Edição LX (Terça Livre, Revista Esmeril 33, opinião e mais)

 Tempo de Leitura LX

(Opinião, artigos e cultura para pessoas livres)


Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Esmeril e outras publicações de outras fontes à minha escolha. Nenhum texto aqui pertence a mim (exceto onde menciono), todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo.


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REVISTA ESMERIL 33

Santos Corações Juninos (Leônidas Pellegrini)

Feminismo é um Vírus que Causa Câncer: Parte 1 (Aldir Gracindo)



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LEITURA RECOMENDADA

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13 de Junho de 2022
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MEMÓRIA TERÇA LIVRE
(matérias de edições antigas da revista que ainda são atuais)


Hoje voltaremos no tempo para a edição 29 da Revista Terça Livre, de 28 de Janeiro de 2020.

Infelizmente não é mais possível acessá-la porque o site TL TV está sendo reformulado, portanto agora uso do meu acervo de pdfs para publicar artigos da revista. Porém, a área de cursos do Terça Livre se encontra disponível novamente através da plataforma do Canal Hipócritas.



COMPORTAMENTO

👆 O PODER E SEUS AMIGOS
(por Ricardo Da Costa)



Há Desde que o bispo João de Salisbury (1120-1180) escreveu o  que hoje se considera o primeiro tratado de filosofia política, chamado de Policraticus (1159), o Ocidente aprendeu que o poder fascina, o poder seduz, o poder atrai e, por isso, é cercado por cortesãos – na terminologia contemporânea, bajuladores. Nas palavras do povo, puxa-sacos. Trata-se, recordo, do pior tipo da espécie humana, pois tem o poder de ajudar a transformar o bom governante em um tirano (os tiranos sempre estão cercados de bajuladores. Por isso, nunca sabem se são amados).

Vou contar rapidamente um “causo”. Recentemente, em minhas peregrinações pelo poder tupiniquim, tive o desprazer de me deparar com um cortesão. Com uma. A palavra é reveladora: cortesã, mulher que seduz, favorita (ou que pensa ser), que vive na opulência e no luxo. Aduladora.
 
Pois bem. Ávida, dizia a sicofanta ser amicus maximus da presidência e de seu staff; impositiva, demandava cargos; rude (nos tristes tempos atuais, quem não o é?), exigia submissão. Tudo isso porque, menos de vinte e quatro horas antes de sua ligação telefônica da capital do mundo (Nova York, como Roma o fora na Antiguidade e, na Idade Média, Paris), havia eu sido convidado para um cargo razoavelmente importante – no Brasil, é necessário, traduzamos: posto que administra dinheiro. Uma considerável quantia do vil metal. Em nosso país, aliás, só nos mexemos realmente por dinheiro. Mas, pensando bem, nos dias atuais – o tempora, o mores – o mundo, cada vez mais, só se mexe pelas malditas 30 moedas de prata (Mt 26, 15).

Atento à hierarquia, legalista que sou, informei à pessoa que me convidara que, lamentavelmente, silenciou a respeito de seus imperativos de submissão, isto é, a quem devia satisfações. Em quais mãos (ou lábios) deveria beijar. Como bom funcionário federal há vinte anos que sou (jogo aqui a modéstia às favas, sem qualquer receio), resisti ao assédio moral da cortesã, ainda que de modo educado, ainda que de modo polido. Sou polido. Aprendi, com o bispo de Salisbury, que nossa vida na Terra é uma tentação, isto é, um contínuo medir-se com o mal. Estava sendo medido. Sedutoramente medido. Aliás, somos sempre medidos à medida que nos aproximamos do Poder, pois de nós se aproximam, além dos cortesãos, a vaidade e o deleite.

Fraquejei apenas por um momento: quando, por comiseração, liguei para a sicofanta e pedi desculpas. Quem me havia feito o convite poderia ser exonerado e, mesmo que estivesse rei por algumas semanas, “não tinha onde cair morto”, como dizem os populares. Como diz o povo, “tive dó”. Deveria ter lembrado de minha avó, que sempre me recordava a sabedoria popular, o bom-senso que o brasileiro médio perdeu com a revolucionária (des)educação paulofreiriana: “Quem tem pena é galinha”.

Fui, por um momento, uma galinha, não galo. Mas a fraqueza por piedade merece um juízo moderado de seu pecado, embora as massas nada perdoem, só a Igreja, que ama o pecador e odeia o pecado – o povo, ao contrário, ama o pecado e odeia o pecador... E eu, que não peço desculpas por mim, pedi por outrem. Naturalmente fui “desconvidado”. Hoje, agradeço a Deus, porque a Roda da Fortuna girou e o rei perdeu sua frágil coroa – perderia eu também, como seu subordinado, juntamente com o respeito pelo meu nome. Sabem como é: levamos décadas para adquirirmos boa reputação, mas basta um dia para perdê-la. E o Poder é soberano em destruir nomes, reputações. Novamente recordo o dito popular: “De boas intenções o Inferno está cheio”. De minha parte, estou deixando de ter boas intenções com o mundo. Sinal de que estou chegando à sábia velhice.

Conto rapidamente esse exemplum, sem citar nomes – porque o que realmente interessa não são as pessoas, mas as essências que as histórias encerram – para ilustrar a moral da comédia humana. Sim, porque (como mais uma vez aprendi, com Salisbury), somos simultaneamente atores e espectadores de uma comédia, tão intensa em suas aparentes gargalhadas que muitas vezes não conseguimos mais retornar à realidade quando necessitamos. E como precisamos, no Poder, sempre nos calcarmos na realidade!

O Poder, com sua sedução, faz com que os poderosos percam o senso da Verdade e o sentido da realidade, das coisas e dos homens. Principalmente dos homens. Estes, como bons filhos de Adão, tão logo tentados pela maçã de Eva, tornam-se volúveis, instáveis e caprichosos. Quando alçados ao brilho dos holofotes, então, revelam sua face mais humana: a de atores de uma peça. E o teatro no qual acontece uma tão grande, tão admirável e tão inenarrável tragédia – ou comédia – é perfeitamente adaptado à mais tosca
representação. Representamos papéis. Por isso, regularmente acontece aos donos do poder a fuga da realidade, tão grande é a falsa sensação, a doce ilusão que o Poder proporciona.

E como se proteger, como se defender da ilusão dessa comédia? A melhor resposta é sempre a mais simples: com a prudência do bom conselho. Por isso os pensadores da Idade Média – todos, literalmente todos, da Igreja Católica – renovaram a sábia admoestação que o soberano deve se cercar de bons conselheiros. De corajosos conselheiros que não temam o fogo fátuo de seus instáveis assentos à mesa do rei e digam o que diz sua experiência. Conselheiros que freiem os cavalos da biga dos vaidosos temperamentos, que ponderem as consequências e os possíveis reveses da guerra da suja política humana, e que calculem o que deve ser feito e o que pode ser feito diante das mutáveis circunstâncias.

Sem esses bravos reina, soberana, a vaidade. Ensina o Eclesiastestudo é vaidade sob o Sol. Quando as pessoas se afastam do sólido terreno da verdade, caem no da vaidade, piso propício para nossa comédia. A prudência dos bons conselhos impede os conselheiros de adularem os ouvidos do governante. Assim como o amigo não pode adular o amigo, mas dizer-lhe a verdade, muito mais o conselheiro não deve adular seu rei, mas recordá-lo que a Verdade deve conduzir seus atos. Com prudência, com parcimônia, mas sempre com a Verdade.

O bom governante, ademais, obedece à Lei. Os bons súditos, portanto, devem ouvir o que dizem suas leis. Submeter-se a elas não é vergonha, especialmente quando há tanta maldade vigente, como parece ser o caso do Brasil atual. Para combater a malícia da milícia, ao contrário do que se costuma pensar, é preciso parcimônia nos gestos, ponderação nos atos e comedimento no pensamento. A guerra nunca é curta e a sabedoria do bom combatente se revela em sua constância madura, não em seus arroubos juvenis. Insensato e futuro derrotado é o exército que se joga ao campo de batalha sem a refletida estratégia de seus generais. Além disso, essa “nova república” que nasceu nas últimas eleições tem se mostrado ainda muito jovem, muito açodada em seu
planejamento contra as falsas camarilhas de seu próprio acampamento. Não duvidem: na própria essência do Poder há a sedução da governança. Tudo passa, mas algo fica: a solidez do terreno conquistado.

