coração é considerado como a mais completa profissão da religião cristã. Verdadeiramente, a religião de Jesus Cristo funda-se toda no Homem-Deus Mediador, de maneira que não se pode chegar ao coração de Deus senão passando pelo Coração de Cristo, conforme o que Ele mesmo afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6) (n. 60).
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Inventando certezas: Brasil-Mentira V
(Publicado originalmente no Diário do Comércio, em 30 de Abril de 2009, disponível no site do professor)
No mesmo Observatório, Luciano Martins Costa pontifica: “Ditaduras são ditaduras… Fazer a conta da ditadura pelo número de mortos nas masmorras oficiais é vilipendiar a história. É coisa de alienados.” Contestando as comparações usuais que contrastam as trezentas e poucas vítimas da polícia política brasileira com as cem mil da ditadura cubana, o Sr. Costa lança à conta do nosso regime militar dois delitos extras que, segundo ele, deveriam entrar no cálculo. De um lado, “a corrupção que se consolidou durante os vinte e poucos anos da ditadura militar”. De outro, “a violência policial não diretamente política” porque, diz ele, “a polícia brasileira, em todos os estados, foi transformada durante a ditadura militar num perverso e incontrolável instrumento de controle social, que foi treinado para ‘identificar’ e punir preventivamente os supostos objetores do regime e acabou produzindo uma lógica toda especial segundo a qual todo jovem de pele relativamente escura é um inimigo potencial da ordem pública”.
Textos como esse ou os dois de Alberto Dines já citados são até difíceis de analisar, tal a mixórdia psicótica de erros, confusões e impropriedades lógicas que neles se compacta. Normalmente serviriam apenas de amostras de como o fanatismo enlouquece. O significativo é que nenhum de seus autores é conhecido publicamente como um fanático. Ambos passam como profissionais equilibrados, idôneos, capacitados a julgar a qualidade do jornalismo alheio. E é justamente isso a prova de que não se trata de distúrbios pessoais, mas de um mal endêmico nas classes falantes do Brasil: a absoluta incapacidade ou recusa de julgar as coisas com um mínimo de equanimidade, o radicalismo cego de um parti pris que ao inflamar-se masturbatoriamente e apelar aos subterfúgios mais unilaterais e artificiosos, acredita piamente, tranquilamente, fazer justiça.
O Sr. Costa, indignado de que a truculência das ditaduras só se calcule pela violência política direta, pergunta: “Quem estabeleceu os critérios desse ranking? O departamento de infográficos da Folha?” Ele não pergunta se quem estabeleceu a diferença entre a proporção de negros e mulatos mortos antes e durante a ditadura foi o seu próprio departamento de infográficos mentais. Nenhuma pesquisa histórica ou estatística prova que antes de 1964 a polícia, composta ela própria de maciços contingentes de negros e mulatos, fosse mais bondosa para com os chamados afrodescendentes. Louco de ódio, ele inventa sem a mais mínima prova um racismo crescente, e julga baseado nisso.
Quanto à alegada corrupção da ditadura, é falso, em primeiro lugar, que ela não fosse denunciada na época. Na mesma medida em que reprimiam certo tipo de notícias políticas, os militares aceitavam e apreciavam denúncias de corrupção, que os ajudavam, segundo eles, a manter sob controle uma classe política viciada. Eu mesmo trabalhava num dos jornais mais visados pela censura – o Jornal da Tarde – e posso garantir que, se várias matérias minhas viraram receitas de bolo, o mesmo não aconteceu com nenhuma acusação feita a políticos corruptos. Que os próprios militares no alto comando da nação fossem ladrões, é algo de que o Sr. Costa não cita nem poderia citar um único exemplo, visto que nenhum desses homens, na presidência ou em ministérios, prosperou tanto quanto o Sr. Lula ou o Sr. José Dirceu, nem muito menos – para dar um exemplo característico do regime deposto em 1964 – tanto quanto o Sr. Tião Maia, o amigo do presidente Goulart, que saiu do Brasil com dinheiro suficiente para comprar a vigésima parte do território australiano e, interrogado sobre como conseguiu isso, respondeu singelamente: “O Banco do Brasil foi uma mãe para mim”.
Houve sim, casos de corrupção no governo militar. Nenhum deles maior que o das “polonetas”, o empréstimo ilícito feito ao governo comunista da Polônia pelos esquerdistas que então infestavam o Ministério de Relações Exteriores de Geisel, contra os quais nem o Sr. Costa nem qualquer de seus congêneres diz a mais mínima palavra. E, entre os feitos de violência do regime, nenhum se compara à ajuda fornecida pelo mesmo governo Geisel para a ditadura cubana invadir Angola e aí matar, em poucos meses, pelo menos quinze mil pessoas. Também disso o Sr. Costa não diz nada.
