Edição LII (Terça Livre, Revista Esmeril 30, Opinião e mais)
REVISTA ESMERIL 30
- A guerra não tem rosto de ninguém (Nati Jaremko)
- Da Rússia, com Amor (Leônidas Pellegrini)
- Imagem (Vitor Marcolin)
(matérias de edições antigas da revista que ainda são atuais)
Neste ano de 2019 o Brasil testemunhou um sem-número de espetáculos farsescos, desde encenações nos tribunais superiores a lágrimas derramadas nas tribunas do Congresso. Mas poucos têm-se fixado na memória do brasileiro como a ópera-bufa produzida por parlamentares na chamada CPMI das fake news.
No seu texto da ementa de requerimento leem-se os objetivo
da CPMI: “Investigar ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e o
debate público; a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições de 2018; a prática de cyberbullying sobre
os usuários mais vulneráveis da rede de computadores, bem como sobre agentes públicos; e o aliciamento e orientação
de crianças para o cometimento de crimes de ódio e suicídio”.
No entanto, o que o cidadão brasileiro tem assistido nesses últimos meses revela-se algo bastante distinto.
A CPMI resume-se a atacar a liberdade de expressão da população, que só possui as mídias sociais como um meio acessível para fazer a sua voz ser ouvida com integral liberdade. De fato, parece que essa liberdade vem desagradando alguns figurões de Brasília e seus séquitos, que desejam retroceder a história ao período pré-internet, quando eles detinham o monopólio do discurso.
O deputado federal Alexandre Frota sobe ao palco com um dos mais ativos protagonistas desse show obsceno, lembrando por vezes seu passado como ator. Frota conseguiu se eleger deputado pelo PSL na chamada "onda bolsonarista". Uma vez eleito, porém,
abandonou sua frágil fidelidade, começou a atacar o governo e acabou
expulso do partido. Em agosto deste ano, Frota foi recebido pelo PSDB em uma cerimônia em que estavam o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) e, curiosamente, o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados. Maia, na oportunidade, foi fartamente elogiado por Frota em seu discurso.
Interessante notar que foi o deputado federal Alexandre Leite, também do DEM, quem apresentou o requerimento de instauração da CPMI das fake news. Depois
de se filiar ao PSDB, Frota intensificou seus ataques ao governo Bolsonaro e passou a compartilhar maciçamente o conteúdo do Twitter de Luciano Ayan, pseudônimo de Carlos Augusto Afonso. Além disso, o deputado marca o perfil de Ayan em quase todos os seus posts.
Ceticismo
fake
Luciano Ayan obteve forte notoriedade na mídia em março de 2018, quando fez a postagem de uma notícia falsa sobre a vereadora Marielle Franco, que havia sido assassinada no dia 14 daquele mês, em seu site Ceticismo
Político. A matéria foi compartilhada nas redes sociais pelo MBL. Os perfis de Ayan e a página do Ceticismo Politico foram banidos pelo Facebook. A rede social detectou que o perfil de Ayan que administrava a página Ceticismo político era falso. Segundo o site de notícias R7, a polícia civil abriu um inquérito para identificar os responsáveis.
Além disso, o portal de notícias constatou que Pedro Augusto Ferreira Deiro, nome verdadeiro do rapper Pedro D`Eyrot, líder e um dos fundadores do MBL, foi sócio de Ayan na empresa YEY Inteligência Ltda., fundada em 2017.Com a retirada do ar de sua página, Luciano Ayan revelou a sua verdadeira identidade: o consultor de informática Carlos Augusto Afonso, e contou ter ligação com o MBL. O movimento sempre havia negado ter qualquer associação direta com Ayan e com a página Ceticismo Político.
Quatro meses depois, o Facebook tirou do ar mais 196 páginas e 87 contas ligadas ao MBL por suspeita de disseminação de notícias falsas. Entre esses sites constam o Jornal Livre e O Diário Nacional. Essas páginas comporiam uma espécie de rede coordenada de desinformação.
Assim, os membros do MBL seriam capazes de atuar como se as notícias procedessem de diferentes veículos independentes, segundo publicou o G1 em reportagem de 2018.
Em novembro de 2019, o portal UOL publicou uma notícia em que os ex-colaboradores dos sites Jornal Livre e Diário Nacional Roger Roberto Dias André (Roger Scar) e Francine Galbier contaram que, na hora de escrever as reportagens, recebiam orientações de Luciano Ayan e Renan Santos, que também é um dos líderes e fundadores do MBL. O grupo negou essas afirmações. Roger explica que Ayan praticava assassinato de reputações e indicava quem deveria ser atacado. Os jornalistas deveriam procurar tudo o que pudesse ser usado contra a pessoa, mesmo que fossem informações não comprovadas.
Em nota ao UOL, o MBL afirmou que as afirmações de Roger eram caluniosas e mentirosas. O movimento disse ainda que eles teriam um compromisso muito sólido com a verdade e respeito aos meios de comunicação, além de que lutam "pela democracia e a liberdade
de expressão em bases verdadeiras e sem qualquer tipo de manipulação”,
bem como rechaçam "a produção e divulgação de notícias falsas”.
Roger teria enviado uma carta aos deputados federais após o início dos trabalhos da CPMI das Fake News. Ele teria relatado que membros do MBL frequentemente pediam para que ele publicasse notícias falsas. Também disse que muitas vezes os próprios membros do MBL, que tinham acesso ao seu site, publicavam essas
notícias e ele tratava de apagá-las quando descobria. Ele teria comentado na carta, ainda, sobre valores de pagamentos recebidos. No início seriam R$ 700 por mês, mas logo passou a receber R$ 2.000 acrescidos de uma parte da receita com os anúncios do site. Segundo ele, os pagamentos eram feitos por Luciano Ayan.
Spin
Doctor do MBL
As fontes ouvidas pelo Terça Livre tiveram acesso a um processo que Ayan teria movido contra um prestador de serviços contratados para monetizar os sites Ceticismo Político, Jornal Livre e O Diário Nacional. Os três
seriam de sua propriedade, e também o Corrupção BR News. Este último, segundo Ayan, seria de propriedade de Pedro
D`Eyrot. Nesse processo, Luciano Ayan teria juntado prints de conversas
do Whatsapp dele com o prestador de serviços.
Nas conversas, Ayan teria afirmado que posta as
notícias no MBL e, ainda, que o conteúdo do MBL saía de um dos três sites de sua propriedade. As páginas, cada uma com a sua base de público, dariam juntas “o tom do conteúdo jornalístico do MBL”. Luciano Ayan teria ainda se intitulado nas conversas como “spin
doctor”. Ele teria o papel de definir pautas e manchetes, enquanto o grupo criaria o conteúdo e Pedro D`Eyrot criaria as manchetes do Corrupção BR.
Spin
Doctor é um termo geralmente utilizado para designar alguém que realiza ações políticas, quase sempre atuando nos bastidores. Em outro momento das conversas, ao ser questionado se a página Socialista de iPhone seria também sua, Ayan diz que “é de alguém do time”, mas não menciona nenhum nome. Mais adiante, ele parece apontar uma relação direta com o dono de Socialista de iPhone. Ao que tudo indica, parece que o MBL controlava uma rede de sites para favorecer notícias de apoio ao próprio movimento, assim como para
propagar notícias contrárias aos seus adversários políticos.
A última conversa do processo data de um mês depois de o Facebook tirar do ar os perfis de Luciano Ayan e a página do Ceticismo Político. Dois meses depois desse episódio, o Facebook removeu também as páginas Jornal Livre e Diário Nacional. No mês seguinte a isso a empresa YEY Inteligência de Ayan e D`Eyrot foi encerrada de forma voluntária.
Como abordamos nesta reportagem, o deputado Alexandre Frota mudou completamente a sua posição política e passou a atacar o governo mesmo quando estava filiado ao PSL. Após sua ida para o PSDB, ele passou a compartilhar os conteúdos do Twitter de Luciano Ayan, que teve perfis e várias páginas ligadas
a ele removidas pelo Facebook sob a alegação de fazerem parte de uma rede de fake news e desinformação.
Pedro D`Eyrot, em abril de 2019, teria feito um comentário em seu Twitter criticando o deputado Alexandre Frota, quando este ainda apoiava o governo Bolsonaro. D’Eyrot lamentava o fato de Frota querer taxar
serviços de streaming de vídeos. Naquele post, D’Eyrot comentou também sobre o interesse de Frota no fundo setorial da Ancine.
Posteriormente, segundo comentários nas redes sociais, esse teria sido o real motivo de Frota cortar relações com o governo, pois teria sido frustrado em sua
intenção de dominar a Ancine.
Em uma matéria de março de 2019, o jornal O Globo informava que Cléber Teixeira, advogado e ex-assessor de Frota, estaria sendo cogitado para assumir o lugar
de Mariana Ribas na Ancine. Em uma entrevista de Alexandre Frota ao Catraca Livre, em agosto deste ano, o deputado disse que ele era quem teria falado da existência da Ancine a Bolsonaro, o que corrobora ainda mais os comentários sobre o motivo real de sua desavença com o governo.