É preciso fugir dos holofotes para vencer nas coxias. Pois mesmo ali, há falsos amigos, falsas cortesãs, falsos príncipes, nobres sem a altivez do cargo, condes sem a nobreza do espírito, reis sem a
soberania em suas decisões. Mais ponderação, menos impulsividade, mais diálogo, menos confronto aberto, mais conselho, menos vaidade. A soberba obscurece a visão. Entre a glória e o abismo há um breve instante. Que decidamos dar dois passos para atrás para caminhar quatro à frente mais adiante. Com tantas raposas e poucos cães farejadores, que avancemos passo a passo. Pari passu, diz o bom advogado. Só assim atuaremos na comédia humana com a dignidade que a ocasião exige. E hoje, ela exige. Requer. Mais: talvez não tenhamos tão cedo outra oportunidade de sermos protagonistas de nossa comédia. Caso esse pessimista prognóstico se confirme na eleição vindoura, no próximo ato seremos infelizes espectadores de uma tragédia, não uma comédia, embora as duas se mesclem em nossas vidas.
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REVISTA ESMERIL - Ed. 33, de 01/07/2022 (Uma publicação cultural digital e mensal de Bruna Torlay. Assinar a revista


DOSE DE FÉ

👆 Santos Corações Juninos



(por Leônidas Pellegrini)


Santo Antônio, São João e São Pedro são lembrados como os santos juninos por excelência, mas nem todos sabem que o mês de junho é também o mês do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria. Nesta Dose de Fé mensal, vamos à história dessa duas devoções!

O Sagrado Coração de Jesus

A data do Sagrado Coração de Jesus, volante, acontece na segunda sexta-feira após a comemoração da quinta-feira de Corpus Christi, e pode-se dizer que essa devoção tem origem bíblica. O Apóstolo São João, na Última Ceia, reclina sua cabeça no peito de Jesus e ouve as batidas de Seu Coração transbordante de amor. Quando o Coração de Jesus Crucificado foi transpassado pela lança de São Longuinho, d’Ele jorraram sangue e água milagrosos que curaram a cegueira do centurião e o fizeram se converter. São Tomé, em um momento de crise de fé, foi convidado por Jesus Ressuscitado a tocar a ferida de Seu peito, ou seja, a Santa Chaga de onde mais jorrava Seu Infinito Amor.

São João recosta sua cabeça no peito de Jesus e escuta Seu Coração

As precursoras da devoção ao Sagrado Coração de Jesus foram duas monjas cistercienses: Santa Lutgarde (1182 – 1246) e Santa Gertrudes de Helfta (1256 – 1301). A primeira entrou na vida monástica depois de uma visão do Coração Chagado. Santa Gertrudes, fervorosa devota de São José, teve duas visões de Nosso Senhor, ocasiões em que reclinou sua cabeça sobre Seu peito e, assim como São João, pôde escutar as batidas de Seu coração.

Seis séculos depois, em 27 de dezembro de 1673, Jesus, com Seu Coração exposto, apareceu à monja visitadina Santa Margarida Maria Alcoque, e pediu-lhe que propagasse a devoção a Seu Sagrado Coração. Jesus assim falou à santa religiosa:

Eis o coração que tanto tem amado os homens e em recompensa não recebe da maior parte deles, senão ingratidões pelas irreverências e sacrilégios, friezas e desprezos que tem por mim nesse sacramento do Amor”.

Ele ainda fez 12 promessas àqueles que seguissem a tal devoção, com destaque para a seguinte:

Prometo-te pela minha excessiva misericórdia, a todos que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, a graça da penitência final. Estes não morrerão em minha inimizade, nem sem receberem os sacramentos. O meu Sagrado Coração lhes será refúgio seguro nessa última hora”.

Com essa que ficou conhecida como A Grande Promessa, iniciou-se a prática das 9 Primeiras Sextas-feiras, segundo a qual os fiéis devotos devem, em estado de graça (ou seja, confessados) e com reta intenção, comungar durante as primeiras sextas-feiras de 9 meses consecutivos. Assim, é-lhes assegurado morrer em estado de graça, desde que se viva uma vida virtuosa e vigilante em relação aos pecados.

O amor e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus foi recomendado por Papas e santos de diversos tempos, tais como São Gregório Magno, São Pio X, Leão XIII, Venerável Pio XII, Bento XVI, São Bernardo de Claraval, São Tomás de Aquino, São Francisco de Assis, Santa Terasa d’Ávila, São João Eudes, Santa Catarina de Sena, São Boaventura, Santo Inácio de Loiola, São Francisco Xavier, São Filipe Neri, São Francisco de Sales, São Luís Gonzaga, Santa Faustina e a Beata Maria do Divino Coração, entre outros.

O Imaculado Coração de Maria

Agora, falemos do Coração da Mãe. O sábado logo após a sexta-feira dedicada ao Sagrado Coração de Jesus é consagrado ao Imaculado Coração de Maria. Essa devoção também remonta às Sagradas Escrituras. No Evangelho de São Lucas, há as seguintes menções ao Coração de Nossa Senhora: “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração”. (Lc 2, 19); “Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração”. (Lc 2, 51). Além disso quando São Simeão revela a Maria que “uma espada há de transpassar a sua alma” (Lc 2, 35), entenda-se “alma” por “coração”. Essa, aliás, foi a primeira das Sete Espadas que transpassaram o Coração de Maria.

Representação do Imaculado Coração de Maria: traspassado pelas sete espadas que representam Suas Sete Dores, cercado por espinhos que remetem ao Calvário de Cristo, e ferido e sangrando pelas ofensas cometidas contra Ele

A devoção ao Imaculado Coração de Maria propagou-se após as aparições da Mãe de Deus em Fátima, em 1917, aos pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta. Na segunda aparição, em 13 de junho, Nossa Senhora disse a Lúcia: “Ele [Jesus] quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração”. Em seguida, as três crianças viram a Mãe do Céu com um coração na mão, cercado de espinhos. Compreenderam que aquele era o Coração Imaculado da Santíssima Virgem, ofendido pelos pecados da humanidade, que necessitavam de reparação.

Na aparição de 13 de julho, após os pastorinhos terem tido a visão do Inferno, Maria disse-lhes: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração”. No entanto, Ela não revelou como deveria ser feita essa devoção reparadora.

Sete anos depois, em 10 de dezembro de 1925, em Pontevedra, na Espanha, Nossa Senhora revelou à então postulante Lúcia a devoção reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, que apenas em 1927 Irmã Lúcia foi autorizada por seu Superior a revelar. Assim lhe foi dito pela Mãe: 

“OLHA, MINHA FILHA, O MEU CORAÇÃO CERCADO DE ESPINHOS, QUE OS HOMENS INGRATOS A TODOS OS MOMENTOS ME CRAVAM COM BLASFÊMIAS E INGRATIDÕES. TU, AO MENOS, VÊ DE ME CONSOLAR, E DIZE QUE TODOS AQUELES QUE, DURANTE CINCO MESES, NO PRIMEIRO SÁBADO, CONFESSAREM-SE, RECEBENDO A SAGRADA COMUNHÃO, REZAREM UM TERÇO, E ME FIZEREM QUINZE MINUTOS DE COMPANHIA, MEDITANDO NOS QUINZE MISTÉRIOS DO ROSÁRIO, COM O FIM DE ME DESAGRAVAR, EU PROMETO ASSISTIR-LHES, NA HORA DA MORTE COM TODAS AS GRAÇAS NECESSÁRIAS PARA A SALVAÇÃO DESSAS ALMAS”.

As práticas dessa devoção, como se pode perceber, são semelhantes às do Sagrado Coração. A Mãe, que assim como Seu Filho, tem um coração que trasborda sofrimento e amor, age de maneira a complementar as promessas d’Ele e nos encaminhar mais seguramente a um caminho de santidade. Não é à toa que o dia do Imaculado Coração de Maria é celebrado no dia seguinte ao do Sagrado Coração de Jesus. Os Corações da Mãe e do Filho confundem-se num só.

