Edição XIII (Revista Terça Livre 103, opinião e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Terça Livre, da qual sou assinante, com autorização pública dos próprios autores da revista digital. Nenhum texto aqui pertence a mim, todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.



COMPORTAMENTO
O tal do verde da grama
(por Brás Oscar)


Adoramos citar a frase do Chesterton sobre ter de provar que a grama é verde. O conservador criou uma crença ingênua de que, não importa o teor do debate, como ele crê na verdade, como ele acredita que a grama é verde, ele vencerá qualquer disputa de argumentos, afinal, alguém tem de ser muito burro para ser esquerdista, não é?

Lembro-me de uma senhora, ouvinte de um antigo podcast que eu apresentava, que entrou em contato comigo, em prantos, porque fora humilhada num debate. A tal senhora era professora na rede pública e vivia acossada pelos colegas por conta de suas posições conservadoras. Um dia ela resolveu ir à forra, desafiando uma colega de trabalho para um debate sobre Paulo Freire. O objetivo da brava professorinha era provar que a grama era verde, provar que a culpa da desgraceira generalizada na educação nacional era o tal método Paulo Freire.

É obvio que a pobre senhora se estrepou. Por quê?

1 - Porque não existe de maneira consistente algo na obra de Paulo Freire que possamos chamar de “método”. O pedagogo da extrema-esquerda era um discípulo do Patropi da Escolinha do Professor Raimundo, suas ideias são esboçadas de modo prolixo, sem uma linearidade de discurso: impossível dizer se aquilo é um texto científico mesmo. Essa autodialética da esquerda é proposital; nada precisa fazer sentido se submetido ao escrutínio da lógica e da moral, basta receber o status de aprovado pela intelligentsia. A confusão inerente de suas teses é o labirinto que prende os incautos que se aventuram a combater o Minotauro da revolução.

2 – Porque não importa a pureza das suas intenções, se você não domina intelectualmente o assunto que será debatido e – esta parte é essencial – não possui uma boa retórica, provavelmente o Espírito Santo não descerá sobre você só para lhe dar o gosto de ganhar um bate-boca. É preciso saber também quais debates valem a pena. Dificilmente você convencerá a opinião da torcida do adversário e, mais difícil ainda, também não convencerá o próprio adversário: você só entra em debate para convencer a opinião dos indecisos no público.

A esquerda tem uma massa militante geralmente muito inculta, é fato, mas a massa militante da direita não está longe dessa descrição, infelizmente. O que ocorre é uma epidemia de incompetência no Brasil, onde até aquele que exerce algum papel intelectual na esquerda acaba sendo miseravelmente tonto, e isso está se tornando cada vez mais evidente com o despertar da consciência do brasileiro, anos à frente da de muitos países aqui da Europa. O rombo que o filósofo Olavo de Carvalho causou na carapaça da esquerda é imenso, mas isso não basta para você, que não estuda 4 horas por dias há 10, 15 anos, sair por aí bancando o Ben Shapiro.  

Hoje, numa conversa com uma leitora, ela dizia como sua antiga professora de geografia havia lhe ensinado uma série coisas erradas e associava isso ao fato da velha docente - para variar - ser esquerdista. Infelizmente não é verdade. Os professores aqui em Portugal não são menos vermelhos que os do Brasil, porém, uma coisa é certa: o ensino de língua portuguesa, matemática, história e geografia básicos aqui é um dos melhores da Europa. Mais tarde me lembrei de um professor que eu tive, um sujeito muito bom, conservador, mas péssimo professor.

O nível cultural de alguém jamais terá qualquer vínculo com suas visões políticas e nós nos enganamos muito com isso, pois tomamos por inteligência o mero acúmulo de informações ou habilidades cognitivas, como saber várias línguas ou conseguir extrair música de um piano… oras, eu já vi ciganos analfabetos falarem 8 línguas facilmente e já vi um sujeito que mal conseguia comer mingau sem auxílio de uma babá tocar Schubert. E então, o que é inteligência?

Inteligência é utilizar toda aquela informação acumulada, os anos de estudo, os idiomas, as habilidades cognitivas, para buscar ardentemente conhecer a verdade. Não basta você acreditar que eu estou lhe dizendo que a grama é verde; para você conseguir provar que a grama é verde, você precisa antes conhecer, saber que a grama é verde e entender como se deu esse processo de conhecimento, de percepção da verdade. Quando você conseguir isso, aí sim, não hesite sair por aí abrindo os olhos dos cegos, afinal, não omitir o que se sabe é também parte fundamental de outra coisa que Olavo de Carvalho ensinou-nos: honestidade intelectual.