Ao fazer uma análise do conteúdo publicado no Twitter por membros fundadores do MBL, constata-se que em 23 de abril de 2019 Pedro D`Eyrot, que geralmente atacava o PT, passou a fazer apenas postagens atacando o governo e os filhos de Bolsonaro. Além disso, Frota chegou
a apagar sua conta do Twitter no inicio de agosto, mas no final do mês criou outra conta e não parou mais de atacar o governo. Nesse meio tempo, houve a cerimônia de filiação dele ao PSDB de Doria, que, diga-se de passagem, só garantiu a vitória na eleição de 2018 depois de ter ligado sua imagem à de Bolsonaro.
O
círculo se fecha
Importante lembrar que o DEM, partido de Rodrigo Maia, afagado por Alexandre Frota, é também o partido de Kim Kataguiri, deputado federal por São Paulo, Arthur Val, deputado estadual em São Paulo (posteriormente expulso do partido ao lançar pré-candidatura à prefeitura da capital paulista) e
Fernando Holiday, vereador em São Paulo. E, alguns meses antes, Alexandre Frota havia sido alvo de duras críticas por parte de membros fundadores do MBL.
Rubinho Nunes, membro e advogado do MBL e assessor de Kim na Câmara dos Deputados, chegou a dizer que Frota teria tentado roubar a marca MBL. Essas críticas foram compartilhadas por D`Eyrot em seu Twitter. Tudo isso
aconteceu no final de abril de 2019. No entanto, quatro meses mais tarde, ao filiar-se ao PSDB, Frota estava sendo prestigiado por Maia, que é do mesmo partido dos integrantes eleitos do MBL.
Também no fim de abril deste ano, o deputado Alexandre Leite (DEM-SP), fez o requerimento para instaurar a CPMI das fake news, o que ocorreu no dia 04 de setembro. O indicado do PSDB para participar da comissão foi o deputado Alexandre Frota, que tinha naquele momento menos de três semanas de filiação ao partido, e que vinha empenhando um grande esforço para acabar com a imagem do governo nas redes. A partir daí, Frota só vem falando em fazer pedidos de impeachment do presidente.
E o primeiro grande convocado, não convidado, à CPMI das Fake News, foi o jornalista Allan dos Santos,
alguém que abertamente apoia o atual governo. Ele foi convocado por ter sido acusado de propagar fake news e participar de uma suposta milícia virtual bolsonarista. Apesar de não terem apresentado nenhuma prova dessas acusações, mesmo assim ele foi convocado e, por isso, era obrigado a comparecer para depor. Como era de se
esperar, o jornalista demonstrou que todas as acusações não tinham realmente nenhum fundamento.
As perguntas a responder são as seguintes: por que Luciano Ayan, que possui indícios fortíssimos de ter montado uma rede de sites para propagar notícias falsas e de desinformação, e que ainda teria feito disso uma valiosa fonte de recursos, não foi convocado para a CPMI? Estaria Ayan sendo protegido pelo centrão?
E houve ainda, também, o caso do “mensalinho" do Twitter da esquerda, em que há inclusive vídeos nos quais se negociam pagamentos para aqueles que publicavam notícias favoráveis aos partidos de
esquerda. Sobre isso também nada será averiguado?
Parece que o objetivo da CPMI é fazer com que os apoiadores do governo nas redes sintam-se intimidados, ou mesmo ameaçados, e acabem se retirando do debate público por medo. Tudo indica que o MBL e Luciano Ayan não serão chamados, e assim estarão livres de responder pelas suspeitas que pesam sobre eles. E, de quebra, se tudo sair como planejam, o objetivo a longo prazo é
montar a base para um futuro pedido de impeachment do presidente.
Se é possível vivenciar arroubos de
humanidade e reconhecimento mútuo para além das barreiras identitárias, para
nós, esses instantes de sobriedade deveriam ser obrigatórios.
Nós ouvimos relatos distantes de guerras passadas,
guerras que moldaram territórios, que promoveram transformações tecnológicas e
científicas, que influenciaram mudanças de mentalidade e traços estéticos nas
artes. Se o passado for muito distante, a gente olha por cima e se encanta com
os feitos heroicos, com as situações curiosas e inusitadas, com a glória de
alguns personagens; se estiver mais próximo, falamos de algum conhecido que
“não se bica” com sicrano pois seus antepassados eram inimigos de guerra e, em
ambos os casos, queremos entender os conflitos de interesse, tentar lembrar
quem fora presidente, chanceler ou rei, estudar as estratégias de movimentação
no front, esquemas de espionagem ou intervenções
econômicas.
A verdade é que nunca nos imaginamos frente a
frente com as escolhas reais feitas no dia-a-dia de um confronto de grandes
dimensões e, apesar de todos os exercícios historiográficos e elucubrações
intelectuais sobre a necessidade de se colocar a alguma distância do objeto a
ser entendido, na hora de vivenciar de fato o momento histórico, somos guiados
por uma confusão de sentimentos formada por um misto de captação parcial da
realidade – aquela que se apresenta ao nosso campo de visão cognitivo –
com interesses práticos e o assomar de simpatias pessoais, por vezes baseadas
em linhagens identitárias.
Ninguém está isento de se aproximar de questões
complexas desse modo, porém é importante lembrar, correndo o risco de parecer
redundante, da ameaça que esse tipo de abordagem pode oferecer à verdade e
à justiça enquanto valores transcendentes, e acredito que o
atual contexto sobre debates em torno do conflito euroasiático exija tal
ponderação.
Embora existam sim as interpretações superficiais e
dualistas que projetem as frustrações em torno das democracias liberais do
ocidente – ainda mais nesse momento de arbitrariedades impostas ao longo da
crise sanitária – em tentativas reducionistas de buscar identificação com um
líder tirânico e propagador de uma ideologia indubitavelmente agressiva e
despótica, há também aquelas perspectivas que, no afã de manifestar um desapontamento
com o primeiro viés interpretativo, acabam criando barreiras discursivas ao
debate em torno de uma questão complexa e rejeitam qualquer expressão que não
seja uma evidente desaprovação das atitudes do ditador mencionado ou
indubitável simpatia pelas do líder da nação atacada.
Não estou aqui para fazer uma crítica vaga à
existência de conflitos globais, como se fosse possível extirpar todo eventual
choque entre nações e culturas através de um frívolo apelo à noção de paz, ou
como se qualquer disputa implicasse em um jogo superficial de egos que condena
inocentes. Claro que a harmonia nas relações supranacionais é mais do que
desejável e que existe, de fato, essa dinâmica egótica envolvendo
os líderes que draga indivíduos para o cerne de uma profusão de esquemas
ideológicos que, por sua vez, embaça suas perspectivas do real. Mas seria
bastante desonesto da minha parte limitar os desdobramentos das guerras a
disputas materiais, esquecendo-me de que existem identidades emocionais e
questões morais envolvidas. No caso do conflito atual, fica difícil negar que o
fortalecimento das pretensões imperialistas russas coloca em risco os pilares
mais caros da civilização, ainda que, vale ressaltar, as próprias elites
ocidentais já tenham começado a contribuir com sua degeneração.
Não pretendo, também, manifestar uma perspectiva
ingênua que equaliza a torpeza dos lados ou que culpabiliza uma ideia imprecisa
de sistema pelas atitudes concretas de indivíduos e ideologias específicas, e
nem uma que esvazia de sentido qualquer identificação nacional ou cultural,
como se toda ela fosse fruto da tomada de decisão mecânica de uma mente bronca.
Sei da importância do estabelecimento de laços locais, tanto pela evidência
histórica da recorrência desse modo de organização, como pela consciência de
que ele enfraquece lideranças arbitrárias e impessoais; mas
gostaria de reforçar algo que parece ter sido esquecido no contexto atual de
debates: períodos de grandes confrontos trazem à tona um enfoque ideológico
muito intenso que tende a engolir as minúcias da realidade concreta e a
desumanizar relações, simplificar nossa capacidade de entendimento e
transformar analistas conscientes em membros de torcidas.
É lugar-comum, mas corresponde à realidade: a
dimensão ideológica nos faz perder a capacidade de olhar para o outro enquanto
indivíduo, enquanto unidade orgânica cuja essência vai além de identidades
imediatas. Quando os lados escolhidos de uma guerra moldam o modo como
tratamos uns aos outros em situações cotidianas, torna-se imperativo parar um
segundo e retomar os preceitos intelectuais básicos de busca da verdade e os
pilares perenes da civilização.
Pipocaram notícias sobre a vigência de novas regras
para o convívio com russos e bielorrussos ao redor do mundo, regras que vão desde
restrições à concessão de vistos, passando pela não aceitação de pessoas com
esses passaportes em hotéis e empresas de locação e vendas de imóveis, até
a limitação no fornecimento de serviços de saúde.
Mesmo o banimento de literatura russa do currículo de determinada
universidade fora aventado, e as pessoas começaram a
recorrer às ascendências consanguíneas para fazer suas manifestações políticas.
Eu própria fui alvo de questionamentos devido ao sobrenome polonês, que pode
facilmente ser associado com um de origem ucraniana ou russa: perguntaram minha
opinião sobre o conflito enquanto alguém de determinada proveniência.
Confesso que esse grau de preocupação identitária
me aflige e me faz pensar no conceito de comunidades imaginadas que Benedict Anderson usa no livro em que faz
críticas ao sentimento nacionalista. Como mencionei anteriormente, estou
consciente da existência genuína de laços comunitários, de relações autênticas
entre seres humanos e símbolos de coletividade como pátria, cultura, língua. E
acredito, inclusive, que tais afinidades sejam importantes barreiras à tirania
de governanças cada vez mais abrangentes e centralizadas.
