Edição XXV (Revista Terça Livre 115, revista A Verdade 55 e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Terça Livre, da qual sou assinante, com autorização pública dos próprios autores da revista digital. Nenhum texto aqui pertence a mim, todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.



CULTURAL

ENTREVISTA COM PAULO HENRIQUE ARAÚJO E IVAN KLEBER FONSECA
(por Leônidas Pellegrini)


Acompanho o trabalho de Paulo Henrique Araújo desde que ele trabalhava no Terça Livre, onde era apresentador e sócio. Logo que ele começou seu próprio canal, em meados de 2019, passei a acompanhá-lo (Paulo costuma dizer que sou apoiador de seu canal desde quando o mato ainda estava começando a crescer). Acompanhei aquele pequeno canal em que Paulo, sozinho, gravava, editava e postava pequenos vídeos nos quais falava sobre questões como comportamento, educação e cultura evoluindo para um canal com uma programação mais complexa, com parceiros como Kodhak, Lindex e Brás Oscar, e depois José Carlos Sepúlveda e Ivan Kléber Fonseca (atualmente, correspondente internacional do canal do Reino Unido), consolidando-se em 2020 com o nome PHVox. 

E 2020 foi o ano decisivo para o canal. O ano eleitoral nos Estados Unidos fomentou a criação do programa Eleições Americanas (atualmente América Vox), que foi o carro chefe do canal até a posse de Joe Biden no início deste ano. As excelentes análises dos apresentadores fizeram com que o canal crescesse exponencialmente em relação ao número de seguidores e apoiadores, chegando a entrar no radar dos revolucionários ao ser inserido em um mapeamento do “espectro do autoritarismo nas redes sociais” em uma matéria da Folha de São Paulo.

Com a força que foi ganhando, o PHVox ampliou e variou sua grade de programação, seu portal, sua plataforma de cursos, sendo que hoje conta, entre apresentadores, professores colunistas e colaboradores, com figuras como José Carlos Sepúlveda, Alexandre Costa, Andre Assi Barreto, Diogo Bonilha, Daniel Ferraz, Camila Abdo, Paulo Papini, Fábio Blanco, Ricardo Gancz, entre outros.

Agora em 2021, continua a avançar, ocupando espaço no mercado editorial com a Editora PHVox, que estreou agora em setembro com a publicação de “Os EUA e o Partido das Sombras”, de Paulo Henrique e Ivan Kleber, livro cuja ideia nasceu a partir do trabalho de cobertura das eleições americanas do ano passado e do curso homônimo ministrado pelos autores na plataforma de cursos do PHVox. O foco do livro, no entanto, vai muito além das eleições americanas, remontando à origem do Partido das Sombras ainda na Inglaterra do século XVI, para levar o leitor ao entendimento do longo processo histórico que culminou nos Estados Unidos de Saul Alinsky, George Soros, Clintons, Obama e, por fim, Biden e Harris. 

Para saber mais sobre o PHVox e este seu primeiro livro, confira abaixo a entrevista com Paulo Henrique e Ivan.

Terça Livre: Paulo, em primeiro lugar, conte um pouco sobre a história do PHVox, sua evolução, seus desdobramentos, programação do canal, site, cursos etc.

Paulo: O projeto PHVox (portal de análises, canal no YouTube, plataforma de cursos, editora, mídia Watch) nasceu do desejo de realizar um trabalho baseado nos preceitos da contrarrevolução e uma paixão pelos estudos que sempre tive. Apesar de estarmos de certa forma ligados ao noticiário geopolítico, o nosso principal foco é estarmos atentos aos passos dados pelo movimento revolucionário em suas diversas vertentes e ideologias.

Com isso em mente, procuramos sempre desenvolver um produto que foque no trabalho duro, sério e de certa forma a longo prazo, estabelecendo um planejamento de nossas ações e implementando através de matrizes de pivotante, onde validamos uma ideia com início, meio e fim, tendo como objetivo final do processo a efetividade em diversos campos que vão além dos números de curtidas ou mesmo de views de determinada a ação.

Estamos estruturando nossas verticais e as ações dentro de cada uma com foco específico em resultados práticos e tangíveis. O ponto principal por trás de tudo isto é o direcionamento baseado na fé católica e nas bases da Doutrina da Santa Igreja, que são o norte de todo o nosso trabalho, seja ele no campo de formação ou análise política.

Terça Livre: Ivan, você foi de espectador a apresentador e sócio do PHVox, e, conforme cresce o canal, suas funções como correspondente no Reino Unido e na Europa também têm aumentado – inclusive, você fará uma importante cobertura na Escócia dentro em breve. Conte um pouco para nossos leitores sobre sua história no PHVox e seu trabalho como correspondente internacional do canal.

Ivan: Desde criança eu sempre tive um genuíno interesse por assuntos voltados à política. Inicialmente na minha família, onde tive muita influência do meu avô, que era ativo nos debates políticos e me levou a desde cedo a acompanhar as ações em que ele estava envolvido. Quando me mudei para a Europa no início dos anos 2000, tive a oportunidade de acompanhar de perto o cenário quente da política na Itália, exatamente no momento em que o país adotava o EURO como sua moeda. Posteriormente, na Alemanha, tive a mesma oportunidade. Agora, no Reino Unido, onde estou estabelecido, tive a oportunidade de acompanhar de dentro todo o debate que envolve o Brexit.