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Girando em círculos, a caminho do nada
(por Bruno Dornelles)

Quando foi popularizado o termo “nova direita”, parecia que ele havia caído do céu para alguns sujeitos que sempre sonharam combinar a defesa rasa de valores universais e ocidentais - nos quais nunca penetraram com uma sincera atividade intelectual em explorá-los e conhecê-los devidamente - com as pompas e com o prestígio que havia sido iniciado com a resposta ao movimento revolucionário no Brasil. Daí que, o esforço empregado solitariamente por Olavo de Carvalho, ao iniciar um processo mimético positivo de conquistar os primeiros indivíduos a imitarem a sua inteligência política, assim criando as primeiras resistências à revolução brasileira, foram ao final rejeitados por pessoas que, sob uma impressão muito delicada e nada metafísica, mal sabiam o que estava acontecendo senão por elementos muito óbvios como os índices de criminalidade e de economia, e que, por essa baixeza, hoje giram perante o nada para que não se resulte em coisa alguma.

Estes seguem perante os meios já existentes e dominados pela esquerda, onde se orgulham da sua própria capacidade de dialogar, enquanto convertem toda batalha por reconquista civilizacional por um simples empreguinho. É a definitiva prostituição de seus ideais sem nem saberem o quanto estão sendo derrotados na guerra sem equidade promovida pela revolução.

Cegos, atacam o bolsonarismo, o “autoritarismo" das tias de zap, sem nem perceberem que estão ocos e constantemente mudando de ideia. Isso, enquanto repetem aos ares serem a defesa de uma “terceira via”, que, justamente em razão de seus óbvios e combinados vácuos de inteligência, nunca surgirá. Não obstante, ainda consideram uma “maturidade" a constante mudança de ideias, o equilíbrio de discursos. Não percebem eles que estão entregando o ouro do que seria o seu ideal referente, enquanto preferem nunca se impor, mas sempre trabalhar por uma posição própria de superioridade, sem nem avistar o quanto estão se tornando histéricos e contaminando suas almas com o que há de mais vil no mundo sobrenatural.

Evidentemente, a condição dessas pessoas sempre foi a pressão das convenções sociais. A opinião que gira em autoproclamadas superioridades, com exames frequentes de “mea culpa” aos simpatizantes do seu lado, já que, o que verdadeiramente importa é a possibilidade de suas próprias sobrevivências dentro dos meios não pertencentes à direita.

Se o trabalho desses sujeitos fosse a reconquista de ideais, desde o processo religioso de harmonizar a própria alma, até a materialização da busca de uma vocação por exercício constante e difícil de compreender a si mesmo, talvez tudo seria diferente e estaríamos com um movimento mais coeso que rumasse à reconquista de tudo que prestava e funcionava. Mas não.

Nossa inteligência já é escassa no Brasil e a pessoa de maior inteligência, cujo Curso Online de Filosofia está recriando uma classe intelectual que já brilha perante a sociedade, é vendida por esses como “radical”, “rude”, “incoerente" e “fundamentalista”. Claro, para quem busca os louros e o carreirismo antes da preparação e da fortaleza própria, cabe apenas choramingar, mudar de ideia constantemente e gritar como um histérico nos meios escusos à resistência.

Primeiro, tentaram nos vender o MBL. Depois, o Partido Novo. Depois, diziam que descobriram a “inteligência" em clubinhos objetivistas que liam Ayn Rand e que repetiam sobre a “virtude do egoísmo” (sic). Depois, criaram suas castas de limpinhos que se orgulhavam de apenas reproduzirem ideias “supercentradas" de autores que só estavam traduzidos graças ao professor Olavo de Carvalho. Por fim, acreditaram em Sergio Moro e se isolaram perante a popularização gigantesca de bases conservadoras, enquanto eles já apodrecem e são esquecidos naqueles meios convencionais.

Poderia, sim, citar inúmeros desses sujeitos que vêm à nossa mente. Mas, assim como no processo de proclamação da degradação da alma dos envolvidos no livro O Imbecil Coletivo, isso tornaria este artigo também degradado pelo tempo. Como a intenção é de perpetuá-lo e fazê-lo servir com o imaginário do presente, é preferível abster-se dos nomes para não provocar o leitor futuro a desenterrar defuntos jornalísticos e opinativos que já foram esquecidos pela inutilidade e incapacidade de entregar algum bem perpétuo. E poderia ser diferente.

