Edição XLV (Terça Livre, Revista Esmeril 28, Revista Nada Que Calar 01, Opinião e mais)

 Tempo de Leitura XLV

(Opinião, artigos e cultura para pessoas livres)


Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Esmeril, na Revista Nada que Calar e outras publicações de outras fontes à minha escolha. Nenhum texto aqui pertence a mim (exceto onde menciono), todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo.


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REVISTA ESMERIL 28

Pateo do Collegio (Vitor Marcolin)

Obra de jornalista censurado pelo ditador Nicolás Maduro chega ao Brasil (Vitor Marcolin)

A Cultura inerte é apenas uma bagagem empoeirada (Larissa Castelo Branco)


REVISTA NADA QUE CALAR 01

O cafetão Globalista e sua Rapariga Comunista (Mauro Fagundes)









Onde quer ir primeiro?



LEITURA RECOMENDADA

Minhas redes:
     

8 de Fevereiro de 2022
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👆 Com a palavra, Terça Livre!





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MEMÓRIA TERÇA LIVRE
(matérias de edições antigas da revista que ainda são atuais)



Hoje voltaremos no tempo para a edição 14 da Revista Terça Livre, de 15 de Outubro de 2019.

Infelizmente não é mais possível acessá-la porque o site TL TV saiu do ar, portanto agora uso do meu acervo de pdfs para publicar artigos da revista. Porém, a área de cursos do Terça Livre se encontra disponível novamente através da plataforma do Canal Hipócritas.



CULTURAL


👆 A novilíngua como ferramenta estratégica da esquerda no Brasil
(por Priscila Dalcin)

Socialistas ganham força sobre indivíduos impondo a linguística em favor da revolução

O Com o objetivo de implementar a ideologia revolucionária no país, os socialistas têm trabalhado a mudança dos costumes no Brasil por meio da novilíngua, que é a corrupção de todo o sistema linguístico de uma nação. Tal conceito modifica a linguística fazendo uso de várias técnicas. Uma delas são os eufemismos, que amenizam a carga de significados de palavras que essencialmente denotam um sentido negativo.

Outra técnica consiste na transformação semântica, quando se esvaziam os componentes do sentido dos termos, modificando a interpretação das sentenças, além da manipulação da sintaxe de colocação das palavras, deslocando o posicionamento delas para atribuir outros sentidos às frases. Os esquerdistas também transmutam a morfologia das palavras, trocando até as letras que compõem os vocábulos.

O que atualmente é conhecido como guerra cultural era improvável há dois séculos, momento em que a guerra, a cultura e a política eram mantidas a uma distância segura. Na própria história das guerras, os grandes impérios se formavam a partir de suas conquistas pela força e poder, deixando quase intacta, porém, a cultura dos povos conquistados. Os persas, por exemplo, eram expansionistas e, conforme conquistavam um povo, permitiam que as pessoas mantivessem sua cultura e religião, submetendo-as somente ao domínio político e econômico, com o pagamento de impostos como a principal obrigação que lhes era estabelecida.

Tendo sido construído a partir da expansão cultural, o cristianismo foi disseminado pelo mundo inteiro por intermédio da evangelização, o que estruturou a história da civilização ocidental. Até o século XIX, a hegemonia da cultura cristã permaneceu fortalecida. No entanto, por volta da década de 1960, com a fé cristã fragmentada, o conceito de guerra cultural se forma nos Estados Unidos, e ganha força em três áreas da vida humana: religião, etnia e sexualidade. Com a humanidade cada vez mais afastada do cristianismo, o Estado emerge no cenário político como grande solução para a vida das pessoas. Então, inicia-se uma disputa de quem conseguirá estabelecer a hegemonia cultural: o cristianismo ou as diversas ideologias que surgiram no século XX.

Nesse cenário, a esquerda identificou que os pilares do Ocidente foram formados essencialmente pelos valores cristãos, e construídos através da propagação da cultura cristã, presente nas universidades, nas artes, arquitetura, literatura e linguística. Tendo como essência desconstruir tudo que já existe para construir um suposto mundo novo, a esquerda adentrou todas as esferas.

Especificamente em relação às ações de desconstrução da linguística, é possível afirmar que são uma estratégia de guerra traçada maliciosamente. Pedro Augusto, professor do Instituto Borborema, alerta. “Não é por acaso, tem gente pensando nisso”, diz. A sistemática das ações revelam que o objetivo é tomar a mente da população brasileira, visando a implementar as ideias socialistas de maneira quase que imperceptível, tal qual ensinou o comunista Antônio Gramsci: “Não ataquem blindados, ataquem ideias.”.

A esquerda compreendeu que, ao modificar a linguagem e instrumentalizá-la em prol do movimento revolucionário, a estratégia logra êxito na medida em que a maior parte da população sequer percebe estar sendo lesada. As pessoas não reagem, apenas absorvem a situação como se fossem esponjas. Nesse sentido, a linguagem se transforma em um meio de poder, induzindo as massas a fazer aquilo que os estrategistas revolucionários querem sem nem sequer contestar. Elas aderem aos conceitos imbuídos da ideologia socialista sem se dar conta de que estão tendo suas ideias, costumes e comportamentos moldados.

O livro “1984”, de George Orwell, aborda essa temática da transformação da linguagem com o objetivo central o controle social. Publicada em 1949, o romance distópico de Orwell concentra-se em uma análise de como o mundo estaria organizado politicamente a partir no ano futuro de 1984. Coincidentemente, o autor profetizou a transformação linguística como ferramenta de poder totalitário, dando o nome de “Novilíngua” ou “Nova Fala” à língua submetida a constantes transformações impostas pelos líderes do partido. Tal conceito apenas nomeia uma prática que está sendo implementada no Brasil há algumas décadas, com maior penetração neste início de século, desde que o Partido dos Trabalhadores (PT) assumiu o poder.

Com o objetivo de controlar as mentes, a novilíngua molda comportamentos e emburrece a população, para que ela deixe de raciocinar e apenas aja a partir de estímulos aos instintos mais primitivos do ser humano. “De um membro do partido espera-se que tenha não apenas a opinião certa, mas os instintos certos”, descreve Orwell. Trazendo essa realidade para o cenário político brasileiro, o professor Pedro Augusto alerta: “A novilíngua reduz o homem à esfera mais primitiva, que é a das emoções. Nós temos uma geração inteira sendo moldada para tere os instintos certos”. Ele explica também que o debate público no Brasil deixou de ser promovido com o objetivo de construir novas políticas e projetos para o país: “Está sendo feito para induzir emoções e sentimentos, apenas isso.”

A consequência dessa animalização do ser humano é a redução do alcance da consciência do indivíduo. Em vez de desenvolver, fortalecer e expandir a capacidade de raciocínio, a pessoa emburrece. E aquele que percebe que algo está errado e ousa discordar é severamente perseguido pelo “Ministério da Verdade”, que tem como objetivo mudar livros, textos e a verdade, conforme consta na obra de Orwell.

A lógica é: se tudo que tinha para ser dito já tinha sido dito pelo partido, para que pensar diferente? Então, quem ousa pensar fora da ortodoxia do partido comete o “crime de pensamento”, que nada mais é do que a oposição ao famoso “politicamente correto” da atualidade, em que o indivíduo é praticamente linchado por pensar diferente daquilo que é imposto através da novilíngua, regida de maneira invisível pelo Estado. “O politicamente correto é uma nova tábua da lei, que vai dizer o que pode e o que não pode, dentro de uma nova arquitetura cultural, feita a partir dessa conquista das liberdades das minorias que se sentiam oprimidas”, diz Pedro Augusto.

Cientes do poder dessa ferramenta para a conquista da nação em que o grupo revolucionário tem interesse, o patrulhamento ideológico se firmou como um braço de apoio para a manutenção da continuidade do controle social e da idiotização da população. “A revolução estará completa quando a linguagem for perfeita”, cita Orwell no livro. No dicionário da cidade fictícia do livro, Oceania, as palavras são esvaziadas e reduzidas ao osso, tal qual o nível de consciência do indivíduo.

Consequências psicossociais

Diante de toda a reengenharia social promovida pela novilíngua, a população que adota essa nova forma de se comunicar fecha-se dentro de um círculo de pensamento contínuo, regido por emoções primitivas, e a única maneira dela sair é abrindo-se à busca pela verdade, identificando que há algo errado e aceitando ouvir o outro lado. Mas isso raramente acontece, uma vez que a novilíngua tem a característica de despertar gatilhos emocionais para mover as pessoas a partir deles, levando-as a um comportamento irracional e primitivo.

Para evitar dissidências, os ideólogos socialistas buscam moldar as ideias em questão e adaptá-las à realidade, o que é impossível. “Você não muda a realidade adotando uma realidade paralela, tentando adequar o mundo àquilo que você pensa”, afirma Pedro Augusto. Em razão disso, foi instituída a prática do relativismo da verdade, levando toda a sociedade a entrar no reino da mentira, o que provoca uma “dissonância cognitiva”, teoria criada por Leon Festinger. “Uma dissonância cognitiva é a contradição entre dois elementos do psiquismo do indivíduo, sejam eles: valor, sentimento, opinião, recordação, conhecimento, etc”, diz Pedro Augusto.