Eu já acompanhava o trabalho do Paulo Henrique antes mesmo de ele iniciar o projeto de seu canal, quando ele começou o canal comecei a acompanhar e fazer parte do grupo de apoiadores e a conversar de maneira mais próxima com ele. Destas conversas surgiu o interesse comum de trabalhar em uma cobertura séria, focada e dedicada nas eleições americanas de 2020. Inicialmente acreditei que iria colaborar com pautas, mas o PH me cooptou para a frente das câmeras. Aos poucos nossa afinidade, foco e direcionamento foram aumentando e passei a colaborar em outras frentes do canal. Até que na metade de 2020 o projeto ganha o nome de PHVox.

Trabalhar como correspondente internacional para mim é a realização de um sonho de criança, que estou realizando em um projeto que possui valores profundos e um foco muito claro de onde se pretende chegar.

Terça Livre: Gostaria que falassem um pouco sobre os principais, digamos assim, lemas do PHVox, que são “fugir da hashtag do dia” e “Terço na mão e joelho no chão”.

Paulo: Um dos grandes fatores que fez com que o conservadorismo ganhasse profundidade na internet brasileira foi exatamente o aprofundamento nos estudos, trazer à tona temas antes não acessíveis para a maioria da população e muito conhecimento que antes estava oculto e longe do imaginário popular. Após as eleições de 2018, vimos um grande aumento do debate rasteiro da política, fomentado pelo quarto poder (a mídia), e com isso a degradação das pautas elevadas nos meios conservadores na internet. Tudo ficou resumido à qual hashtag está em alta “hoje” e como “capitalizar” com o tema. Com isso, temos como um dos fundamentos do nosso trabalho justamente fugir da hashtag do dia, não entrarmos na roda de pautas impostas pela mídia e suas crises fabricadas todas as semanas de maneira ininterrupta.

Terço na mão e joelho no chão é fruto do fio condutor de nosso trabalho, que nasce de uma promessa que fiz a Nossa Senhora: que todo o trabalho que eu estivesse executando fosse para o uso d’Ela como uma ferramenta ou instrumento de sua vontade para a honra de Nosso Senhor Jesus Cristo. Então, sempre utilizamos esta mensagem ao final dos programas, para que nós mesmos estejamos sempre despertos que apesar de todos os problemas, más notícias e dificuldades que tratamos ao longo dos programas, o nosso verdadeiro foco está aos pés de Nosso Senhor.

Terça Livre: Paulo, tendo em vista o recrudescimento cada vez maior da perseguição aos canais conservadores, tanto por meio judicial como por censura das Big Techs, quais têm sido as estratégias do PHVox para escapar de um futuro cancelamento completo, risco quase certo para todos nós?

Paulo:  Há pelo menos um ano e meio venho pessoalmente dizendo que este modelo de trabalho baseado no YouTube irá “ruir”... Coloco entre aspas, pois não acredito que o sistema será banido, mas que será sufocado a um ponto que seja inviável para a grande maioria das empresas e profissionais independentes. Com isso, cada empresa precisa encontrar meios de atuar e sobreviver de acordo com suas estratégias de atuação e comunicação com o público. Nós do PHVox temos investido em uma estratégia pautada na qualidade ao invés da quantidade, isto em via de mão dupla: de nós para o público e do público para nós.

Estamos atentos a formas de conseguirmos estar próximos ao nosso público, e tornando o relacionamento dentro do possível o mais “pessoal” possível, trabalhando principalmente na interação com eles. O nosso padrão de relevância para as métricas são diferentes hoje do que o mercado considera, nossos objetivos e resultados hoje não estão mais focados na quantidade de visualizações ou curtidas somente, por exemplo.

Terça Livre: Há dois personagens muito importantes tanto na história aqui do Terça Livre como na do PHVox, que são Olavo de Carvalho e José Carlos Sepúlveda. Gostaria que falassem um pouco sobre a importância que eles têm em suas vidas, formações pessoais e trabalho.

Paulo: O professor Olavo de Carvalho foi um dos grandes responsáveis por meu entendimento da atual situação de coisas, algo que sempre dizem dele é a mais pura verdade: quando você o conhece, é como se escamas fossem tiradas de seus olhos. Conheci o professor Olavo há mais ou menos sete anos, através do Facebook, e foi uma imersão profunda, através dele que acabei conhecendo diversos intelectuais e alunos, como o próprio Terça Livre. O professor Olavo foi a pedra fundamental no meu processo de conversão à Igreja Católica, baseado em uma fé racional partindo dos estudos e de exemplos ao longo dos últimos mil anos de história relatados por ele em diversas aulas.

O Sr. Sepúlveda, o chamo carinhosamente de meu mestre, pois ele foi e é uma figura central em minha vida intelectual, tanto em conselhos, como em direcionamento. Formamos ao longo dos últimos quatro anos uma amizade muito profunda e uma parceria nas análises políticas, estudos e discussões de temas que são importantíssimas para o nosso trabalho como um todo. A maior contribuição e pela qual sou mais grato porém, é o aprendizado que tenho com ele sobre a vida e obra de Dr. Plínio Côrrea de Oliveira, que nos coloca o eixo central e o fio condutor que guia o nosso trabalho como contrarrevolucionários.

Ivan: Estive durante muito tempo “sozinho” na Europa no que diz respeito ao debate político e a ter com quem tratar no dia a dia sobre os temas com que sempre estava estudando. O professor Olavo de Carvalho era a minha principal companhia por anos, sempre acompanhando suas aulas abertas, palestras e conteúdo gerado pela internet, principalmente por não ser fácil ter acesso à sua obra literária aqui no velho continente. Este processo foi fundamental para estar “vacinado” ao discurso ideológico e ao dia a dia aqui na Europa e ter um olhar mais aprofundado aos movimentos políticos no Reino Unido, me ajudou muito inclusive no fomento ao meu trabalho como correspondente.