Contudo, a manipulação artificial e para fins
opressores desse tipo de referencial simbólico é feita e temos visto exemplos
concretos e atuais dela. Há os já citados, de repúdio a nacionalidades
específicas, ainda que os indivíduos delas provenientes não sejam culpados de
nada palpável, e há ainda a lógica da simplificação do discurso em debates que até
poderiam ser produtivos, mas tornam-se injustificavelmente hostis, e em redutos
intelectuais, locais tradicionalmente associados com a exposição de fatos e com
análises críticas, embora acabem se convertendo em pura exposição de simpatias
e desafetos pessoais.
Vi, nesse cenário, muita gente boa perder a cabeça
no debate, atacar o inimigo errado, criar uma atmosfera de hostilidades contra
dúvidas e questionamentos, fazer ponte retórica falaciosa entre alguma asserção
factual e a defesa ou rejeição de um dos lados e afeiçoar-se
mais a uma eventual consequência de se espalhar uma informação do que à sua
veracidade em si. Vi uma preocupação maior com identidades do que com o cerne
do real, num movimento em que determinada postura ou posição é justificada pelos
antepassados ou experiências pessoais, e isso me preocupa. Isso é trazer
a guerra para cá.
Em A Guerra não tem rosto de mulher, a autora
mostra como em momentos como esse nos esquecemos dos laços afetivos
desenvolvidos no âmbito privado, dos detalhes que constituem a humanidade, das
criações humanas que vão além da subsistência e do uso da força física; todos
tão característicos do arquétipo feminino da sociedade. A história conta o viés
dos russos que foram à guerra sob governo stalinista e, ainda assim, as
pessoas, principalmente as mulheres – um senso de identidade que ultrapassa
barreiras nacionais –, em todos os cantos do mundo, conseguem se identificar.
Em Nada de Novo no Front, o relato de um
soldado alemão na Primeira Guerra, escrito por um autor alemão, tornou-se
representativo da angústia e confusão de toda uma geração – os soldados
novinhos – e não importava em que parte do globo ou por que polo batalhava o
jovem.
Todos se horrorizaram com as histórias de soldados
marroquinos, extremamente truculentos e brutais, que, à serviço das forças
francesas na Segunda Guerra, cometeram diversas atrocidades contra civis
italianos, dentre os quais o estupro de meninas e mulheres. Essa última faceta
foi representada, inclusive, no filme Duas
Mulheres, que conta com a musa Sofia Loren. Não importava que
fossem cidadãs italianas, sob proteção do fascista Mussolini, pois naquela
situação eram seres vulneráveis que sofreram uma violência totalmente
injustificada.
Lembro-me também das anedotas de guerra dos pracinhas brasileiros
– cuja veracidade histórica nunca consegui confirmar – em que, perdidos em meio
aos conflitos tradicionais do continente europeu, confundiram, nos hospitais de
campanha, a cruz de malta da farda militar dos alemães com o símbolo do time de
futebol Vasco da Gama, e acharam um motivo para sorrir no meio de tanta
fealdade, em um óbvio momento de suspensão simbólica da realidade
imediata.
Ou até de Bernhardine
Nienau, uma menina de ascendência judia que despertou a simpatia de
Hitler, cuja tolerância para com a origem dela fora justificada por um soldado
nazista como “uma atitude puramente humana em relação à criança”. Um ato que, e
é até estrambólico ter que reforçar isso, não anula os crimes do ditador, mas
justamente por pertencer a um exemplo extremo, ilustra bem essa diferença de
abordagem, nas relações humanas, entre um contato pessoal ou circunstancial e
uma representação ideológica e arquetípica.
Existem cenas representativas em filmes, como a
“desconversão” do neonazismo do personagem de Edward Norton em “Uma história
americana”, que ocorre em decorrência de momentos de intimidade e identificação
que ele tem com um homem negro enquanto está na cadeia, ou o momento em que o
algoz de Sofia, em “A escolha de Sofia”, se apaixona por ela. Se, até mesmo
para quem está no vórtice de conflitos e histeria ideológica, é possível
vivenciar arroubos de humanidade e reconhecimento mútuo para além das barreiras
identitárias, para nós, esses instantes de sobriedade deveriam ser
obrigatórios.
Remexer nos detalhes e desfazer mitos não é o mesmo
que sair em defesa de um grupo ou indivíduo. Nem sempre é óbvia a importância
de se buscar e elencar a verdade, pode ser que, para aquela conjuntura, a
necessidade da exposição do real venha a se revelar anos, décadas ou até
séculos mais tarde, mas temos muita evidência histórica de que essa é uma briga
que vale ser comprada, deve fazer parte de uma intervenção superior e não
circunstancial ou baseada em desafetos pessoais.
Do contrário, corremos o risco de cair em pura
retórica e em teorias frágeis, como a de Paulo Freire sobre o processo
educacional ter que “tomar o lado do mais fraco” ou as de historiadores que,
numa suposta prestação de respeito à memória das vítimas, impõem barreiras
discursivas ao debate intelectual dos acontecimentos históricos. Em resposta a
isso, Hayden White disse, certa vez, que seria impossível descobrir o “mais
fraco” ou a vítima sem antes haver o questionamento (congresso The
extermination of the jews and the limits of representation ocorrido na
UCLA, University of California, Los Angeles, no ano de
1990).
Na tentativa de combater o mal, podemos cair
justamente no paradoxo da banalidade do mal sugerido por Hanna Arendt, em que não se opta
por fazer o bem, pois não se coleta, justamente, os fatos e evidências que
direcionariam a escolha, de modo que se age apenas em nome de categorias
intangíveis e coletivistas, daquilo que fora convencionado como certo e não de
uma tomada de consciência. É possível escolher o lado certo por
coincidência porém, devido à fragilidade desse tipo de estrutura moral, a
sustentação da verdade pode se desfazer a qualquer momento.
Créditos da imagem: Corinne Guirgis — August 7, 2011 — Social Good
1.
Santa Olga de Kiev
Santa Olga – Museu Santa Sofia, Kiev
Nascida em um aldeia chamada Vybut, na Rússia, em
890, Olga era filha do chefe da tribo pagã Variagi, que comandava vários pontos
estratégicos de transporte e comércio no país.
Em 903, casou-se com um príncipe russo chamado
Igor. Ele era cristão, e esta união passou a ser símbolo da aproximação entre
os cristãos e pagãos na Rússia, que começava a converter-se ao
cristianismo.
Em 945, o príncipe Igor foi assassinado por tribos
inimigas. Olga assumiu seu lugar no governo do principado de Kiev (então
capital da Rússia). Ainda não convertida, sua primeira ação foi uma vingança
impiedosa contra os assassinos do marido: ordenou a morte de todos os chefes
daquelas tribos, e ainda mandou incendiar várias de suas aldeias e impôs altos
impostos aos sobreviventes.
Quando o príncipe Esviatoslav, filho de Olga e
Igor, atingiu a maioridade e assumiu o trono de Kiev, ela se converteu ao
cristianismo. Passou a ajudar os pobres, doentes e necessitados, e a anunciar o
Evangelho. Construiu várias igrejas e difundiu a fé cristã por toda a região.
Não conseguiu converter o filho, mas suas incessantes orações, posteriormente,
moveram a Providência a tocar o coração do príncipe Vladimir I, que também
viria a se converter e se tornar santo e um dos Padroeiros da
Rússia.
Santa Olga faleceu aos 79 anos, em 11 de
julho de 969. Sua vida enquanto governante pagã, ainda que em muitos
momentos marcada pela justiça e pela misericórdia, caracterizou-se pelos
pecados de sua vingança. No entanto, ela veio a tornar-se modelo de conversão,
perdão, intercessão pela oração e verdadeira piedade cristã.
2.
São Vladimir de
Kiev
Filho caçula do príncipe Esviatoslav e neto
de Santa Olga de Kiev, Vladimir nasceu em 963, em Kiev, e recebeu
educação pagã. Com a morte do pai, passou a governar as terras que herdou,
travou guerra contra seu irmão, herdeiro legítimo do trono e, a partir de 980,
tornou-se o soberano de Kiev.
Por meio da Guerra, ampliou seus domínios para o
Oeste: conquistou a Galícia e submeteu povos desde o mar Báltico até o rio Bug.
Tinha cinco esposas e várias concubinas, ergueu templos pagãos pelas montanhas
de Kiev, e levava uma vida desregrada.
Antes de sua ascensão ao trono de Kiev, em 12
de julho de 978, em oferenda ao deus viking Perun, que cultuava,
ordenou o sacrifício de alguns cristãos, os Santos Mártires Teodoro e
João (pai e filho, primeiros mártires conhecidos da Rússia, e seus
parentes distantes, pois pertenciam ao povo variago, de onde procedia sua avó
Olga). Impressionou-se com a firmeza do testemunho de fé de ambos, e isso o fez
começar a se interessar pelo cristianismo.
Vladimir ordenou a seus sábios que viajassem a
diversos países buscando a religião verdadeira. Ao mesmo tempo, recebeu em sua
corte líderes muçulmanos, judeus, budistas e cristãos, e escutou atentamente
suas pregações. O que mais o impressionou foi um grego cristão. Quando os
sábios da corte retornaram de suas viagens, estavam todos tocados pela Verdade
do Evangelho. Disseram-lhe: “Se a religião de Cristo não fosse a verdadeira,
tua avó Olga, que era sábia, não a teria aceitado.”
