Edição XXVI (Revista Terça Livre 116, revista A Verdade 56, opinião e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Terça Livre, da qual sou assinante, com autorização pública dos próprios autores da revista digital. Nenhum texto aqui pertence a mim, todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.



GEOPOLÍTICA


ENTREVISTA COM ERNESTO ARAÚJO
(por Leônidas Pellegrini)


Sabe aquele frio na barriga e aquele desconcerto do adolescente Peter Parker quando, do nada, se depara com Tony Stark, em “Capitão América: Guerra Civil”? Pois é. Há duas semanas passei por algo parecido quando meu editor, Max Cardoso, me enviou uma mensagem me pedindo uma entrevista com Ernesto Araújo. 

Isso deve acontecer toda vez que um zé mané qualquer se depara com um gigante e meu contato com o Gigante Ernesto, ainda que por e-mail, não foi diferente. Foi um tal de Senhor Stark (digo, Senhor Ernesto) o tempo todo durante nossa interação e foi aquela entrevista para “colocar no mural”. Falamos sobre o avanço do comunismo pelo mundo com as estratégias chinesas de corrupção e cooptação das elites financeiras e políticas, Globalismo, o cerceamento das liberdades individuais por meio da censura nas redes sociais e da implementação do passaporte sanitário mundo afora, as situações políticas do Brasil e dos Estados Unidos, entre outros assuntos.  

Mas, afinal, por que essa entrevista me foi solicitada? Porque, a partir desta edição, Ernesto Araújo, que já colaborou conosco em edições anteriores, será oficialmente um colunista fixo de nossa revista. O leitor pode esperar muita coisa excelente vindo por aí. Confira a partir dos próximos parágrafos!

Terça Livre: Em primeiro lugar, muito obrigado por nos conceder esta entrevista e seja bem-vindo ao quadro fixo dos nossos colunistas. Quero conversar com o senhor sobre alguns pontos vitais das políticas internacional e brasileira e gostaria de começar com uma perspectiva histórica a respeito do Brasil no que se refere às suas relações internacionais. Como um país que já teve um imperador sendo votado para presidente dos EUA, no século XIX, chegou ao século XXI com tão pouca representatividade no que toca às relações exteriores, a ponto de ser tachado por muitos analistas como um “anão diplomático”? 

Ernesto Araújo: Creio que isso aconteceu porque, ao longo de décadas, a diplomacia brasileira foi-se afastando do Brasil e do povo brasileiro. O Itamaraty passou a conceber a si mesmo como uma espécie de enclave do “multilateralismo” e de outros interesses internacionais em território brasileiro. De tanto falar no jargão da ONU, o Itamaraty desaprendeu a falar a língua do povo e deixou de escutá-lo, passou a desprezar os valores e as aspirações do povo. Essa desconexão não ficava tão aparente porque durante muito tempo o Itamaraty funcionava dentro de governos que também não tinham compromisso com os valores e anseios reais do povo brasileiro. 

Quando chegou o governo Bolsonaro, um governo que nasceu de um movimento popular espontâneo, e não de um movimento político, um governo inteiramente identificado com o povo, ficou claro esse contraste. O establishment diplomático (antigos Embaixadores ligados a interesses estrangeiros, comentaristas políticos, pessoas no Congresso) queria que o Itamaraty fizesse a sua própria política externa, a política de sempre, dissociada do Brasil, e ignorasse o projeto transformador do presidente Bolsonaro.  Eu cheguei justamente com o compromisso de fazer da política externa uma parte desse projeto.

Eu quis fazer uma política externa do povo brasileiro de destruir as fronteiras que separavam o Itamaraty do Brasil. Tornar a diplomacia relevante para todos os brasileiros, promover a nossa soberania, a nossa segurança, a nossa parceria econômica e diplomática com países que compartilham dos nossos anseios de liberdade. Naturalmente, o “establishment” se ergueu contra mim. Foi uma luta árdua. Se comigo o Itamaraty fazia parte do projeto de transformação do Brasil, o projeto de uma nação livre, grande, próspera e soberana, com o establishment diplomático, por sua vez, faz parte do sistema de dominação que quer continuar mandando no Brasil, um sistema corrupto e antipopular, e um sistema que tem poderosos aliados internacionais, principalmente o Partido Comunista Chinês e os organismos multilaterais com suas agendas de governança global. Esse sistema não quer uma diplomacia sólida voltada para a construção de um Brasil grande e livre, mas uma diplomacia que nos encaixe numa estrutura internacional favorável ao próprio sistema. Quer um Itamaraty que não atrapalhe, que simplesmente ajude a traduzir a última resolução da ONU e que ajude a aumentar ainda mais a influência chinesa, pois tudo isso significa mais poder para o sistema, menos poder para o povo brasileiro. 

Depois da minha saída, o sistema reconquistou facilmente o Itamaraty e o devolveu à mediocridade, uma mediocridade complacente ao sistema e às forças internacionais aliadas a esse sistema corrupto.

Terça Livre: Ao comentar sua saída do Ministério das Relações Exteriores, o vice-presidente Mourão afirmou que o atual ministro Carlos França tirou um pouco da “belicosidade” do Brasil nas relações com a China. Como o próprio Mourão não esclareceu em que consistia essa tal “belicosidade” alegada por ele, gostaria que falasse sobre isso, tendo em vista a situação de países que resolveram travar e expandir relações com a China, como a Austrália, por exemplo.

Ernesto Araújo: O vice-presidente Mourão nunca escondeu sua antipatia pela política externa que eu, por orientação do presidente Bolsonaro, procurei implementar. O Vice-Presidente e eu sempre nos tratamos com todo o respeito pessoal, mas considero essa sua atitude – que durou todo o tempo em que estive no cargo – bastante incorreta, pois quem define a política externa é o presidente, não o vice. Esse comportamento se inseriu sempre numa série de momentos em que Mourão expressou publicamente opiniões e posicionamentos contrários aos do Presidente, não só em política externa. 

Lembro-me de uma ocasião em que o general Mourão se pronunciou a favor do aborto, por exemplo. Cito também a visita que ele fez aos Estados Unidos em abril de 2019, poucas semanas depois da histórica visita do presidente Bolsonaro a Washington e do primeiro encontro com o Presidente Trump. Naquela ocasião, Mourão fez palestras em diferentes foros e transmitiu mensagens completamente diferentes do espírito da aliança Brasil-EUA, cuja construção o presidente Bolsonaro e eu próprio havíamos acabado de inaugurar. Um amigo americano, influente no governo Trump e grande admirador do presidente Bolsonaro, me telefonou logo depois, perplexo, e disse: “Aqui não estamos entendendo nada. O vice-presidente disse totalmente o contrário do que o presidente Bolsonaro falou. Parece que ele veio para desfazer tudo o que estamos fazendo, para descosturar a nova relação que estamos costurando.” Tive bastante trabalho para desfazer esse equívoco nos meses subsequentes, o que consegui graças à excelente relação de cooperação e amizade que construí com o Secretário de Estado Mike Pompeo, um verdadeiro estadista e defensor da liberdade. Por outro lado, o vice-presidente Mourão nunca escondeu sua grande identificação com a China, a ponto de postar uma foto sua com as bandeiras do Brasil e da China na lapela, no último 7 de Setembro. Ficou clara a mensagem (consciente ou não, pouco importa) de que sua grande prioridade é uma aliança com a China.

Nos sistemas presidencialistas, é normal que o vice-presidente tenha funções na área de política externa, mas isso pressupõe que o ele esteja empenhado em implementar a orientação política do presidente e não que tenha uma orientação própria.

É preciso esclarecer também uma coisa: por um acordo de uma década atrás, que criou a COSBAN (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível), a presidência dessa Comissão bilateral Brasil-China cabe no lado brasileiro ao vice-presidente. Mas isso não significa que ele conduza a relação Brasil-China. Essa relação, como todas as relações internacionais, é conduzida pelo presidente da República, auxiliado pelo Ministro das Relações Exteriores. Acredito que isso foi ficando claro ao longo do tempo, e creio haver conseguido conduzir a relação Brasil-China como queria conduzi-la, como me parece que era correto do ponto de vista dos interesses brasileiros: de maneira construtiva, mas sem jamais sacrificar a dignidade e a integridade nacional brasileira aos interesses da China simplesmente pelo tão alegado fato de ser ela o nosso principal parceiro comercial. Ser o maior parceiro comercial não significa que a China ou qualquer país deva ditar as nossas decisões estratégicas. Então, creio que, apesar da atuação do vice-presidente Mourão e de algumas correntes políticas, consegui, enquanto estive no cargo, colocar um freio no processo de “sinificação” da política externa brasileira e comecei a revertê-lo.