O Sr. Sepúlveda eu já conhecia da telinha há alguns anos, quando comecei. Ao colaborar com o PH, logo no início tive a oportunidade de conhecê-lo em contato direto, o que acabou acima de tudo tornando-se uma oportunidade de aprendizado e amizade, hoje é comum trocarmos consultas e até pautas em questões geopolíticas.

Terça Livre: Agora em setembro o PHVox estreou no mercado editorial com a publicação de “Os EUA e o partido das Sombras”. Falem um pouco sobre esse livro, como foi gestada sua ideia e como foi seu desenvolvimento etc. Dentro disso, falem um pouco também sobre a iniciativa da Editora PHVox. 

Ivan: Já no início de 2020 começamos a realizar uma cobertura semanal visando as eleições americanas. Com tudo que aconteceu nos EUA e no mundo no ano passado, tivemos a oportunidade de acompanhar passo a passo o desenrolar dos fatos e como o jogo político e ideológico foi desenvolvido. Muitos fatos narrados pela mídia após o dia 3 de novembro não condiziam com os fatos a que assistimos, e muitos deles narrados por esta mesma mídia.

Com o grande expurgo que aconteceu nas redes sociais, proibindo inclusive que certos assuntos fossem abordados pelos meios de comunicação pelas Big Techs, o trabalho de traduzir a realidade ficou muito complicado. Com isso, o Paulo Henrique teve a ideia de criar inicialmente um curso que apresentasse as bases estruturais da política americana e como ela era controlada. Isso me soou como música, pois acompanho a política americana há muitos e muitos anos, principalmente por ela ter um impacto profundo na política da Europa, onde vivo já há vinte anos. Foi uma oportunidade de aprofundar e até mesmo organizar a experiência acumulada nestes anos.

Paulo: Comecei a trabalhar na ideia (e no profundo desafio) de criar um selo editorial ainda no primeiro semestre de 2020. Em setembro deste mesmo ano foi posta a pedra fundamental e as primeiras negociações para que este projeto tomasse forma, foi exatamente um ano de trabalho entre o primeiro passo para começar o trabalho editorial até o lançamento do primeiro livro. A ideia da Editora PHVox é atuar em um meio muito específico no mercado editorial: o de conteúdo no combate às ideologias revolucionárias, em que as publicações funcionem como guias para os seus leitores, para que possam entender como atuam, e entregar um conteúdo sistematizado definido em temas práticos para os nossos leitores, seguindo a mesma premissa do PHVox como um todo.

Eu acompanho a política americana de perto desde 2015, com um profundo interesse pelos bastidores do Deep State e do establishment. No meio disto me deparei com o Partido das Sombras e os seus meios de ação e subversão de todo o processo político. Quando Ivan e eu nos conhecemos, conseguimos casar duas visões complementares do complexo jogo da política americana: a visão técnica e partidária (Ivan) com a visão dos jogos de interesses profundos e grupos que movem os bastidores da política (Paulo). Inicialmente, começamos um curso para a nossa plataforma, onde trabalhamos em princípio com um fio condutor histórico, remetendo ao século XVIII e passando por pontos altos da história política americana e os principais personagens para chegarmos aos dias de hoje. A ideia evoluiu e, com o progresso do selo editorial, observamos a oportunidade de transformar este curso em um livro e aprofundar ainda mais.

O grande desafio em minha visão era justamente fazer com que o leitor tivesse uma visão de como o Partido das Sombras pode ser formado, não simplesmente começar a história nos anos 1980 do livro, assim planejamos todo um contexto de pesquisa que remete ao período da criação da igreja anglicana até o processo que levou à eleição de Joe Biden em 2020. Tudo isso em um livro dinâmico e ao mesmo tempo profundo, direto e com linguagem simplificada, para que seja acessível a pessoas que não fazem ideia da estrutura política americana ou mesmo que tenham a brasileira como referência.

Terça Livre: O livro de vocês analisa a formação do Partido das Sombras nos EUA e sua influência na política e nas eleições americanas a partir de uma perspectiva histórica que remonta à Inglaterra do século XVI. Falem um pouco sobre a importância dessa perspectiva histórica para entendimento de questões e inquietações presentes.

Paulo: Um dos principais preceitos que sempre levo a cabo nos trabalhos que desenvolvemos é a importância de estabelecer um fio condutor da história. Entender que as coisas não acontecem do nada é essencial, isto é um princípio do PHVox. Desta forma, procuramos estabelecer esta linha neste projeto, para que o leitor, ao terminar o livro, saiba muito mais além do Partido das Sombras, mas que ele tenha uma compreensão ampla do que é a política americana e consiga identificar facilmente os jogos de narrativa impostos no dia a dia pela mídia mainstream e militantes nas redações. Este é um grande desafio e os brasileiros entenderam na prática que tudo que acontece em uma eleição americana é importado para o Brasil dois anos depois. Assim, quem ler esta obra conseguirá ter uma visão clara de diversos movimentos.

Terça Livre: Em seu livro, vocês falam sobre diversos personagens da história americana que, de uma forma ou de outra, contribuíram para o desenvolvimento de políticas estatistas, ou o pensamento revolucionário, ou mesmo como players decisivos em resultados eleitorais, como Ross Perot. No entanto, há dois desses personagens que acabaram ganhando um destaque maior: Saul Alinsky e George Soros. Gostaria que falassem um pouco sobre essas duas figuras e sobre como é importante conhecê-las para entender não só a atual realidade política e cultural dos EUA, mas também a do Brasil.