Na prática, a pessoa é colocada para entrar em conflito com um valor, uma ideia, ou uma realidade em que ela acredita, gerando uma tensão psicológica até que alcance um ponto em que ela não suporte mais essa tensão. Com isso, a tendência é que ela racionalize a tensão e, para reduzi-la, a acata, mesmo indo contra seus valores iniciais. Então, passa a acreditar naquele novo pensamento, abandonando o primeiro.

Isso promove um desconforto emocional e psicológico exacerbado. No entanto, a pessoa mantém-se subjugada àquele que praticamente a obriga a acreditar naquilo que ele quer, mas que destoa da realidade. “É aquela história: você vai acreditar em mim ou naquilo que você está vendo?”, diz o professor. “Com isso – continua – a pessoa começa a fazer arranjos mentais para dizer que seus olhos estão errados, o que gera grande conflito interior e até mesmo grande sofrimento. Nós temos uma geração inteira em dissonância cognitiva”.

Trata-se de uma verdadeira confusão mental que a novilíngua promove estimulada mecanicamente pelos ideólogos socialistas. “As palavras não são mais feitas para descrever o estado de coisas, as palavras são feitas para que você não perceba o estado de coisas”, afirma a doutora em linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Cíntia de Araújo.

Segundo o psiquiatra Ítalo Marsili, a distorção dos conceitos originais das palavras é baseada em mentiras, levando o indivíduo a sair da realidade da vida e, com isso, perder a própria liberdade de ser e existir. Para ele, é como se estivessem enfiando uma mordaça na boca da pessoa de tal modo que ela não pode falar o que pensa. Essa amarra verbal que fazem na mente do indivíduo, explica, é um elemento de paralisação.

“A força verbal é importantíssima. Quando você não consegue falar, você não consegue se expressar, perde a sua capacidade humana. Com isso, você deixa outra pessoa de fora te conduzir, mas você não sabe se ela é boa ou má, e então você fica à mercê de outro”, diz. Considerando que “o outro”, nesse caso, é justamente aquele que pretende manipular a população com o sistema da novilíngua que instaurou, conclui-se que a pessoa perde praticamente toda a capacidade de pensar sozinha e ainda fica subjugada a outrem, que pode manipulá-la facilmente.

A armadilha do politicamente correto faz uma conexão direta entre palavras e sensações, entre palavras e estados afetivos. Com isso, ele mata a capacidade do indivíduo se expressar e raciocinar, porque promove um medo generalizado das pessoas ofenderem e serem ofendidas, tornando-as fracas moralmente e excessivamente sensíveis. Essas palavras são imbuídas de conteúdo e fortes cargas emocionais. Podendo soar como boas ou ruins, se o indivíduo ousar ir contra ou a favor das mesmas, gerando sua imediata rotulação. Assim, “as pessoas paralisam, não continuam, não progridem e ficam paralisadas de medo diante da vida”, diz Marsili.

O psiquiatra explica que os eufemismos estão sendo utilizados como se tivessem poder de atuação prático. “Você falar ‘faca’, ‘machado’, não sangra o outro. A agressão verbal é um eufemismo. A palavra estupro não deflora uma pessoa, a palavra forca não mata. As palavras agridem analogamente, a própria palavra não tem um elemento de agressão”, diz. Ele alerta também para o fato de que ceder ao politicamente correto deixa o indivíduo fraco, porque enfraquece a mente dele. “A pessoa fica ofendida porque é fraca. O relacionamento humano precisa dessa folga, dessa liberdade. Está todo mundo muito ofendido, com uma chaga aberta, todo mundo histérico, isso é histeria. Tocou, você pula, dói.”

Marsili alerta que, ao ceder ao politicamente correto, à ideia de que as palavras ofendem, a pessoa se enfraquece. “O que importa é você não ficar fraco, não ficar subserviente porque estão te colocando uma mordaça na boca. Não precisa engolir o que impõem”, diz.

Ele avisa que a solução é a pessoa enfrentar o problema quebrando aquilo que é imposto pela novilíngua. “Resista, não dói, não caia na mordaça. Assim você começa a ganhar força psicológica e espiritual. Saia dessa armação verbal que colocaram na sua cabeça e te desestrutura da realidade.” O psiquiatra ensina também que existe solução para aqueles que não querem ceder ao politicamente correto. “Todo mundo hoje em dia tem medo de processo. Não tenham medo de falar, vocês precisam exercitar essa força interior.”

Alguns termos distorcidos pelo novilíngua

- Saúde reprodutiva – o termo significa exatamente o contrário do que ele está dizendo que seria indicativo de bem-estar físico, mensal e psicológico para a reprodução da prole entre a espécie humana. Na verdade, com a instrumentalização do significado do termo, indica a promoção à contracepção – de maneira impositiva, à esterilização, tanto de mulheres quanto de homens e, principalmente, à promoção ao suposto direito de as mães assassinarem seus filhos nos ventres. O que essencialmente indica vida, com a nova língua é sinônimo de morte.

- Homossexualidade x homoafetivade | Transgênero x transexual – a substituição do sufixo nessas palavras induz a sociedade a tirar o foco da questão principal do debate: o sexo biológico. Todo o debate de casamento e da transsexualidade gira em torno do conceito de sexo biológico ou daquilo que os socialistas intitulam de “sexo construído”. Quando a sociedade trata desse assunto utilizando uma palavra que exclui o cerne da questão – a sexualidade biológica, o debate morre, pois a própria palavra impede o pensamento sobre o objeto central do debate.

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REVISTA ESMERIL - Ed. 28, de 28/01/2022 (Uma publicação cultural digital e mensal de Bruna Torlay. Assinar a revista

Pediram-me para que eu escrevesse sobre Borba Gato, o bandeirante; e eu, que sou prestativo e tenho boa vontade, pus-me logo a pensar numa cena, num ato, num acontecimento que pudesse representar a realidade histórica na qual vivera o ilustre paulista. Mas assim a coisa tomaria os rumos de um pequeno conto, não de uma crônica, meu objetivo. Então, valendo-me da liberdade que a Literatura dá, concentrei-me somente num ponto — aquele que julguei o mais importante — e sobre ele escreverei.

Contraste. Houve a realidade histórica das Bandeiras, daquelas expedições que, da São Paulo dos Campos de Piratininga e das vilas vizinhas, seguiam a favor da estranha correnteza do rio Tietê, de Leste para Oeste, e adentravam no desconhecido. Estas expedições passaram a acontecer a partir, principalmente, da segunda metade do século XVII. Borba Gato nasceu precisamente no início desta era de expansão.

Desde tenra idade, antes de aprender a ler, eu me deleitava em contemplar as gravuras daquelas imensas enciclopédias Conhecer, da Abril Cultural. Recordo-me de que os mapas antigos atraíam a minha atenção de modo especial. Eu via a velha Europa, desde o seu extremo Leste, com a gigante Rússia como guardiã, até o Oeste, onde Portugal encontrava o Atlântico.

É curioso. Quando observamos a geografia da Ibéria e da América do Sul à luz da História, notamos alguns pontos, algumas conjunturas inusitadas: na Península Ibérica, tem-se o domínio espanhol a Leste e o português a Oeste. No entanto, os territórios destas duas potencias latinas na América seguem um modelo geograficamente invertido. Na América do Sul, Portugal tem o domínio da porção Leste do continente, enquanto a Espanha detém a porção Oeste.

E qual é a relação deste fato com o bandeirante Borba Gato? As Bandeiras portuguesas que partiam do atual território do Estado de São Paulo seguiam para o Oeste, adentravam o território espanhol, alargavam as fronteiras do território luso que, na Europa, era diminuto. Os nativos da língua portuguesa fizeram aqui o que não puderam fazer no velho mundo.

O colégio dos jesuítas, no centro histórico da capital, não é o original. Trata-se de uma homenagem arquitetônica ao primeiro esforço catequético da Companhia de Jesus. Eu descobri que há uma forma eficiente para se respirar melhor quando se está sob a fuligem de um centro urbano: basta que o sujeito olhe para cima. Os tons de azul e branco do céu diurno trazem às nossas retinas tão fatigadas um salutar alívio; é como se ao olhar para o céu víssemos a Eternidade em todo o seu esplendor a sobrepujar o tempo, representado pelas construções dos mais diversos períodos no centro velho da cidade.

A expansão das fronteiras não é um empreendimento para gente fraca. Objetivamente, é trabalho que exige prudência e todas as virtudes que vêm a reboque. Há um contraste entre a realidade daqueles esforços e a narrativa consagrada sobre eles. Sinto, não sem tristeza, que não demorará até que sejamos testemunhas das novas fases da mudança: não só as estátuas dos heróis do passado arderão em chamas, mas as referências nominais, arquitetônicas, morais, religiosas, filosóficas… todas as referências ao histórico estabelecimento da civilização cá em Pindorama serão alvo de um descabido e mortal ódio. Vê-se que a força contrária à civilização é obra do “Adversário, o qual se eleva sobre todo aquele que se chama Deus”. Eu vi uma cruz numa Bandeira.


Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2022

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Esmeril, conteúdo gratuito de 10 de Fevereiro



ESMERIL NEWS | LITERATURA





👆 Obra de jornalista censurado pelo ditador Nicolás Maduro chega ao Brasil
(por Vitor Marcolin - 18/02/2022)

O livro narra o encontro entre o autor e o ditador comunista

O livro 17 minutos: entrevista com o ditador, do jornalista Jorge Ramos, fora publicado recentemente no Brasil. A tônica da narrativa é uma entrevista que o ditador da Venezuela Nicolás Maduro concedeu ao jornalista em fevereiro de 2019. À entrevista, que ocorrera no Palácio de Miraflores, em Caracas, seguiu-se uma série de acontecimentos suspeitos. Ramos conta todos os detalhes.

O título do livro faz referência ao tempo de duração da entrevista antes da interrupção abrupta do ditador — que se sentiu tremendamente incomodado com as perguntas. Depois de 17 minutos de entrevista, Maduro interrompeu o diálogo e confiscou todos os equipamentos de gravação e o cartão de autorização do jornalista. Não só. O ditador venezuelano ordenou que os jornalistas fossem detidos por duas horas, ao cabo das quais a equipe foi deportada.

Tão logo o jornalista Jorge Ramos viu-se livre da Venezuela, tratou de divulgar os fatos relativos à entrevista. O episódio tornou-se notícia em todo o mundo. No livro, Ramos dá o contexto do seu encontro com Maduro, relata o antes e o depois da entrevista e esclarece para o leitor qual fora o gatilho para a reação do ditador.

“Quando tentei mostrar o vídeo dos jovens venezuelanos comendo restos de um caminhão de lixo — e argumentar que a revolução bolivariana havia fracassado –, ele se levantou, tentou cobrir o vídeo no tablet para que as câmeras não o captassem, e disse: ‘A entrevista acabou’. Deu meia-volta e foi embora. ‘O que o senhor está fazendo não é próprio dos democratas; isso é o que fazem os ditadores’, consegui dizer enquanto ele ia embora”.

Trecho do livro

No livro, Ramos conta o que fora preciso fazer para que ele e sua equipe não permanecessem presos, e como finalmente conseguiram recuperar e publicar o conteúdo dos 17 minutos da entrevista com o ditador comunista. No entanto, os seus equipamentos de televisão, como câmeras e microfones, jamais foram devolvidos.
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“Ser jornalista significa ser desobediente. Ser desobediente significa, entre outras coisas, estar na oposição. Para estar na oposição, é preciso dizer a verdade. E a verdade é sempre o contrário do que nos dizem”.

— Oriana Fallaci
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ESMERIL NEWS | ENSAIO






👆 A Cultura inerte é apenas uma bagagem empoeirada
(por Larissa Castelo Branco - 15/02/2022)


“A cultura também se firma no estreitamento das relações, em dar palavras aos sentimentos próprios e dos outros”


Temos, à nossa disposição, uma vastidão de livros, canções, fotografias, poemas, pinturas e esculturas prontos para serem apreciados e incitar em nós divagações sobre o sentido da nossa existência e sentimentos, bendita seja a internet que contribuiu massivamente para toda essa divulgação. Todas essas coisas incríveis têm um único nome: Cultura.

Muito se relaciona a cultura a um conjunto de requisitos a serem preenchidos para que alguém seja aceito em um seleto e anônimo grupo de pessoas que, aparentemente, carregam nos ombros todo o legado cultural do Ocidente.

Leu Dante? Ok. Assistiu Méliès ou Kubrick? Ok. Entendeu Nietzsche? Ok. Ouviu Bach, Tchaikovski ou Vivaldi? Tome aqui seu certificado de ser incrivelmente cultural!

Em momento algum ouso discordar da relevância de tais exemplos, entretanto me arrisco a perguntar: o que você faz por conta própria em prol de seu engrandecimento cultural? Vejam bem, não estou aqui exigindo proselitismo e falatórios rebuscados. Me refiro ao que você faz com tudo o que consome: se você repassa, divulga ou até mesmo consegue expressar seus próprios sentimentos, se tens a capacidade de exprimir em um papel tudo o que lhe vem à mente, se sabe usar as palavras a favor de si e do outros.

Obviamente, todas as habilidades humanas não contemplam simultaneamente um indivíduo só, é impossível ser bom em tudo, porém, seria muito interessante se todos nós usássemos todas as ideias e palavras absorvidas pra nos comunicar, conosco e com os outros. Você consegue exprimir seus sentimentos e pensamentos? Consegue fazer isso por alguém?


Se a resposta for “não”, temos aí um problema. Como externar tudo aquilo que nos toca e emociona? Há certo tempo, observo que o campo cultural vem se tornando uma extensão do Muro das Lamentações. Lamenta-se o fim do Ocidente, o fim da música, dos valores, da filosofia, alarma-se sobre a degradação moral e nisto, entra-se em um emaranhado de debates lamentáveis sobre uma escassez cultural que pode se comparar a uma hecatombe.

Até que tais preocupações são aceitáveis, porém o que não se fala é que o declínio social nos acompanha há muito tempo e as armas para combatê-la não se resume a ler bons livros e guardar pra si suas palavras. Em tempos de emburrecimento, de informação deliberadamente fácil e mentes preguiçosas, o melhor a se fazer é proliferar o resultado da soma daquilo que vimos, lemos e escrevemos.

A cultura também se firma no estreitamento das relações, em dar palavras aos sentimentos próprios e dos outros e o Conservadorismo, ao contrário do que se pensa, não significa fechar-se em uma redoma soberba com sujeitos de suspensórios e charutos em mãos, mas sim ressignificar o passado e reescrever o presente a partir das inspirações artísticas, mesclando-as à tecnologia e às novas formas de se comunicar.

Não importa se seguirá uma sequência lógica, você tem a liberdade de expressão a seu favor. Todo o seu bom gosto cultural deve servir pra algo, deve ser partilhado e impactar vidas. De que adianta tanto refinamento se as pessoas ao seu redor não conseguem entender o que você diz? A cultura é um organismo dinâmico, em pleno crescimento e por essa razão, acredito que deva ser experimentada por todos de forma democrática, sem redomas ou dificuldades. Já dizia Sérgio Sampaio: “Um livro de poesia na gaveta não adianta nada. Lugar de poesia é na calçada. Lugar de quadro é na exposição. Lugar de música é no rádio.”

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REVISTA NQC 01 (28/12/2021)



👆 O cafetão Globalista e sua Rapariga Comunista
(por Mauro Fagundes)

Que as diretrizes da esquerda são norteadas e impulsionadas pelos metacapitalistas não é novidade. Não se trata de uma aposta, muito menos de uma singela opinião, trata-se de um fato. As pautas encontram-se cada vez mais introjetadas pelas sociedades, porém a realidade é camuflada sob uma penumbra de ignorância.

Uma nova e assimétrica modalidade de guerra foi criada. Tudo ocorre diante dos olhos do mundo. Trata-se de uma guerra invisível, de uma guerra abstrata, totalmente desprovida de resultados naturalísticos, porém supinamente mais lesiva à humanidade do as de outrora.


Em 1958, ex-agente especial do FBI, Willard Cleon Skousen, sua obra “The Naked Communist”, elencou 45 metas bélico-culturais cujo objetivo se traduz no solapar os valores civilizacionais, permitindo, assim, que o processo revolucionário comunista viesse a transfigurar a sociedade americana em uma comunidade profana, imersa em trevas.

O vasto conhecimento de Skousen, permitiu-lhe enxergar, com precisão cirúrgica, muito além do tempo. Porém, as metas por ele trazidas à baila, não ficaram restritas apenas à América. Seguiram, de forma simbiótica, o movimento esquerdista mundo afora. No Brasil não foi diferente.

Inúmeros objetivos da referida agenda já foram alocados na sociedade brasileira, seja através de leis, emendas à Constituição ou mesmo, inseridos perigosamente na cultura pátria. Ao sul passaremos à análise e dissecação das citadas diretrizes que já fazem parte da realidade hodierna no Brasil e no mundo.

Meta 26: Apresentar a degeneração e promiscuidade homossexual como "normal, natural, saudável."
É de nítido ver, que a esquerda logrou grande sucesso quanto a este comando, tendo em vista que em nossa sociedade é tido como anormal o simples manifestar do asco ao ver dois indivíduos do mesmo sexo se beijando. A Suprema Corte brasileira em 2019 tratou de criar um novo tipo jurídico, um novo crime, chamado: crime de homofobia.

Na suprema decisão, foi dito que o legislativo fora omisso em tutelar o direito do segmento homosexual, passando então a equiparar o “preconceito” contra homossexuais ao racismo.

Meta 27: Infiltrar-se nas igrejas e substituir a religião revelada com a religião “social”. Desacreditar a Bíblia e enfatizar a necessidade de maturidade intelectual que não precisa de uma “muleta religiosa”.
Mais um movimento que se encontra em curso, saliente-se que em fase relativamente avançada.