Após estudar o Evangelho e se converter, Vladimir
foi batizado em 989. Em seguida, casou-se cristãmente com a princesa Ana, filha
de Basílio de Constantinopla. Mandou destruir todos os templos a ídolos pagãos
que havia erigido, e os transformou em igrejas e mosteiros. Tornou-se um
cristão piedoso e empenhado na difusão da Palavra. Passou a enviar missionários
e catequistas para todo o território russo, e por isso ficou conhecido
como o grande cristianizador da Rússia. Também influenciou
muito a cristianização da Europa Ocidental, depois que, viúvo, casou-se com uma
princesa da Germânia.
Vladimir faleceu em 15 de julho de
1015. Seu corpo foi desmembrado em várias partes, que foram distribuídas por
diversas igrejas e mosteiros, onde são veneradas como relíquias.
Assim como sua avó, e por intercessão dela,
Vladimir tornou-se exemplo de santidade após verdadeira conversão. Que este
príncipe de Kiev e Padroeiro da Rússia interceda junto ao Sagrado Coração de
Jesus, o Imaculado Coração de Maria e o Piedoso Coração de São José pela
conversão do atual Vladimir, de Moscou.
3.
São Sérgio de
Radonej
Nascido em Rostov, em 1314, com o nome de
Bartolomeu, era filho de pais piedosos. Ainda no ventre da mãe, testemunhou-se
seu primeiro milagre, quando, durante uma missa, escutou-se ele gritar por três
vezes em louvor a Deus. A partir de então, sua mãe passou a olhar para o filho
em seu ventre como um tesouro precioso, guardando-se o mais que podia de toda
mancha de pecado.
Menino pobre e muito devoto, pequeno Bartolomeu
encontrou muita dificuldade para conseguir aprender a ler e escrever, o que ele
pedia a Deus constantemente. Um dia, apareceu-lhe um anjo sob a aparência de um
ancião, e pediu-lhe para ler o Livro dos Salmos. O garoto vacilou, mas o velho
insistiu para que tivesse fé. O pequeno então recitou todos os salmos com
fluência, na frente dos pais, e o anjo revelou-lhes que o filho seria grande
diante de Deus.
Bartolomeu, tempos depois, precisou cuidar de seus
pais doentes, e o fez até a morte dos dois, quando estava com 22 anos. Então,
retirou-se à floresta de Radonej junto com um de seus irmãos, e lá eles
construíram uma igreja dedicada à Santíssima Trindade. Depois disso, seu irmão
partiu, e o jovem permaneceu sozinho na floresta. Aos 23 anos, tornou-se monge
com o nome de Sérgio. Em torno da igreja que havia erigido, uma comunidade
monástica cresceu focada no trabalho, na oração e, sobretudo, na devoção à
Santíssima Trindade.
Sérgio morreu aos 78 anos, em 25 de
setembro de 1392. Após sua morte, seu corpo incorrupto, que hoje é
venerado na Catedral da Santíssima Trindade, passou a exalar um perfume único,
a exemplo do que ocorre a tantos outros santos. É também um dos Patronos da
Rússia.
____________
Os santos aqui elencados compartilham algo que é
comum a todos os santos, e fator imprescindível à santidade: o amor a Deus.
Seja nos exemplos de conversão e mudança radical de vida de Olga e seu neto
Vladimir, ou no testemunho de fé diante da morte, por parte de Teodoro e seu
filho João, ou no entrega total a uma vida consagrada à Santíssima Trindade por
parte de Sérgio, o São Bento russo, foi o Amor (assim mesmo, com maiúscula) que
os moveu.
Esses santos foram instrumentos nas mãos de Nosso
Senhor e provas vivas de Sua infinita misericórdia, todos com seus corações
abertos a Seu Amor. Certamente estarão entre os primeiros que, dos Altos Céus,
testemunharão a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, pelo qual
também ofereceram suas vidas. Que na sexta-feira que se aproxima, lembremo-nos
deles, e peçamos:
Santa Olga de Kiev, rogai por nós e
pela Rússia!
São Vladimir de Kiev, rogai por nós e
pela Rússia!
Santos Teodoro e João, rogai por nós
e pela Rússia!
São Sérgio de Radonej, rogai por nós
e pela Rússia!
Amém.
Assistir ao filme do Mel Gibson durante a Páscoa nunca teve a força de uma tradição em casa. Claro, desde a estreia do filme, em 2004, algumas Páscoas contaram com as imagens fortíssimas do martírio do Salvador interpretadas pelo talentoso James Caviezel. Antes da popularização dos meios alternativos à tevê, assistíamos, menos por vontade do que por conveniência, àquele outro filme que narrava toda a vida de Christo tal qual descrita nos Evangelhos; mas era um filme longo demais para a nossa paciência tão vacilante.
O fato é que nunca decidi simplesmente sentar-me no sofá e assistir, da capo al fine, ao tão conhecido filme do Mel Gibson. Até esta Sexta-feira Santa. É verdade que aquelas imagens fazem bem mais do que impressionar. Mas falta alguma coisa. Numa aula de Filosofia, ouvi a professora falar sobre a importância do imaginário para a Fé. É fundamental trazermos, quando vamos rezar, fórmulas simbólicas das passagens mais importantes dos Evangelhos, como a via dolorosa.
Com os olhos do Mel Gibson eu vi Nosso Senhor suar sangue no horto das oliveiras, ter a sua santa carne dilacerada pelos algozes de Pilatos, ser coroado com espinhos, carregar a cruz e, finalmente, ser crucificado. As equipes de especialistas em aramaico, em latim e em fonoaudiologia que, imagino, foram contratadas para ajudar os atores a bem pronunciarem as frases nos idiomas originais fizeram um excelente trabalho. Desde 2004, portanto, a linguagem desta narrativa cinematográfica somada, claro, às imagens cruentas converteram-se no prato principal servido durante a Semana Santa de meio mundo de gente.
O filme é ótimo, é a melhor filmagem da Paixão de Christo jamais realizada. Ainda assim faltava alguma coisa. Na verdade, não faltava nada: eu é que tinha expectativas descabidas. Não é possível que, antes da estreia deste filme, o imaginário da Cristandade de todo o mundo jazia carente, à espera da arrebatadora atuação dos atores sob a direção de Mel Gibson.
É que Deus, como bem explicou a professora naquela aula de Filosofia, não infunde a Fé sobre a imaginação, mas sobre a inteligência. Crer é um ato livre da inteligência enquanto movida pela vontade para assentir. A dinâmica do processo pode ser entendida assim: o objeto próprio da inteligência é a verdade (Veritas, quid est veritas?); o objeto da vontade, um bem. O resto é consequência. E a imaginação? Fácil: seu objeto próprio é… uma imagem.
Sobre uma mera imagem a Fé não pode ser posta. Jamais. Ainda que seja sobre um conjunto de imagens; melhor: um conjunto de imagens em movimento. A conclusão é óbvia: a Fé vem pelo ouvir. Se eu convidasse uma amiga cega para assistir (e comer Doritos) comigo ao filme do Mel Gibson neste Domingo de Páscoa, ela poderia cair (sem espalhar as tortilhas sobre o tapete da mamãe) de joelhos e ter uma contrição perfeita diante do filme. Mas não em função das imagens, claro; em função das palavras.
Não tenho uma amiga cega versada em aramaico e latim, mas creio que já me fiz entender. A mensagem que lhe chega por meio dos ouvidos é abstraída pela inteligência, e eis que uma imagem superior é formada: a imagem construída, trabalhada pela própria inteligência. Esta é a imagem que nenhum diretor de cinema jamais conseguirá formar. Para concluir esta crônica despretensiosa, apesar de aparentemente ser o oposto disto, devo dizer que muito me impressionei quando olhei o relógio na tocante cena do “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”: eram três horas da tarde. O ponteiro maior do relógio passava pouco do número 12. Eu me impressionei.
De acordo com a cronologia de Marcos, houve um julgamento simulado, baseado em evidências falsas e distorções dos ensinamentos de Jesus.
Conduziram Jesus à casa do sumo sacerdote, onde se reuniram todos os sacerdotes, escribas e anciãos. Pedro o foi seguindo de longe até dentro do pátio. Sentou-se junto do fogo com os servos e aquecia-se. Os sumos sacerdotes e todo o conselho buscavam algum testemunho contra Jesus, para o condenar à morte, mas não o achavam. Muitos diziam falsos testemunhos contra ele, mas seus depoimentos não concordavam. Levantaram-se, então, alguns e deram este falso testemunho contra ele: “Ouvimo-lo dizer: Eu destruirei este templo, feito por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, que não será feito por mãos de homens”. Mas nem neste ponto eram coerentes os seus testemunhos.
O sumo sacerdote levantou-se no meio da assembleia e perguntou a Jesus: “Não respondes nada? O que é isto que dizem contra ti?”. Mas Jesus se calava e nada respondia. O sumo sacerdote tornou a perguntar-lhe: “És tu o Cristo, o Filho de Deus bendito?”
Jesus respondeu: “Eu o sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do poder de Deus, vindo sobre as nuvens do céu”.
O sumo sacerdote rasgou então as suas vestes. “Para que desejamos ainda testemunhas?!” — exclamou ele —. “Ouvistes a blasfêmia! Que vos parece?” E unanimemente o julgaram merecedor da morte. Alguns começaram a cuspir nele, a tapar-lhe o rosto, a dar-lhe socos e a dizer-lhe: “Adivinha!” Os servos igualmente davam-lhe bofetadas (Mc 14, 53-65).