Paulo: No livro abordamos diversos personagens relevantes para a história política americana, como os pais fundadores, Abraham Lincoln, Franklin Rooselvet, Richard Nixon, membros da Família Rockfeller, Henry Kissinger e muitos outros determinantes em diversos momentos. Mas temos duas figuras importantíssimas, como mencionou, que são Saul Alinsky e George Soros. Mas existe uma figura extremamente importante em meio a tudo isto, que também é a ponte e elo de ligação entre estes dois personagens, a Sra. Hillary Clinton.

George Soros é o homem forte por trás do Partido das Sombras, mais do que isto, ele é quem concebeu a ideia de adentrar na estrutura política americana, subvertê-la e controlar com grande poderes o seu destino. Isso através de um jogo de tentativas e erros que levou quase 30 anos, e no meio do caminho encontrou uma grande parceira de atuação, que na época respondia como a Primeira-Dama dos EUA. Hillary foi determinante na concepção do Partido das Sombras, pois se Soros tinha o dinheiro e a vontade, Hillary trouxe as ferramentas para o trabalho.

Estas ferramentas eram as 13 regras para radicais, formuladas com seu mentor ideológico, com o qual ela conviveu em pessoa: Saul Alinsky. Alinsky é um personagem desconhecido profundamente do público brasileiro e ocidental. Isso não é à toa, faz parte de sua estratégia e forma de atuação. Este personagem é tão determinante em tão diversos pontos, que após o lançamento do livro iniciei um trabalho em conjunto com o também autor André Assi Barreto em torno de Saul Alinsky. Isso resultou em uma série de aulas gratuitas e um curso fechado em 14 aulas sobre Saul. No livro dedicamos um capítulo inteiro para ele, porém não era o suficiente para entender esta figura e sua importância dentro do processo histórico, e assim colocamos este material em forma de videoaulas em nosso portal.

Alinsky é a base do radicalismo político, ferramenta essencial para a nova esquerda do século XXI e para personagens como Bernie Sanders formarem uma base de radicais envernizados de democratas. Se Antônio Gramsci concebeu a estratégia, podemos afirmar que Saul Alinsky entregou as ferramentas.

Terça Livre: Paulo, durante o pré-lançamento de “Os EUA e o Partido das Sombras”, com os apoiadores do PHVox, você disse uma frase que não esqueci: “Assim como continua havendo um Estados Unidos depois de novembro de 2020, continuará havendo um Brasil após outubro de 2022, com ou sem Bolsonaro”. Gostaria que desenvolvesse aqui um pouco mais esse pensamento, sobretudo sob a perspectiva de proposta de longo prazo do PHVox. 

Paulo: O despertar político de grande parte da população brasileira é recente, e ainda temos uma falsa visão de que elegendo um chefe do Executivo, ele por si só pode resolver todos os nossos problemas. Nós, o povo brasileiro, estamos bebendo um remédio amargo desde 2019 e percebendo como isso é um engano. Alterar o paradigma de uma nação leva muito tempo e a esquerda trabalhou isso no Brasil por mais de um século. Os comunistas e socialistas trabalharam lentamente subvertendo o povo por exatos 80 anos até conseguirem tomar o poder (1922 até 2002), isso depois de diversas tentativas frustradas como a Coluna Prestes, a Intentona Comunista, a revolução prevista de 1964 (já com apoio chinês), entre outros episódios menores.

Independentemente do que possa ocorrer no ano que vem, o povo precisa entender que ele é protagonista de sua própria história e que ele por vezes levanta personagens que possam representá-los, como no momento é o presidente Bolsonaro, mas é necessário uma continuidade profunda, para o melhor (reeleição) ou para o pior (retorno da esquerda ao poder). Este amadurecimento passa por um processo em que o brasileiro consiga aplicar as ações que espera para a sua vida localmente, onde ele vive, e não somente em Brasília. Aliás, isto transcende e muito a própria política.

Os EUA são um grande exemplo disto, após o resultado das eleições de 2020, os americanos não ficaram de braços cruzados chorando na calçada. Eles começaram um plano de ação para retomar as instituições, limpando desde a base. Não pregaram uma revolução armada ou tomada do poder à força. Mas qual o motivo disto? Por pior que fosse o cenário, já tinham uma base sólida desenvolvida, uma cadeia de comunicação através dos rádios, centros de estudos e formação conservadores, institutos acadêmicos, uma rede de conservadores dispostos a criar redes de fomentos em líderes políticos e intelectuais, think tanks etc. Muitos podem estar pensando agora: mas no Brasil não tem isso! Justamente, não tem... mas precisa ter. E só terá quando começarmos a trabalhar para isso, não podemos ficar apenas em uma guerra de hashtags no Twitter, discutindo com esquerdista e votando a cada 2 anos achando que isto vai mudar o rumo das coisas, pois não vai.

Precisamos de um trabalho de base sólido, como já bem disse em diversas oportunidades o professor Olavo. Precisamos ter bons jornalistas, bons autores, bons poetas, bons pensadores, bons formadores de opinião, bons pais de família, bons padres, bons maridos e esposas. Existe campo de trabalho absurdamente vasto para ser trabalhado que vai muito além de ser personalidade de rede social e depois candidato.

Estamos fazendo a nossa pequena parte, seguindo o conselho do professor Olavo, criando um muro de livros. “Os EUA e o Partido das Sombras” é a nossa humilde primeira contribuição, o nosso tijolo para esse muro.

Ivan: Aqui no Reino Unido temos um grande exemplo de onde podemos chegar. A revolução aqui também avança em diversas frentes, mas tem um adversário feroz pela frente, pois os conservadores no Reino Unido pautam o debate: dominam muitos setores da mídia (escrita e falada), possuem jornais impressos conservadores, possuem um trabalho de formação política profundo e com participação popular.