É importante lembrar, ainda, que, segundo um pedido muito específico de Nossa Senhora em Fátima, a Rússia deveria ter sido consagrada a Seu Imaculado Coração para que os erros daquele país (o comunismo, e não só ele, mas toda a devastação revolucionária) não se espalhassem pelo mundo. Desde 1942 essa consagração já foi realizada cinco vezes por quatro Papas (Pio XII, Paulo VI, João Paulo II e Francisco) mas sempre de maneira parcial, não atendendo à risca as especificações feitas pela Mãe de Deus em seu pedido. Por isso, os erros da Rússia se espalharam e podem ser vistos por toda parte. No entanto, cada uma dessas consagrações, ainda que imperfeitas, gera graças ao mundo. Veja-se a revogação de Roe vs Wade, nos Estados Unidos, três meses depois da consagração feita pelo Papa Francisco.

As devoções constituem consagrações pessoais

As devoções aos Santos Corações Juninos devem, portanto, ser entendidas como consagrações pessoais. O fiel cristão se consagra a Jesus e Maria quando se entrega a Seus corações pela reparação dos pecados seus e do mundo inteiro. Com isso, salvam-se almas. E a salvação das almas é o objetivo primeiro e último da Mãe e do Filho, que olham para nós dolorosos e compassivos.    

Neste mês, que no Brasil é comercialmente explorado com um Dia dos Namorados fake (entenda aqui) e, caso mais grave, ideologicamente usado para ferir e ofender esses dois Santos Corações quando mundialmente dedicado ao “orgulho LGBT”, comprometamo-nos com essas devoções, e invoquemos a Mãe e o Filho:

Imaculado Coração de Maria, sede a nossa salvação!

Sagrado Coração de Jesus, eu confio em Vós!

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2022

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Esmeril, conteúdo gratuito de 06 de Junho



COLUNAS SEMANAIS





👆 Feminismo é um Vírus que Causa Câncer: Parte 1
(por Aldir Gracindo - 05/07/2022)


A verdadeira História do “Machismo”

Certa vez, eu me tornei uma sub-sub-celebridade das redes sociais dizendo que “Feminismo e câncer.” A frase não é minha. O que eu costumo dizer, porém, é que feminismo é um vírus que causa câncer. Vou tomar a licença de não explicar essa analogia por agora. Em vez disso, vou retomar uma história que eu contei em 2014. A verdadeira história do machismo é apenas um exemplo da ideologia feminista em ação.

 

Há anos, conheci um velho boato: que o verdadeiro significado da palavra machismo é “comportamento masculino, masculinidade”Segundo dizem, o movimento feminista teria ressignificado a palavra para conotar-lhe o sentido negativo e onipresente que tem hoje. Isso me pareceu um boato conspiracionista, mas bastante curioso. Então fiz uma pesquisa e o resultado foi surpreendente.

 

Machismo é uma palavra formada por macho + ismo. Macho significa masculino. E ismo, segundo a Infopédia da Porto Editora, é:

1. sufixo nominal, de origem grega, formador de nomes que designam conceitos de ordem geral, como alcoolismotabagismopessimismo, etc.

2. sufixo nominal, de origem grega, que exprime ideias de fenómeno linguístico, sistema político, doutrina religiosa, sistema filosófico, tendência literária (castelhanismo, absolutismo, budismo, kentismo, realismo).

Atualmente, machismo, nos dicionários físicos e online [2] tem três definições básicas:

ma.chis.mo. S. m. (macho+ismo1 Atitude ou comportamento de quem não admite a igualdade de direitos para o homem e a mulher, sendo, pois, contrário ao feminismo. Bras. Pop. Qualidade, ação ou modos de macho; macheza, machidão.

ma.chis.mo. S. m. (Macho+ismo) Empiriocriticismo.

A primeira, que é a oficial, define machismo em relação a feminismo, indicando que feministas teriam criado ou redefinindo a palavra; e a definição feminista é a oficial, o que sugere o nível de domínio político do feminismo sobre o ambiente acadêmico. É uma definição com erros conceituais claros para qualquer um que conheça a fundo as teorias e práticas feministas – a primeiro sendo: feminismo não é a defesa de igualdade de direitos.

A segunda definição, classificada de “brasileirismo popular”, é aquela considerada “verdadeira”, “original”: “qualidade, ação ou modos de macho; macheza, machidão.”

A terceira se refere a uma corrente do positivismo filosófico, o empiriocriticismo (ou empirocriticismo). Foi criada por Richard Avenarius e continuada por Ernst MachMachismo por causa de Ernst Mach. Então, não nos interessa aqui.

Infelizmente, no maior acervo a que eu tive acesso na época (a Biblioteca Central dos Barris, em Salvador-BA, em 2014), muitos dicionários estavam inacessíveis por deterioração. Usei então todos os disponiveis na tentativa de esboçar uma linha do tempo sobre o surgimento e as mudanças de significado da palavra machismo no escopo desta discussão.

Machismo se mostrou uma palavra bastante nova no Brasil. Desde o mais antigo dicionário da língua portuguesa e latina (1728), escrito pelo Padre Raphael Bluteau, passando pelo Brasil imperial, república, ditadura getulista, volta da república e até o regime militar, não há registro de “machismo” em nenhum dos dicionários consultados.

Com o sentido “atual e oficial”, ela pôde ser encontrada escrita em outras publicações em língua portuguesa (não ainda registrada nos dicionários consultados) no séc. XX, em 1956 (?) e 1959.

O verbete só aparece registrado nos dicionários acessados na primeira edição do Aurélio, em 1974. Este é o machismo “primeiro, original” que eu encontrei nos dicionários:

Machismo. S.m. Bras. Pop. Qualidade, ou ação ou modos de macho (3 e 4); macheza.

Na segunda edição do Aurélio, o texto é alterado para oficializar a definição feminista:

ma.chis.mo. S. m. (macho+ismo1 Atitude ou comportamento de quem não admite a igualdade de direitos para o homem e a mulher, sendo, pois, contrário ao feminismo. Bras. Pop. Qualidade, ação ou modos de macho; macheza, machidão.

Além disso, em Bueno (1974), há o registro de que masculinismo é masculinidade. Isso reflete o fato de, no passado (e até hoje, por alguns e para algumas palavras), os ismo e dade serem usados de forma intercambiável. Ismo sendo ação, prática, atitude, pensamento, filosofia, e dade se referindo a ser, acontece de um ou outro ser usado no mesmo sentido (machismo/masculinismo e masculinidadecristianismo e cristandade, etc.).

Porém, há um lugar em que machismo existe há mais tempo. Um proeminente etimólogo brasileiro (que pediu para não ser citado) me mostrou que machismo não é uma palavra de origem brasileira ou portuguesa, mas espanhola – é um espanholismo. Sua ocorrência escrita mais antiga em espanhol no Google Books, por exemplo, é de 1797. Ela ficou em desuso por certos períodos e foi muito usada em outros, com diferentes sentidos, até ser “reciclada” e reaproveitada por teóricos feministas e se tornar onipresente com o novo signifcicado.

Contatei também a Academia Brasileira de Letras a fim de saber exatamente quando, como, por quem, a nova definição se tornou a oficial. O atendimento foi gentilíssimo, mas não puderam me direcionar a alguma assessoria de departamento que me desse a resposta. Uma conhecida que morava no Rio de Janeiro chegou a se oferecer para ir pessoalmente à ABL pesquisar nos arquivos, mas o atendimento da ABL não nos possibilitou o acesso naquele momento (ainda em 2014).

Como a palavra já existia, tudo que os ideólogos feministas tiveram que fazer foi redefini-la e tornar a definição feminista “oficial.”

Uma dúvida que eu tive foi o motivo da terminação acho em “macho.” É um sufixo diminutivo, afinal, seja em tamanho físico, importância ou valor (riacho, capacho, penacho, populacho). Em português de portugal, machos ou machinhos já foram usados para designar mulos, animais de carga. O especialista me respondeu que a raiz mas (masculinidade) na língua latina era usada como representando o todo e o indivíduo masculino era a parte, por isso macho. E que macho, originalmente, era usada para se referir a animais – não humanos.