Vou fazer aqui uma comparação. Imagine que você tenha uma loja de material de construção, por exemplo. Você vende para diferentes firmas de construção. Uma delas começa a comprar mais do que as outras e chega a comprar, digamos, um terço ou a metade de tudo o que você vende. Ótimo. Mas isso por acaso dá o direito a essa firma de dizer como você deve educar os seus filhos, definir que jornais você deve ler ou que programas assistir, dizer como você deve cuidar do seu jardim? Por acaso dá o direito de dizer que você não pode ser amigo do dono de outra firma de construção? Dá o direito de interferir nas suas decisões empresariais? Claro que não. Mas isso é o que as pessoas querem hoje na relação Brasil-China. Como se a China estivesse fazendo um favor em comprar os nossos produtos e precisássemos fazer tudo o que eles querem para manter esse mercado. 

Essa é um pouco a situação da Austrália, um país que, pela via do comércio e dos investimentos, deixou a China penetrar profundamente na sua própria gestão e identidade enquanto nação. O cliente da Austrália, a China, virou o patrão dentro da própria Austrália. Há um livro que descreve isso, “Silent Invasion” (“A Invasão Silenciosa”) de Clive Hamilton. A foto da capa mostra uma bandeira chinesa tremulando sobre o Parlamento australiano – não é preciso dizer mais nada. Recentemente, a Austrália começou a despertar e tentar recuperar a soberania em sua própria casa. A China reagiu pesadamente, com pressões de todo tipo sobre a Austrália, mas o governo australiano está se mantendo firme, e nas últimas semanas firmou uma parceria sem precedentes com os Estados Unidos e o Reino Unido para reforçar sua capacidade militar e sinalizar à China que está preparada para tudo, mas não cederá sua soberania. 

Podemos contrastar essa atitude da Austrália com aquilo que ocorreu no Brasil. Assim como na Austrália, chegou ao poder no Brasil, em 2019, um governo disposto a conter e reverter a influência chinesa e fazer da China apenas um bom parceiro comercial, em interesse mútuo, mas sem controlar nossa vida e nosso pensamento. Porém, aqui no Brasil, quando a China apertou a pressão, o que fez o governo? Acelerou a parceria com grandes democracias? Não. Retirou o Ministro das Relações Exteriores, que era o único ministro comprometido em manter a soberania nacional diante da máquina chinesa. Foi uma maneira de sinalizar aos chineses: “China, o caminho está livre, pode entrar e controlar tudo.”

Não houve “belicosidade” minha em relação à China. Houve sempre o meu compromisso em manter a dignidade e a soberania do Brasil. Houve sempre a minha convicção de que não podemos ter uma relação profunda com um país que não compartilha dos nossos valores fundamentais de liberdade: liberdade econômica, liberdade de expressão, liberdade de culto, liberdade de escolher seus próprios dirigentes. Como podemos ter uma verdadeira democracia no Brasil, com liberdade política e econômica, se nossas decisões estratégicas forem condicionadas por uma superpotência onde não há liberdade de qualquer espécie? Um país onde as pessoas vivem debaixo de um pesado esquema de controle social e onde as empresas teoricamente privadas são submetidas também ao controle estatal? Se nossos institutos de pesquisa são financiados e influenciados por esse país? Se nossas empresas de serviços públicos pertencem a empresas desse país? Se nossa rede de comunicações estiver subordinada aos interesses desse país? Se nossas redes de televisão são pagas por esse país? Se nossas melhores terras agricultáveis pertencem a empresas desse país?

Bem, voltando ao vice-presidente Mourão, está claro que ele é uma das principais figuras da imensa máquina de influência que a China montou no Brasil, uma máquina que trabalha para os interesses da China e de alguns (ou muitos) indivíduos no Brasil, mas que certamente não trabalha para os interesses do Brasil.

Terça Livre: Na mesma ocasião Mourão afirmou, também, que desde a morte de Mao, em 1976, a China não é mais propriamente um país comunista (nas palavras dele, em um certo “sentido clássico” do comunismo). Com seu conhecimento sobe comunismo e China, o que o senhor teria a dizer sobre essa afirmação?

Ernesto Araújo: Esse “sentido clássico” do comunismo, o de que o comunismo se define pela propriedade coletiva dos meios de produção, está abandonado pelos próprios comunistas desde os anos 30. Na verdade, esse nunca foi o sentido real do comunismo. O comunismo é o objetivo de estabelecer uma sociedade sem classes e sem Estado. Os comunistas querem essa sociedade. E, ao longo da história, tentaram várias maneiras para chegar até lá. Uma delas é o socialismo: propriedade coletiva dos meios de produção, com Estado forte, numa ditadura do proletariado. A ideia é de que é necessário um Estado proletário ditatorial para destruir o Estado burguês e levar à sociedade sem classes e sem Estado. 

Mas o socialismo não é a única forma de chegar ao comunismo. Desde os anos 30, com Gramsci, mas principalmente desde os anos 40 e 50, com a Escola de Frankfurt, os pensadores marxistas foram elaborando teorias que apontam no sentido da construção do comunismo “por dentro” do sistema capitalista, e não por meio do socialismo. Isso fica ainda mais claro com autores dos anos 90 e 2000, principalmente Michael Hardt e Antonio Negri, cujo livro “Império” foi considerado “o manifesto comunista do Século XXI”. Hardt e Negri examinam a nova estrutura social e econômica da sociedade de informação no megacapitalismo globalizado (uma estrutura completamente diferente do capitalismo industrial anterior) e propõem justamente uma estratégia para tomar essa estrutura por dentro e estabelecer o comunismo a partir daí. Numa sociedade industrial, o que conta são as fábricas, então é natural que no tempo da sociedade industrial os comunistas quisessem assumir o poder assumindo o controle das fábricas. Hoje, na sociedade informacional, o que conta são os instrumentos de produção da informação, os meios de comunicação, os núcleos de “produção da verdade”, como dizem os próprios Hardt e Negri. E esses instrumentos estão caindo na mão de pessoas que querem estabelecer uma sociedade de controle integral sobre o ser humano, uma sociedade sem classes e sem Estado, ou seja, uma sociedade na qual o indivíduo não possui qualquer identidade e em que o poder está inserido na sua própria psique.

Na dialética marxista, feita de inversões brutais e constantes, o capitalismo globalizado da era informacional se torna não mais o inimigo a ser vencido, mas o caminho ideal para o comunismo, como era o socialismo na era industrial. Nessa mesma dialética, o globalismo ocidental de Soros, Bill Gates e outros se torna aliado do mega-Estado ultrapoderoso chinês, pois seus interesses convergem na destruição das nações e do espírito nacional (exceto o Estado-nação chinês, obviamente), no esfacelamento do tecido social por meio do racialismo e da ideologia de gênero (exceto na China, novamente), na eliminação da fé religiosa e principalmente da fé cristã. As nações, as sociedades nacionais coesas e livres, e o cristianismo, cuja essência é a liberdade, são os inimigos desse sistema.

Simplificando: comunismo é um objetivo. Socialismo é um meio, como pode haver outros, para chegar a esse objetivo. A China, de fato, foi abandonando o socialismo a partir da morte de Mao, mas nunca abandonou o comunismo. Muito pelo contrário, a China está trabalhando arduamente e avançando a passos largos na construção do comunismo em escala mundial, em aliança com os globalistas ocidentais.