Para o britânico, é comum que os parlamentares venham para as bases, façam reuniões abertas com a população, sejam informados dos problemas locais e até mesmo cobrados se não estiverem atuando para resolvê-los. O Partido Conservador possui células ativas em todas as cidades da ilha, onde realiza reuniões abertas com seus filiados ou não, ouve os problemas e leva isso para dentro da política. Possui pessoas ativas trabalhando no dia a dia nas mais diversas áreas para que o resultado conjunto aconteça.

Com o PHVox, dentro de nossas limitações, queremos justamente ser uma peça desta engrenagem para o Brasil, por isso procuramos um meio de atuação que era carente no Brasil. Mesmo não tendo o apelo da hashtag do dia, ou mesmo da crise olímpica da semana, desenvolvemos resiliência para conseguirmos alcançar os resultados, depositando sempre o resultado final nas mãos de Nossa Senhora.

Terça Livre: Como membro dos apoiadores do PHVox, sei que há diversas novidades interessantes vindo por aí. Poderiam falar um pouco sobre algumas delas? O próximo lançamento da Editora PHVox, por exemplo?

Paulo: Temos um planejamento sólido para o ano de 2022, que envolve novas verticais e a ampliação do nosso trabalho dentro de tudo que foi exposto nas linhas acima. Na editora esperamos lançar ainda este ano o nosso segundo título. Posso adiantar que será o relançamento de uma grande mente do Brasil, um verdadeiro colosso intelectual. Ainda neste ano de 2021 temos um plano que irá envolver várias de nossas verticais de trabalho em um único tema, e já trouxemos um nome de peso para nos apoiar neste projeto.

Muito mais vem por aí, mas sabe como é: o segredo é caminho para o sucesso... TIC TAC!

__________________________

GEOPOLÍTICA

O ano é 1917, Rússia
(por Kauê Varela)

Quem poderia imaginar que uma dentre várias ideologias políticas aplicadas na forma de governo mudaria os rumos da história humana? O Professor Olavo de Carvalho repete à exaustão em seus cursos voltados à política que o poder só o é em sua forma pura se houver os meios de ação nos agentes. Também há o que ele chama de “agentes históricos”, que são aqueles cujas ações ultrapassam sua própria vida e, nesse sentido, os agentes históricos do comunismo são excepcionalmente bons no que fazem. Claro, sem entrar na ética ou moral de suas ações, mas unicamente na duração das mesmas e, sim, nesse ponto, todo elogio seria pouco.

Não se sabe exatamente se foi um tiro no escuro ou se aquela trupe de comunas sabia exatamente o que estava fazendo em 1917. O fato é que essas ações afetam nossas vidas por mais de 100 anos! 

Meu forte não é história, portanto, seja caridoso se eu falhar em algum ponto, mas em uma pincelada básica podemos dizer que o mentor dessa empreitada foi Lenin. No entanto, pouco aproveitou dos frutos, pois faleceu 7 anos depois da revolução russa, em 1924. Como consequência, surge um vácuo no poder. Houve certo rebuliço sobre quem seria seu sucessor, se Stalin ou Trotsky; alguns analistas posteriores, valendo-se do morticínio gerado por Stalin, afirmam que melhor teria sido Trotsky. No entanto, Robert Gellately, autor da obra “Lenin, Stalin e Hitler: a era da catástrofe social” afirma que o sucessor natural seria, sem sombra de dúvidas, Stalin. 

O livro “Manifesto comunista” de Karl Marx possui a célebre frase "Proletários de todos os países, uni-vos!¹". A pergunta implícita é: O proletário deve se unir para quê? Bom, posso garantir que não é para cantar “we are the world”! O manifesto comunista é uma declaração de guerra e estas palavras são a convocação para ela. Um dos membros da Intelligentsia que entendeu e atendeu este chamado foi, justamente, Stalin.

Seu governo foi basicamente terror e repressão elevados à milésima potência. Quando se estuda e compara, por exemplo, com as atrocidades nazifascistas, vemos que, na verdade, Hitler era um amador perto do que Stalin fez com seu próprio povo². Campos de concentração, trabalhos forçados levando seres humanos à morte por exaustão. Segregação, morticínio desenfreado e a descoberta das piores armas que se pode usar contra a humanidade: a fome e o medo! 

Concomitantemente, por volta dos anos 30, ascendia ao poder Adolf Hitler no “Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães”³, que desvirtuava o marxismo clássico. Enquanto as intenções de Marx eram globais (“trabalhadores de todo mundo...”)4, Hitler tentou um marxismo localizado na Alemanha. Enquanto o marxismo separava a sociedade em burguesia e proletariado, Hitler a separou em arianos e... bom, basicamente arianos e o “resto”. Ou seja, enquanto no marxismo clássico há uma falsa sociologia, no nazismo há uma falsa biologia.

Quem assistiu de perto essa desvirtuação foi Stalin, que decidiu retirar da gaveta um antigo projeto engavetado desde 1918: A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, e para Stalin, Hitler seria um ótimo protagonista nesse projeto.

Continua.

¹ No original: “Proletarier aller Länder, vereinigt euch!

² Caso deseje se aprofundar no modus operandi comunista, recomendo a leitura “O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror, Repressão”.

³ Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei; NSDAP. Curiosamente, mesmo com a palavra “Socialista” no nome do partido de Hitler há quem diga que tratava-se de um partido de “direita” ou “extrema direita”, como exemplificado na própria Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Nacional-Socialista_dos_Trabalhadores_Alemães 

4 Lenin entendeu essa intenção global do marxismo já em 1919 quando fundou o partido “Internacional Comunista” que, apesar de ser encerrado oficialmente em 1943, dura até os dias de hoje na prática.