Faz todo o sentido a rejeição dessas pessoas à filosofia de Olavo de Carvalho. Afinal de contas, qual sentido faria para elas um ideal forjado, uma personalidade forte, um imaginário rico e capaz de criar seus próprios meios para serem dominados apenas por semelhantes? Ou mesmo, que sentido faria a contemplação amorosa diante de suas carreiras e do público elitizado que, ao invés de pautar ideais, hoje persegue apenas o senso comum? É claro que precisam vender um filósofo como um político, pois este argumento mentiroso é o que depende para sobreviverem a aquele (curto) período de permanência na história. Culpa daquela desconhecida imaturidade e mediocridade travestida pela técnica dos timbres de fala e das suas poses forçadas na decoreba de citações de autores.

“Ah, mas eu pensava estar sendo sensato e utilizando meus próprios miolos”. Ora, se ao menos o autoexame levasse ao conhecimento próprio do que eles, assim como nós, somos perante a própria realidade e o próprio cosmos… Se entendessem que a verdade metafísica precede a todas as ações, antes do que as convenções sociais vendem como sucesso… Mas não. São giros e mais giros assoberbados e sem o menor fundamento. Ora, se da queda dos anjos, onde o próprio Lúcifer assoberbou-se achando que do poder das luzes e das trevas reinaria acima de Deus, por que estes sujeitos ainda pensam que podem combinar as luzes da sensatez da direita com os meios possuídos culturalmente pela esquerda? Os tempos passam, mas o erro é sempre o mesmo.

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CULTURAL
À Mãe do Perpétuo Socorro
(por Leônidas Pellegrini)


Domingo foi dia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, cuja devoção começou em 1870, a partir de uma história que começa no século XIII, com um quadro de Nossa Senhora em estilo bizantino, inspirado na primeira pintura da Mãe de Deus, atribuída a São Lucas, a “Hodegétria”.  

Diz a história que ela foi roubada por um comerciante na ilha de Creta, na Grécia, no século XV. Esse comerciante, em viagem de volta a Roma, teria sofrido um naufrágio em meio a uma tempestade em alto mar, e sobreviveu graças à proteção de Nossa Senhora, pela qual clamou. Quando chegou a Roma, ele adoeceu mortalmente e deixou a um amigo a missão de devolver a imagem a uma igreja, como forma de reparação de seu ato sacrílego. No entanto, o ícone ainda ficou em posse da família do comerciante por mais um tempo, até que, por intercessão de Nossa Senhora em uma aparição à sua filha de 6 anos, foi, em 27 de março de 1499, entregue e entronizada na Igreja de São Mateus, onde permaneceu por mais de 300 anos. 

Com a invasão dos franceses a Roma no século XVIII, a Igreja de São Mateus foi destruída, e os agostinianos que guardavam o ícone o esconderam por cerca de 30 anos, até que ele foi reencontrado pelos redentoristas, a quem foi entregue a guarda, em 1866, pelo Papa Pio IX, com a seguinte recomendação: “Fazei com que todo o mundo conheça esta devoção”. Fizeram, então, diversas cópias da imagem e a espalharam por todo o mundo. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro passou a ser oficialmente reconhecida como Padroeira dos Redentoristas e sua festa passou a ser comemorada em 27 de junho. 

Desde então, a imagem permanece na Igreja de Santo Afonso de Ligório, seu devoto. Enquanto ícone bizantino, o quadro é o mais venerado no mundo. Sua simbologia é bastante rica. Entre diversos detalhes, Nossa Senhora traz no colo o Menino Jesus e seu olhar é entre grave e sereno, e algo melancólico. Rodeiam a Mãe e o Filho os arcanjos Gabriel e Miguel, que trazem em suas mãos a cruz, a lança e a vara com uma esponja, objetos da Paixão de Cristo (na Igreja Ortodoxa, a imagem recebe os nomes de “Mãe de Deus da Paixão” e “Virgem da Paixão”). O Menino Jesus, um tanto assustado, deixa cair uma de suas sandálias. O colo da Mãe representa seu amparo perpétuo, que se estende a nós, seus filhos adotivos. 