Não é difícil de lembrar quando em janeiro desse ano, Lula orientou aos integrantes do PT a criação de núcleos evangélicos para construir uma nova interpretação da bíblia. Hoje o PT já conta com mais de 18 núcleos evangélicos espalhados pelo país.

Com o propósito perturbado, a Deputada Gleisi Hoffmann, afirmou: “O evangelho é tratar os pobres, ter solidariedade, não ter preconceito. Cristo andava com as prostitutas, com os pecadores. ‘Repartir o pão’ – os pobres em primeiro lugar. Se pegar o evangelho, qualquer um vê que é muito mais próximo com o programa do PT do que com o que a direita prega. Cristo nunca estimulou o preconceito ou a violência”.


Com todo respeito ao santo cargo que o papa ocupa, bem como a sua imagem, a entrega do crucifixo comunista quando de sua visita a Bolívia, não foi vista com bons olhos pela comunidade católica, porém o motivo subjacente deste ato é de claro ver.

Meta 23: Controlar os críticos de arte e diretores de museus de arte. “Nosso plano é promover a feiura, a arte repulsiva sem sentido”.
O controle dos críticos de arte é uma realidade indiscutível. Afirmação essa que se faz por verdadeira quando referida aos diretores de museus de arte.

Basta recordarmos da desastrosa exposição do promovida pelo Santander no Queermuseu, onde um dos quadros executava um vídeo em repetição reiterada, de um homem com olhos fechados sendo banhado por jatos de sêmen.

Outro evento ocorreu no Museu de Arte Moderna na Califórnia, onde uma mulher esqueceu os óculos no chão e os visitantes, passaram a apreciar e fotografar o objeto como se arte fosse.

Meta 11: Promover a ONU como a única esperança para a humanidade. Se a sua carta régia for reescrita, exigir que lhe seja instituída como governo mundial com suas próprias forças armadas independentes.
Sob o falso mantra da promoção do bem, da busca da paz, do almejar do bem estar mundial, a ONU tem sido apoiada e fortalecida cada vez mais pela esquerda.

Sem esforço, verifica-se que o papel da ONU na promoção da agenda comunista é de extrema relevância. Afinal, a agenda 20/30 não foi obra do acaso.

O fim da tramóia encontra-se longe. Conforme noticiado pela Reuters a ONU conjuntamente com a OTAN estuda criar um exército de 2.500 homens em Kosovo.

Lembremos que Kosovo é administrado pela ONU desde 1999, quando um bombardeio, pasmem, da OTAN expulsou as forças sérvias que estariam promovendo uma limpeza étnica na província.

40. Desacreditar a família como uma instituição. Incentivar a promiscuidade e o divórcio fácil.
O desacreditar da família como uma instituição tornou-se algo embebido em contumácia retórica que a desproveu de necessidade imperativa explicativa, tendo em vista seu novo qualitativo de trivialidade.

Por outro lado, seu segundo mando faz eclodir a coativa necessidade de análise de um objeto de extrema importância.

Até 1977 o vínculo matrimonial era indissolúvel. Uma vez casado, assim permaneceriam até o findar de seus dias. Caso a convivência se traduzisse em algo total e completamente insuportável, era possível obter, através de um longo e burocrático processo, o desquite, o qual consistia na partilha de bens e na obrigatoriedade de conviver sob o mesmo teto.

Entretanto o instituto do casamento era insolúvel. Não era possível casar uma segunda vez.

Ainda em 1977 foi aprovada a lei do divórcio, o qual passou a conceder a possibilidade do divórcio por uma única vez. Assim, o desquite passou a ser chamado de separação, a qual se traduzia em uma fase consistente no curso de um lapso temporal necessário para que o divórcio fosse permitido.

Após a Constituição Federal de 1988, o divórcio teve o início do seu banalizar. O casamento passou a ser dissoluvel através do divórcio de forma numericamente irrestrita.

O cumprimento de alguns requisitos eram necessários para que fosse concedido, trata-se de uma conditio sine qua non. Assim sendo, o casal deveria ingressar com seu pleito na justiça expondo o desejo do divórcio e aguardar por pelo menos um ano para poderem se divorciar.

Caso fosse comprovado que, de fato, o casal estava separado há mais de dois anos, independentemente de tutela judicial, o divórcio poderia ser autorizado pelo juiz.

A exigência desse tempo, buscava proteger a família, dando tempo e chance para que o casal conseguisse reatar os laços sentimentais, ou mesmo para que refletissem melhor antes de fulminar o seio familiar de eventuais filhos.

O ex-Presidente Lula tratou de atender o comando supranacional impresso na máxima esquerdista e sancionou a lei 11.441/2007 a qual facilitou o divórcio, permitindo que estes fossem realizados em cartório, independentemente de homologação judicial.

Vejamos:
Art. 1.124-A. A separação consensual e o divórcio consensual, não havendo filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quanto aos prazos, poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento.

Destarte, verifica-se que metas para implementação do comunismo encontram-se em pleno vigor, os maquiavélicos planos esquerdistas já fazem parte do dia a dia da sociedade brasileira. Restam inúmeras metas a serem analisadas, não menos importantes, talvez até mais, em dias vindouros, em oportuno momento daremos continuidade a compreensão dessa tenebrosa trama que penumbra a vida das pessoas de bem.


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Brasil Sem Medo - 17 de Fevereiro





CENTENÁRIO MODERNISTA

👆1922, entre o moderno e o eterno
(por Fábio Gonçalves)

Mais Bandeira e Pessoa, menos Mário e Oswald: o que efetivamente permaneceu na alta cultura cem anos depois Semana de Arte Moderna


Todo bom manual de estilística ensina que o escritor deve adequar, o máximo possível, a forma ao tema. Épico deve ter tom épico, frases épicas e personagens épicos. Comédia, a mesma coisa. Assim com a tragédia, com a lírica, com o romance. É por isso que não temos mais Homeros, Virgílios ou Camões. Não há mais no mundo a matéria cantada por esses mestres. E isso já faz tempo. No começo do século XVII, o poeta brasileiro Bento Teixeira, certamente de muito talento, arriscou nos dar um épico nacional, com invocação das Musas, Concílio dos Deuses, etc., etc. Usou o metro, a estrofe, o vocabulário e a erudição camoniana, num estilo epiquíssimo, para louvar os feitos hercúleos do governador do Pernambuco e sua família.

Muito mais juízo tinha o Machado. Afinal, como falar de um Cubas, sujeito notável pelo primor de não ter realizado coisa nenhuma na vida, senão com ironias e tiração de sarro? Há inclusive uma cena das Memórias Póstumas que resume bem esse ponto.

Cubas cai do cavalo e um cuidador de mulas lhe evita o desfecho fatal, fato que o acidentado não demora a reconhecer. Diante do seu benfeitor, o jovem, num surto de dignidade, considera dar-lhe uma recompensa. Primeiro cogita três moedas de ouro. Mas, em rápidos cálculos práticos e morais, muda de ideia, decidindo, no fim, homenagear o pobre com apenas uma, em vez de três. Desiste também disso. Reparando na simplicidade do sujeito, entende que estaria para mais que justo uma moeda de prata. Dá-la, enfim. Indo pelo caminho, no entanto, começa a concluir que o sujeito não tinha lá méritos no sucesso, e, confessando-se arrependido, julga que seria melhor tê-lo dado umas quantas moedinhas de cobre. Existissem moedas de ferro, era com esse preço que pagaria sua vida. Machado, pois, sabia que seus personagens, assim como seus contemporâneos, eram homens da Quinta Idade de Hesíodo, e deu às suas obras o tom adequado.

A forma, portanto, deve casar com o tema. Se desde a Antiguidade até o século XIX se procurou escrever versos com alguma coisa de precisão matemática, é porque a vida parecia pulsar ritmada e cósmica, reflexo de uma ordem superior a qual a arte aspirava imitar, como para antegozá-la. Se, de Whitman em diante, o verso livre, não raro belo, mas por vezes caótico, foi conquistando a preferência, é porque deve ter ocorrido aos poetas o descompasso daquela sempiterna ordenança, uma suspeita de que o sol de repente não mais nasceria, de que na verdade estamos isolados no tenebroso vazio e que não vamos jamais a parte alguma, senão para baixo da terra no cemitério municipal.

Evidente que nem todo verso livre é, por si, expressão de um niilismo, de um existencialismo ateísta ou coisa dessa natureza. Jorge de Lima, Murilo Mendes e Manuel Bandeira, todos católicos, escrevem excelente poesia de fôrma moderna com sincera temática religiosa. O que me parece, isso sim, é que essa ruptura com as formas tradicionais, e não só na poesia, é justificada e sustentada pela cosmovisão moderna que, por ser materialista e intrinsecamente contra Deus, tende — e faz isso na prática — a esvaziar o mundo de ordenação, beleza, significado e sentido.

A Arte Moderna, portanto, pondo de parte os juízos mais epidérmicos de gosto ou mesmo as justas considerações scrutonianas sobre a filosófica feiura de suas realizações, tem seus motivos de ser.