Segundo a tradição, Jesus passou o resto da noite sob a casa de Caifás, num calabouço que funcionava como uma cisterna para reter a água da chuva.
Os eventos da manhã de sexta-feira são bem agitados. Num espaço de três ou quatro horas, Jesus é enviado a Pilatos, depois a Herodes, depois de volta a Pilatos, interrogado, condenado à morte e levado para ser crucificado às 9h.
Os eventos começam por volta das 6h: “Logo pela manhã, se reuniram os sumos sacerdotes com os anciãos, os escribas e com todo o conselho. E tendo amarrado Jesus, levaram-no e entregaram-no a Pilatos” (Mc 15, 1).
Pilatos não demonstra entusiasmo algum em sobrecarregar-se com tal interrogatório, mas, temendo uma rebelião, ele entra na briga. Sua atitude delata um espírito vacilante. De acordo com Lucas, ele tentou passar o caso para Herodes, que estava em Jerusalém (cf. Lc 23, 6-12). Mas Jesus não disse nenhuma palavra ao rei. Então, depois de zombar de Jesus, Herodes o manda de volta a Pilatos. Em outra tentativa de aplacar a multidão e evitar qualquer decisão, Pilatos apresenta-lhes o equivalente a um pseudo-messias, apropriadamente chamado Barrabás (que significa “filho do pai”). Barrabás pode salvar o dia? Não pode, pois não é o verdadeiro Filho do Pai. Aliás, somente Jesus pode libertar Pilatos, ou qualquer um de nós.
Não tratarei de todo o julgamento perante Pilatos. Ao cabo, ele reconhece que Jesus é inocente das acusações, e não obstante o entrega para ser crucificado. Com isso, é provável que busque salvar a própria carreira. Não toma partido por Jesus. Ao contrário, senta-se no tribunal, viola a própria consciência e condena Jesus à morte. Era por volta da hora terça (9h da manhã).
Há debates sobre a hora exata do dia [em que isso aconteceu] segundo os vários relatos bíblicos. Mc 15, 25 diz que Jesus foi crucificado à hora terça (9h). Em Jo 19, 14, a crucificação acontece à hora sexta (meio-dia). Tanto Mt 27, 45 quanto Lc 23, 44 sugerem um horário mais próximo do meio-dia pela referência a uma escuridão que tomou a Terra do meio-dia às 15h.
Ao considerarmos essas “questões”, devemos ter em mente que as pessoas da época não tinham relógios de pulso ou de bolso. Não falavam nem pensavam com a mesma precisão que nós, ocidentais modernos. O tempo era indicado de maneira geral; a menção à hora terça, à sexta ou ainda à nona poderia englobar um espaço de tempo mais amplo, relativamente próximo da hora declarada. É mais ou menos como nossas expressões “no meio da manhã” ou “no meio da tarde”, que podem abarcar um período de várias horas. Marcos não quis dizer precisamente às 9h da manhã, nem João quer dizer exatamente ao meio-dia.
Há no entanto muita coincidência nas referências ao horário, o que atenua o possível conflito entre os relatos. Seja como for, a necessidade de fixar em horas exatas os diferentes episódios [da Paixão] diz mais sobre as nossas obsessões modernas com o tempo do que sobre os relatos em si, que se aproximam, mesmo sem precisar todos os detalhes, a descrições dos eventos.
A comparação dos textos conduz a uma margem geral de tempo. Parece que Jesus foi submetido a juízo diante de Pilatos e de Herodes no início da manhã (entre 6h e 9h da manhã). Foi condenado por Pilatos à crucificação em algum momento no meio da manhã. Foi ridicularizado e levado para ser crucificado no final da manhã. Perto do meio-dia, foi despido e pregado à Cruz. Do meio-dia até o início da tarde, uma escuridão tomou a Terra, enquanto Jesus pendia da Cruz. Ele morreu no meio da tarde, por volta das 15h.
O que dizer desta escuridão de cerca de três horas? Em Lc 23, 44, lemos: “Era quase a hora sexta e em toda a terra houve trevas até a hora nona” (ou seja, do meio-dia às 15 horas).
Embora pareça descrever um eclipse solar, não é apropriado dizer que foi um (pelo menos como o definimos hoje). Mateus, Marcos e Lucas falam das trevas daquele dia por meio do grego σκότος (skótos), que significa simplesmente “escuridão”. Somente Lucas declara a causa dela: “Escureceu-se o sol” (Lc 23, 45), usando inclusive a palavra grega ἐκλιπόντος (eklipóntos), da qual “eclipse” deriva. Em grego, porém, eklipóntos significa simplesmente “escurecer”, enquanto “eclipse” designa um escurecimento resultante do bloqueio da luz solar pela da Lua. Mas não é isso necessariamente (ou mesmo provavelmente) o que Lucas quis dizer aqui.
Como regra geral, não convém aplicar explicações científicas a um texto quando essa pode não ter sido a intenção do autor. Que houve escuridão sobre a Terra desde o meio-dia até as 15h é fato certo e atestado no textos sagrados, mas a causa declarada da escuridão não foi, definitivamente, um eclipse, pelo menos não no sentido que se dá hoje à palavra. Talvez Deus tenha feito uso de outras causas naturais, como nuvens pesadas, para diminuir a luz do Sol. Também é possível que a escuridão fosse de origem sobrenatural e tenha sido vista por apenas alguns dos presentes.
Quem tenta explicar essa escuridão em termos de leis científicas corre o risco de prestar um desserviço ao texto, perdendo seu significado mais profundo: a escuridão do pecado chegou então ao ápice. Qualquer que seja o “mecanismo” físico da escuridão, sua causa mais profunda foi o mal e o pecado.
Jesus disse noutro lugar: “Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más” (Jo 3, 19). Referindo-se à Paixão, também disse: “Virá a noite, na qual já ninguém pode trabalhar” (Jo 9, 4). Quando Judas deixou o Cenáculo para trair Jesus, João observou com simplicidade mas profundidade: “E era noite” (Jo 13, 30). Sim, uma profunda escuridão pairava sobre o mundo.
Não é possível aqui comentar todos os detalhes da crucificação. Embora sejam acontecimentos históricos, também são de profundo significado espiritual. [Por exemplo:] Jesus falou sete vezes na Cruz: pediu ao Pai que nos perdoasse (cf. Lc 23, 34); concedeu misericórdia ao ladrão arrependido (cf. Lc 23, 43); deu-nos sua Mãe e pediu que a levássemos para a casa de nossos corações (cf. Jo 19, 26s); expressou sentimentos de abandono (cf. Mt 27, 46; Mc 15, 34); disse ter sede (cf. Jo 19, 28); anunciou a consumação de sua missão (cf. Jo 19, 30); entregou seu espírito ao Pai e então expirou (cf. Lc 23, 46).
A terra tremeu. Embora os terremotos fossem comuns na região, interpretar o terremoto apenas em termos científicos faz perder seu significado teológico. Cristo rasgou a terra e desceu ao sheol para pregar aos mortos (cf. Jo 5, 25). O véu do Templo rasgou-se de alto a baixo (cf. Mt 27, 51), dando-nos acesso ao Pai. Ele rasgou nossos corações e pôs a descoberto nossos pensamentos. Isso também prefigura o Juízo Final:
Mors stupebit et natura,São três horas da tarde; um grande silêncio reina sobre a Terra. O Verbo de Deus morreu na carne. Ele foi até os mortos para despertá-los.
cum resurget creatura,
judicanti responsura.
Pasmarão a natureza e o morrer,
Quando a criatura enfim se reerguer,
Com o fim de a Deus, o Juiz, responder (do hino Dies Iræ [tradução ao português nossa]).
Entre as ações como CPI da Fakes News, inquéritos sigilosos e ilegais, agências de Fact Checking – que, em sua maioria pertencem às mídias de esquerda que querem de volta a narrativa e o monopólio da informação -, e até ameaça de bloqueio do Telegram a que mais assusta é o Projeto de Lei 2630/2020, assinado pelo senador Alessandro Vieira, que quer instituir a “Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet”.
Esse projeto de lei quer estabelecer normas, diretrizes e mecanismos de transparência para provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada a fim de controlar a liberdade de expressão, comunicação e manifestação do pensamento.
Nem os aplicativos que estão em território internacional, ou seja, sob a legislação do país que abriga os servidores, estão a salvo da censura e da ditadura. O PL obriga a plataforma possuía escritório no Brasil.
“Art. 32. Os provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada deverão ter sede e nomear representantes legais no Brasil, informações que serão disponibilizadas em seus sítios na internet, bem como manter acesso remoto, a partir do Brasil, aos seus bancos de dados, os quais conterão informações referentes aos usuários brasileiros e servirão para a guarda de conteúdos nas situações previstas em lei, especialmente para atendimento de ordens de autoridade judicial brasileira”.
O senador não é favorável aos perfis chamados de “fakes”. Muitas pessoas fazem uso dessa possibilidade para poder se expressar sem sofrer retaliações profissionais e familiares. Mas o senador quer cadastro com documento de identidade nas redes sociais. Isso mesmo que você entendeu. Ele quer que você encaminhe para o sistema o seu documento pessoal para criar um perfil.
“vedar o funcionamento de contas inautênticas;”, destaca o artigo 6º, da seção I, das disposições gerais.