Além de ser a Padroeira do Mato Grosso do Sul, estado a ela consagrado, onde moro há quase dois anos e que espero ser o lugar onde vou me enterrar, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro tem uma importância singular em minha vida, pois, não fosse sua intercessão, há 33 anos, eu hoje talvez não fosse muito do que sou. 

Explico: há 33 anos, minha esposa Fernanda, então com 7 anos de idade, adoeceu gravemente, e não houve ciência que sequer diagnosticasse de que mal ela sofria. O último médico que a examinou foi sincero com minha sogra: que a levasse a um padre, se fosse católica, ou a um pastor, se fosse protestante, ou ao representante religioso que fosse, pois a medicina ali na cidade de Umuarama, no Paraná, nada mais poderia fazer pela pequena. 

Era tarde da noite. Dona Maria rodou a cidade procurando por algum padre que intercedesse pela filha, nem que fosse para prepará-la para a viagem derradeira. Os capuchinhos da Catedral não atenderam, mas, a exemplo da Mãe que se propôs a nos amparar até o fim dos tempos, Dona Maria continuou pela cidade, com a pequena no colo, até encontrar uma igrejola de madeira, em um bairro distante. Era a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Foi atendida pelo Padre Dantas, que por horas rezou clamando pela intercessão da Mãe do Perpétuo Socorro. Ao amanhecer, a menina estava curada e bem. 

E onde exatamente entro eu nessa história toda? Bem, Fernanda é daquelas mulheres que providencialmente encontram aqueles caras perdidos, percebem que naqueles tontos pode ter algum potencial e mostram a eles que pode haver um caminho um tanto melhor que aquele que eles iam trilhando - aquele clichê do tipo “te conheci moleque e te transformei em homem”. De fato, e não me envergonho de assumir, foi e ainda é assim comigo. Foi Fernanda quem me apresentou a Nossa Senhora, a São José, ao Pai, ao Filho, ao Espírito Santo, à Igreja. Ela me coloca, sobretudo, nos caminhos da paciência e da temperança. Como eu disse, não fosse ela em meu caminho, não sei quem seria eu e onde estaria hoje. Certamente, não seria quem sou, pois, assim como boa parte do que ela é hoje, sou eu, boa parte do que eu sou hoje, é ela (e acredito que fiquei com a melhor parte). Por isso, agradeço todos os dias a Ela, à Mãe do Perpétuo Socorro, que, assim como a seu Filho, amparou no colo e cuidou daquela a quem Deus destinaria a mim. A Ela, pois, deixo alguns pobres versos para arrematar este pobre artigo. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rogai por nós!

Ó, Mãe do Socorro, 

ó, Mãe da Paixão,

ampara e protege 

o povo cristão.

Ó, Mãe do Socorro,

ó, Mãe tão amada,

ampara-me a vida,

a Ti consagrada. 

Ó, Mãe do Socorro,

a Ti agradeço

por todo esse amor

que pouco mereço.

Ó, Mãe do Socorro,

ó Mãe tão querida,

ampara-me a alma

e salva-me a vida.

Ó, Mãe do Socorro, 

do demo algoz,

protege-nos todos 

e roga por nós!
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OPINIÃO DO AUTOR

Como retomei o caminho da fé
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
29 de Junho de 2021


Pensei em não escrever sobre isso, mas algo lá no fundo me disse que pessoas interessadas deveriam saber sobre isso. Não por mim, pois o mérito é todo de Deus, Ele que realizou essa transformação em mim, mas para que mais pessoas se encorajem e também o façam.

Eu nasci em um berço Católico e sempre fui encorajado a seguir meus pais em sua devota fé em Deus. Minha mãe, minhas duas avós, minha tia, irmã de minha mãe sempre andaram em círculos de amigos e amigas em que a fé das pessoas era forte. Meus pais sempre frequentam a missa de sábado ou a dominical, e eu estudei em escola Católica com freira e tudo, o Colégio Auxiliadora. Pois bem.

Acontece que quando você é um aborrescente, um jovem em pleno início dos anos 90, você quer fazer de tudo menos seguir seus pais na religião ou mesmo ouvi-los. Assim, eu também fui um desses jovens descabeçados que queriam mais era praticar a anarquia reinante da época e se desviar de qualquer coisa que fosse do Alto. E o pensamento nadava por essas águas, claro: "aihn, toda hora esse negócio de Jesuzinho, Maria e Deus pra lá, Deus pra cá, que saco!! Não quero saber de nada disso, quero fazer uma tatuagem, usar brinco na orelha, andar com meu jeans e tênis descolado, ouvir meu rock'n'roll e que se dane a religião! De repente Deus nem mesmo existe, caramba! Parem de me atazanar com isso!"