Essa Arte, devemos lembrar, surge no desaparecer do mundo antigo. Cientistas sociais das mais diversas vertentes costumam datar a aurora dos Tempos Modernos, como chamou Paul Johnson, em 1914. Fora concebido em outros tempos, gestado por várias gerações, mas deu à luz — ou às trevas — em 1914. Em 18, sob os cadáveres do primeiro genocídio industrial, ainda estertorava a última Europa, aquela da Belle Époque pintada por Monet, a das burguesias aristocráticas, a das Coroas que resistiram aos Robespierres e Napoleões. Retirados os corpos de sobre si, a Velha Senhorona, reunindo um último resquício de vigor, ainda esboçou berrar por socorro. Mas bolcheviques, fascistas, nazistas, jovens pacifistas e revolucionários de todas as cepas, das guerras e das artes, numa comovente sincronia de balé russo, meteram-lhe mil e tantas balas na cabeça. Bem ou mal, a Arte Moderna expressa essa traumática transição histórica. O estilo é o homem, disse Buffon; e o homem, embora não se reduza a isso, é também sua época.  

A Arte Moderna é, em muitos casos, produto de uma reflexão consciente de homens talentosos e cultos — ao contrário do que a crítica conservadora mais apressada possa pensar — que, antes do povão e da elite burguesa, foram tocados e sensibilizados pelo frio e pela sombra desse novo zeitgeist. Precisamos lembrar que ao lado das mudanças cosmovisionais que se desdobravam, cada vez mais irresistíveis, desde o Renascimento, havia, naquele final de século XIX e início do século XX, a consolidação, em várias partes do mundo ocidental, dos fenômenos da industrialização e da urbanização. A revolução das máquinas imeditamente arrastou a humanidade de seu habitat, o mais amplo e sugestivo mundo rural, e despejou massas inteiras nas novas cidades de casebres amontoados. Não que precisemos fazer uma defesa arcadista da vida camponesa. Há no campo mil dificuldades como na urbe mil facilidades. Mas, para o que nos importa, vale constatar que o modernismo é dos tempos em que ocorreram as mudanças mais profundas na forma da vida humana, e isso desde seus aspectos mais básicos e aparentemente imutáveis como o horário de acordar, trabalhar e dormir; como os modos de se obter alimentos; as possibilidades de deslocamento e comunicação; a maneira de se lidar com vizinhos e autoridades; a relação com os ritmos e ciclos da natureza. Seria ousado apostar que o homem de Munch estivesse justamente diante desse novo quadro?

Tudo bem que já antes outros artistas, de outras escolas, como o realismo, de algum modo registraram a transição. Mas, tomando como exemplo o caso brasileiro: o que sobrava do Rio de Janeiro do Machado no Rio de Janeiro de Bandeira, Cecília e Vinícius? Machado é o nosso maior, mas ele, a sua cidade, os seus personagens, embora o antecipassem, não estavam ainda no mundo moderno. A Corte, depois a Capital, era o que seria hoje uma cidadezinha tranquila e graciosa do interior, com um centrinho, uns bairros de redor, as chácaras mais ao largo. Não é de maneira nenhuma o Rio de Janeiro do Beco e da Garota de Ipanema.

Eis o ponto: as mudanças espirituais, sociais, políticas e psicológicas, que já se esboçavam nos séculos precedentes e ganharam contornos definitivos com a Grande Guerra, realmente sugeriam uma outra sensibilidade e demandavam novas possibilidades de expressão artística. Muda-se o objeto e o tema, ou se preferir, o homem e seu cenário, muda-se, também, o estilo, a forma.

É verdade que certos artistas como o Filippo Marinetti, fundador do futurismo, aproveitaram o ensejo para meter na cabeça do público desnorteado essas bobajadas revolucionárias que mais tarde foram repetidas pelo Oswald de Andrade. É possível então distinguir um certo modernismo radical, excessivamente rebelde — por inocência ou malícia ideológica —, reflexo do mundanismo mais sufocante e desesperador que terminava por ver na arte um instrumento de destruição ou reforma desse mundo mau, imaginando no artista um feiticeiro capaz de mudar a realidade com furiosas talagadas de tinta na parede, com um prédio sem frisos, arabescos e molduras, com uma prosa de frases curtas e prosódia entrecortada por soluços.   

Mas não é possível colocar no time dos iconoclastas pueris um Fernando Pessoa, por exemplo. Em 1912, então com 24 anos, o grande poeta publicara o artigo A Nova Poesia Portuguesa Socialmente Considerada, no qual por outras palavras defendia uma renovação do verso português, na forma e no tema, de maneira que estivesse mais consoante à toada assimétrica do admirável mundo novo. Mas ele não sugere um cisma radical e desrespeitoso com os mestres do passado — embora sugira o iminente surgimento de um supra-Camões, aparentemente indicando, em ato falho de megalomania, tratar-se dele próprio. 

No Itinerário de Pasárgada, livro autobiográfico, Bandeira conta que se formou em moldes parnasianos e simbolistas, e que só mais tarde assimilou as novas possibilidades das vanguardas estrangeiras, tendo feito experimento, alguns primorosos, em todas elas. Não obstante, se vê em todo o seu depoimento e em toda a sua produção, não só literária como pedagógica, um enorme respeito pelos artistas antigos e mesmo pelas formas ditas engessadas de que eles se serviam — formas estas que o próprio Bandeira soube utilizar magistralmente, como por exemplo se vê no soneto castiço dedicado ao classiquíssimo Camões.

Pessoa, o maior modernista português, e Bandeira, o maior brasileiro — quiçá de toda a história do verso nacional —, não podem ser enquadrados ao lado de figuras menores como Menotti, Mário e Oswald, a trindade de 22. Estes últimos, embora corretos em suas inspirações e em parte de seus protestos, tinham na cabeça muito mais a meta adolescente de chocar a burguesia paulistana — que os bajulava e patrocinava — do que o sincero desejo de deixar um legado artístico e intelectual de verdadeiro proveito para as próximas gerações.

É preciso, portanto, para começo de conversa, distinguir a Semana de Arte Moderna de 1922, de São Paulo, do Movimento Moderno, que a antecede e transcende, e que absolutamente nada lhe deve, quer no Brasil quer no mundo.

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Allan dos Santos
 - 14 a 19 de Fevereiro




COMUNISMO



👆 Marxismo, violência e supressão
(por José Eduardo - 14/02/2022)

INTRODUÇÃO

Nos últimos dias, o debate em torno da criminalização do nazismo produziu a discussão sobre se a mesma restrição deveria ser dada ao comunismo. Não quero entrar no mérito da discussão sobre a oportunidade ou não de uma restrição em si, já que a limitação da liberdade sempre reforça algum tipo de concentração de poder, que pode ou não ser legítima, a depender do bem real a ser tutelado e do mal real a ser combatido.

Alguns daqueles que intervieram na discussão tentaram eximir de tal modo o comunismo de todos os genocídios cometidos em seu nome que chegaram a apresentá-los como uma espécie de efeito colateral acidental à sua ideologia, de tal modo que atribuí-los a ela "seria como reduzir a Igreja Católica à inquisição" (sic!).

Ora, para analisar o problema, precisamos analisar a ideologia em si e verificar em que medida ela faz ou não apologia do extermínio de populações para, então, perceber se os genocídios que aconteceram em seu nome são-lhe ou não justamente atribuídos e, assim, também observar em que medida pode existir algum parentesco entre essas mesmas ideologias.

A DIALÉTICA MATERIALISTA DE MARX

Antes de tudo, convém observar que Marx e Engels inauguraram aquilo que eles mesmos chamaram de “socialismo científico”, em oposição ao que eles consideravam como “socialismo utópico” ou “romântico”, isto é, o ideal de uma sociedade em que o proletariado tenha posse de todos os meios de produção (eu, pessoalmente, considero que o marxismo não tem nada de propriamente científico, mas que não passa de um conjunto de deduções a partir de premissas equivocadas, levadas ao paroxismo).

Para entender o raciocínio de Marx, é muito útil considerar um trecho famoso de uma de suas cartas:

“no que me diz respeito, não me cabe o mérito de ter descoberto nem a existência das classes na sociedade moderna nem a sua luta entre si. Muito antes de mim, historiadores burgueses tinham exposto o desenvolvimento histórico desta luta das classes e economistas burgueses a anatomia econômica das mesmas. A novidade do que eu fiz foi: 1. demonstrar que a existência das classes está apenas ligada a determinadas fases de desenvolvimento histórico da produção; 2. que a luta das classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; 3. que esta mesma ditadura só constitui a transição para a superação de todas as classes e para uma sociedade sem classes” (Karl MARX, Carta ao Prof. Joseph Weydemeyer, 5 de março de 1852).

Para entender essas três frases de Marx, seria necessário um curso inteiro. Contudo, de maneira breve, podemos tentar uma esquemática explicação.