Vejamos, por exemplo: como se chamava a União Soviética? União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Não era “União das Repúblicas Comunistas Soviéticas”. Isso significa que a forma econômica da URSS era o socialismo, mas o seu objetivo era a construção do comunismo. O Partido que detinha o poder era o Partido Comunista da União Soviética, e se chamava assim porque mantinha como princípio fundamental a construção do comunismo. A China não se chama República Comunista da China, mas República Popular da China, pois sua forma é o controle do povo chinês, o controle social. Sempre foi e continua sendo essa a sua forma. Entretanto, a entidade que conduz a China é o Partido Comunista Chinês, cujo sentido é a construção do comunismo.

E recordemos que o comunismo é, por definição, globalista. Não existe “comunismo em um só país”, exceto como movimento tático em alguma circunstância definida. O comunismo é, por definição, desde Marx, o objetivo de construção de um comunismo em escala mundial, o que pressupõe a destruição de todas as nações e sociedades tal como existem antes do comunismo.

Nesse sentido, precisamos distinguir os dois sentidos do sufixo “ismo”, “ista”. “Ismo” pode designar aquilo que você é e pode designar aquilo que você faz. No caso do “comunismo”, esse termo designa aquilo que um regime, uma pessoa, uma entidade quer, e não aquilo que ela faz, aquilo que ela pratica. “Socialismo”, por sua vez, designa aquilo que um regime faz, aquilo que pratica, do mesmo modo que “capitalismo” por exemplo. Um regime é comunista ou não é comunista segundo o seu objetivo, e não segundo a sua prática.

Portanto, sim, a China é comunista. E sim, isso é preocupante para nós, porque o comunismo é algo que não fica lá, quieto, contido nas fronteiras da China ou de qualquer país, mas um movimento sempre global e globalizante, um movimento que sempre aspira a estabelecer-se no mundo todo.

Terça Livre: Estou terminando um livro de Jeffrey Nyquist, organizado aqui no Brasil por Diogo Fontana, da Editora Danúbio, “As Mentiras em Que Acreditamos”, uma seleção de artigos de Nyquist entre setembro de 2019 e janeiro de 2021, em que ele analisa de maneira bastante assertiva como o comunismo vem há tempos, desde dentro e de fora, destruindo os EUA e o Ocidente. Em mais de um momento Nyquist afirma, peremptoriamente, que tanto Vladmir Putin como Xi Jinping não são amigos da América ou do mundo livre. O senhor concorda com essa afirmação? Como a avalia?

Ernesto Araújo: A China, desde a revolução de Mao Tse-Tung, jamais foi amiga do mundo livre. A partir da visita de Nixon a Pequim em 1972, e depois, com as grandes mudanças introduzidas por Deng Xiao-Ping e seus sucessores, dos anos 80 em diante, a China, entretanto, soube manipular o mundo livre e suas fraquezas para aumentar o seu próprio poder, sua influência mundial, e para diminuir progressivamente o poder e influência do próprio mundo livre. 

Como a China agiu? Entre outras estratégias, adotou uma muito inteligente. Em lugar de promover abertamente partidos comunistas no mundo ocidental e de tentar passar-se como aliado das classes trabalhadoras nesses países, como fazia a União Soviética, a China foi-se aliando aos capitalistas ocidentais e às elites político-econômicas ocidentais e penetrando o capitalismo por dentro. A China entendeu que o que move as democracias capitalistas é o dinheiro, e que suas elites estão prontas a sacrificar alegremente a democracia e a liberdade por lucro e dinheiro. Quem defende a liberdade e quem se identifica com a democracia no “mundo livre” não são as elites ocidentais, mas justamente as classes trabalhadoras, que são nacionalistas, que mantêm a fé religiosa e o apego às suas tradições. As elites, se houver dinheiro a ser ganho, não estão nem aí para liberdade, democracia, fé ou tradição. 

Assim, ao longo dos últimos 30 anos, através de sua crescente presença econômica no Ocidente (como destino de investimentos das multinacionais dos países ricos, como grande investidor nos países pobres, e como grande mercado para todos), a China penetrou nos sistemas políticos ocidentais e começou a solapar por dentro as sociedades do mundo livre. O capitalismo só favorece a liberdade se for praticado em sociedades nacionais coesas e bem enraizadas, dotadas de culturas que alimentam a dimensão transcendente, e não só a dimensão material. Praticado em sociedades esfaceladas, sem identidade, sem sentido histórico, sem unidade, indiferentes a si mesmas, materialistas, o capitalismo passa a favorecer não a liberdade, mas o totalitarismo. É isso que vimos avançar nos últimos 30 anos, em grande parte (embora não exclusivamente) em função da estratégia magistral da China.

Somente para exemplificar, vejamos o Brasil. Quem são os grandes aliados da China no espectro político? Não são tanto os partidos de esquerda, são principalmente os partidos de centro, onde está representado o coração da elite político-econômica do país. A China não está aqui apoiando o PCO ou a luta revolucionária, está aqui apoiando os velhos e novos esquemas de corrupção que mantêm a elite político-econômica no controle das alavancas do poder. O PT, inclusive, às vezes parece estar correndo atrás da China, pedindo “não esquece de mim não, aqui não tem só o Centrão, tem eu também”.

Quanto à Rússia de Putin, creio que é um pouco diferente. Em algum momento acreditei que a Rússia poderia ser um aliado do Brasil, dos EUA e de outras grandes democracias nacionais como a Índia e o Japão, no esforço de frear o avanço do globalismo desnacionalizante e criar um mundo respeitoso do princípio da nação e das tradições de cada nação. Achei que a fé ortodoxa russa poderia aliar-se à fé católica e protestante ocidental como espinha dorsal da liberdade. Infelizmente, vejo que a Rússia de Putin parece preferir uma aliança com a China, uma aliança que reforça o globalismo desnacionalizante ao enfraquecer as sociedades ocidentais. Terá suas razões geoestratégicas, mas no longo prazo, do ponto de vista, digamos, geocultural, que é muito mais importante, a Rússia está cometendo um erro. A Rússia parece achar que poderá manter-se como uma grande nação autônoma num mundo governado pelo globalismo, onde a China comunista é a superpotência hegemônica. Creio que é um gigantesco equívoco. Nesse caminho, a Rússia pode ter ganhos de curto prazo, mas no longo prazo estará fadada a desaparecer como nação.

Terça Livre: Por falar em mundo livre, como o senhor avalia o cerceamento à liberdade de expressão que vem acontecendo e todo o mundo, e no Brasil com especial cuidado? É um movimento que vem de duas frentes: ou por parte das Big Techs, ou por parte da juristocracia, que também vem crescendo em todo o mundo. Como o senhor avalia essa situação? 

Ernesto Araújo: A destruição da liberdade de expressão é o principal instrumento de controle no arsenal do globalismo (ou seja, desse conluio de poder entre o megacapitalismo ocidental desnacionalizado e o comunismo chinês), pois vivemos numa nova era, a era da comunicação, e nesta era, se você é capaz de controlar aquilo que se diz e aquilo que não se pode dizer, você está no controle de tudo: da economia, da política, da educação e tudo o mais. Assim, a luta para preservar a liberdade de expressão é o coração da luta para preservar a liberdade no Brasil e em todo o mundo.

O controle da expressão se dá mediante a elevação de certos dogmas do politicamente correto: a ideologia de gênero, a “teoria crítica da raça” ou racialismo, a obsessão climática ou climatismo, e agora a histeria sanitária em torno da Covid ou covidismo. O mecanismo é o seguinte: há liberdade de expressão para todos, exceto... Exceto se você for tachado de racista, transfóbico, negacionista do clima ou negacionista da vacina. E a definição do que é racismo etc. é feita arbitrariamente pelos detentores do poder comunicacional, não pelo processo democrático. Numa democracia, claro que você pode ser censurado se expressar um pensamento racista, por exemplo, mas isso requer o devido processo legal, requer acusação e defesa, exame imparcial da questão à luz das leis democraticamente vigentes. Mas hoje não é nada disso. Racismo, ou negacionismo, é aquilo que os donos do poder comunicacional decidirem que é: você é imediatamente julgado e condenado de acordo com a conveniência deles, sem lei, sem processo legal, sem nada. Chegamos ao cúmulo onde quem contesta essa situação por considerar que ela fere o Estado Democrático de Direito é condenado e cancelado sob a alegação de estar atacando esse mesmo Estado.