Era basicamente esse o meu pensamento na época. Algumas dessas coisas eu, claro, não dizia, mas sentia. Ia na missa por obrigação e não tinha a menor paciência para ouvir o que o padre ia dizer. Pra mim aquilo tudo não passava de uma grande perda de tempo, e quanto mais cedo acabasse, mais cedo eu poderia voltar às minhas atividades mundanas e corriqueiras, sem Deus no meio. A soberba estava, obviamente entre as coisas que me acometiam, pois todo mundo se ajoelhava na hora da Eucaristia, e eu ficava de pé porque achava aquilo humilhante. Como eu disse antes... cabeça de jovem BURRO, ORGULHOSO E TAPADO. Um jovem, como diz o Padre Paulo Ricardo, trotando a passos largos para o Inferno.

Com os anos eu fui crescendo, e essa mentalidade foi me dominando. Claro que a influência de uma escola Católica acabou, como se diz, "segurando meus cavalinhos" de jovem ignorante e que queria seguir a massa de jovens igualmente ignorantes; teve até uns anos que passei a compor o grupo de violão da escola nas comemorações de 24 de Maio, dia de Nossa Senhora Auxiliadora, e então tocava no grupo da escola nas missas do Teatro Municipal, e isso me dava alguma espiritualidade, mesmo que as portas do meu coração estivessem meio fechadas ou mesmo que eu fosse ainda muito tonto para entender aquilo. Sou grato todos os dias a meus pais por isso. 

Continuei obedecendo meus pais, e ia na missa mais para agradá-los, pois sabia que aquilo os deixava felizes, e em um dado momento da minha vida, entrei para um grupo de jovens na igreja perto de casa. Lá, eu passei a exercer uma atividade que achava condizente com minhas aspirações: tocava violão no grupo de música. Meus pais insistiam para que eu fosse mais ligado à Deus, mas eu não dava muita atenção, claro, dentro da igreja eu já não era assim mais tão rebelde como antes, mas ainda achava que Deus já estava de saco cheio de tudo aquilo, contudo, procurava me enturmar e seguir os ritos como todo mundo. Aos 20 anos, ainda tinha essa cabeça desnorteada. Sendo assim, eu basicamente me tornei um Católico jujuba. Fazia as coisas na igreja, tocava meu violão, mas tinha vergonha de cantar aquelas músicas. Não por ter a voz ruim, mas porque eu basicamente... tinha vergonha de Deus. É embaraçoso de dizer, mas era isso. Eu tinha vergonha de ser ligado a Deus e me preocupava com o que minhas amizades e conhecidos descolados iam pensar de mim se me vissem ali. Após uns 3 ou 4 anos, mais ou menos, eu saí do grupo de jovens, e voltei à minha rotina mundana e secular. "Igreja nunca mais!", pensava eu na minha ignorância. E novamente os anos foram passando e eu mergulhei não somente no mundo, mas também não ia mais à missa. Era Católico só de nome.

Porém, Deus vai dando sinais para nós. Ele, em Sua infinita sabedoria e misericórdia, vai nos guiando pela vida e nos mostrando coisas, e como bom Pai e Pedagogo que É, vai nos impondo castigos e dificuldades também. Não porque Ele goste de castigar, mas para que a gente perceba que estamos no erro e nos voltemos para Ele. E aí veio 2013, o início da época política que estamos vivendo. Aos poucos, eu fui me descobrindo conservador. E ao me descobrir conservador, eu fui reafirmando coisas que eu dizia lá atrás, mas não sabia muito bem porque dizia. Eu sempre, por exemplo, amei minha família, mesmo tendo gente à minha volta, na mídia e em outros lugares dizendo o quanto que os pais eram retrógrados e castradores. Mas eu sentia, lá no meu íntimo, que eu amava meus pais mais do que tudo, e que eles sempre foram bons para mim, mesmo nas vezes que eu era levado a pensar o contrário. Eu achava um absurdo esse negócio de movimento gay, do arco-íris (o arco-íris mundanizado, claro) e continuava achando que meninos e meninas sempre seriam meninos e meninas. Esta foi a época que eu começava a descobrir que meus pais estavam certos em muitas coisas. E foi assim que Deus começou a corrigir o meu rumo com muito mais frequência e velocidade.