Com a popularização do conceito “Machismo”, feministas conseguem colocar uma “espada de Dâmocles” sobre todo menino e todo homem. Há uma associação fácil entre masculinidade e malignidade, criminalidade e indignidade. Assim, feministas conseguiram colocar, com bastante eficiência, a visão feminista da masculinidade em toda a sociedade. As repercussões sociais disso são vastas, não caberiam neste ensaio.

Ao mesmo tempo, “machismo” se tornou um recurso para culpados se eximirem de sua responsabilidade individual – como parece ser o caso do ator José Mayer que, acusado de conduta sexual imprópria no trabalho, “assumiu” a culpa, atribuindo o próprio comportamento ao “machismo.” Como se colocar o pênis para fora e agarrar mulheres no trabalho fosse um comportamento comum para os homens da geração dele.

Há os que defendem o “machismo” quando estão se referindo a certas tradiçõespráticas que querem ver conservadas ou à masculinidade. Porém, machismomasculinidadeconservadorismo e tradicionalismo são coisas diferentes.

Conclusão

Machismo, portanto, é uma palavra originalmente espanhola. Tinha diferentes significados até ser “oficializada” uma definição feminista que, com uma só palavra (“carregada”, que significa qualquer coisa que se queira, mas que, em em si, a rigor, não tem significado):

1) reforça uma definição da propaganda feminista sobre o feminismo,

2) cria a dicotomia duplamente falsa “ou você é feminista, ou é ‘machista'” – por isso feministas, com sua conhecida arrogância pseudointelectual, tentam ridicularizar a popular frase popular “não sou machista, nem feminista” (que é consequência da própria propaganda feminista) e

3) associa masculinidade ao mal e feminismo e (por extensão) feminino ao bem. Uma sociedade que aceitou o conceito feminista do machismo é uma sociedade implicitamente misândrica.

Machismo é uma criação da propaganda feminista. Essa “invenção” feminista usa uma palavra que de outra forma poderia estar apenas obsoleta, dando a ela diferentes “sentidos.” Quando uma palavra pode significar qualquer coisa que se queira, ela, realmente, não significa nada. É apenas um recurso retórico, um clássico ad hominem.

O boato conspiratório estava, em essência, correto, mas incompleto. Machismo não existe; masculinidade, sim. E feminismo realmente não é o que feministas dizem ser.

Referências:

1. Spotniks: Colocamos uma FEMINISTA e um ativista dos DIREITOS DOS HOMENS para conversar (sem que eles soubessem). Disponível em: https://youtu.be/qLj5JlQu4n8.

2. Porto Editora: ismo no Dicionário Infopédia da língua portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora. [Consult. 21-06-2022]. Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/-ismo

3. Google, consulta: Dicionário significado de Machismo. [Consult. em 01-05-2014]. Disponível em: google.com.br/webhp?tab=ww&ei=gqZJU-naD4XWsATZtILIAw&ved=0CBUQ1S4#q=dicionário+significado+de+machismo&safe=off.

4..Dicionários Aurélio, Houaiss, Enciclopédia Barsa, Dicionário da Academia Brasileira de Letras. [Consult. em 01-05-2014.] – Não mais disponíveis online.

5. Dicionário Michaelis: Machismo. [Consult. em 22-06-2022.] Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=machismo

6. Wikipedia: Richard Avenarius. [Consultado em 01-05-2014]. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Richard_Avenarius

7. Wikipedia: Ernst Mach. [Consultado em 01-05-2014]. Disponível em: https://es.m.wikipedia.org/wiki/Ernst_Mach

8. BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez & latino. Coimbra, 1728. [Consult. em 01-05-2014]. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/pt-br/dicionario/edicao/1

9. Instituto Camões: Raphael Bluteau. [Consultado em 01-05-2014]. Disponível em: http://cvc.instituto-camoes.pt/filosofia/ilu1.html

10. SILVA, Antonio Moraes. Diccionario da lingua portugueza – recompilado dos vocabularios impressos ate agora, e nesta segunda edição novamente emendado e muito acrescentado. 1813

11. SILVA, Antonio de Moraes: Diccionario da lingua portugueza recopilado. Typographia Lacerdina, Lisboa, 1813.

12. PINTO, Luiz Maria da Silva. Diccionario da Lingua Brasileira por Luiz Maria da Silva Pinto, natural da Provincia de Goyaz. 1832.

13. FERREIRA, Aurelio Buarque de Hollanda e Pereira, Manuel da Cunha: Nôvo vocabulário ortográfico da língua portuguêsa.  ????.

14. MORAES, (???) Diccionario da língua portuguesa. 4ª ed. Danificado, sem ano de publicação. Do período imperial do Brasil). ????.

15. AGASSIZ et. al. Diccionario universal portuguez. Tipographia do dicionário universal portuguez. 1882.

16. LELLO, José e Lello, Edgar. Lello universal – Dicionário enciclopédico luso-brasileiro em 4. Lello & irmão Editores. Porto, ????.

17. FREIRE, Laudelino. Grande e novíssimo dicionário da língua portuguesa. Ed. A Noite. Rio de Janeiro, ????.

18. Academia Brasileira de Letras: Pequeno vocabulário ortográfico da língua portuguesa. Imprensa Nacional. Rio de Janeiro, 1945.

19. FIGUEIREDO, Cândido. Dicionário da língua portuguesa. 12ª Ed. Livraria Bertrand, Lisboa – W.M. Jckson Inc. Rio de Janeiro, 1947.

20. CARVALHO, José Mesquita de: Dicionário prático da língua nacional II.o 4ª Edição. Ed Globo, Rio de Janeiro – Porto Alegre – São Paulo, 1955.

21. SÉGUIER, Jaime de: Dicionário prático ilustrado – Novo dicionário enciclopédico luso-brasileiro. Ed. Lello e Irmão. Porto, 1956.

22. MACHADO, José Pedro: Dicionário etimológico da língua portuguesa. 1ª. Ed. Ed Edições lexicográficas da Editorial Confluência Ltda. Lisboa, 1959.

23. GARCIA, Hamílcar de. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa 2ª Ed. Bras. Editora Delta, Rio de Janeiro, 1964.

24. SILVA, Adalberto Prado e, et al. Grande dicionário brasileiro melhoramentos. 8ª Edição, revista e ampliada. Cia Melhoramentos de São Paulo, Indústrias de papel. São Paulo, 1973.

25. BUENO, Francisco da Silveira. Grande dicionário etimológico-prosódico da língua portuguesa. Ed Brasília Ltda. Santos, 1974.

26. Garcia, Hamilcar de. Dicionário Contemporâneo da língua portuguesa Caldas Aulete. 3ª Ed. Brás. Ed Delta. Rio de Janeiro, 1980.

27. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda: Dicionário Aurélio Básico da língua portuguesa. 1ª edição. Ed. Nova Fronteira S.A. Rio de Janeiro, 1988.

28. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio: 2ª Ed. Nova fronteira S.A. Rio de Janeiro, 1997.

29. FERREIRA, Aurélio Buarque de HolandaNovo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2a edição (revista e ampliada). Nova Fronteira. São Paulo, 1986.

30. Revista Exame: José Mayer reconhece assédio e pede desculpas por machismo. [Consult. em 22-06-2022.] Disponível em: https://exame.com/brasil/jose-mayer-reconhece-assedio-e-pede-desculpas-por-machismo/


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Padre Paulo Ricardo - 01 de Julho





DOUTRINA

👆Cheguei à Missa atrasado, e agora?
(por Cathy Caridi)


Quando nos atrasamos para a Missa dominical, qual é o critério para saber se chegamos muito tarde? Quando eu era criança, disseram-me que não era permitido perder a leitura do Evangelho. Posteriormente, soube que não era permitido perder o ofertório. Se perdemos o Evangelho ou o ofertório, temos a obrigação de ficar para a Missa seguinte? Ou temos apenas de assistir à parte que perdemos? O que deveríamos fazer se a Missa a que chegamos atrasados fosse a última do dia? (Um leigo)
Tenho uma paroquiana que frequenta a Missa diária e chega na hora da comunhão. Perguntei por que ela não assiste à Missa completa. Ela disse que tenta acordar mais cedo, mas não consegue. Então, disse a ela que, de acordo com a doutrina da Igreja, não podemos receber a Comunhão se perdermos a leitura do Evangelho. A Igreja nos ensina que devemos participar de toda a liturgia quando vamos à Missa. Poderia me ajudar e indicar qual trecho do Código de Direito Canônico trata das regras para receber a Eucaristia neste caso? Espero que possa me ajudar, pois não consigo encontrar o parágrafo específico (Um padre).