Se não houver uma reação nacional e mundial contra esse estado de coisas, nunca mais teremos nada parecido com democracia, seja no Brasil ou em qualquer outra parte.

Terça Livre: Outro movimento que tem avançado no mundo e é bastante preocupante no que se refere ao cerceamento das liberdades é em relação aos passaportes sanitários, uma tentativa de tornar, na prática, a vacinação obrigatória a compulsória a todos, e isso tem partido tanto de governos como do Judiciário e até de entes privados, sem contar a coação que tem sido feita por populares que aderem a uma espécie de “lavagem cerebral” em relação à vacinação contra a Covid e sua obrigatoriedade. Como o senhor avalia essa situação? 

Ernesto Araújo: O passaporte sanitário está se mostrando a cabeça de ponte do esquema de controle social total ao qual as forças dominantes querem sujeitar todas as pessoas do planeta. A pretexto de “salvar vidas”, o passaporte sanitário e a vacinação obrigatória que ele pressupõe vão acostumando as pessoas a terem suas vidas inteiramente observadas e avaliadas, a serem premiadas ou punidas pelo Estado por cada gesto que façam ou cada palavra que pronunciem. 

Obviamente, isso não vai parar com a vacinação. Uma vez disseminado o uso do passaporte sanitário, daqui a pouco teremos uma espécie de “passaporte da cidadania”, segundo o qual pessoas poderão ter seu acesso negado não só a lugares públicos, mas também a lugares virtuais (como sua conta bancária, por exemplo), se não cumprirem determinada norma. Hoje são punidas se questionarem a eficácia da vacina, amanhã serão punidas se questionarem algum dogma da ideologia de gênero ou da ideologia da raça ou da ideologia do clima. Há milhões de pessoas percebendo isso no mundo todo, e estão se mobilizando, mas o sistema, com sua hipocrisia de “salvar vidas”, é extremamente forte e continua avançando.

Terça Livre: Voltando a falar dos Estados Unidos, como o senhor avalia as consequências da administração Biden para o Brasil e o mundo, com base no que já foi feito nestes primeiros 9 meses de governo, e tendo em vista as eleições midterms do ano que vem?

Ernesto Araújo:  O governo Biden tem a responsabilidade de manter os Estados Unidos como superpotência da liberdade num momento em que a liberdade está profundamente ameaçada em todo o mundo. 

Desde sua fundação dos EUA foram uma pátria da liberdade, e seu papel no mundo, no século XX, foi decisivo para manter e ampliar o espaço da liberdade e da democracia. É importante que os EUA não abandonem esse papel em nome de alguns dogmas politicamente corretos. O mundo livre precisa dos EUA mais do que nunca. O governo Biden precisa acreditar no princípio da liberdade, do contrário teremos uma tragédia para todo o mundo. Pelo bem da liberdade em todo o mundo, espero que as “midterms” possam contribuir para reforçar o papel dos Estados Unidos como líder do mundo livre.

Terça Livre: Agora, falando de Brasil, muitas pessoas neste momento andam desanimadas com os acontecimentos posteriores ao 7 de Setembro, com uma pacificação que claramente parte apenas do presidente Bolsonaro, e ainda por cima mediada por Michel Temer. No entanto, pode-se entender que a demonstração da força popular do 7 de Setembro deve ser levada em consideração, o que houve pode ser um novo “tunrning point”, uma guinada na própria consciência política do brasileiro médio. Qual a percepção do senhor sobre isso?

Ernesto Araújo: Creio que somente haverá guinada na consciência política se as pessoas que apoiam o presidente Bolsonaro abrirem os olhos para a realidade e transformarem o apoio irrestrito num apoio crítico e proativo, num apoio que não seja simplesmente apoio à figura do presidente, mas apoio à agenda que o elegeu.

Infelizmente, vejo o governo Bolsonaro abandonando a agenda original de Deus-Pátria-Família-Liberdade e cedendo todo o espaço político a forças que não têm nenhum compromisso com essa agenda e que desejam a manutenção dos velhos mecanismos de corrupção que há tanto tempo escravizam o Brasil. As pessoas precisam se conscientizar de que não basta um “não-PT”. Se esse governo “não-PT” está corroído pela agenda do sistema corrupto, todo o esforço desde 2018 estará completamente perdido.

Terça Livre: Uma pergunta de caráter mais pessoal. Quando o senhor foi chamado para estar à frente do MRE, isso aconteceu por indicação direta do professor Olavo de Carvalho ao presidente Jair Bolsonaro. Qual é, na sua vida e em seu trabalho, a importância de Olavo de Carvalho? 

Ernesto Araújo:  Uma importância imensa. O Professor Olavo me proporcionou, como a tantas pessoas, uma visão real dos problemas do Brasil e do mundo e das linhas-força que estão em confronto, e que são escamoteadas pelo “mainstream”. Mas isso numa perspectiva não apenas política. Estudar a obra de Olavo me mostrou que a política está dentro de algo muito maior, que faz parte da luta do ser humano para preservar sua própria existência como ser não apenas material mas também espiritual. 

Olavo me despertou para aquilo que é preciso fazer para lutar por essa dignidade, e foi essa crença profunda na liberdade e dignidade humana que procurei aplicar no meu trabalho à frente do Itamaraty. Acredito que o Presidente Bolsonaro estava imbuído dessa mesma crença e convicção profunda, e por isso me convidou para o cargo. Por isso me preocupam tanto os sinais de que o presidente está se afastando de tais convicções e fazendo concessões no âmago do seu projeto.

Terça Livre: Para finalizar, aproveitando que o senhor está “fixando-se” conosco enquanto articulista da nossa revista, gostaria que dissesse o que nossos leitores podem esperar de suas colunas.

Ernesto Araújo: Pretendo falar da atualidade brasileira e internacional a partir de ideias e conceitos que tenho procurado estudar e desenvolver, por exemplo com referência a pontos que tratamos nessa entrevista, tais como a natureza do comunismo e do globalismo, as razões para a importância da liberdade de expressão e a imensa ameaça de criação de uma sociedade de controle na esteira da pandemia. 

Tenho justamente procurado estudar de que maneira eventos em diferentes áreas, hoje, correspondem a um padrão comum e a uma vertiginosa perda da liberdade e da dignidade do ser humano, e gostaria de compartilhar essas percepções e colocá-las em discussão.

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GERAL


Fact checkers, aposta financeira do jornalismo de esquerda
(por Cristian Derosa)

Embora a fachada da "verificação de fatos" ainda engane muita gente, muitos conservadores e até mesmo pessoas menos politizadas já perceberam o viés das agências de fact-checking. Afinal, suas "checagens" praticamente só miram notícias e opiniões da direita ou conservadoras, em geral tudo o que questione a autoridade de seus parceiros financeiros e das agendas internacionais.

Mas a pergunta "de onde vem o dinheiro?" sempre surge quando vemos uma mobilização tão grande e estruturada para combater uma suposta ameaça. Como disse recentemente o médico infectologista Francisco Cardoso, os checadores não estão buscando as notícias falsas, mas precisamente as notícias verdadeiras. Esta é certamente a forma mais resumida de se falar sobre os jornalistas que censuram. Mas como é que isso acontece?

Em uma análise de conteúdo que será em breve publicada em livro, cheguei a um resultado certamente previsível de que cerca de 80% das checagens brasileiras privilegia partidos e movimentos de esquerda, sendo estes de especial interesse de agendas globalistas. Muitos podemos achar esse número pequeno, pois às vezes nos parece que é 100% do seu conteúdo. Mas fui bondoso na análise. O restante das matérias poderia ser considerado neutro ou de serviço, uma pequena parcela dedicada a justificar a existência dessa controversa novidade jornalística.

Basta ler os estudos que embasam a inciativa para entender que esse viés não é o simples resultado de uma coincidência da preferência dos editores ou repórteres, mas, ao contrário, trata-se de uma característica estrutural da prática da perseguição digital contra o jornalismo independente, mais especificamente o conservadorismo que surgiu nas últimas décadas em resistência às agendas de controle social.