Fui encontrando pelo caminho outros sinais. Por exemplo, fui descobrindo padres conservadores, ou que simpatizavam com conservadores e vivem na retidão, falando às pessoas por meio da internet. O primeiro deles foi o Padre Paulo Ricardo, que me foi apresentado através de uma série de palestras em 6 partes em que ele explica sobre o Marxismo Cultural e a Teologia da Libertação, e o quanto isso era nocivo. Isso já em 2015. Ele dizia muitas coisas e eu pensava "caramba, eu sempre pensei dessa forma, rapaz!" Mas minha vida na religião ainda era fraca e sem propósito. Porém, eu fui percebendo que muitos conservadores eram cristãos, e boa parte deles eram católicos, e não tinham vergonha alguma de dizer isso. Exemplos não faltam, como Bernardo Küster, Allan dos Santos e o pessoal do Terça Livre, Daniel Ferraz, e por aí vai. Na época, outros youtubers também o diziam, e o filósofo e professor Olavo de Carvalho também o dizia. Como eu me identificava com todas essas pessoas, isso teve um enorme efeito em mim, que comecei a raciocinar e pensar, "opa... peraí... tem gente aí no meio que é até mais nova do que eu! Então... eu também não devo ter vergonha da minha fé! Que raios eu estou fazendo?? Eu sou conservador ou não sou? E ainda... eu sou católico mesmo ou não? Claro que eu sou! Não posso ter vergonha disso! Se eu tiver vergonha disso, Deus vai ter vergonha de mim... e se esse for o caso, só me resta o caminho do inferno. Eu não quero ir para lá! VOU ME REAFIRMAR CATÓLICO!"

E foi assim que eu escapei de me tornar um ateu. Sim, porque era esse o caminho que eu estava tomando. Mas eu ainda não rezava todos os dias. 35 anos nas costas e eu ainda não tinha enxergado as coisas com clareza.

Então eu tive eventos que me marcaram. Em 2019, eu sonhei algo que me afetou lá no fundo da alma; sonhei que estava em um lugar enorme e azul como o céu, envolto em nuvens. Do meu lado esquerdo, eu via um ente enorme, branco como as nuvens, cujo tamanho eu não conseguia mensurar e nem mesmo a grandeza, muito menos a aparência. Eu, pequeno e insignificante, do lado direito, ficava quieto olhando, enquanto este ser enorme e que parecia infinito manipulava as coisas lá na frente ao longe, e eu via que tudo que... me permitam... Ele manipulava, mudava lá na frente. Para mim se tratava de Deus. Deus ao meu lado. Não há outra explicação para eu me sentir tão tranquilo e em paz nesse sonho. Sim, porque o que eu sentia, estando ao lado daquela nuvem enorme manipulando tudo, era paz, uma paz que eu não consigo nem explicar! Eu sentia que estava sendo protegido. Eu me sentia tão tranquilo, e tão em paz, que eu não queria mais sair dali onde eu estava. 

Na segunda parte do mesmo sonho, eu me via em frente a uma construção cheia de muros feitos de ouro, um ouro límpido e onde eu estava era um quintal com uma fonte que jorrava a água mais límpida que você pode imaginar. Era tudo azul e etéreo, e uma atmosfera divina pairava no ar. Essa construção de ouro parecia muito com a que é descrita no livro do Apocalipse. E neste quintal, estavam pessoas de todas as eras do mundo, cavaleiros, escritores, uma miríade de pessoas esperando para cruzar os portões daqueles muros, e eu ia andando tranquilamente e em paz por aquele lugar, sem me preocupar com nada, e ouvia um dos presentes dizer "ah, quem se importa, acabou mesmo, é o fim!" Mas o fim de quê? Eu ia chegar perto para interpelar quem quer que fosse, mas aí eu acordei. O mais estranho é que eu não queria acordar! "Não, me deixa voltar, eu quero falar com aquele cara que falou que era o fim! Me deixa voltar, eu estava me sentindo bem, em paz, não quero voltar para o mundo!" Tentava dormir de novo e nada! Não tinha como voltar!...