Não é possível entender o raciocínio de Marx sem perceber em que medida ele está influenciado por algo do darwinismo em sua concepção da história, isto é, a sua dialética materialista parte do princípio de que sempre prevalece o mais forte sobre o mais fraco e que esta é a estrutura básica do desenvolvimento histórico. 

Ora, se a revolução burguesa foi a supressão da nobreza pela burguesia (revolução francesa), a revolução proletária será necessariamente a superação da burguesia pelo proletariado (revolução comunista). Porém, esta supressão (e este é o ponto chave da questão) é realmente necessária e, para ele, a ditadura do proletariado será inevitável e irreversível, e isto por um motivo: a classe burguesa não pode eliminar a classe proletária, já que vive do seu trabalho; mas a classe proletária pode eliminar a classe burguesa e isto lhe é realmente possível, visto que tem a posse real dos meios de produção (estes estão nas mãos dos operários), enquanto que a burguesia tem apenas a posse nominal dos mesmos (em outras palavras, os proletários são materialmente mais fortes que a burguesia, apenas precisam criar consciência de classe).

Para Marx, a ditadura do proletariado não acontece apenas por razões circunstanciais, já que uma revolução não pode ser desencadeada a não ser por fatores desse tipo (uma crise econômica absurda, um cataclismo, uma epidemia ou uma eventualidade qualquer, na qual os revolucionários surfariam), mas tais fatores se dão com certa frequência e só lhes restaria esperar que acontecessem.

No entanto, uma revolução é uma espécie de “estado de guerra civil” e, portanto, momentum no qual acontece uma espécie de “licença de guerra”, e estão temporariamente toleradas violências, morticínios, assassinatos etc. Em outras palavras, a classe oprimida, continuamente espezinhada pela classe opressora, suprime-a por todos os meios possíveis, bem como a todos aqueles que de algum modo obstaculizam o processo revolucionário.

É nesse sentido que deve ser lida a afirmação de Marx em “O Capital”: “a violência é a parteira de toda sociedade velha que está prenhe de uma sociedade nova. Ela mesma é uma potência econômica” (Karl MARX, O Capital, Livro I, São Paulo: Boitempo, 2013, p. 831).

Em outras palavras, seria inexato dizer que Marx faz propriamente apologia da violência. Para mim, é algo até muito pior: ele naturaliza de tal modo a violência que a considera um fator intrínseco ao desenvolvimento da história e, no fundo, tal pensamento constitui a substância da psicologia marxista (é daí que deriva o “ódio do bem” ou a “censura do bem”, “a nossa moral e a deles” e o “nós contra eles”). Não existe aí o bem substantivo, mas apenas variações do mal, divididas entre convenientes e inconvenientes à causa.

É aí que se entende que, para Marx, a democracia tenha dois sentidos antagônicos: de um lado, a ideologia burguesa criada para oprimir a classe operária, enganando-a de que existe uma verdadeira representação política – uma espécie de noção fetichista da democracia, baseada em instituições; de outro lado, aquela que seria a democracia verdadeira, isto é, paradoxalmente, a ditadura do proletariado, o governo do povo pelo povo, que seria propriamente o têrmo da evolução humana, com a completa extinção das classes. 

Como a democracia representativa possa tolerar tal tipo de pensamento, para mim, é um mistério, visto que o mesmo é declaradamente inconciliável com esta ordem de coisas e seja explícita e maximamente revolucionário na perspectiva mais radical que esta palavra possa ter.

MUTAÇÕES NA IDEOLOGIA MARXISTA

Entretanto, nenhuma ideologia permanece estática ao longo da história, antes, padece mutações e ela mesma se transforma a partir de suas próprias tensões dialéticas internas:

- quando viram que os proletários estavam se aburguesando e não acontecia aquela circunstância detonadora da revolução, os lenilistas resolveram dar um golpe militar e criar a revolução a fórceps, produzindo apenas desgraças e um mar de sangue (II Internacional);

- na sequência, os stalinistas deram um golpe de estado e retiraram o protagonismo das mãos do movimento operário, transferindo-o para a burocracia estatal e se tornando, nesta medida, boicotadores da revolução, causando um mar de sangue ainda mais amplo (III Internacional). Mao Tsé Tung, no fundo, aplicou os mesmos princípios stalinistas na revolução chinesa, ampliando-os exponencialmente;

- reagindo ao revisionismo stalinista, Trotsky tentou retornar ao marxismo mais ortodoxo, baseado propriamente no movimento operário (IV Internacional), mas acabou por ser assassinado a mando dos stalinistas;

- percebendo que não existe um proletariado internacional, mas apenas nacional, e ao mesmo tempo entendendo que a luta de classes intra-nacional apenas dissolve a nação, alguns socialistas entenderam que seria necessário promover a luta entre nações burguesas e nações proletárias, unindo essas últimas em torno de símbolos nacionalistas, tal como o ideal de raça ou uma liderança forte, criando, assim, o nacional socialismo (nazifacismo), gerando mais um terrível mar de sangue;

- dado o insucesso dos comunistas na política (uma vez que, para haver revolução, seria necessário aderir ao “quanto pior, melhor”, que não é eleitoralmente viável), alguns socialistas criaram a social democracia, que realizaria a ocupação do Estado por eleições democráticas e a estatização dos meios de produção mediante uma apertada política de impostos. Essa abordagem foi muito bem-sucedida em países do norte da Europa, embora seja imensamente criticada pelos marxistas ortodoxos, que consideram tudo isso apenas um aburguesamento burocrático (no que eles têm razão, especialmente porque esta abordagem se acumplicia com a seguinte);

- ao mesmo tempo, outros pensadores marxistas se ocuparam na formação de uma “nova esquerda”, que trocaria a luta de classes propriamente dita por revoluções subjetivas e identitárias (homem versus mulher, negros versus brancos, homossexuais versus heterossexuais etc.), com duas metas: uma filosófica – para este objetivo concentraram-se os esforços da Escola de Frankfurt, de Antônio Gramsci, De Ernst Laclau, de todos os estruturalistas e pós-estruralistas, críticos e pós-críticos, culminando com Deleuze e Foucault; e outra moral – a revolução marcusiana, sexual etc. 

Dado o esforço de transformar o pensamento marxista, ainda que revisionista, na matriz cultural pós-moderna protagonizado por esses pensadores, na tentativa de descrever sua certa unidade de ação, alguns autores criaram o conceito provisório de “marxismo cultural”, conscientes de sua inadequação, dada a heterogeneidade dos personagens que se pretendia vislumbrar e a heterodoxia dos mesmos em relação ao marxismo original.

Uma vez que os identitários deslocaram o campo de disputa desde a luta de classes para a luta de subjetividades, tornaram-se politicamente inofensivos do ponto de vista do grande capital e, por isso, desde a década de 90, são inteiramente subvencionados por grandes corporações capitalistas, com vistas a fazerem tabula rasa das culturas nacionais e dissolverem as estruturas primárias das sociedades ocidentais, deixando ilesas apenas as estruturas do mercado financeiro. Neste sentido, a maior expressão do marxismo contemporâneo se tornou a arma mais potente nas mãos dos capitalistas mais ferozes: o marxismo se voltou contra Marx, mantendo certa coesão do seu pensamento na dialética materialista entendida como motor da história, ainda que substituindo como elemento antagonista a classe burguesa pelas multidões de subjetividades humanas consideradas privilegiadas.

Ao fim e ao cabo, a estrutura cosmológica permanece idêntica: a violência continua sendo a parteira da história, plenamente naturalizada, independentemente de quem sejam os seus alvos: os burgueses ou os pobres (estes também agora incluídos no rol do patriarcado e da branquitude).

CRISTIANISMO E MARXISMO

Diante disso, qual resposta seria a mais coerente com o cristianismo?

Para Marx, a verdade simplesmente é uma imposição burguesa autoritária e a única coisa que realmente existe é a percepção imediata da matéria: “os pensamentos dominantes nada mais são do que a expressão ideal das relações materiais dominantes” (Karl MARX, A ideologia alemã, São Paulo: Martins Fontes, 2012, p. 48).

Ora, se a verdade não existe, a única coisa que sobra realmente é a ditadura, de um lado ou de outro. Não há alternativa.

Para o cristianismo, a situação é outra: a verdade não apenas existe, mas ela é a maior força que move o mundo, pois ela se “impõe” sobre a inteligência, que é a potência mais forte de todas as potências humanas. Para o cristianismo, a verdade é também o único recurso que temos para unir os homens; em outras palavras, quanto mais os homens descobrirem a verdade, tanto mais se unirão, cooperarão mutuamente e haverá entrosamento, sinergia e edificação. É por isso que, supostos os motivos eminentemente sobrenaturais, Cristo mandou aos apóstolos que pregassem por todos os lados, que ensinassem o mundo inteiro, que construíssem alunos para que aprendessem mais, e é assim que o cristianismo cresceu. E isso não é mera teoria.