O que o direito canônico diz a respeito de cada uma dessas questões? Absolutamente nada. Não há nenhuma menção a elas no Código de Direito Canônico. Isso explica por que o padre em questão não conseguiu “encontrar o parágrafo específico”.

No entanto, isso não significa que seja impossível responder a elas. A teologia moral católica pode ser facilmente aplicada aqui, e esta é uma das razões por que o Código não precisa tratar dessa situação. Há outras boas razões pelas quais o direito canônico não se pronuncia sobre chegar atrasado à Missa, algo que analisaremos em breve.  

O Cânon 1247 nos diz o que nós católicos já sabemos: somos obrigados a assistir à Missa aos domingos e dias de preceito. Portanto, o pressuposto lógico é que, se a Missa dominical começa às 9h30min, por exemplo, devemos chegar antes disso para poder estar presentes durante a Missa inteira. 

Mas, como todos sabemos, a vida real nem sempre funciona assim. Por milhões de razões (falarei disso mais adiante), podemos nos dar conta de que entramos na igreja às 9h35min ou mesmo às 10h. O que temos de fazer, então? É minimamente razoável que os católicos suponham haver alguma “regra” sobre isso — como as supostas “regras” mencionadas por nosso leitor leigo, as quais diriam respeito à chegada antes do Evangelho ou do ofertório. Na verdade, tais regras não existem.

Porém, antes que você critique a Igreja por não estabelecer regras para essa situação, pense no seguinte: o que aconteceria se a Igreja Católica dissesse oficialmente aos fiéis que, por exemplo, “o preceito é cumprido quando o fiel chega antes do Evangelho nas Missas dominicais e em dias de preceito”?

O efeito colateral que surgiria rapidamente dessa declaração é fácil de prever. Inúmeros católicos que até agora se preocuparam em chegar à igreja antes do início da Missa dominical concluiriam que não é necessário fazê-lo, já que basta chegar com alguns minutos de atraso. Muitas pessoas decidiriam de forma equivocada que não há problema em perder partes da Missa anteriores ao Evangelho, o que equivale a pensar que elementos como o ato penitencial e o Glória não são importantes — do contrário, por que a Igreja diria que podemos chegar depois do término dessas orações?

Em muito pouco tempo, os sacerdotes veriam que, no horário marcado para o início da Missa, a igreja estaria praticamente vazia, com a maioria dos fiéis a entrar durante as leituras (e a distrair todo o mundo). Em reação, alguns sacerdotes passariam a esperar alguns minutos para começar a Missa, mas quando os paroquianos se dessem conta disso, chegariam ainda mais tarde. No final das contas, os horários agendados para as Missas não teriam mais sentido!

Para piorar, os católicos que tentavam em vão chegar à Missa pontualmente, mesmo atrasando alguns minutos, seriam encorajados a chegar quando quisessem. Pensando em chegar à igreja logo antes do Evangelho, poderiam em vez disso chegar durante a recitação do Credo.

Em suma, o estabelecimento de regras a respeito do atraso para a Missa criaria uma “bola de neve” e causaria mais problemas do que resolveria outros. Quando uma regra deixa de ser absoluta, não há como voltar atrás. Portanto, quando a Igreja nos diz que precisamos ir à Missa aos domingos e dias de guarda, ela quer dizer apenas isso. 

Mesmo assim, como foi dito acima, muitos católicos realmente chegam atrasados à Missa por diferentes motivos, e eles gostariam de receber alguma orientação! Ironicamente, esta frase contém uma expressão decisiva (“por diferentes motivos”), algo que quase sempre é negligenciado nessas discussões. Por que chegaram tarde? Qual é a razão de não conseguirem chegar antes do início da Missa? Este é um ponto fundamental, porque é aqui que entra em jogo a teologia moral.

Este fato é inegável: às vezes, acontecem coisas que realmente não conseguimos prever ou controlar, fazendo-nos chegar atrasados à Missa. O carro para de funcionar no meio do caminho; o bebê vomita na mãe justamente quando se está na porta de casa, obrigando-a a correr de volta para dentro de casa e trocar de roupa; há uma colisão entre vários carros na via principal, forçando todos a pegar um caminho mais longo e indireto; um médico está a caminho da Missa e interrompe o percurso para ajudar uma pessoa que desmaiou na calçada; o ônibus que sempre é usado para chegar ao destino não passou em determinado dia etc.

Se nos esforçarmos com sinceridade e da melhor maneira possível para chegar a tempo à igreja, e se algo verdadeiramente inesperado acontecer e provocar nosso atraso, qualquer teólogo competente dirá que não podemos ser responsabilizados moralmente por isso. Invariavelmente, advogados dirão a mesma coisa na esfera legal, e pelas mesmas razões: se não soubéssemos de modo algum que aconteceria X, e se não pudéssemos fazer nada a respeito disso, então, como regra geral, não poderíamos ser responsabilizados. Portanto, “punir” pessoas que chegam atrasadas à Missa por razões desse tipo não faz sentido algum. E leis bem fundamentadas devem ser razoáveis por definição.

É claro que essa moeda tem dois lados. Se apertarmos o botão de soneca do despertador, ou se ficarmos enrolando em casa para ver mensagens antes de ir à igreja, ou se demorarmos demais em nosso caminho para a Missa… então a culpa do atraso seria claramente nossa. É tentador nos esquivar da responsabilidade. (“Mas temos filhos!” é uma desculpa muito popular, como se não soubéssemos de antemão que temos de acordar mais cedo e/ou cutucá-los de forma mais insistente para que se arrumem para a Missa a tempo.)

Uma regra prática óbvia é a seguinte: quando descobrimos a que horas temos de acordar/sair de casa para chegar pontualmente à igreja — fazendo concessões razoáveis para coisas aleatórias que podem acontecer no trajeto e nos atrasar —, então não deveríamos acordar/sair de casa depois desse horário. É assustadoramente fácil encontrar católicos que se atrasam para a Missa semana após semana pelas mesmas razões, algo que eles naturalmente têm condição de prever. (Curiosamente, essas mesmas pessoas se esforçam para chegar pontualmente ao aeroporto quando estão de férias.) 

Quando analisamos dessa perspectiva um caso de atraso na Missa dominical, fica claro de imediato o que é necessário fazer para reparar essa situação (se é que há necessidade de fazer algo). Quem não tem culpa não tem motivo para ficar se punindo; quem tem culpa, naturalmente deve se redimir. Por isso, se agora voltarmos às perguntas do nosso leitor leigo, fica evidente que a resposta para todas elas é: “Depende”.

O bom senso determina que, se chegarmos atrasados à Missa — mesmo que não tenhamos culpa — a ponto de perder boa parte dela, deveríamos ir em outro horário. Em grande medida, isso pode tornar-se um juízo subjetivo. A devoção e o amor a Deus impelem muitos católicos a permanecer durante a Missa seguinte ou durante parte dela porque assim o desejam — uma atitude digna de louvor a ser encorajada, mas que não constitui uma “regra”.

Repare que, até o momento, falamos sobre chegar atrasado à Missa nos dias em que ela é obrigatória. A assistência à Missa em dias de semana comuns não é obrigatória, embora, naturalmente, seja louvável fazê-lo. Portanto, se chegamos atrasados à Missa em dia de semana (ainda que sejamos inteiramente culpados), qual é a consequência? Nenhuma. É claro, pode ser frustrante para um sacerdote, como o da pergunta, ver um paroquiano entrar tarde na igreja e chegar atrasado à Missa diária dia após dia; mas, a rigor, essa pessoa não está fazendo nada errado do ponto de vista legal. Afinal, o que é preferível: chegar tarde à Missa diária ou não ir à Missa diária?

Como indicam as duas perguntas acima, há uma incompreensão comum segundo a qual atrasar-se para a Missa por qualquer razão implicaria algum tipo de punição. Mas, como acabamos de ver, trata-se de má teologia, já que não devemos ser punidos quando realmente não cometemos nenhum erro. Particularmente, a noção de que “não devemos receber a Sagrada Comunhão” se (por qualquer motivo) nos atrasarmos para a Missa, não possui nenhum fundamento sólido na teologia sacramental.