Então, em 2020, veio a mal-fadada pandemia do vírus chinês. Foi o golpe de misericórdia de Deus para mim. A minha angústia e desespero só crescia de ver as pessoas de máscara na rua, lugares fechados, pessoas trancadas em casa, ou morrendo nas UTIs, etc. Nessa época, até mesmo antes de começar tudo, eu já estava lendo a Bíblia, e também comecei a ouvir aquela em formato de áudio, com a voz do Cid Moreira no YouTube. E então, angustiado com tudo, sem ânimo para fazer minhas atividades de sempre, foi que aconteceu: eu comecei a rezar todos os dias. E não parei mais de fazê-lo. Tenho cada vez mais me dedicado a aprender mais sobre os anjos, céu, inferno, assistido as missas de sábado ou domingo, acompanhado as homilias e ensinamentos dos padres Paulo Ricardo, José Augusto, Frei Gilson, e por aí vai. Tenho me dedicado ao estudo verdadeiro da filosofia, da teologia, lido obras de Platão, Aristóteles, do Olavo de Carvalho, e acompanhado também os cursos ministrados pelo padre Paulo Ricardo em seu site. Eu comecei a sentir um profundo vazio quando vejo que fiquei um dia sem rezar. Tenho orado o Terço Mariano todos os dias da semana e me dedicado mais a conhecer sobre a fé. Fui resgatado por Deus.

Hoje, com toda essa perseguição aos cristãos que existe, com as dificuldades que estamos enfrentando e com uma geração cada vez mais moldada no ateísmo, eu vejo aquilo que eu não estava prestando atenção antes. Deus queria me resgatar de meus vícios, de minha ociosidade, de meu desânimo e de minha ignorância, e mandava sinais para que eu percebesse. Mas eu era cego demais para perceber, e entretido demais com as coisas do mundo para me prestar a dar atenção. Apesar de ainda gostar de coisas que o mundo oferece, já não as encaro mais como o propósito maior de minha vida, mas sim como distrações neste mundo material para aquele que é o meu propósito maior. E isso tem a ver com algo que eu não mencionei antes, porque agora vai passar a fazer mais sentido pra você.

Em Agosto de 2016 eu me tornei pai de uma linda menina, que hoje está a dois meses de fazer 5 anos. E quando você deixa de ser apenas filho e se torna pai, o seu mundo gira 180 graus e sua cabeça se transforma em outra coisa. E foi assim que, cuidando dessa menina, vendo ela crescer, e compreendendo as responsabilidades que tenho para com ela, eu entendi meu verdadeiro propósito. Em Janeiro de 2016 minha esposa revelou que estava grávida de 3 meses. Tomei um susto, e fiquei assustado e sem chão. Mas ao mesmo tempo, um certo ar de missão brotava dentro de mim. E então todas as coisas que eu vivi até aquele momento e tudo que eu havia feito passaram a fazer mais sentido.

Eu tinha uma vida para cuidar, fazer crescer e florecer em uma mulher virtuosa. Eu havia conhecido bem o mundo e as coisas que ele pode oferecer, e agora, eu me via nessa situação. Olhei para o alto, como que falando com Deus e disse "ok, se é isso que o Senhor quer, então eu vou cumprir essa missão."

De volta para hoje, com todas as experiências que já vivi, e vendo como minha filha é tão ligada a mim, eu entendo o que vivi e o que tenho que fazer. 

Deus realmente opera de maneiras que a gente não entende. Que bom poder perceber que apesar dos nossos enganos e teimosias, a gente tem um Pai celeste tão maravilhoso que sempre nos aponta o caminho correto e nos resgata de volta, mesmo que a gente seja arredio em um período de nossas vidas e não queira saber Dele. Obrigado Deus, por tudo que tem feito por nós!

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HUMOR

(28/06/2021)



(23/06/2021)



"Enquanto isso..." (@SalConservador)
(27/06/2021)



"Uma pausa rápida para um cafezinho e depois escovar os dentes, lógico!!!" (@SalConservador)
(29/06/2021)



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LEITURA RECOMENDADA

Como estamos prestes a entrar no mês de Julho, eis mais uma leitura de C.S.Lewis que lhes recomendo. Neste tratado, Lewis fala de quando começamos a relativizar os valores que nos são caros, e o abismo para o qual isso pode nos levar. Leitura imprescindível e necessária para os tempos que estamos vivendo hoje, de profundo relativismo da verdade.


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