No tratado “De vera religione” (Sobre a verdadeira religião), Santo Agostinho escreve que:

“hoje, essas máximas são ensinadas aos povos de todo o mundo e ouvidas com a mais sincera reverência. Depois de tanto sangue, tantos incêndios, tantas cruzes de mártires, as igrejas de fato surgiram com muito mais fertilidade e abundância mesmo entre as populações bárbaras. Agora ninguém se surpreende com os milhares de rapazes e moças que renunciam ao casamento para viver castamente… Essas coisas, por outro lado, são tão aceitas hoje que seria uma monstruosidade questioná-las, como outrora foi acreditar que elas fossem possíveis. A esta promessa e a este compromisso, em cada parte habitada da terra, são confiados os mistérios cristãos. Todos os dias essas máximas são ensinadas e ilustradas pelos padres nas igrejas, e aqueles que tentam implementá-las batem no peito; e tantos são os que se lançam por este caminho que lugares que outrora eram ilhas desertas e ermos se enchem de homens de toda espécie, que, tendo abandonado as riquezas e honras deste mundo, querem dedicar toda a sua vida ao único e supremo Deus. Enfim, nas cidades, aldeias, fortificações, vilas e até no campo e nas casas particulares esta escolha é tão partilhada e a fuga dos bens terrenos para consagrar-se ao único Deus verdadeiro é tão procurada, a ponto de que todos os dias para o todo o universo, a humanidade responde a quase uma única voz que está com o coração nas alturas, voltado para Deus” (Santo AGOSTINHO, De vera religione, n. 3).

A força do cristianismo está no ensino, no convencimento que nasce da força intrínseca que a própria verdade tem. Marx e seus asseclas não conseguiram jamais perceber que o fracasso das suas revoluções esteve justamente no fato de que o “freio moral” que há no homem decorre de uma lei naturalmente percebida pela razão, e que esta é mais forte que as maiores ditaduras.

Paradoxalmente, foi o revisionismo posterior que conseguiu maiores resultados, justamente porque, impedindo moralmente a razão mediante a perversão sexual (marcusianismo) e trazendo o desmentido pseudo-racional da verdade pela filosofia crítica (escola de Frankfurt e seguintes) desarmou o homem para que ficasse mais vulnerável ao predomínio das puras ideologias. Contudo, tal sucesso serviu apenas para aumentar e não diminuir o poder dos capitalistas.

Ora, a verdade e o ensino decorrem diretamente da mensagem cristã, e eles são a fórmula não para que uma classe suprima a outra, mas para que elas se integrem cada vez mais numa fusão total entre a fé e a caridade. 

Disso, resultam dois olhares: “o olhar aguçado pelo ódio a tudo que existe” (Max HONKHEIMER, Carta a Adorno, 8 de dezembro de 1936 in Rolf WIGGERSHAUS, A Escola de Frankfurt, Rio de Janeiro: Difel, 2002, p. 191s) ou o “olhar aguçado pela caridade” (Ricardo de São Vítor).

Diante disso, fica evidente que fenômenos como a inquisição são excepcionais e disfuncionais em relação à essência do cristianismo, ainda que, mesmo como fato histórico, sejam incomparavelmente menos violentos que qualquer tipo de revolução (veja-se, por exemplo, as atas do Congresso Internacional sobre a Inquisição: Agostino BORROMEO [ORG], L’inquisizione. Atti del Simposio Internazionale, Città del Vaticano: Biblioteca Apostolica Vaticana, 2003).

Por outro lado, violência, supressão e morte são decorrentes da essência mesma da ideologia comunista, ainda que esta se tenha mudado consideravelmente ao longo do tempo. Criminalizá-la ou não é uma questão jurídica e política; o esforço que me cabe aqui é apresentar fatos e ideias com exatidão teórica e prática.

Em 1853, Marx escreveu o seguinte trecho num artigo publicado no New York Daily Tribune: “a sociedade está passando por uma silenciosa revolução, a qual deve ser submetida e a qual não mais toma conhecimento da existência humana que destrói, tanto quanto um terremoto, em relação às casas que subverte. As classes e as raças, fracas demais para dominar as novas condições de vida, devem ceder” (Karl MARX, Forced Emigration, 4 de março de 1853). Aqui, ele tencionava apenas fazer o diagnóstico de um fato, o qual criticava.

Engels, em 1849, escrevia um artigo em que comentava a Revolução de 1848, analisando porque algumas populações não queriam engajar-se nela. Ele disse que “todas as outras grandes e pequenas nacionalidades e povos estão destinadas a perecer em pouco tempo na tempestade revolucionária mundial. Por essa razão, elas são agora contrarrevolucionárias” (Friederich ENGELS, The Magyar Struggle, in Neue Rheinische Zeitung [194] 13 de janeiro de1849).

Como se pode facilmente ver, a violência está de tal modo naturalizada nestas cosmologias que é muito difícil não perceber o quanto terrorismo, tortura e genocídio sejam considerados fatos normais na anormalidade revolucionária, encarada como meio necessário para o progresso e a suposta igualdade.


Texto de José Eduardo

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LINGUAGEM

Bilingüis maledictus
(19/02/2022 - via Telegram e site)

Certa vez o Prof. Olavo alertou para algo recorrente e perigoso no Brasil: o uso da linguagem polida para praticar crimes, iludir inocentes, amansar ovelhas ao matadouro e até prender injustamente pessoas que não cometeram crime algum.

No Brasil, é preferível manter a linguagem burguesa diante de um crápula, impiedoso e criminoso do que chamá-lo pelo nome próprio das suas ações. O mais assustador é que as ações que devem ser descritas com clareza não são ocultas, mas conhecida por todos. O que revela ser louvável manter as aparências diante do ignóbil mesmo que isso faça da pessoa um verdadeiro cúmplice.

A clareza e transparência na descrição de atos humanos sempre foram a marca mais importante de um grupo humano civilizado.

Deixo para vocês o que disse o professor Olavo sobre essa questão tão vívida na experiência de qualquer brasileiro:

Quando um intrigante astuto faz uso da língua dupla, cavando um abismo de distância enganosa entre o conteúdo peçonhento e o tom de urbanidade respeitosa (quando não de piedade devota), ele coloca sua vítima na difícil contingência de não poder responder ao conteúdo sem romper com o tom, expondo-se assim à pecha de impolido e truculento, nem conservar o tom sem amortecer a virulência do conteúdo, tornando-se assim cúmplice de seu acusador.
A dose de malícia e perversidade necessária para que alguém se dedique a montar esse gênero de armadilha é tamanha, que dispensa explicações. Tudo o que há para dizer a respeito a Bíblia já resumiu em duas palavras:Bilingüis maledictus – “maldito o homem de duas línguas”.

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👆 FRASES DE OLAVO DE CARVALHO

"A coragem nasce do amor ao próximo, é só isso.
Então, não se preocupe em ser corajoso, pois a coragem é um resultado, não uma causa. A causa é o amor ao próximo ou falta dele."

"O amor não é um sentimento: é uma decisão, um ato de vontade e um comprometimento existencial profundo. Os sentimentos variam, mas o amor permanece. Quem não compreendeu isso não chegou nem perto da maturidade."

"O brasileiro de hoje em dia é aquele sujeito valente que teme olhares e caretas como se fossem balas de canhão, que enfia o rabo entre as pernas à simples ideia de que falem mal dele, que troca a honra e a liberdade por um olhar de simpatia paternal de quem o despreza."

"Quantas vezes vocês já não ouviram alguém me designar como 'o filósofo boca-suja'? É com certeza a única parte do meu ensinamento filosófico que se impregnou na mente do desgraçado.
Quando uso um palavrão, é invariavelmente como complemento enfático de alguma explicação que acaba de ser dada ou que já foi dada mil vezes. O mentecapto não apreende a explicação, guarda na memória só o palavrão e conclui: 'Ele não argumenta. Só xinga.'
José Bonifácio de Andrada e Silva dizia muito mais palavrões do que eu, e os usava com intuito francamente agressivo, sem sombra de humorismo. O homem criou um país, e é só porque ninguém conhece NADA da biografia dele que ele não entrou para a história do Brasil como um simples 'político boca suja'. 
A estupidez dessas criaturas chega a me fazer duvidar de que pertençam à espécie humana."

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👆OPINIÃO DO AUTOR

Retorno ao Portal Involutivo
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
20 de Fevereiro de 2022

Ernesto Araújo, em seu último artigo de 23 de Outubro de 2021 para a (por hora) extinta Revista Terça Livre, nº 119, nos brinda com uma análise bastante afiada (avalio eu) dos rumos que as pessoas estão tomando. Este texto eu comecei a escrever justamente naquela ocasião, e nunca consegui passar da primeira linha dele no meu arquivo de rascunhos, porque no dia seguinte, o Terça Livre fechou as portas devido à tirania de Lorde Careca Lustrosa e o meu mundo veio abaixo. Depois desse dia, fiquei meio sem ação durante um tempo, e a ideia ficou estática e em repouso indefinido. Resolvi tirar ela do repouso agora.

No fim do artigo, Ernesto prometia uma continuação que acabou não ocorrendo, mas o que ele expôs foi o suficiente para ativar meu pensamento a uma ideia lúdica até pouco tempo, mas que já não me parece assim tão lúdica. Portanto, peço licença para lhes prover essa "continuação não-oficial" de suas reflexões, e já peço desculpas pelo downgrade de inteligência, não sou tão perspicaz quanto nosso ex-ministro.