O Cânon 843, §1, afirma claramente que não se pode negar os sacramentos aos fiéis (1) “que oportunamente os pedirem”, (2) “se estiverem devidamente dispostos” e (3) se não houver nenhuma lei que os impeça de recebê-los. Um exemplo concreto pode servir para ilustrar como o Cânon 843, §1, se aplica a este caso.

Imagine que normalmente você vai à Missa dominical bem cedo após um plantão noturno no hospital, e que costuma chegar pontualmente, sem nenhum problema, mas esta semana alguma emergência incomum impediu que você saísse do trabalho a tempo, fazendo-o chegar tarde à Missa. Você está preparado para receber Nosso Senhor na Eucaristia com devoção (então está “devidamente disposto”), não foi excomungado nem recebeu outra sanção semelhante (ou seja, “pelo direito” não se encontra impedido de receber a Comunhão), então você se aproxima do sacerdote durante a distribuição da Eucaristia aos fiéis (um momento oportuno). Em tais circunstâncias, não há absolutamente nenhuma razão, teológica ou canônica, para que lhe seja negada a Sagrada Comunhão — ainda que você tenha se atrasado para a Missa. O que o padre da pergunta acima vê como “doutrina da Igreja” não passa de fantasia.

Dito isto, existem situações em que há uma verdadeira conexão entre deixar de receber a Comunhão e chegar atrasado à Missa. É triste, mas é verdade que alguns católicos entram na igreja 30 ou 40 minutos mais tarde, como se estivessem passeando, e quando tomam assento começam imediatamente a bater papo ou a brincar com o telefone celular, não fazendo nenhum esforço para acompanhar a Missa (ou o que resta dela).

Obviamente, tais pessoas não têm a intenção de ir à Missa para mostrar a Deus todo-poderoso a reverência que lhe é devida. Na verdade, muitas vezes é até difícil entender por que essas pessoas se preocupam em ir à igreja. Embora não possamos acessar a mente e o coração delas para saber o que acontece lá dentro, sua conduta exterior oferece todos os sinais de que elas não estão “devidamente dispostas” para receber a Eucaristia, como diz o Cânon 843, §1; portanto, elas não deveriam recebê-la. 

Neste caso específico, o atraso na chegada à Missa é apenas um dos muitos sintomas que revelam uma completa falta de fé e reverência. Mas afirmar que católicos desse tipo “chegam atrasados à Missa” e “não deveriam receber a Comunhão” é algo bem diferente de afirmar de modo absoluto que chegar tarde à Missa e abster-se de comungar são coisas que sempre andam juntas. Não andam. 

Então, que lição podemos tirar de tudo isso? Antes de mais nada, temos o dever de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para chegar pontualmente à Missa de preceito. Ponto final. Quando não nos esforçamos adequadamente e, por essa razão, nos atrasamos, somos culpados e precisamos fazer algo para reparar a falta diante de Deus (a depender da duração do atraso, a melhor coisa a fazer é ir a outra Missa).

Quando tomamos todas as precauções razoáveis e reservamos tempo suficiente para chegar à igreja antes do início da Missa, mas algo realmente imprevisto acontece e nos faz chegar atrasados, então não somos moralmente responsáveis por isso. Ainda que decidamos fazer alguma reparação diante de Deus, permanecendo durante toda a Missa seguinte ou parte dela — supondo, naturalmente, que haja outra! —, em sentido estrito podemos considerar que não estamos moralmente obrigados a fazer isso. 

Quanto à recepção da Sagrada Comunhão, não existe nenhuma conexão automática entre isso e chegar pontualmente à Missa. Se estivermos devidamente dispostos a receber Nosso Senhor, então devemos recebê-lo. Qualquer sacerdote que tentasse impedir alguém de comungar apenas porque a pessoa chegou atrasada à Missa, sem que haja nenhum outro motivo correlato, violaria inequivocamente o direito dela a receber os sacramentos. 

Já deve estar claro que a Igreja não errou ao não estabelecer nenhuma regra oficial a respeito da chegada pontual à Missa em dias de preceito. Temos o dever de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir que chegaremos pontualmente, sempre conscientes de que, às vezes, podem ocorrer imprevistos sobre os quais não temos nenhum controle e pelos quais não podemos ser culpados.

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Terça Livre TV EUA
 - 20 de Junho




DITADURA



👆 Eles não querem cumprir a lei
(por J. R. Guzzo - 01/07/2022)


Os ministros do STF estão governando o Brasil num regime de exceção


Uma pergunta muito razoável que o pagador de impostos brasileiro poderia fazer neste momento, com todo o respeito e sem ofender a ninguém, é a seguinte: por que o ministro Luís Roberto Barroso se ausenta tanto do trabalho para fazer palestras no exterior? Pode, isso? O ministro, assim como os seus colegas de STF, já tem dois meses de férias por ano, mais o “recesso forense” entre dezembro e janeiro, mais os sábados, domingos e feriados — incluindo o dia 11 de agosto, que só é feriado para a máquina judiciária. No tempo que sobra para trabalhar, e que já não é grande coisa, ele não deveria, como servidor do Estado pago pelo público em geral, comparecer ao local de trabalho para dar o seu expediente? Ou pelo menos trabalhar em casa, se ainda quer se esconder da covid? Será que o STF não tem mais nenhum processo a resolver — e está sobrando tempo para os ministros viajarem pelo mundo afora? Prepare-se para continuar com as suas dúvidas, porque ninguém vai responder pergunta nenhuma — e é melhor não insistir, para não ser indiciado criminalmente por “ataques” à suprema corte, “atos antidemocráticos” e outros horrores.

O curioso, nas palestras de Barroso no exterior, é que ele não fica em temas ligados à ciência do Direito — vira e mexe o ministro se lança a comentários esquisitos sobre a política interna do Brasil. Ele já disse, nos Estados Unidos, que o presidente Jair Bolsonaro é o “inimigo”, e que uma de suas missões é “empurrar a história para a frente”. Em outra ocasião, também lá, participou de um seminário cujo tema era “como se livrar de um presidente” — e já chamou o regime hoje vigente no Brasil de “dictatorship”. Agora, num discurso que fez em sua própria homenagem em Londres, discorreu sobre os feitos extraordinários que teria realizado durante a pandemia; um deles, segundo disse, foi vencer “o abominável retrocesso” do voto impresso com “contagem manual”. Como assim? Nunca houve nenhum projeto de lei, ato do governo ou qualquer coisa parecida propondo o voto impresso no Brasil, e muito menos a apuração manual. Pode ser, até, que tenham falado nisso no debate sobre o sistema eleitoral, mas ficou-se por aí, na conversa. O que houve foi um movimento em favor do recibo impresso para o voto eletrônico — o que é claramente outra coisa. Alguns dos presentes chegaram a protestar. Ficou por isso mesmo.


Não há notícia de que juízes da Suprema Corte americana, o modelo universal de excelência quando se fala em fornecer justiça de alta qualidade, venham ao Brasil discutir questões políticas internas dos Estados Unidos. Também não fazem esse tipo de coisa os magistrados de primeira grandeza da França, Itália, Alemanha e outras democracias que se respeitam. O Brasil já foi assim um dia — mas hoje é outra coisa. Por decisão da maioria dos ministros do STF, tomada pouco a pouco ao longo do tempo, não existe mais no Brasil uma corte suprema de justiça. Em seu lugar, em vez de um tribunal dedicado a decidir sobre questões que envolvam a aplicação correta da Constituição, há um Comitê Central, ou uma espécie de Politburo, de militantes políticos que fazem exatamente o contrário do seu dever: desrespeitam abertamente as normas constitucionais para governar o Brasil através de despachos. Ficou assim porque os ministros deram a si próprios o direito e o dever de construir um país e uma sociedade que resultem não da vontade da maioria, expressa nas eleições para o Congresso Nacional e o Poder Executivo, mas num modelo de virtudes que têm dentro das suas próprias cabeças.

Gravíssimas as falas do Barroso durante a ‘Brasil Conference’ em Boston, EUA: “É preciso não supervalorizar o inimigo! Nós somos muito poderosos! Nós somos a democracia! Nós é que somos os poderes do bem! Nós é que ajudamos a empurrar a história na direção certa!” Inacreditável!