Não há sinal de que, na ditadura Vargas, a violência social da polícia fosse menor do que se tornou depois ou de que fosse menos racialmente orientada. Simplesmente não é possível estudar o fator racial na conduta da polícia sem estudá-lo simultaneamente no próprio fenômeno da criminalidade. Até hoje ninguém provou que o número de “afrodescendentes” oprimidos ou assassinados pela polícia seja maior, proporcionalmente, do que o número deles no contingente de criminosos ou, mais ainda, na própria composição racial das tropas policiais. Sem essa prova, falar em racismo policial é calúnia pura e simples. Abolir metade do fenômeno para usar a outra metade como prova de racismo e, sem o mais mínimo fundamento comparativo, proclamar que esse racismo aumentou durante a ditadura militar (como se a própria noção de “aumentar” não fosse comparativa) é simplesmente expelir ódio por meio de mentiras.
Mas o Sr. Costa, repito, não tem fama de fanático odiento. Se tivesse, estaria tudo normal. Ninguém diz que o Sr. Costa é um agitador de extrema-esquerda. Ao contrário, a linguagem dos agitadores de extrema-esquerda tornou-se normativa, obrigatória e mainstream na mídia brasileira e nas classes falantes em geral – de tal modo que basta você resmungar um pouquinho contra ela e você é que é instantaneamente apontado como um perigoso extremista de direita, sem precisar para isso ter advogado jamais qualquer medida extrema contra quem quer que fosse.
Mais ainda, o Sr. Costa, na mesma medida em que abomina comparações e as faz no mesmo instante, ressaltando unilateralmente o horror da ditadura brasileira para fazê-la parecer ainda pior do que a argentina ou a cubana, nos sonega, novamente, um dos termos da comparação. Quantos entre os prisioneiros políticos de Cuba eram e são negros e mulatos? Quantos no Brasil? Quantos o eram entre os 17 mil fuzilados do regime cubano? Quantos entre os trezentos terroristas mortos pela nossa ditadura? Condenar comparações e em seguida fazê-las da maneira mais parcial, sectária e deformada é coisa de uma vigarice tão flagrante que em outras épocas qualquer esquerdista normal se recusaria a uma trapaça desse calibre. Mas o Sr. Costa não é um esquerdista normal. Ele é um esquerdista do ano 2009 no Brasil. E isso é muito diferente de sê-lo em qualquer outra parte do mundo e em qualquer outra época. No mínimo, essa condição basta para apagar, na mente do sujeito, esta obviedade gritante: se não é lícito dizer que uma ditadura foi pior que outra, também não pode sê-lo dizer que ela foi pior que ela mesma.
No mesmo Observatório, Luciano Martins Costa pontifica: “Ditaduras são ditaduras… Fazer a conta da ditadura pelo número de mortos nas masmorras oficiais é vilipendiar a história. É coisa de alienados.” Contestando as comparações usuais que contrastam as trezentas e poucas vítimas da polícia política brasileira com as cem mil da ditadura cubana, o Sr. Costa lança à conta do nosso regime militar dois delitos extras que, segundo ele, deveriam entrar no cálculo. De um lado, “a corrupção que se consolidou durante os vinte e poucos anos da ditadura militar”. De outro, “a violência policial não diretamente política” porque, diz ele, “a polícia brasileira, em todos os estados, foi transformada durante a ditadura militar num perverso e incontrolável instrumento de controle social, que foi treinado para ‘identificar’ e punir preventivamente os supostos objetores do regime e acabou produzindo uma lógica toda especial segundo a qual todo jovem de pele relativamente escura é um inimigo potencial da ordem pública”.
Textos como esse ou os dois de Alberto Dines já citados são até difíceis de analisar, tal a mixórdia psicótica de erros, confusões e impropriedades lógicas que neles se compacta. Normalmente serviriam apenas de amostras de como o fanatismo enlouquece. O significativo é que nenhum de seus autores é conhecido publicamente como um fanático. Ambos passam como profissionais equilibrados, idôneos, capacitados a julgar a qualidade do jornalismo alheio. E é justamente isso a prova de que não se trata de distúrbios pessoais, mas de um mal endêmico nas classes falantes do Brasil: a absoluta incapacidade ou recusa de julgar as coisas com um mínimo de equanimidade, o radicalismo cego de um parti pris que ao inflamar-se masturbatoriamente e apelar aos subterfúgios mais unilaterais e artificiosos, acredita piamente, tranquilamente, fazer justiça.