Ernesto passeia pelos entremeios do materialismo histórico de Robespierre e de seu "moralismo", e conclui o artigo passando pelo pós-capitalismo, o materialismo totalitário e o fim da sociedade livre como a conhecemos.

Conforme isso ocorre, vou me lembrando de H.G. Wells. Wells falava muito dos planos desse "novo mundo" que vemos nascer agora e que todos nós esperamos que caia de velho no meio do caminho e seja de alguma forma cancelado (muito embora eu não vejo muita possibilidade disso ocorrer no horizonte visível), e um de seus mais célebres livros de não-ficção a falar sobre isso é A Conspiração Aberta, escrito em 1928. Leia-o, e apavore-se com o nível de exatidão dessa obra em relação aos nossos dias.

Mas chamarei a atenção para outro livro de Wells chamado A Máquina do Tempo, um de meus favoritos do escritor. A princípio, parece ser uma narrativa de ficção-científica inofensiva, mas há uma ideia nela que é a razão de eu ter mencionado o texto do Ernesto aqui.

Vejam, Ernesto Araújo afirma em seu brilhante texto que "talvez a humanidade esteja atravessando um portal involutivo". Ele vai mais além: "Marchando para trás, descendo a níveis cada vez mais baixos do ser. Sofrendo mudanças estruturais nunca antes vistas, descapacitando-se para o confronto com a realidade, o qual pressupõe a consciência de si mesmo e das próprias potencialidades."

Ou seja, em constante e progressivo processo de EMBURRECIMENTO.

Em A Máquina do Tempo, o protagonista da história, que é um cientista vivendo na era vitoriana do final do séc. XIX, decide ir para o futuro, para averiguar os progressos da humanidade, e para isso ele vai usar seu maior invento, que é a referida máquina do título. Só que ao chegar ao futuro, o Viajante do Tempo se depara com algo muito diferente do que esperava.

No ano futuro de 802.701, ele encontra um povo dócil, vivendo como Adão e Eva em meio a campos verdejantes e estruturas futuristas em cacos, chamados Eloi. São pessoas que parecem ter perdido completamente todo senso de curiosidade e interesse pelo conhecimento. Eles não se preocupam com absolutamente nada, apenas existem por ali e convivem pacificamente. Nosso protagonista inclusive tem muita dificuldade de se comunicar, porque toda herança do passado dos seres humanos parece ter se perdido, ou seja, eles não se recordam da história humana, são um povo sem passado algum, sem conhecimento algum, NADA.

Mas a coisa piora: cada vez que um dos seus desaparece misteriosamente no meio de uma noite sem luar, eles simplesmente se calam e não fazem absolutamente nada, simplesmente continuam suas vidas como se nada tivesse acontecido. São portanto como ovelhas que se perdem e não conseguem retornar ao pasto, pois são desajeitadas e não tem com o que se defender. O Viajante descobre mais a frente que eles são capturados por seres monstruosos das PROFUNDEZAS DA TERRA, chamados Morlocks, formas de vida parecidas com orangotangos que se alimentam dos Eloi. Pelo fato dos Eloi se calarem em relação ao sumiço dos colegas, os Morlocks seguem fazendo o que querem, sem nunca se satisfazerem.

A ideia desenvolvida por Ernesto do Portal Involutivo meio que já nos dá uma pista aqui quando ele cita que "o materialismo totalitário plantou no centro da sociedade liberal uma série de valores distorcidos, os dogmas do politicamente correto. No terreno aberto do "a-moralismo" materialista liberal introduziu um "hiper-moralismo" do terror." Ernesto está obviamente a par da obra de Wells. Há um movimento na sociedade moderna de uma minoria que almeja desconstruir a linguagem humana, criando uma novilíngua, através da qual o ser humano pode ser controlado e inclusive intimidado e aterrorizado sem sequer notar isso, e não vai conseguir se expressar como deve e organizar suas ideias, ou mesmo repassá-las, causando assim um "apagamento" da memória das pessoas a muitas coisas, sejam elas palavras, objetos, ou o que for. Ligou os pontos? Vou te dar mais um tempo pra pensar enquanto falo da ideia seguinte.

Existe ainda outro movimento de intimidação e choque que foi iniciado em 2020: pessoas, sem ter cometido crime algum, são presas, torturadas com ameaças, condicionadas a prisão sem um julgamento, simplesmente por falar o que pensam e sentem. Conforme as punições vão se agravando e ficando mais severas, elas causam gradativamente um efeito na sociedade que a faz paralisar pelo MEDO de outras pessoas sofrerem o mesmo fim. Daí sucede-se que pessoas antes animadas com a ideia de saírem às ruas já observam essas intimidações e resolvem se descolar de quem foi punido e sofreu sanções injustas e, de modo a não sofrerem o mesmo destino, se calam, se recolhem, "ficam em casa" de forma obediente ao Estado e seguem com suas vidas, mesmo que sua liberdade esteja sendo gradativamente retirada.

Diante de toda essa exposição, resta para nós as seguintes perguntas:

- Quanto do mundo vindouro H.G. Wells realmente conhecia? O que ele descreve em seu livro como "ficção" foi baseado em ideias que ele teve de punho próprio, ou de documentos de organizações comunistas de controle global? Lembremos novamente seu livro de não-ficção "A Conspiração Aberta", que já narra fatos suficientemente macabros para nos aterrorizar por uma vida toda. Ele sabia de planos que não quis revelar?

As respostas a essas perguntas eu deixo com você, caro leitor.

E aproveito para lançar-te a estas indagações inevitáveis:

Tem certeza que você é livre?
Tem certeza que ainda vivemos numa democracia?
Tem certeza que o mundo evoluiu do séc. XVIII para cá?
Tem certeza que as pessoas aprenderam com seus erros?

Tem certeza?...


"Se você continuar aceitando ser escravo, continuará gerando tiranos."

 Jordan Peterson
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👆 HUMOR

E nas True Outstrips de hoje, SURPRESA! Eu vou a campo, hehehe! À luz do OLAVISMO e contra a Olavofobia, a nova histeria dazisquerda!! E o William Tonner já vem com fêique níus! Ou será que não? Bom, nesse caso eu deixo o beneplácito da dúvida! Quanto mais eu vejo o Blog Nacional, mais parecido com o Mula eu acho o Tonner! Agradecendo meu grande amigo e parça Giorgio Cappelli com seu grande talento! Valeu, bróder! E ainda: o óbvio que a esquerda nega para encerrar o assunto por hora, e Olavo, o fantasminha camarada... exceto para a gnose, hehehe!
(18/02/2022)
(16/02/2022)
(21/02/2022)


Nesta daqui, Flávio Viana, o autor da tira, realiza um desejo antigo de nosso querido professor Olavo: e para ilustrar esse desejo, vou deixar o próprio Olavo explicar:
"Olha, eu vou dizer o seguinte: o único público que me interessa é Deus. Tudo o que escrevi foi para Deus. Pra ver se… Ele vendo o meu esforço, Ele perdoa os meus pecados e, quando eu morrer, quando eu chegar na porta do céu, Ele diga assim: “Olha, entra correndo que não tem ninguém olhando agora”. Isso é tudo o que eu quero na vida. O resto realmente não me interessa." 😌
(13/02/2022)


Por fim, o Sal Conservador 'classic mode' mostra aqui que ainda tem gente encrencada com tamanho de mesa... eita lasquera!... 😂
(18/02/2022)

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👆 LEITURA RECOMENDADA

Você quer aprender como falar? Não é como falar em público não, isso qualquer curso de oratória resolve pra você. Estou me referindo a como ser claro nas suas ideias, preciso, cumprindo aquele preceito da regra 10 de Jordan Peterson: "Seja preciso no que diz". Então a leitura que tenho aqui hoje é pra você. Eu ainda estou explorando tudo que esse livro diz, requerendo assim várias leituras atentas, e está sendo ótimo. Foi uma recomendação do prof. Olavo de Carvalho no COF, mas garanto a você que qualquer pessoa deveria lê-lo. Vou até reproduzir aqui o que o próprio professor Olavo diz na apresentação da obra:

"Rosenstock via sua filosofia da linguagem não apenas como teoria, mas como remédio para o sofrimento da sociedade. [...]

No Brasil, há uma crença dogmática de que a gramática é um instrumento de dominação inventado pelas classes ricas para oprimir os pobres, e devido a isso cada nova decomposição da língua é celebrada como um enorme progresso, sem ninguém perceber que esse fenômeno corresponde a uma perda de habilidade expressiva e à ampliação do abismo entre as classes [...].

O livro de Rosenstock ajudará a construir uma ponte entre aqueles que se encontram na extremidade mais baixa e mais alta da sociedade. [...] Mais do que nunca, os brasileiros precisam aprender a falar, para que possam contar uns aos outros pelo que realmente estão passando no decorrer de sua experiência da vida.

— Olavo de Carvalho"

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