Já o artigo 7 e 8, da seção II, que versa sobre o cadastro de contas, defende que:
Art. 7º Os provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada poderão requerer dos usuários e responsáveis pelas contas, em caso de denúncias por desrespeito a esta Lei, no caso de indícios de contas automatizadas não identificadas como tal, de indícios de contas inautênticas ou ainda nos casos de ordem judicial, que confirmem sua identificação, inclusive por meio da apresentação de documento de identidade válido.
Parágrafo único. Os provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada deverão desenvolver medidas técnicas para detectar fraude no cadastro e o uso de contas em desacordo com a legislação, devendo informá-las em seus termos de uso ou em outros documentos disponíveis aos usuários.
Art. 8º Os serviços de mensageria privada que ofertem serviços vinculados exclusivamente a números de celulares ficam obrigados a suspender as contas de usuários que tiveram os contratos rescindidos pelas operadoras de telefonia ou pelos usuários do serviço.
1º Para o cumprimento do caput, os serviços de mensageria privada deverão solicitar os números objeto de contratos rescindidos às operadoras de telefonia, que os disponibilizarão, sem acréscimo de quaisquer outros dados cadastrais, conforme regulamentação.
2º O disposto no caput não se aplica aos casos em que os usuários tenham solicitado a vinculação da conta a novo número de telefone.
Tem mais
Art. 34. O art. 1º da Lei nº 10.703, de 18 de julho de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 1º
1º O cadastro referido no caput deste artigo será realizado mediante comparecimento presencial do usuário ou mediante processo digital, conforme regulamentação, e conterá, além do nome e do endereço completos:
I – no caso de pessoa física, o número do documento de identidade e o número de registro no Cadastro de Pessoas Físicas;
II – no caso de pessoa jurídica, o número de registro no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica;
4º A regulamentação do cadastramento de que trata o § 1º deverá trazer procedimentos de verificação da veracidade dos números dos registros no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica utilizados para a ativação de chips pré-pagos.
5º Os órgãos governamentais envolvidos na regulamentação do cadastramento de que trata o § 1º e as operadoras de telefonia deverão manter esforços constantes para o controle da autenticidade e validade dos registros, inclusive dos já existentes.” (NR)
Sobre os aplicativos de mensagens privadas como WhatsApp, Telegram e outros
Alessandro Viera pede que as plataformas limitem o número de encaminhamentos de uma mesma mensagem, bem como limitar, ainda mais, o número máximo de membros por grupos. Será também exigido que o usuário autorize que seu número faça parte de listas de transmissões e grupos, bem como que essa função, por padrão esteja desabilidade caso houver a aprovação da lei e, por consequência, a atualização do aplicativo.
Art. 9º Os provedores de serviços de mensageria privada devem estabelecer políticas de uso destinadas a:
I – projetar suas plataformas para manterem a natureza interpessoal do serviço;
II – limitar o número de encaminhamentos de uma mesma mensagem a usuários ou grupos, bem como o número máximo de membros por grupo;
III – instituir mecanismo para aferir consentimento prévio do usuário para inclusão em grupos de mensagens, listas de transmissão ou mecanismos equivalentes de encaminhamento de mensagens para múltiplos destinatários; e
IV – desabilitar, por padrão, a autorização para inclusão em grupos e em listas de transmissão ou mecanismos equivalentes de encaminhamento de mensagens para múltiplos destinatários.
Dá para piorar…
O projeto pede que os mensageiros privados guardem os registros dos envios de mensagens veiculadas em encaminhados que ele chama de “massa”, pelo prazo de três meses e que seja considerado como “encaminhamento em massa”, o envio de uma mesma mensagem por mais de 5 (cinco) usuários, em intervalo de até 15 (quinze) dias, para grupos de conversas, listas de transmissão ou mecanismos similares de agrupamento de múltiplos destinatários.
Os registros ainda devem conter a indicação dos usuários que realizaram encaminhamentos em massa da mensagem, com data e horário do encaminhamento e o quantitativo total de usuários que receberam a mensagem.
Ainda será necessário um relatório
De acordo com o PL, o artigo 13 diz que: “Os provedores de redes sociais devem produzir relatórios trimestrais de transparência, disponibilizados em seus sítios eletrônicos, em português, para informar os procedimentos e as decisões de tratamento de conteúdos gerados por terceiros no Brasil, bem como as medidas empregadas para o cumprimento desta Lei”.
1º Os relatórios devem conter, no mínimo:
I – número total de usuários que acessaram os provedores de redes sociais a partir de conexões localizadas no Brasil e número de usuários brasileiros ativos no período analisado;
II – número total de medidas de moderação de contas e conteúdos adotadas em razão do cumprimento dos termos de uso privado dos provedores de redes sociais, especificando as motivações, a metodologia utilizada na detecção da irregularidade e o tipo de medida adotada;
III – número total de medidas de moderação de contas adotadas em razão do cumprimento desta Lei, especificando as motivações, a metodologia utilizada na detecção da irregularidade e o tipo de medida adotada;
IV – número total de medidas de moderação de contas e conteúdos adotadas em razão de cumprimento de ordem judicial, especificando as motivações;
V – número total de contas automatizadas e de redes de distribuição artificial detectadas pelo provedor e de conteúdos impulsionados e publicitários não identificados, especificando as correspondentes medidas adotadas e suas motivações e a metodologia utilizada na detecção da irregularidade;
VI – número total de medidas de identificação de conteúdo e os tipos de identificação, remoções ou suspensões que foram revertidas pela plataforma;
VII – características gerais do setor responsável por políticas aplicáveis a conteúdos gerados por terceiros, incluindo informações sobre a qualificação, a independência e a integridade das equipes de revisão de conteúdo, por pessoa natural;
VIII – médias de tempo entre a detecção de irregularidades e a adoção de medidas em relação às contas e aos conteúdos referidos nos incisos II, III e IV;
IX – dados relacionados a engajamentos ou interações com conteúdos que foram identificados como irregulares, incluindo número de visualizações e de compartilhamentos e alcance; e
X – atualizações das políticas e termos de uso feitas no trimestre, a data da modificação e a justificativa para a sua adoção.
2º Os dados e os relatórios publicados devem ser disponibilizados com padrões tecnológicos abertos que permitam a comunicação, a acessibilidade e a interoperabilidade entre aplicações e bases de dados.
3º Os relatórios de transparência devem ser disponibilizados ao público em até 30 (trinta) dias após o término do trimestre.
4º Os relatórios e dados disponibilizados devem apontar a relação entre contas automatizadas não identificadas como tal, contas e disseminação de conteúdos, de modo que seja possível a identificação de redes artificiais de disseminação de conteúdo.
5º A não disponibilização das informações na forma prevista no caput requer justificativa técnica adequada.
6º Resguardado o respeito à proteção de dados pessoais, os provedores de redes sociais devem facilitar o compartilhamento de dados com instituições de pesquisa acadêmica, incluindo os dados desagregados.
Com tantas exigências, vocês acham que os provedores vão continuar operando no país? Creio que não. Tais ações equiparam a liberdade de expressão a países como China, Cuba, Venezuela, Rússia e/ou Coreia do Norte.
O fim da crítica a ex-presidiários, corruptos e a esquerda
O poder público poderá pedir a retirada de postagens que, entre alguns requisitos, expõe fatos de corrupção e prisão. Ou seja, um site que não reconhecido como veículo de mídia por fazer parte da mídia independente, não poderá patrocinar matérias expondo políticos corruptos e/ou que estão ou foram presos:
Art. 20. A Administração Pública deverá coibir a destinação de publicidade para sítios eletrônicos e contas em redes sociais que promovam atos de incitação à violência contra pessoa ou grupo, especialmente em razão de sua raça, cor, etnia, sexo, características genéticas, convicções filosóficas, deficiência física, imunológica, sensorial ou mental, por ter cumprido pena ou por qualquer particularidade ou condição.
Código de conduta
Caberá ao senado federal disponibilizar um código de conduta de como os usuários e as plataformas devem agir, falar ou pensar.
Diz o inciso II do artigo 25, capítulo IV: “elaborar código de conduta para redes sociais e serviços de mensageria privada, a ser avaliado e aprovado pelo Congresso Nacional, aplicável para a garantia dos princípios e objetivos estabelecidos nos arts. 3º e 4º desta Lei, dispondo sobre fenômenos relevantes no uso de plataformas por terceiros, incluindo, no mínimo, desinformação, discurso de incitação à violência, ataques à honra e intimidação vexatória”.
Quem vai te monitorar:
O Conselho proposto por Alessandro compõe:
Art. 26. O Conselho de Transparência e Responsabilidade na Internet compõe-se de 21 (vinte e um) conselheiros, com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo:
I – 1 (um) representante do Senado Federal;
II – 1 (um) representante da Câmara dos Deputados;
III – 1 (um) representante do Conselho Nacional de Justiça;
IV – 1 (um) representante do Conselho Nacional do Ministério Público;
V – 1 (um) representante do Comitê Gestor da Internet no Brasil;
VI – 5 (cinco) representantes da sociedade civil;
VII – 2 (dois) representantes da academia e comunidade técnica;
VIII – 2 (dois) representantes dos provedores de acesso, aplicações e conteúdo da internet;
IX – 2 (dois) representantes do setor de comunicação social;
X – 1 (um) representante do setor de telecomunicações;
XI – 1 (um) representante do Conselho Nacional dos Chefes de Polícia Civil;
XII – 1 (um) representante do Departamento de Polícia Federal;
XIII – 1 (um) representante da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel); e
XIV – 1 (um) representante do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar).