Muitos se perguntam quem paga os checadores. Alguns já acusaram as agências de serem financiadas pela Open Society Foundation (OSF), do bilionário esquerdista George Soros, por meio da International Fact-Checking Network (IFCN), espécie de certificadora das agências. Mas isso não é exato. Na verdade, a maior parte do financiamento da principais agências vem do Facebook, por meio da iniciativa chamada Facebook Journalism Project, que monetiza o que ele chama de "jornalismo independente". A Google News Initiative também se presta ao apoio da perseguição digital. Mas é claro que o apoio financeiro e logístico não para por aí e de maneira indireta, inclui sim o IFCN, mantido pela Open Society.

A IFCN é assumidamente financiada pelas mais famosas fundações globalistas, como OSF, Omidyar Network, Ford, Oak Foundation, Knight Center of Journalism, entre muitas outras, principalmente, por meio do seu principal mantenedor, o Instituto Poynter. Mesmo a agência que não conta com a certificação do IFCN, o Projeto Comprova, é mantida pela First Draft, outra entidade que também recebe recursos da entidade do magnata húngaro-americano aficionado por dar dinheiro a esquerdistas radicais ao redor do mundo.

A crise no modelo de negócio do jornalismo começou com o advento da internet, mas coincidentemente isso aconteceu quando os jornais começaram a vislumbrar possibilidades de mudanças na sociedade –o que marcou o surgimento do chamado "civic journalism", nos EUA, ou jornalismo cidadão, no Brasil.  Entidades de estudo sobre jornalismo começaram a ver com bons olhos a influência social, a transformação de hábitos e costumes. O poder seduz.

Tão importante quanto seus vínculos financeiros e estruturais são as ligações acadêmicas e os estudos que embasam a prática da "verificação", que se coloca como instrumento técnico e científico de manutenção da democracia.

Estudos sobre o chamado "deplatforming", sobre o qual já falamos em outra oportunidade, visam exatamente identificar as fontes, as causas e a estrutura do que eles optaram por chamar de "desinformação". Mas, como mostram seus estudos mais aprofundados (e sinceros), eles precisam utilizar esse termo para esconder o verdadeiro alvo por trás disso: o conservadorismo.

No artigo Desinformação nas ciências e nas notícias: mais do que denunciar é preciso prenunciar, de Alexandre Brasil Fonsceca, a sugestão de tentar "prever" as fake news precisou deixar claro o que causa o tal "problema". Citando um artigo de Toby Bolsen, James N. Druckman, hospedado do Journal of Communication, o autor diz que:

As nossas descobertas sugerem que o principal problema por detrás da desinformação é o conservadorismo e não a credulidade”. É importante considerar que a questão que está posta não se concentra simplesmente na dimensão factual; há todo um conjunto de relações, crenças, valores e emoções – isso ao lado de relações de confiança e de interesses políticos e financeiros – que movimentam e dão sustentação a todo um sistema de desinformação (grifo meu).

Por si só, este trecho assume que a verificação precisa ir "além dos fatos", abordando valores e crenças, condições sociais nas quais se acredita naquilo que eles consideram desinformação, descrita como um ceticismo ou descrença na credibilidade de instituições e entidades de renome, vistos como sinais visíveis da "ciência" ou da "democracia". Quem compreende e acredita nesta estranha definição? Os adeptos da evocação vazia desses termos, como verdadeiros amuletos da sorte, síntese de uma compreensão de que o ceticismo e o anseio de compreender mais a fundo o significado concreto de determinados termos ou teses pode ser considerado uma condição social para a "desinformação". Ver a ciência como método e não como instituição, para eles, faz parte dessas ameaças.

No artigo citado, Counteracting the Politicization of Science, os autores dizem claramente em seu resumo:

"Few trends in science have generated as much discussion as its politicization. This occurs when an actor emphasizes the inherent uncertainty of science to cast doubt on the existence of scientific consensus". (Tradução do autor do blog: "Poucas tendências na ciência geraram tanta discussão quanto sua politização. Isso ocorre quando um ator enfatiza a incerteza inerente da ciência para lançar dúvidas sobre a existência de um consenso científico.")

Ou seja, enfatizar a incerteza da ciência e por em dúvida o "consenso científico" é classificado como "politização da ciência", um problema a que o estudo em questão pretende oferecer soluções. Ou seja, eles combatem a concepção segundo a qual a ciência é um método e não uma instituição. Eles acreditam que para haver “democracia” é preciso que haja uma confiabilidade cega em certos grupos, entidades e movimentos, vistos como detentores de um tipo de monopólio da boa vontade. 

Com isso, fica evidente que o verdadeiro alvo dos fact-checking não são as notícias falsas, as mentiras ou imprecisões, mas, como disse recentemente o médico infectologista Francisco Cardoso em suas redes sociais, os checadores buscam precisamente as notícias verdadeiras.

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O grande culpado
(por Kauê Varela)


Afinal, você vai acreditar em mim ou nos seus próprios olhos?”. Atribuída ao comediante Groucho Marx, essa frase deveria estar nas definições formais do Marxismo!

Uma das bases do marxismo clássico (entendido na formatação de Karl Marx) é que a tensão histórica entre burguesia e proletariado não duraria para sempre e, segundo Marx, na “grande guerra” haveria a ruptura dessa espécie de aliança comercial histórica para a inevitável guerra de classes e a também inevitável ditadura do proletariado. Como Marx previu, a “grande guerra” aconteceu e durou de 1914 até 1918, mas diferentemente de suas previsões, longe de se distanciarem e voltarem-se uns contra os outros, o proletariado juntou-se à burguesia em nome do patriotismo (horror dos horrores para o marxismo!). Então pela primeira vez na história e não muito tempo depois de sua formulação, o marxismo entrou em uma crise teórica, afinal, um dos seus pilares falhou miseravelmente. Marx não viveu para assistir a sua teoria falhar, mas seus estudiosos sim. 

Apenas para “variar”, não admitiram a intolerância da realidade. A ideia era simples: se uma guerra não foi o bastante para despertar a luta de classes, talvez em uma segunda esse despertar ocorra. No entanto, como diria Sun Tzu na “A arte da guerra”, em uma guerra todos perdem.

Quando Stalin viu a ascensão de Hitler com seu marxismo deturpado, decidiu desengavetar o projeto. 

A Alemanha nazista vinha sofrendo em todos os sentidos com o Tratado de Versalhes, Hitler com a “sua luta”(1) se alavancou politicamente e Stalin via ali a possibilidade de colocar em prática os planos que iam mudar o mundo.

A coisa, apesar da geopolítica complexa, tinha uma premissa simples: armar, treinar e fornecer suprimentos à Alemanha nazista para que ela fosse uma espécie de “boi de piranha” contra o mundo, enquanto a Rússia vinha por detrás pegando os espólios de guerra. No fim, com a Alemanha enfraquecida pela guerra (Sun Tzu avisou!), a Rússia derrotaria os malvados nazistas e se tornaria a potência mundial, estabelecendo a ditadura do proletariado. No entanto, ainda não se sabe exatamente como, Hitler descobriu os planos e voltou-se contra a Rússia pegando Stalin com as calças baixas. No entanto, em uma atitude aparentemente insana, Stalin não revidou o ataque nazista e permitiu ser derrotado de forma humilhante. Logo em seguida levantou a bandeira de “vítima” dos malvados nazistas para o mundo inteiro ver. Então sim, temos aqui uma bela demonstração da genialidade, perversa, claro, da mentalidade comunista: eles armam, treinam e fornecem suprimentos para a Alemanha declarar guerra contra o mundo e saem da história como pobres coitados.

Sim, não há reação mais comum a essa explanação que desprezo e risos, afinal, Hitler era anticomunista e não há provas de que tudo isso aconteceu. É... na verdade há sim. Para se ter uma ideia do tamanho da perversidade, quando a perseguição aos judeus ficou mais intensa e houve uma debandada da Alemanha, Stalin levantou a bandeira de acolhimento aos judeus refugiados. Quando eles chegaram, foram alocados em trens e levados novamente para Alemanha como “presente” para Hitler. Isso não só está registrado em documentos, que já citarei a fonte, mas também... pasmem, EM VÍDEO!!! Sim, eles tiveram a pachorra de registrar isso em vídeo e tudo está no documentário, até a data de publicação deste texto, disponível no Youtube com o título: “A Verdadeira História Soviética.”(2) Outra coisa surpreendente é que os famigerados campos de trabalhos forçados nazista já existiam há pelo menos 10 anos na Rússia comunista, e foram os engenheiros comunistas que levaram os projetos desses campos para a Alemanha e os ensinaram como proceder nesta empreitada “revolucionária”!