— Lelia Adad (@AdadLelia)


A maioria erra, acham os ministros. Elegem governos que o STF considera direitistas, populistas, autoritários e conservadores nas questões ligadas a Deus, pátria, família e costumes em geral — algo intolerável para o seu entendimento do mundo e da vida. Estão convencidos de que é sua obrigação corrigir isso, mesmo porque, em seu credo, há eleições e eleições: quando perdem, não é porque o adversário teve mais votos, mas porque “usou” as eleições para subir ao governo e, uma vez ali, agir contra a democracia. É o que eles acham que aconteceu com o Brasil em 2018. É o que não querem que aconteça de novo em 2022.


O problema para esta doutrina é simples e insolúvel: não existe em nenhuma lei brasileira, e nem nos artigos 101, 102 e 103 da Constituição Federal, onde são descritas, uma a uma, as 21 tarefas que o STF está autorizado e obrigado a executar, o mais remoto vestígio de permissão para que os ministros façam o que estão fazendo. Não é permitido a eles, ali, o exercício de nenhuma outra função pública que não seja a de magistrado — não se prevê que governem nada, nem que abram inquéritos criminais para apurar “notícias falsas” ou “atos antidemocráticos” e nem que sejam “empurradores” da história. Não estão autorizados a criar crimes que não existem no Código Penal, como a “homofobia”, nem a proibir a polícia de subir nos morros do Rio de Janeiro e nem a manter na cadeia por nove meses, e depois condenar a quase nove anos de prisão, um deputado federal no pleno exercício de seu mandato, que não cometeu crime inafiançável e nem foi preso em flagrante. Não podem criar a figura jurídica do “flagrante perpétuo”. Não têm licença legal para salvar “a democracia”.


Os ministros do STF vêm fazendo há pelo menos três anos e meio tudo o que lhes dá na telha e ninguém age contra isso


Os ministros do STF sabem ler a Constituição tão bem quanto qualquer brasileiro alfabetizado. Se não cumprem o que está escrito ali, é porque não querem cumprir — e não querem cumprir porque vêm fazendo há pelo menos três anos e meio tudo o que lhes dá na telha e ninguém age contra isso, a começar pelo Congresso Nacional. Ao contrário: embora tenham um índice de aprovação popular de 24%, algo francamente miserável, são apoiados com paixão pela esquerda, as elites, os empresários socialistas, os empreiteiros de obras públicas, os criminalistas que defendem corruptos, a mídia, as classes culturais, o movimento LGBT+ e por aí afora. É quem tem voz; é quem aparece. Todos têm mais ou menos a mesma visão do STF sobre o Brasil ideal. São a favor do aborto; do princípio segundo o qual o criminoso deve ser, acima de tudo, protegido pela lei, e que o policial é o inimigo da sociedade; da pregação nas escolas da noção de que todes são do mesmo sexo até se tornarem adultes, e que menines e menines não se diferenciam por gênero; da crença em que o agronegócio brasileiro destrói a natureza, envenena os alimentos com “agrotóxicos” e mata os índios; do controle sobre a liberdade de expressão nas redes sociais; das prisões políticas de militantes da direita — e por aí se vai, na direção geral que todo mundo sabe.


O que a maioria dos ministros faz nesse momento é desrespeitar a Constituição. Têm um candidato aberto ao cargo de presidente da República. Perseguem os adversários políticos. Eliminam direitos individuais e liberdades públicas. Impedem o trabalho de advogados na defesa dos clientes que foram indiciados em seus inquéritos policiais. Dão ordens ao Congresso. Bloqueiam a ação do Poder Executivo sempre que podem, e interferem o tempo todo em suas decisões administrativas. São os únicos cidadãos brasileiros que não prestam contas a ninguém. Estão governando o Brasil num regime de exceção.


Fonte: Revista Oeste


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👆 ENSINAMENTOS DE OLAVO DE CARVALHO


As cabeças e a missão
(por Olavo de Carvalho)
(artigo publicado em 06/05/2010 via Diário do Comércio; o artigo está disponível no site do autor.)

Diário do Comércio, 06 de maio de 2010

Enojado com o artificialismo dos costumes na côrte de Henrique VIII, Thomas More observou que a mentira política, quanto mais patente e boboca, mais solicitamente é aceita como verdade por aqueles a quem, no fundo, ela não engana de maneira alguma. Decorridos vários séculos, belo exemplo da validade permanente dessa máxima é o acordo assinado entre Brasil e Paraguai para “reprimir o narcotráfico”, lindo evento diplomático seguido de trocas de tiros, não com os traficantes das Farc, mas entre a Polícia Federal do primeiro signatário e a Marinha do segundo (v. http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u729317.shtml). Como ambas as partes sabem que a guerrilha colombiana domina o narcotráfico na fronteira, mas ao mesmo tempo comprometem-se a combater tão somente o crime abstrato, puro, platônico, sem tocar na realidade viva das conexões políticas que o originaram, o protegem e dele se alimentam, torna-se evidente que todo o esforço de cada um dos contratantes residirá em fazer o melhor que possa para impedir que as ações do outro contra o banditismo tenham qualquer resultado substantivo: haja o que houver, as Farc não serão arranhadas. Tão sério é esse compromisso, que aqueles que o assumiram não hesitam em cumpri-lo à bala. Quem disse que não existe heroísmo entre picaretas?

Eis aí, pela bilionésima vez, o sinal de que, na leitura dos tratados internacionais e declarações políticas em geral, o estudante não deve excluir a possibilidade de que signifiquem precisamente o contrário do que dizem. A única diferença entre o reinado de Henrique VIII e o mundo moderno é que na época do primeiro só eram obrigados a dizer amém à mentira oficial os membros do círculo mais próximo do rei. O povo, à distância, e os intelectuais, no recesso protegido da universidade, sabiam que tudo aquilo era uma palhaçada, e riam. Hoje, com os meios de comunicação de massa e a instrumentalização das universidades como meios de “transformação social”, o auto-engodo obrigatório se impõe a toda a população e os intelectuais em peso são os primeiros a legitimá-lo, cada um sentindo uma angústia, um peso na consciência toda vez que se recusa a acompanhar seus pares, mesmo por minutos, no exercício de tão honrosa missão. Se você não entra no jogo, é excluído não só da corriola palaciana, como antigamente, mas do seu grupo de amigos, do emprego, da família, do universo. Por isso é que o mundo moderno, se ainda não é o império geral da mentira anunciado no livro do Apocalipse, pelo menos dá o melhor de si para aproximar-se desse ideal sublime.

Vejam o que aconteceu com o dr. Joseph Sonnabend, epidemiologista e um dos criadores da prestigiosa Foundation for AIDS Research. Um belo dia ele recebeu um press release emitido pelo próprio departamento que ele chefiava. A coisa dizia que a Aids assumira proporções epidêmicas, já não era um risco limitado à parcela mais vulnerável da comunidade homossexual, mas era um perigo iminente para toda a humanidade. “Que besteira é essa? Eu nunca assinei essa porcaria!”, protestou o perplexo doutor. Antes que ele obtivesse uma explicação, a mentira alarmista já tinha virado capa da revista Life, com o título: “Aids: Ninguém está a salvo”. Só quando a farsa já havia se espalhado pelos quatro quadrantes da Terra como verdade científica incontestável uma alma caridosa explicou ao dr. Sonnabend que tudo era um plano da Foundation e da indústria farmacêutica para arrancar verbas do governo americano (v. http://www.youtube.com/watch?v=lfnYciuXeB4). Na verdade, a Aids nunca foi um perigo sério para a população heterossexual e, hoje, não é absolutamente risco nenhum. Confirma-se assim, linha por linha, a denúncia que em 1993 o jornalista Michael Fumento apresentou em seu livro The Myth of Heterosexual Aids (v. http://www.fumento.com/myth.html). Mas dizer indústria farmacêutica é dizer Rockefeller, e dizer Rockefeller é dizer Council of Foreign Relations, Bilderberg Club e, no fim das contas, Nova Ordem Mundial – as mesmas organizações e entidades que estão por trás do climategate, das campanhas mundiais abortista e gayzista, da nova religião global biônica, da proposta do governo Obama para o controle universal da circulação de capitais, etc. etc. – a lista das maravilhas não tem mais fim. Quem vai dar um basta em tudo isso? Ninguém. A imposição da bestialidade organizada vem precedida de programas educativos calculados para desarmar a inteligência humana, desde a mais tenra infância, contra a força hipnótica das mais tolas mentiras de polichinelo. Henrique VIII mandou cortar a cabeça de Thomas More quando este se recusou a continuar fazendo vista grossa. A Nova Ordem Mundial não corta cabeças: zela para que elas não cresçam até um ponto em que precisem ser cortadas.