__________________________

CULTURAL
O que queremos conservar (Parte III)
(por Paulo Moura)


O Cristianismo

Esse artigo é o terceiro de uma série de três, nos quais abordo a questão dos fundamentos da civilização ocidental moderna, que resulta da herança a nós legada pelas experiências da Civilização Grega Clássica, do Império Romano e do Cristianismo. No primeiro artigo abordei o legado da Civilização Grega, no segundo artigo, o legado do Império Romano, e nesse último, o legado do Cristianismo.

Lembro ao leitor que, para efeitos da análise que aqui farei, baseio-me na obra “História das Ideias Políticas”, escrita a seis mãos por François Châtelet, Olivier Duhamel e Evelyne Pisier-Kouchner, editada em 1982 na França e na versão em português, no início dos anos 1990, pela Jorge Zahar Editor.

O Cristianismo e o Islamismo têm origem nos Textos Sagrados do povo judaico, o Velho Testamento, e se constituem, junto com o Judaísmo, nas três primeiras religiões monoteístas.

O Cristianismo se diferencia das religiões anteriores pela afirmação de um Deus único, pessoal e criador de todas as coisas; Senhor da Lei. O surgimento do Islã data do século VII d.C., guardando, portanto, algum “parentesco” com o Cristianismo, muito embora com o tempo tenham se diferenciado em aspectos bastante marcantes. Dentre as semelhanças está a visão de que o homem se perdeu no pecado, mas tem a possibilidade da redenção oferecida por Deus em sua bondade, para quem quiser segui-lo. (p.28)

Diferentemente da tradição greco-latina, na qual a relação dos homens com as divindades era “intermediada” por sacerdotes, o monoteísmo oferece ao fiel a possibilidade da relação pessoal e direta com o Criador através da oração. Para gregos e romanos, a comunidade é obra da ação humana, e assim o destino do homem é obra do seu arbítrio e ação, ao passo que para o Cristianismo a comunidade é criação divina e o destino do homem está traçado nas Escrituras Sagradas.

Desde suas origens, o Cristianismo propõe, a partir da palavra de São Paulo, um “dilema” que planta as raízes do legado cristão à Civilização Ocidental moderna: trata-se da questão da relação do crente com a ordem temporal. (p.28) 

“Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” é a frase síntese de uma fórmula que proporá ao crente, numa época histórica em que o Cristianismo ainda era religião emergente, mas minoritária em meio à comunidade preponderantemente pagã, o conflito entre o serviço à Lei de Deus ou à Lei dos homens. 

A conversão do Imperador Constantino, longe de resolver esse dilema, o institucionaliza, num contexto em que o Cristianismo evoluiu da condição de simples religião para a condição de Igreja, cuja sede localiza-se na capital do Império.

Começa a nascer aí uma situação de dualidade de poder, entre a autoridade temporal do Imperador sobre as esferas política, administrativa e militar, num momento em que o Império sofre as primeiras ameaças de invasão pelos povos bárbaros, e por outro lado, pela autoridade do sucessor de São Pedro sobre assuntos espirituais, mas a partir de uma instituição hierarquizada e com crescente influência sobre o povo.

No século V d.C., Santo Agostinho, então bispo de Hipona, compreende que era preciso dar contornos mais claros à doutrina da Igreja sobre a questão do poder político, o que fará na obra “Cidade de Deus” (413-427). (p.29) 

Nessa obra, Agostinho sintetiza a história humana desde a criação até o século V, submetendo à lógica da racionalidade cristã, tanto elementos da herança profana de origem greco-latina, como cristã pelo Velho e pelo Novo Testamento. Para além das vicissitudes da Cidade dos homens, esboça-se nessa obra a ideia de que o desafio mais importante, que é o da glória de Deus, se impõe sobre a comunidade dos crentes. (p.29)

Enquanto o pensamento grego percebe o tempo pelos ciclos do cosmos, Agostinho define o tempo a partir de uma perspectiva linear, na qual há um começo, a Criação, e um fim, a Ressurreição dos justos. Nesse contexto, o pecado original, a aliança do povo judaico com Deus, o sacrifício do Messias e a fundação da Igreja são etapas desse devir sagrado. 

A partir de então, recai sobre os ombros da comunidade cristã a responsabilidade dupla de lutar pela salvação da própria alma através do respeito aos mandamentos e, ao mesmo tempo, lutar pela expansão e triunfo espiritual da Igreja. Nesse contexto cabe ao crente como membro da Igreja, a condição de militante da evangelização dos pagãos.

Nesse período, o Cristianismo, que nasceu como religião perseguida e de uma minoria, vive sua ascensão, e a Igreja, a essa altura, já se constitui em instituição sólida, organizada e hierarquizada que, a partir de seus dogmas, legitima-se como perseguidora de heresias e definidora de exclusões. A base dessas práticas é o Direito Canônico e seus tribunais, que surgem como legislação para regular sua conduta interna, embora legiferando para toda a comunidade.

Aos príncipes como membros da Igreja cabe, como missão evangelizadora e seu primeiro dever, a obrigação da conversão dos povos pagãos na forma das Cruzadas, expedições à Sepultura de Cristo dos séculos XI ao XIII. (p. 30)

Como já antecipado, o Islã surge no século VII na Arábia, mas expande-se rapidamente pelo Oriente-Próximo, o norte da África e chegando à Espanha. Diferentemente do que ocorreu com o Cristianismo, com a demarcação das esferas de autoridade do Papa e do Imperador, no islamismo a ação de Maomé cria simultaneamente uma intersecção entre os espaços político e religioso, inexistindo dessa forma uma instituição religiosa islâmica equivalente à da Igreja.