Agora, o fato de a Alemanha nazista, em um dia, não ter sequer um estilingue para matar pássaros por conta do Tratado de Versalhes e pouquíssimo tempo depois estar armada até os dentes era estranha per si e muitos já deduziam, sem provas, diga-se de passagem, que havia o dedo de alguém ali. Mas foi Viktor Suvorov quem bateu o martelo da verdade sobre a foice do engano com a obra “O grande culpado: O Plano De Stálin Para Iniciar A Segunda Guerra Mundial”.(3) Como ele era um dissidente do regime comunista e teve acesso a documentos secretos da então URSS(4), conseguiu refúgio político nos Estados Unidos e jogou tudo no ventilador. Não por acaso, trata-se de uma obra de difícil acesso no Brasil, mas que desmonta toda a narrativa das últimas 5 décadas.

Será que um dia teremos uma “Comissão da Verdade” para rever todos os livros didáticos que ensinam o exato oposto do que de fato aconteceu na Segunda Guerra Mundial?

1 - “Mein Kampf” no original é o título do livro de dois volumes de autoria de Adolf Hitler

2https://youtu.be/Uh2e7YFvdlA (Documentário: A Verdadeira História Soviética.) 


4 - “União das Repúblicas Socialistas Soviéticas”

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BRASIL


Bolsonaro, Rousseau e a vontade geral da nação
(por Paulo Moura)

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) é um pensador iluminista que se tornou célebre pela obra “O Contrato Social”, na qual encontra-se um dos fundamentos da Teoria Geral do Estado na sua vertente contratualista. 

O construto teórico por trás da ideia de que o Estado tem origem em um contrato que os homens firmam entre si para fugirem do “estado de natureza” – um tempo de anarquia e violência no qual vigorava a lei do mais forte - já estava presente na Summa Theologica (1265-1273) de Santo Tomás de Aquino e posteriormente em “O Leviatã” de Thomas Hobbes (1588-1679), mas foi o filósofo suíço quem se notabilizou pela interpretação que fez do conceito.

Rousseau era um radical romântico que, posteriormente, inspirou os revolucionários comunistas, razão pela qual é objeto da ojeriza dos conservadores, mas propõe ao debate uma questão que me parece pertinente ao momento brasileiro atual, especialmente após as grandes manifestações de 7 de setembro e o cavalo de pau que o presidente Bolsonaro deu nas expectativas gerais de que manteria sua ofensiva política contra o establishment, após sua impressionante demonstração de força e apoio popular.

O pensamento político moderno, após “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel (1469-1527), tem como um de seus componentes centrais a questão da separação entre política e moral religiosa, para a compreensão do comportamento humano nas relações de poder. Na visão do autor, a política deve ser analisada de forma realista, como ela é, pressupondo que o homem é capaz da maldade para satisfazer seus instintos de poder e não de forma idealizada e normativa como gostaríamos que ela fosse, como se os indivíduos se comportassem sempre de forma boa e virtuosa nas disputas por poder.

“O Príncipe”, em síntese, é um manual sobre como se conquista e se preserva o poder e em várias passagens trata da questão da relação do governante com as massas no contexto do ressurgimento das cidades (burgos), no qual o exercício do poder requer dos príncipes a sabedoria de ser amado ou temido pelo povo. 

Por “ser amado pelo povo” entenda-se a arte da interpretação dos sentimentos do povo e da manipulação desses sentimentos como forma de legitimação do poder. Por “ser temido pelo povo” entenda-se a arte de saber demonstrar força (com o uso da violência real ou potencial) também como meio de manipular sentimentos populares de forma a dar sustentação ao poder.

Implícita a essas ideias está um conceito filosófico da moderna Teoria Geral do Estado que tem sido muito esgrimido como slogan dos apoiadores do presidente Bolsonaro na luta contra o establishment: “todo o poder emana do povo”. 

Em síntese, o que Maquiavel propõe aos que exercem ou almejam o poder é a ideia de que a conquista e preservação do poder nas sociedades modernas assenta-se na capacidade de conquistar o apoio do povo como forma de legitimação e sustentação do poder.

Dois séculos depois Rousseau se debruçará sobre a questão da legitimidade do poder de Estado e do mandato representativo, ao defender a ideia de que “o Estado é a expressão da vontade geral da nação” e de que, para ser legítimo, o mandato representativo dos eleitos deve ser restrito. Por mandato representativo restrito, entenda-se a ideia de que os representantes eleitos não têm a liberdade de decidir ou votar leis em nome do povo sem o expresso consentimento dos representados. 

Para que esse tipo de mandato representativo restrito fosse viável, na visão do autor, o Estado somente seria viável e aceitável em pequenas unidades políticas nas quais o controle dos representados sobre os representantes limitaria a liberdade dos eleitos votarem contra os interesses dos eleitores. Para Rousseau, as leis somente seriam válidas depois de aprovadas pelo povo.

Essa visão exemplifica claramente o aspecto radical e romântico do autor, dada sua inviabilidade em sociedades urbanas com populações enormes e heterogêneas. Não obstante, essa quase “democracia direta”, proposta por Rousseau, irá inspirar o conceito de delegação de representação dos revolucionários comunistas dos séculos seguintes, notadamente dos sovietes (conselhos de operários, camponeses e soldados), os parlamentos revolucionários da Rússia do início do século XX.

Mas a reflexão filosófica de fundo que nos interessa aqui é a questão da conexão entre o poder e o povo, entre o exercício do governo em sua sintonia com a “vontade geral da nação”.

Nações têm “vontade”, ou vontade é algo que se manifesta apenas nos processos de volição individual?

Se o povo de uma nação como ente coletivo é capaz de ter “vontade”, como um governante pode interpretar essa vontade de modo a agir em sintonia com ela para legitimar seu poder?

Rousseau é confuso ao responder perguntas como essas em sua obra, muito embora a ideia de “vontade geral da nação” remeta à ideia de governo da maioria, o autor chega a identificá-la com a vontade de um pequeno número de homens esclarecidos, oscilando de um extremo no qual justifica o despotismo das massas, a outro no qual defende que a vontade geral se confunde com a dessa elite esclarecida, a qual o povo encarrega de executar.

Voltando ao Brasil que foi às ruas aos milhões entre 2013 e 2018 para derrubar um governo de esquerda, elegeu um governo liberal-conservador, e acaba de voltar às ruas em massa no último 7 de setembro para apoiar esse governo, pergunto:

Não estaria o povo brasileiro, ao ir às ruas em massa, expressando a “vontade geral da nação”?

Qual a diferença entre “vontade geral da nação”, “vontade de todos que me apoiam” e “vontades das partes do todo dos quem me apoiam”?

Quem está interpretando corretamente e representando com legitimidade a vontade do povo? Bolsonaro amparado pelas manifestações de rua, ou o establishment e seus representantes que não conseguem mobilizar as massas?

Pesquisas eleitorais publicadas são instrumentos adequados para aferir os sentimentos e desejos profundos da nação?

Os estudos sobre a evolução do conceito de opinião pública ao longo da história compartilham a confusão de Rousseau, ora confundindo o conceito com “opinião da maioria”, ora com o conceito de “opinião de uma minoria ilustrada” que se expressa em reuniões de elites ou nas páginas dos jornais.

A mídia tradicional seria hoje expressão legítima da vontade geral da nação ou da vontade do establishment que a ela se opõe e teme o povo nas ruas, acusando o Presidente, que se conecta com esse sentimento, de “golpista”?

Certamente, há uma parcela expressiva dessa massa que se manifesta nas ruas que perdeu a paciência e gostaria que o Presidente agisse fora das quatro linhas para dar um fim nesse impasse. Essa parcela, é bom que se diga, a meu ver é minoritária, mas já foi muito menor.