E você ainda pagará por tudo isso, como defendo o senador no artigo 29: “As despesas com a instalação e o funcionamento do Conselho de Transparência e Responsabilidade na Internet correrão à conta do orçamento do Senado Federal.”
O que o Google disse
Em mensagem encaminhada aos usuários do serviço “Google Ads”, a empresa encaminhou um comunicado alertando que este PL pode prejudicar empresas de todos os tamanhos e reduzir a capacidade de promover produtos e serviços on-line.
“O PL 2630 pode prejudicar empresas de todos os tamanhos e reduzir sua capacidade de promover seus produtos e serviços on-line.
Desde 2020, o Congresso Brasileiro discute o Projeto de Lei 2630/2020, que também ficou conhecido como o Projeto de Lei das Fake News e que foi criado com o objetivo de combater a desinformação. Reconhecemos a importância de debater soluções para esse problema, mas nos preocupa que o Congresso esteja fazendo isso sem considerar as consequências negativas e indesejadas que o projeto de lei pode trazer.
Do jeito que está hoje, o PL 2630 pode facilitar a ação de pessoas que querem disseminar desinformação, pode tornar mais difĩcil que veículos de comunicação de todo o país alcancem seus leitores e pode tornar nossos produtos e serviços menos úteis e menos seguros para os milhões de brasileiros e empresas que os usam todos os dias.
A publicidade digital tem sido fundamental para o desenvolvimento da web aberta, permitindo que as pessoas acessem informações sem custo, que os veículos de comunicação possam monetizar seus conteúdos, que anunciantes se conectem a potenciais consumidores e permitindo a existência de produtos gratuitos como a própria Busca, o Gmail, o Google Maps, entre outros. O PL 2630, contudo, pode limitar a capacidade das empresas brasileiras de usarem a internet para alavancar seus negócios.
Se o texto atual do projeto de lei for aprovado, milhares de pequenas e médias empresas no Brasil – muitas delas ainda se recuperando da crise causada pela pandemia – terão dificuldades em aumentar suas vendas com a ajuda da publicidade on-line. Isso porque o projeto de lei impede as plataformas de publicidade de usar informações coletadas com o consentimento dos usuários para conectar empresas com potenciais consumidores. Dessa maneira, os anúncios digitais podem gerar menos vendas e as empresas pequenas terão de investir mais para alcançar o mesmo número de clientes, ou seja, ficará mais difícil para elas prosperarem.
Não nos opomos ao objetivo proposto pelo projeto de lei, de combater a desinformação, mas, da forma como o texto está agora, ele não vai alcançar essa meta. Acreditamos que a luta contra a desinformação será mais efetiva por meio do diálogo e de compromissos conjuntos entre governo, empresas e sociedade civil.
O presidente do Google Brasil
Fabio Coelho, Presidente do Google Brasil, por meio de artigo no blog do Google, afirma que, o projeto apresentado pode “facilitar a ação de pessoas que querem disseminar desinformação, pode tornar mais difícil que veículos de comunicação de todo o país alcancem seus leitores e pode tornar nossos produtos e serviços menos úteis e menos seguros para os milhões de brasileiros e empresas que os usam todos os dias”.
Na íntegra
Desde 2020, o Congresso Brasileiro discute o Projeto de Lei 2630/2020, que também ficou conhecido como o Projeto de Lei das Fake News e que foi criado com o objetivo de combater a desinformação. Reconhecemos a importância de debater soluções para esse problema, mas nos preocupa que o Congresso esteja fazendo isso sem considerar as consequências negativas e indesejadas que o projeto de lei pode trazer.
Do jeito que está hoje, o PL 2630 pode facilitar a ação de pessoas que querem disseminar desinformação, pode tornar mais difĩcil que veículos de comunicação de todo o país alcancem seus leitores e pode tornar nossos produtos e serviços menos úteis e menos seguros para os milhões de brasileiros e empresas que os usam todos os dias. Entenda por quê:
O PL 2630 pode tornar nossas plataformas menos seguras ao obrigar a divulgação de informações estratégicas que poderiam ser usadas por pessoas mal-intencionadas
Em seu texto atual, o PL 2630 impõe uma série de obrigações que deixariam as ferramentas de busca menos seguras para todos e mais suscetíveis a abusos e fraudes. O projeto de lei exige que sejam divulgadas informações minuciosas sobre como nossos sistemas funcionam, entre elas detalhes sobre a base de treinamentos de sistemas e métodos usados para melhorar nossos serviços, monitorar violações e tomar medidas de fiscalização, o que prejudicaria significativamente nossa capacidade de combater abusos e spam e proteger nossos usuários de golpes.
Divulgar esse tipo de dado não ajudará na luta contra a desinformação. Ao contrário, oferecerá a agentes mal-intencionados um “guia” sobre como contornar as proteções dos nossos sistemas, trazendo prejuízos para a qualidade e segurança dos nossos resultados de busca. Com isso, eles poderiam manipular essas informações para conseguir obter uma melhor posição no nosso ranking de pesquisas, prejudicando ao longo do processo aqueles que produzem conteúdo confiável e relevante.
No YouTube, enfrentamos uma batalha contínua contra aqueles que buscam enganar os nossos sistemas – desde criadores que testam os limites de nossas políticas contra discurso de ódio até tentativas coordenadas de espalhar narrativas de desinformação. Grupos dedicados a esse tipo de atividade constantemente tentam manipular os nossos sistemas e, quando identificamos violações às nossas políticas, agimos imediatamente.
Em vez de promover a transparência, o PL 2630 poderia dar aos agentes mal-intencionados um mapa completo de quais critérios usamos para reduzir a circulação de conteúdo de baixa qualidade. A partir desse tipo de informação, os mesmos poderiam adaptar seus métodos e conteúdos com o objetivo de enganar nossos sistemas.
O PL 2630 pode reduzir o acesso à informação relevante e de diversas fontes
O texto inclui uma obrigação de pagamento pelo “uso” de “conteúdo jornalístico”, sem definir o que seria este “uso” ou o que seria “conteúdo jornalístico”. Da maneira como está escrito, o texto pode significar coisas diferentes, o que por si só já representa uma falta de clareza sobre efeitos práticos dessa proposta e suas possíveis consequências negativas. Por exemplo, as ferramentas de busca poderiam acabar sendo forçadas a remunerar qualquer site que alegue produzir conteúdo jornalístico, apenas por exibir pequenos trechos de conteúdo, com os respectivos links para suas páginas indexadas da web.
As ferramentas de busca, e a internet como um todo, são baseadas na capacidade de conectar as pessoas com uma página na web de forma gratuita. Você procura por um termo e os resultados mostram uma série de links e pequenos trechos de conteúdo que dão uma noção das opções que você tem antes de decidir em qual deles clicar e dedicar seu tempo, e potencialmente dinheiro, com o site ou negócio. No caso de uma notícia, só é possível ler a matéria completa depois de clicar no site do veículo jornalístico.
Nesse sentido, as ferramentas de busca funcionam como uma importante fonte de tráfego gratuito para os produtores de conteúdo. Para dar uma ideia, todos os meses a Busca do Google envia 24 bilhões de cliques para sites de notícias em todo o mundo sem custo algum – o equivalente a 9 mil cliques por segundo.
Forçar o Google e outras ferramentas de busca a pagarem por exibir um conteúdo indexado em seus resultados de busca pode criar uma vantagem competitiva para os grandes grupos de mídia, que serão capazes de fechar acordos comerciais mais favoráveis em função da escala da sua produção e do seu poder de negociação, principalmente quando comparados a veículos menores, locais, mais diversos e inovadores.
Como resultado, as ferramentas de busca acabarão conectando os usuários a menos notícias locais e a um número menor e menos variado de fontes. Além disso, um sistema que exige pagamento para mostrar pequenos trechos de conteúdo indexados por ferramentas de busca entraria em conflito direto com o interesse das pessoas de descobrir todo o conhecimento disponível na web por meio de uma simples pesquisa.
Sempre fomos favoráveis à ideia de apoiar e valorizar o jornalismo e seus profissionais – mas é importante que se debata o modo como o texto propõe que isso seja feito. Precisamos encontrar uma forma de fortalecer o jornalismo sem ameaçar a internet aberta como conhecemos.
Ao longo dos últimos 20 anos, temos colaborado de modo muito próximo com todo o ecossistema de notícias. Oferecemos uma ampla variedade de ferramentas para apoiar o jornalismo de qualidade na era digital, desde iniciativas de licenciamento de conteúdo até inovações tecnológicas, incluindo as de publicidade. Em 2020, lançamos o Google News Showcase – ou Google Destaques – no Brasil, uma iniciativa pela qual remuneramos atualmente mais de 60 veículos jornalísticos no país para que licenciem e façam a curadoria do seu conteúdo para o leitor brasileiro. No mundo todo, já são mais de 1,2 mil veículos, sendo a grande maioria (90%) formada por pequenas e médias publicações.
No YouTube, temos uma longa parceria com o jornalismo. O YouTube apoia modelos de negócios com criadores de conteúdo, incluindo empresas jornalísticas, por meio dos quais eles obtêm a maior parte da receita de anúncios e têm seu conteúdo destacado na nossa prateleira de notícias.