Dessa forma, religião e poder, separados a partir da doutrina da Igreja cristã, permanecem fundidos no islamismo, sendo atribuídas aos califas (mensageiros de Deus) as funções de sucessão do profeta Maomé e de condução política, militar e religiosa dos povos de fé muçulmana. 

Nesse contexto insere-se a Jihad (guerra santa) dos islamitas, para que judeus e cristãos conheçam a palavra de Alá e integrem-se como convertidos através do proselitismo guerreiro, à Ummah (comunidade muçulmana), originalmente reservada apenas aos árabes. 

A expansão do islamismo, por sua vez, irá gerar cisões, antagonismos políticos e diferenciações quanto à interpretação do Corão que praticamente anulam a unidade original dos seguidores da fé islâmica. Essas divisões estão presentes até hoje nas diferentes interpretações do Corão praticadas por grupos muçulmanos diversos que, por vezes, se confundem com etnias com origem no passado tribal dos povos que professam essa fé. Todas, no entanto, têm em comum a fusão entre religião e poder, que na tradição cristã ocidental foram separados. (p.31)

O pensamento agostiniano demarca para os seguidores da fé cristã, através da Teoria das Duas Espadas, a separação doutrinária e prática da Auctoritas, a mais alta dignidade que atribui ao Sumo Pontífice o poder e a autoridade sobre assuntos morais e religiosos da comunidade, e a Potestas, princípio a partir do qual atribui-se ao Rei a autoridade sobre assuntos militares, políticos e administrativos.

Assim nasce a semente da separação entre religião e poder, legado cristão ao pensamento político da civilização Ocidental que, com as revoluções burguesas dos séculos XVI, XVII e XVIII irá se consolidar com o total apartamento entre a Igreja e o poder de Estado.

Na origem, no entanto, embora pela doutrina cada um fosse soberano em seu domínio, seguiu-se um longo período de conflitos entre os papas e os reis, ora com os primeiros submetendo os segundos ao poder e aos desígnios da Igreja, ora com os reis submetendo a Igreja à sua autoridade para realizar seus apetites de glória e conquistas. (p.32)

A fragmentação e decadência do Império Romano deu origem ao feudalismo, um período de cerca de mil anos em que a Igreja compartilhou o poder com os reis até que, no século XI, tem origem, especialmente na Inglaterra e na França, o surgimento dos estados nacionais como consequência da Revolução Comercial.  Emerge na cena política da época a burguesia, classe em ascensão, interessada na demarcação dos territórios das novas nações como forma de organizar e expandir os fluxos de comércio, com a criação das moedas, das leis e dos exércitos nacionais.

É nesse contexto que Santo Tomás de Aquino (1225-1274), antevendo as transformações sociais de seu tempo, reformula a doutrina da Igreja sobre a questão do poder e da soberania. Mesmo sem ter a intenção de legitimar o poder dos reis, na prática é o que ocorre, pois a doutrina de Tomás de Aquino, diferentemente da doutrina de Agostinho, que defendia a ideia da origem divina da soberania, propõe a ideia de que Deus concede a soberania ao povo, cabendo a este legitimar ou não o poder dos reis e podendo, inclusive contra eles, se rebelar em caso de tirania.

A sutileza da diferença está em aproximar a doutrina da Igreja sobre a soberania da visão greco-latina segundo a qual o destino da comunidade é obra do arbítrio humano que, para Tomás de Aquino, ocorre por inspiração divina, embora pela escolha dos homens.

Para Tomás, a Cidade, na ordem da Criação, é um fato natural e, se Deus quer que os homens vivam em sociedade, a questão do poder, cuja finalidade é assegurar a unidade da comunidade, no plano geral da Providência, é missão humana e não desígnio de Deus ou de seu representante. Cabe aos homens o exercício do bom poder, portanto, e à Igreja a incumbência da Salvação Eterna.

Segue-se o curso da história com a formação dos estados nacionais modernos em todo o Ocidente cristão, com os laços pessoais típicos das relações de suserania, sendo gradativamente substituídos por hierarquias jurídico-administrativas, e com a soberania sendo exercida não mais apenas sobre indivíduos, mas sim sobre territórios num contexto em que nem mesmo os monarcas podem infringir as regras pactuadas de convivência dentro do espaço geográfico das nações.

Dessa forma, completam-se os três pilares fundacionais da civilização Ocidental moderna, legados como:

  1. princípio de igualdade dos cidadãos, senhores dos destinos da Polis grega;
  2. a ideia de sociedade baseada no princípio do Pater Famílias, regida por leis escritas e gerida por instituições jurídicas, políticas, administrativas e militares sob o comando de representantes eleitos pelo povo, tal como na República Romana; e,
  3. princípio da separação entre religião e poder, a nós legado pela Teoria das Duas Espadas de Santo Agostinho, e pela doutrina de Santo Tomás de Aquino sobre a soberania, que resgata a tradição greco-latina do controle do homem sobre os destinos da comunidade, ainda que sob inspiração divina.

Foi a partir dessas ideias, valores e princípios que se erigiu no Ocidente, como experiência única, um modelo de sociedade integrada por cidadãos livres, senhores dos seus destinos e tratados como iguais perante a Lei.

Isso é o que os conservadores querem conservar. 