Posso estar enganado, mas creio que o Presidente não está errado se interpreta que a maioria de sua base de sustentação prefere resolver esse conflito pacífica e ordeiramente nas urnas de 2022, sem os traumas de soluções extremas, complexas e de sustentação duvidosa, num contexto em que a oposição é minoritária nas ruas e está dividida, mas mobiliza bases expressivas, e em que as nações ocidentais são avessas a soluções heterodoxas para conflitos de poder.

Ao líder de uma nação cabe interpretar “a vontade geral”, ou da maioria, e avaliar com frieza e ponderação as consequências e desdobramentos de seus atos, já que a minoria também é parte da nação.

Como analista, imponho-me também essa obrigação de tentar interpretar com objetividade a dinâmica da realidade, sem deixar que minhas paixões e desejos turvem minha percepção. No entanto, se um analista erra, o problema é exclusivamente dele. Se um líder na posição do presidente Bolsonaro erra o diagnóstico, errará nas decisões. 

Num conflito estrutural de poder como o que o Brasil experimenta, em que o jogo é de vida ou morte para os representantes do establishment entrincheirados na máquina do Estado, um eventual erro do Presidente não será fatal apenas para ele.

Para avançar um golpe de força é preciso não apenas ter-se a força, mas saber avaliar as circunstâncias e desdobramentos que advirão da decisão. Na incerteza, a prudência do recuo é sinal de inteligência, jamais de covardia.

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GERAL


Hemofilia Metafísica
(por Robson Oliveira)


A crise das ciências humanas, pela qual passa o mundo, introduz diversos malefícios nas sociedades, mas nada tão pernicioso quanto à repulsa sistemática às próprias ciências humanas. É ponto pacífico, entre os que estão empenhados na renovação do país, que não se pode confiar em sociólogos, antropólogos, psicólogos, cientistas sociais et caterva. E a razão desta repulsa são as décadas de material de pesquisa vergonhoso, bem como um presente acadêmico igualmente vexatório: justificação de pedofilia, naturalização de aborto, racionalização de assalto, defesa intelectual de ditadura, morte a policiais, liberalização de todas as drogas, tudo isso se vê nas ciências humanas, com cada vez mais frequência e desassombro.

Quando o assunto é filosofia, então, a rejeição é praticamente unânime. Nomes como Marilena “eu odeio a classe média”, Chauí e Marcia “vejo lógica no assalto” Tiburi justificam o receio contra a filosofia. E novamente o pior lado da crise surge: pessoas boas, com o coração no lugar certo, mas com a mente confusa, rejeitam não só os maus filósofos, que pululam nas universidades e redações, mas rejeitam a própria filosofia. Como se houvesse alguma possibilidade de um ser humano, em qualquer tempo ou lugar, viver alheio a questões filosóficas ou mesmo alijado de princípios filosóficos bastante específicos, ainda que inconscientemente.

De fato, não há qualquer possibilidade de um ser humano viver sem princípios filosóficos. É possível que ignore as ideias e valores que efetivamente possui e moldam suas ações e inspirações, mas agir de modo meramente científico – ou materialista – é impossível e (para arrepio de quem sonhara com o fim da filosofia) continua a ser uma postura filosófica, clara e muito mais próxima do espírito que tais pessoas pretendem rejeitar. 

Eis o nó da questão: a fim de escapar das amarras ideológicas, que atualmente agem nas universidades de todo o país, com o intuito de precaver-se e aos seus de erros grandes e pequenos, produzidos na área de humanas, o homem comum corre avidamente para as ciências da natureza e suas coirmãs. Esperançoso de encontrar a verdade “sem mistura”, a ciência “sem adjetivos”, lança-se ingenuamente em busca do que sua alma anseia, nas engenharias, nas matemáticas, nas físicas, nas químicas... E o resultado é o oposto do que sonhava aquele que, na juventude, fugia da filosofia com temor de ser manipulado.

Como se pode constatar, com alguma facilidade até, as ciências da natureza não são lugares seguros, onde a verdade está protegida de interferências filosóficas. Afinal, não há alternativa à filosofia. Hoje, ao ver o ex-ministro Mandetta gritar como um menino: “ciência, ciência, ciência”, indicando que da medicina viria a resposta absoluta para uma crise de saúde, torna-se evidente para qualquer um que conheça um pouco da área de saúde e de filosofia que o médico ou é um tolo, ou um pilantra. Rapidamente: ao clamar pela aceitação caprina e rápida a teses das ciências da natureza, apela-se para um certo tipo de filosofia, um certo princípio metafísico muito característico: o positivismo. De tal modo que, ao fugir para as montanhas das ciências da natureza, em busca da certeza, os incautos tornam-se hóspedes de positivistas, materialistas ou mesmo empiristas, raça tão perniciosa ideologicamente quanto os marxistas de quem o jovem conservador fugia na juventude.

O caminho para a restauração é formar-se nas ciências humanas também. A rota de saída do labirinto passa necessariamente pelo reforço metafísico, pela formação de excelência nesta área das ciências humanas. Sem os anticorpos corretos, o jovem aluno de engenharia é presa fácil para os manipuladores, que se não conseguem transmutá-lo num hedonista empedernido, transforma-o num materialista convicto, o que é quase a mesma coisa.

Não há opção à filosofia, o que não significa que se deva apostar todas as fichas aqui. Significa apenas que não se pode menosprezar a importância desta área do conhecimento, com o risco de forjar hemofílicos metafísicos, vítimas fáceis da ideologia.
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REVISTA "A VERDADE" - Ed. 56, de 27/09/2021 (Uma publicação digital semanal do Jornal da Cidade OnlineAssinar a revista


CULTURA


“Artigos federalistas”: livro americano que inspirou a fundação das democracias ganha nova edição

(da Redação)


O direito à liberdade de expressão, o direito à ampla defesa, o direito à liberdade religiosa e tantos outros que dão ao cidadão o simples direito de viver, são algumas das premissas de qualquer democracia. Essas ideias foram expostas de forma detalhada através de artigos que ratificaram os princípios da primeira constituição do mundo e que se tornou modelo para todas as constituições criadas posteriormente, inclusive a brasileira.

A Faro Editorial lança este mês, pelo selo Avis Raras, “Os Artigos Federalistas”. Escrito por Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, “The Federalist Papers” é compostos por 85 ensaios, resultantes de reuniões que ocorreram na Filadélfia em 1787, e tratam de posicionamentos teóricos sobre as questões e deveres coletivos, individuais, sociais, econômicos e culturais – preocupações estruturantes no nascimento dos Estados Unidos da América.

Embora escritos há mais de dois séculos, esses ensaios atemporais se transformaram num clássico da ciência política, e até hoje são considerados insuperáveis em amplitude e profundidade, sobre quaisquer outros produzidos posteriormente.

Revisitar essas ideias parece muito necessário no mundo contemporâneo, quando o Estado, em inúmeros países, começa a avançar sobre os direitos individuais dos cidadãos.


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Paulo Briguet escancara a fé em Nossa Senhora dos Ateus
(por Claudio Dirani)


O parto foi demorado, mas a espera foi totalmente válida. Depois de muito carinho com os detalhes de acabamento de sua mais nova produção, o jornalista e editor do jornal Brasil Sem Medo, Paulo Briguet, deu à luz a aguardada obra Nossa Senhora dos Ateus – livro que traz uma coleção de 100 brilhantes crônicas assinadas pelo autor paulistano (mas estabelecido na paranaense Londrina) em sua rica carreira.

A obra foi editada e lançada pela Editora Sétimo Selo, do companheiro e colega de Brasil Sem Medo, Silvio Grimaldo, e dedicada ao mentor do BSM, Olavo de Carvalho.

Em entrevista à revista A Verdade concedida em agosto, Briguet já adiantava os detalhes da publicação, incluindo a figura central por trás do lançamento de Nossa Senhora dos Ateus.

“São dois livros a caminho. Um já está pronto. O primeiro, uma coletânea de crônicas que sairá pela Sétimo Selo que se chama Nossa Senhora dos Ateus. São 100 crônicas, com prefácio do Flávio Gordon, orelha da Claudia Piovesan e a quarta capa feita pelo Bernardo Küster. O livro é dedicado ao Olavo de Carvalho. Muitas dessas crônicas falam sobre mudança”, explicou Paulo Briguet.