O PL 2630 prejudica empresas de todos os tamanhos ao reduzir sua capacidade de promover seus produtos e serviços on-line
A publicidade digital tem sido fundamental para o desenvolvimento da web aberta, permitindo que as pessoas acessem informações sem custo, que os veículos de comunicação possam monetizar seus conteúdos, que anunciantes se conectem a potenciais consumidores e permitindo a existência de produtos gratuitos como a própria Busca, o Gmail, o Google Maps, entre outros. O PL 2630, contudo, pode limitar a capacidade das empresas brasileiras de usarem a internet para alavancar seus negócios.
Se o texto atual do projeto de lei for aprovado, milhares de pequenas e médias empresas no Brasil – muitas delas ainda se recuperando da crise causada pela pandemia – terão dificuldades em aumentar suas vendas com a ajuda da publicidade on-line. Isso porque o projeto de lei impede as plataformas de publicidade de usar informações coletadas com o consentimento dos usuários para conectar empresas com potenciais consumidores. Dessa maneira, os anúncios digitais podem gerar menos vendas e as empresas pequenas terão de investir mais para alcançar o mesmo número de clientes, ou seja, ficará mais difícil para elas prosperarem.
O impacto pode ser grande também para os veículos de comunicação, que serão privados de fontes de receita que são essenciais para sua operação. A publicidade personalizada é fundamental para o modelo de negócio dos veículos de comunicação, uma vez que gera uma fonte de receita que lhes permite oferecer conteúdo com baixo custo ou mesmo de graça para seus leitores na internet. Além disso, pequenos veículos de comunicação que não têm recursos para promover suas notícias em mídias tradicionais e mais caras, como a TV, também terão dificuldades para expandir o número de leitores.
Acreditamos que privacidade de dados e publicidade digital não estão em lados opostos. O Google já oferece recursos e ferramentas que permitem que as pessoas entendam por que estão vendo determinados anúncios e façam escolhas sobre a privacidade de seus dados. No YouTube, por exemplo, nós introduzimos um recurso que permite aos usuários reduzir a exibição de anúncios com conteúdos mais sensíveis, como bebidas alcóolicas. Em breve, expandiremos esta funcionalidade em outros produtos do Google. O projeto de lei como está escrito pode ter um impacto significativo na publicidade digital que é um pilar importante da web aberta, prejudicando veículos de comunicação, empresas e a experiência dos usuários com nossos produtos.
O Google não é o único que está preocupado com o PL 2630. Outras empresas, associações de tecnologia, grupos de publicidade digital, organizações jornalísticas e entidades da sociedade civil já manifestaram suas preocupações anteriormente.
Não nos opomos ao objetivo proposto pelo projeto de lei, de combater a desinformação, mas, da forma como o texto está agora, ele não vai alcançar essa meta. Acreditamos que a luta contra a desinformação será mais efetiva por meio do diálogo e de compromissos conjuntos entre governo, empresas e sociedade civil.
Ninguém quer que as notícias falsas se espalhem na web e, como plataforma de tecnologia, investimos continuamente em ferramentas de transparência e em ações para combater a desinformação e trabalhamos de maneira incansável com a sociedade civil, governos e empresas jornalísticas para enfrentar esse desafio juntos. Essa é uma prioridade para nós e estamos determinados a ser parte da solução contra a desinformação”, postou o presidente da gigante.
Em 14 de janeiro, Mel Gibson foi ao programa de Bill O’Reilly, na Fox News, denunciar a perseguição que vinha sofrendo desde que anunciara seu intuito de filmar a crucificação de Nosso Senhor Jesus Cristo exatamente como narrada nos Evangelhos. Um filme abertamente cristão era mais do que o Politburô de Hollywood podia suportar: repórteres e detetives particulares não paravam de vasculhar as contas bancárias e a vida privada do ator em busca de matéria-prima para algum escândalo.
Não tendo encontrado nenhum esqueleto no armário do astro de “Coração Valente”, seus detratores passaram ao plano B: sopraram aos ouvidos de um rabino conservador, Marvin Hier, tido como freqüentador da Casa Branca, que o novo filme, “The Passion”, tinha algo de anti-semita. Muitos repórteres e críticos, entre eles o jornalista judeu Jeff Israely, da Time, tinham lido o roteiro sem notar nada disso. Tudo o que o rabino sabia era que um artigo da New York Times Magazine havia retratado Gibson, aliás corretamente, como um irlandês católico ultraconservador. Mas, mesmo com tão pouca munição, Hier não quis perder a ocasião de mostrar serviço ao Centro Simon Wiesenthal, do qual é um dos fundadores. Mais que depressa, deu à agência Reuters uma entrevista em que, admitindo não ter visto nada do filme e nem sequer ter lido o artigo, jogava sobre Mel Gibson as mais inquietantes suspeitas, desde a de fazer propaganda anti-semita até a de pretender, com o filme… revogar as decisões do Concílio Vaticano II!
A mídia americana, malgrado seu esquerdismo crônico e anti-israelismo agudo, até que cobriu o assunto decentemente. Mas a brasileira, que não publicara uma só palavra da denúncia de Gibson, apressou-se em dar ampla divulgação ao besteirol de Hier, apresentando-o implicitamente como expressão unânime da opinião judaica americana. Para piorar, a coisa vinha reforçada pela previsão alarmante de uma iminente “caça às bruxas” voltada contra as estrelas de Hollywood que tinham participado das passeatas pró-Iraque. Um caso concreto de perseguição política era assim encoberto sob densa camada de especulações futuras, ao mesmo tempo que a vítima se transformava em bandido por obra de uma testemunha que admitia nada saber contra ela.
O leitor pode estar se perguntando: por que dar tanta importância a essa desprezível trapaça de jornalistas de Terceiro Mundo e terceiro time, mais uma entre milhares? Já não está provado que essas criaturas são apenas idiotas úteis, ou pelo menos ambicionam sê-lo quando crescerem?
É que a utilidade da idiotice, no caso, é maior do que seus próprios portadores imaginam.
Hier não fala pela comunidade judaica. O mais eloqüente defensor de Gibson na celeuma tem sido um escritor judeu, James Hirsen, da revista Newsmax. E a atriz principal do filme, no papel da Virgem Maria, é a judia romena Maia Morgenstern, que mereceria o Oscar de desatenção se depois de todos esses meses de trabalho em “The Passion” não tivesse ali percebido sinais de anti-semitismo caso os houvesse realmente.
Mas o próprio rabino também não é unanimidade. Ele tem recebido pesadas críticas de judeus por recusar-se a usar de sua influência nos altos círculos em favor de Jonathan Pollard. Pollard é um judeu americano, analista de inteligência da Marinha, que um dia passou ao Mossad, ilegalmente, dados do serviço secreto americano sobre armas químicas e bacteriológicas fabricadas por países árabes para ser usadas contra Israel. Encrencado com a justiça, acabou se refugiando em Tel-Aviv. Toneladas de petições a três presidentes ainda não conseguiram trazê-lo de volta para casa. É difícil dizer se Pollard é um traidor ou um herói. O que é certo é que até hoje ele é uma batata quente nas relações EUA-Israel, e Hier é o último que desejaria segurá-la: teme passar por chato entre os figurões republicanos, e sua omissão o torna odioso aos milhares de fãs do espião exilado. Ora, acontece que o principal sustentáculo político e cultural de George W. Bush é a aliança, já velha de muitas décadas e cada vez mais forte, entre conservadores judeus e cristãos. Hier é um ponto fraco nessa aliança, pela sua atitude no caso Pollard. Mais vulnerável ainda ele se torna porque, além de rabino, é também homem do show business: produtor e roteirista. Vive num meio infestado de fãs de Saddam Hussein, os Martin Sheens e Sean Penns da vida. Imaginem, portanto, de onde lhe vieram as dicas falsas sobre o filme que não viu e o artigo que não leu. E imaginem por que foi ele o escolhido para assar a reputação de Mel Gibson até fazer dela uma batata tão quente quanto Jonathan Pollard. Que maravilha, para os inimigos dos EUA e de Israel, poder usar um rabino direitista como instrumento para espalhar a cizânia entre judeus e cristãos, ameaçando debilitar a aliança conservadora no instante em que a esquerda mundial precisa com toda a urgência varrer o assunto “armas químicas e bacteriológicas” para baixo do tapete! Mais adorável ainda é que façam isso a pretexto de combater o anti-semitismo, quando eles próprios acabam de lançar a maior onda de propaganda anti-semita que já se viu no mundo desde a década de 30. E chega a ser sublime que mostrem tal desvelo em proteger a comunidade judaica contra o temível Mel Gibson, ao mesmo tempo que, nas ruas, marcham contra Sharon e Bush ao lado do líder nazista David Duke.
E Mel Gibson? Gibson só desempenhou nesse imbróglio o papel bíblico do bode expiatório, com a diferença de que o sacrifício deste era usado para reconciliar a comunidade, enquanto o dele foi planejado para dividi-la.
Já dos jornalistas brasileiros, com sua tradicional subserviência canina aos ditames da moda esquerdista chique de Hollywood e Nova York, não se pode dizer sequer que fizeram o papel de Judas. São, na melhor das hipóteses, aspirantes a Judas. Pois Judas, ao menos, sabia para quem fazia a parte suja do serviço.
(11/04/2022) |
Comprar |
Comentários
Postar um comentário