O Sr. Costa, indignado de que a truculência das ditaduras só se calcule pela violência política direta, pergunta: “Quem estabeleceu os critérios desse ranking? O departamento de infográficos da Folha?” Ele não pergunta se quem estabeleceu a diferença entre a proporção de negros e mulatos mortos antes e durante a ditadura foi o seu próprio departamento de infográficos mentais. Nenhuma pesquisa histórica ou estatística prova que antes de 1964 a polícia, composta ela própria de maciços contingentes de negros e mulatos, fosse mais bondosa para com os chamados afrodescendentes. Louco de ódio, ele inventa sem a mais mínima prova um racismo crescente, e julga baseado nisso.
Quanto à alegada corrupção da ditadura, é falso, em primeiro lugar, que ela não fosse denunciada na época. Na mesma medida em que reprimiam certo tipo de notícias políticas, os militares aceitavam e apreciavam denúncias de corrupção, que os ajudavam, segundo eles, a manter sob controle uma classe política viciada. Eu mesmo trabalhava num dos jornais mais visados pela censura – o Jornal da Tarde – e posso garantir que, se várias matérias minhas viraram receitas de bolo, o mesmo não aconteceu com nenhuma acusação feita a políticos corruptos. Que os próprios militares no alto comando da nação fossem ladrões, é algo de que o Sr. Costa não cita nem poderia citar um único exemplo, visto que nenhum desses homens, na presidência ou em ministérios, prosperou tanto quanto o Sr. Lula ou o Sr. José Dirceu, nem muito menos – para dar um exemplo característico do regime deposto em 1964 – tanto quanto o Sr. Tião Maia, o amigo do presidente Goulart, que saiu do Brasil com dinheiro suficiente para comprar a vigésima parte do território australiano e, interrogado sobre como conseguiu isso, respondeu singelamente: “O Banco do Brasil foi uma mãe para mim”.
Houve sim, casos de corrupção no governo militar. Nenhum deles maior que o das “polonetas”, o empréstimo ilícito feito ao governo comunista da Polônia pelos esquerdistas que então infestavam o Ministério de Relações Exteriores de Geisel, contra os quais nem o Sr. Costa nem qualquer de seus congêneres diz a mais mínima palavra. E, entre os feitos de violência do regime, nenhum se compara à ajuda fornecida pelo mesmo governo Geisel para a ditadura cubana invadir Angola e aí matar, em poucos meses, pelo menos quinze mil pessoas. Também disso o Sr. Costa não diz nada.
Não há sinal de que, na ditadura Vargas, a violência social da polícia fosse menor do que se tornou depois ou de que fosse menos racialmente orientada. Simplesmente não é possível estudar o fator racial na conduta da polícia sem estudá-lo simultaneamente no próprio fenômeno da criminalidade. Até hoje ninguém provou que o número de “afrodescendentes” oprimidos ou assassinados pela polícia seja maior, proporcionalmente, do que o número deles no contingente de criminosos ou, mais ainda, na própria composição racial das tropas policiais. Sem essa prova, falar em racismo policial é calúnia pura e simples. Abolir metade do fenômeno para usar a outra metade como prova de racismo e, sem o mais mínimo fundamento comparativo, proclamar que esse racismo aumentou durante a ditadura militar (como se a própria noção de “aumentar” não fosse comparativa) é simplesmente expelir ódio por meio de mentiras.
Mas o Sr. Costa, repito, não tem fama de fanático odiento. Se tivesse, estaria tudo normal. Ninguém diz que o Sr. Costa é um agitador de extrema-esquerda. Ao contrário, a linguagem dos agitadores de extrema-esquerda tornou-se normativa, obrigatória e mainstream na mídia brasileira e nas classes falantes em geral – de tal modo que basta você resmungar um pouquinho contra ela e você é que é instantaneamente apontado como um perigoso extremista de direita, sem precisar para isso ter advogado jamais qualquer medida extrema contra quem quer que fosse.
Mais ainda, o Sr. Costa, na mesma medida em que abomina comparações e as faz no mesmo instante, ressaltando unilateralmente o horror da ditadura brasileira para fazê-la parecer ainda pior do que a argentina ou a cubana, nos sonega, novamente, um dos termos da comparação. Quantos entre os prisioneiros políticos de Cuba eram e são negros e mulatos? Quantos no Brasil? Quantos o eram entre os 17 mil fuzilados do regime cubano? Quantos entre os trezentos terroristas mortos pela nossa ditadura? Condenar comparações e em seguida fazê-las da maneira mais parcial, sectária e deformada é coisa de uma vigarice tão flagrante que em outras épocas qualquer esquerdista normal se recusaria a uma trapaça desse calibre. Mas o Sr. Costa não é um esquerdista normal. Ele é um esquerdista do ano 2009 no Brasil. E isso é muito diferente de sê-lo em qualquer outra parte do mundo e em qualquer outra época. No mínimo, essa condição basta para apagar, na mente do sujeito, esta obviedade gritante: se não é lícito dizer que uma ditadura foi pior que outra, também não pode sê-lo dizer que ela foi pior que ela mesma.
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