Para adquirir Nossa Senhora dos Ateus acesse:


Claudio Dirani é graduado em Comunicação Social pela universidade FMU-FIAM-FAAM, Claudio D. Dirani tem mais de 22 anos de jornalismo, sendo 12 como editor na emissora Alpha FM. Foi colaborador de inúmeros veículos, como Revista Placar, Jornal da Tarde, Aventuras na História e 89fm – A Rádio Rock. Seu mais recente livro publicado é Masters: Paul McCartney em discos e canções (2017)..

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PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO!

"Aproveitando o tempo na cama do hospital para reler velhos livros brasileiros, observo de passagem: a análse que o mandarim uspiano Antonio Cândido fez do romance de José Geraldo Vieira, "A Quadragésima Porta", é uma das coisas mais estúpidas que já li nesta vida." (20/09/2021)

"No Brasil de hoje parece que ninguém, nas classes tagarelas, tem mais opinião pessoal sobre coisa nenhuma. Cada um só quer falar "em nome de" algum grupo, corrente ou escola, como se isto reforçasse a nulidade da sua pessoa com uma injeção de autoridade coletiva. E os mais bobos, nisso, não são nem os comunistas. São os que falam em nome da Igreja, dando a cada uma de suas opiniõezinhas mais imbecis os ares de decretos pontifícios." (21/09/2021)

"Antônio Cândido reduz autor e personagens à respectiva "ideologia de classe" e acredita haver aí encontrado a chave do romance ("A Quadragésima Porta"). Parece redação de escolinha do MST. Depois, sem saber explicar como tal vulgaridade ideológica pôde produzir algum valor estético, dispara alguns elogios de má vontade sobre o escrtor que desejaria estrangular. Só mesmo da USP poderia sair uma besteira dessas." (21/09/2021)

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OPINIÃO DO AUTOR

O que é FILOSOFIA e a vocação do FILÓSOFO)
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
28 de Setembro de 2021

Uma pequena intervenção antes de entrarmos na segunda parte daquela matéria sobre Metropolis que iniciei há duas semanas atrás. Paciência gafanhoto!

Quando eu cursei Letras (BIG MISTAKE!), eu tive um certo professor (não vou citar nomes) que apenas nos trazia textos para falar sobre algumas dessas obviedades tradicionais de frases feitas e, eu me lembro bem, em uma das aulas, quando ele tentou definir o termo Filosofia, ele dizia que "ah, é você pegar um texto, uma figura, alguma coisa, e ficar pensando sobre aquilo".

Imagine você que já naquela época, em que eu sequer conhecia a obra de grandes filósofos, eu já queria esconder a cara ali mesmo: "o que que eu tô fazendo aqui, putaqueopariu?"

Enfim, terminei os três anos de Letras sem absolutamente noção nenhuma do que vinha a ser Filosofia e o verdadeiro ofício de um Filósofo. Professores meus de Literatura citavam a esmo obras como A República de Platão ou A Política de Aristóteles assim, de forma bastante desconexa, a esmo, sem aprofundamento.

Completamente à deriva e não entendendo patavinas do que que o Ari, o Sócrates e compania limitada tinham a ver com Antônio Cândido, Paulo Fraude, Marilena "Odeio Classe Média" Chauí, ou mesmo Saussure e Foucault, e descobrindo que eu nada tinha a ver com aquela patota lá, eu tive que ir atrás de pesquisar. E para meu espanto, fui descobrir que Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Sertillanges, Louis Lavelle, Olavo de Carvalho, Jordan Peterson e outros gigantes do pensamento eram companhia muito melhor para o Ari e o Sócrates do que os esquerdistas supracitados no início deste parágrafo. Foi no momento em que eu passei a ler os verdadeiros filósofos e pensadores que as portas da verdade e do entendimento realmente se abriram para mim.

Olavo de Carvalho define o termo Filosofia da seguinte forma: é "a busca da unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa". Long story short, é quando você consegue pegar elementos do seu cotidiano com elementos do próprio pensamento e encontrar naquilo um casamento, isto é, através do exercício do pensar você compreende a realidade a sua volta. E mais: você consegue pescar trechos, recortes da realidade que o rodeia, associá-los com o pensamento e as ideias de gente morta que encontrou similitudes com a sua realidade epocal e com isso achar uma unidade naquilo tudo. Dessa forma você consegue entender o funcionamento das coisas. E isso é algo que eu queria poder entender a minha vida inteira!

Filosofia é isso. É algo que você tem que realizar com a MÁXIMA sinceridade possível e com um AMOR extraordinário pela verdade. Filosofia NÃO É você pensar uma coisa e querer que aquilo fosse real. NÃÃÃÃO!! Filosofia é você observar o real, observar o pensamento, achar a unidade nas duas coisas e saber COMPREENDER A REALIDADE QUE O CERCA COMO ELA É! Qualquer coisa fora disso não passa de empulhação e vigarice!

Quanto ao filósofo. Uma pessoa pode fazer uso de seus conhecimentos de FILOSOFIA e usá-los (da maneira certa) para entender o mundo que o cerca. Isso, qualquer um pode fazer, até um abestalhado como Leandro "De-li-ran-te" Karnal pode. Tá, vou dar um exemplo melhor. Rafael Nogueira, historiador, utiliza seus conhecimentos de filosofia e história para dar aulas sobre o descobrimento do Brasil sem chave ideológica de esquerda. É um conhecimento muito bom, e qualquer um deve ter, e Rafael sabe ensinar isso. Mas ele não é filósofo. Pode ficar tranquilo que não estou ofendendo o cara, ele mesmo assume que não é, muito embora seja um historiador excelente e um exímio professor que gosto muito. Percebe? Uma pessoa pode estudar filosofia e pode com isso entender o mundo que a cerca. Mas isso não é ser filósofo. Filósofo é aquele que, com os seus conhecimentos, consegue ELABORAR, criar um pensamento que será base para futuras análises mais apuradas da realidade.

Vou dar um exemplo: você conhece a Teoria dos Quatro Discursos na obra de Aristóteles? Foi o prof. Olavo quem criou. Vai lá no buscador e digita "Teoria dos Quatro Discursos" que você vai ver lá a regra atribuída ao Olavo, ele escreveu um livro inteiro só sobre isso. Você sabe o que é uma Paralaxe Cognitiva? Termo cunhado pelo Olavo, conceito criado também por ele. Pode pesquisar.

Essas interpretações e criações de conceitos nos auxiliam a observar as coisas ao nosso redor e buscar também as características unitivas do todo, quando analisadas as partes, porque claro, não dá para se entender o todo por apenas uma de suas partes. Dessa forma, pense muito bem a próxima vez que você disser "tenho uma filosofia", ou se referir ao "filósofo fulano de tal que mora na vila Nhocunhé", porque você pode estar caindo em conversa de vigarista. Aprenda o que é a verdade, aprenda a observá-la e a interpretá-la. Expanda sua linguagem e o seu imaginário. Esse é o caminho.

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HUMOR


(27/09/2021 - republicado)



"Na #CPICircoDosHorrores não teve jeito... Antes do final, o "Wagner" acabou precisando usar um "Rosário"..." (@SalConservador)
(22/09/2021)



"Além de vagabundo é ladrão e picareta!!!" (@SalConservador)
(23/09/2021)



"Charge de hoje: enrolação tenebrosa. #JindeltCartunista." (@PS_Jindelt_60)
(17/09/2021)

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LEITURA RECOMENDADA

Sei que estamos insistindo novamente no assunto da Nova Ordem Mundial, mas isso AINDA está sendo implementado em nosso mundo, AINDA está muito... MUITO LONGE de acabar, e sua vida e sua liberdade correm um perigo SERÍSSIMO. Então, leia mais sobre isso. Nesta compilação feita pelo grande Alexandre Costa, tem inclusive um texto escrito por um conterrâneo meu, Camilo Calandreli, além do timaço de sempre, contando com nomes como Luis Vilar, Cláudia Piovezan e muitos outros, timaço esse ao qual eu incluo aqui o Camilo, meu grande amigo. Aproveita que na livraria do Terça Livre está com 50% de desconto até dia 3 de Outubro!

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