Isso é o que está ameaçado pela ofensiva da esquerda revolucionária em seu objetivo estratégico de destruir a família e os fundamentos da sociedade livre, assim como está ameaçado pela ofensiva da Jihad islâmica, ainda presa à ideia de fusão entre religião e poder político e da conversão forçada dos infiéis aos desígnios da fé muçulmana, enquanto para a civilização Ocidental judaico-cristã, a fé religiosa é assunto da esfera privada e da livre escolha dos indivíduos.
__________________________
__________________________





REVISTA "A VERDADE" - Ed. 55, de 20/09/2021 (Uma publicação digital semanal do Jornal da Cidade OnlineAssinar a revista


OPINIÃO


Houve Uma Vez em Hollywood

(por Giorgio Cappelli)

Olavo e a diversidade em Hollywood - Giorgio Cappelli

Sou de uma época em que se ia ao cinema por diversão. Pessoas não tinham vergonha de torcer pelo herói, aplaudi-lo e “conversar” com ele. Mesmo que fosse um ator projetado numa tela em duas dimensões.

E ainda assim, sabíamos distinguir a ficção da realidade. Praticamente ninguém imaginava que após uma sessão de Rambo ou Comando para Matar, todos deixariam a sala de projeção desejosos por adquirir uma metralhadora para sair assassinando a torto e direito.

Gostávamos de ver histórias de gente comum envolvida em situações extraordinárias; nos deleitávamos em ver James Bond e Indiana Jones escaparem do perigo com soluções que, apesar de improváveis, nos divertiam. Infelizmente, isso vem acabando aos poucos. Quer exemplos?

1) Depois de apanhar muito e sangrar litros de sangue, super-heróis cheios de poderes derrotam seus algozes recrudescendo o ataque com força inexplicavelmente ampliada. Nenhuma vitória advinda de solução inteligente, como se via nos quadrinhos em que se baseavam essas produções.

2) No lugar das sequências de perigo, os filmes de aventura atuais, salvo exceções cada vez mais raras, resumem-se a lutas, tiroteio, explosões e perseguições. E dá-lhe ensaiar coreografias com Keanu Reeves, Liam Neeson ou Jason Statham. Saudade de ver algo como John McClane pulando do topo do Nakatomi Plaza amarrado a uma mangueira de incêndio. Ou Marty McFly correndo pelo lado de dentro de um conversível prestes a atropelá-lo e aterrissar certinho no skate que o acompanhava, passando por baixo do veículo. Ou John Rambo enfrentando policiais apenas com uma faca e armadilhas preparadas na floresta.

3) Comédias que parecem escritas por imberbes de doze anos que jamais beijaram uma garota: flatulências e insinuações de sexo (acompanhado ou solitário). Adam Sandler reina soberano.

4) Refilmagens com mulheres a substituir homens e fracassando vergonhosamente nas bilheterias (as versões recentes de Caça-Fantasmas, Guerra nas Estrelas e Exterminador do Futuro não me deixam mentir).

Por que isso vem acontecendo? Mais uma vez, graças ao avanço da agenda esquerdista. Há tempos, os chineses vêm comprando estúdios norte-americanos (https://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-118516/). Não se iluda: se ninguém tomar uma atitude, a qualidade das produções vai piorar. Até mensagens subliminares de desrespeito ao cristianismo tornaram-se comuns. Ou você acha que é obra do acaso um pistoleiro disparar um revólver dentro de uma igreja na mais recente versão de Sete Homens e um Destino (2016) ou em A Máscara do Zorro (1998)?

Enquanto vão escasseando os filmes com poucos recursos, que obrigam o roteiro a ter soluções inteligentes; enquanto desaparecem piadas nascidas de situações em que mal se dizia uma palavra; enquanto abundam as referências à cultura pop para o expectador pensar que é inteligente quando as percebe... minha coleção de DVDs de filmes oitentistas só aumenta.

Giorgio Cappelli é autor das True Outstrips e não consegue entender como os canudos, que eram feitos de plástico, agora são produzidos obrigatoriamente com papel, e as sacolas de supermercado, que eram de papel, são fabricadas com plástico.


__________________________
__________________________

HUMOR


(20/09/2021 - republicado)


"Com a saída de filiados do partido "velho", Amoeba deveria se candidatar era para presidente sindical..." (@SalConservador)
(17/09/2021)


"Porque não chamam logo o pessoal da série ARQUIVO X...Man facepalmingMan facepalming" (@SalConservador)
(18/09/2021)


""Demagogia do Oprimido"" (@SalConservador)
(21/09/2021)


"Enquanto isso na CPI do Circo... Calma "Simony do Tablet"...assim tua pressão "cai pra cima" ou "sobe para baixo"." (@SalConservador)
(21/09/2021)

__________________________
__________________________

LEITURA RECOMENDADA

Além do livro do PHVox e do Ivan acima, que vai com certeza entrar na minha lista de leitura, lhes recomendo hoje uma ficção do Kafka sobre um cara que sofre um processo... cujo objeto ele não conhece... que ele não sabe quem é o autor... que ele não conhece nada a respeito. Não, eu não estou falando de Allan dos Santos, nem de nenhum contemporâneo nosso preso ilegalmente sem ter cometido crime algum. Kafka realmente imaginou isso em seu tempo! E a ficção, assim como 1984 de Orwell, de repente virou a realidade em que vivemos e o ar que respiramos... bem diante de nossos olhos...

Comprar

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Edição XCI - Terça Livre, opinião do autor e mais

Edição XC - Extraordinária de fim de ano (Terça Livre, Revista Esmeril 51, Revista Exílio, espaço do autor e mais)

Edição LXXXV (Terça Livre, Revista Esmeril 47, opinião e mais)