E não é só o sistema educacional que serve a esse fim. Para vocês fazerem uma idéia da colaboração prestimosa da “grande mídia” com a microcefalia global planejada, vejam como os medalhões do jornalismo americano responderam ao novo livro do repórter Aaron Klein, The Manchurian President, que investiga, com mais de oitocentos documentos, as relações íntimas entre Barack Obama e tudo quanto é organização comunista, islamofascista e anti-americana nos EUA. Antes mesmo de poder lê-lo, assim reagiram aquelas belas almas ao mero anúncio de que o livro estava para ser publicado (v. http://www.wnd.com/index.php?fa=PAGE.view&pageId=149313):

“Nunca, nunca mais me contactem”, respondeu o redator da Time, Jeffrey Kluger.

“Porcaria ridícula” (John Oswald, editor do New York Daily News).

“Lixo sensacionalista que não interessa a nenhuma publicação séria” (Rana Foroohar, editora adjunta da Newsweek).

“Tirem-me da sua lista” (Nancy Gibbs, editora da Newsweek).

“Vão cuidar das suas vidas” (David Knowles, comentarista político da America Online).

“Isso é ofensivo” (Ben Wyskida, diretor de publicadade de The Nation).

E assim por diante. A dedicação dos grandes do jornalismo atual à ocultação de notícias politicamente indesejáveis não é um capricho de momento, uma frescura, uma leviandade: é um compromisso sério, profundo, inflexível. É uma missão de vida.


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👆OPINIÃO DO AUTOR

A primeira propriedade privada de todas
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
10 de Julho de 2022

Vamos abordar de forma rápida um conceito muito falado no espectro da direita brasileira: a propriedade privada, só que num sentido mais espiritual. Muito se fala sobre isso, e pouco se reflete. De forma geral, em termos de lei, define-se como "propriedade privada" ao imóvel comprado por uma pessoa que, de acordo com as leis vigentes (que o terceiro poder brasileiro faz questão de desrespeitar nos dias de hoje), essa pessoa pode gozar dessa posse como bem entender e permitir ou proibir que qualquer pessoa a adentre se assim desejar. Essa é a lei brasileira. No Cristianismo, muito se fala em Jesus "fazer morada em nós". No Catolicismo, a Comunhão é vista como o momento solene em que, através das aparências do pão (corpo) e vinho (sangue), Jesus entrará em nós, e fará morada durante aqueles 15 minutos que estivermos com a hóstia no estômago. Quando o padre diz as palavras, nós respondemos "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo". Em outras palavras, você está dizendo a Jesus o seguinte: "desculpe a bagunça e as pichações lá no muro, e até mesmo a feiura daquele ladrilho alí que tá solto, ou mesmo daquele cupim que se encontra no meu armário, da lâmpada que hora acende, hora apaga, eu sei que essa carcaça nojenta não é digna de alojar um Rei como Tu, mas entra assim mesmo, fala comigo e me ajuda a limpar um pouco a bagunça, tudo bem, Jesus?" Supersimplificando a ideia, seria isso.


Vejam só que a gênese do conceito de propriedade privada não se encontra nas leis, quer sejam brasileiras, quer sejam de outro lugar do mundo. Os grandes filósofos da humanidade, os pais da filosofia, Aristóteles, Sócrates, não criaram absolutamente nada em seus ensinos. Eles apenas organizaram aquelas informações. E olha que ambos eram pagãos em seu devido tempo, dentro de sua cultura politeísta! O verdadeiro conceito de propriedade privada se encontra antes na própria natureza das coisas, no Logos, ou seja, em Deus. Nossos corpos são a nossa primeira propriedade privada, a propriedade que aloja nossas almas, que não seriam capazes de ter ação alguma neste mundo não fosse nossos corpos físicos.


Deus dá a você a sua primeira propriedade privada. Desta forma, convém a seguinte pergunta: da mesma forma que cuidamos para que nossas casas neste mundo estejam bem arrumadas e organizadas, que tudo esteja em seu devido lugar, que nada esteja faltando para uma possível visita inesperada... será que estamos tendo o mesmo cuidado conosco?


O assassinato de crianças no ventre das mães (chamado de "aborto") está aí, correndo solto. Deus dá uma morada para as almas que vem a este mundo cumprir uma missão importante e nós extirpamos essas almas de suas primeiras moradas em um crime de lesa-Majestade tremendo, que atenta contra a vida e contra a própria vontade de Deus.


Ou então deixamos nossas cabeças, nossa inteligência, nosso "projetor de filmes" abarrotados de coisas feias, vis e imprestáveis. Pior, passamos isso para os nossos filhos. As salas de TV das nossas mentes, bem como nossas câmeras (ou olhos) não sabem fazer outra coisa a não ser olhar para o que não presta.


A todo momento, deixamos que ideias fúteis e imprestáveis adentrem livremente nossas moradas. E ainda pior: SOCIALIZAMOS LIVREMENTE nossos pensamentos imprestáveis, deixando nossas casas à vista para todos em redes sociais, blogs, e tudo mais. Permitimos que qualquer convidado entre em nossas casas, por mais sujos que sejam... menos Aquele que mais interessa para que nós, um dia sejamos libertos das amarras terríveis deste mundo. Permitimos que tudo nos habite, exceto o Rei dos reis.


Pra completar a piora, hoje as pessoas, sem o menor pingo de escrúpulo, se vestem de forma horrorosa, se mutilam, cortam fora seus órgãos e partes do corpo, de forma a quererem se parecer com algo que não são, nem foram feitos pra ser.

E você? O que você anda fazendo com a propriedade privada que Ele te deu por primeiro?

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👆 HUMOR

E nas True Outstrips de hoje: 
- um preparado despreparado ganhando, mas perdendo... haja dialética!; 😂
- Bernardo comete um pequeno erro lexical...;
- outra piada de trans... dessa vez o profe se superou, hehehe!;
- e aquela velha história de dois pesos e duas medidas... ilustrada por quem entende do assunto. Vou começar a chamar o Rasta da Brasil Paralelo pra anunciar o troféu Bigodagem aqui no blog, hahaha!;
- e fechando com chave de ouro, um inventor aluno do COF dá uma de professor Pardal e inventa algo inovador pra espantar uzinimigo! Pernas-pra-que-te-quero, esquerdalha! 😁

- Ah, e quem puder, colabore com as True Outstrips! É você que as mantém funcionando sem dinheiro de Rouanet, Secom, e cia limitada!

(30/06/2022)
(30/06/2022)
(05/07/2022)
(06/07/2022)
(11/07/2022)



Aí o Sal Conservador catou o Tarcísio trabalhando fora de horário e passando a máquina de asfaltar em cima do bando do Roda Morta! Ficaram lisos! Hahaha!
(29/06/2022)

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👆 LEITURA RECOMENDADA

Mais uma vez, é hora de visitarmos a literatura essencial e inesgotável do nosso professor Olavo de Carvalho. Dando sequência à sua trilogia do mundo moderno que se iniciou em "A Nova Era e a Revolução Cultural", recomendada por mim na edição XLI e seguida do "O Jardim das Aflições", recomendado por mim na edição L, trago a vocês hoje essa obra-prima do pensamento do autor, O Imbecil Coletivo. Aqui, Olavo define como o "imbecil coletivo", aquela pessoa que se imbeciliza e também imbeciliza os demais. E é sempre bom lembrar: os que imbecilizavam os demais na época que Olavo escreveu esta série de artigos, hoje já estão todos devidamente imbecilizados. A decadência da inteligência da classe falante perfeitamente retratada aqui neste livro indispensável. Não deixe de ler o final desta trilogia essencial para se compreender o mundo moderno.

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