Edição LI (Terça Livre, Revista Esmeril 30 e mais)
(matérias de edições antigas da revista que ainda são atuais)
Nas edições anteriores da Revista Terça Livre, relatamos como funciona a prática imoral da Rede Globo conhecida como BV, a bonificação por volume. A nossa equipe de reportagem demonstrou como essa prática proporcionou à Globo deter praticamente todo o volume de dinheiro dos grandes anunciantes do país, apesar de a sua audiência registrar queda livre nos últimos anos. Com o seu caixa inflado por esse dinheiro, a emissora mantém o seu monopólio em todas as áreas da telecomunicação, mas o destaque especial está nos esportes, principalmente no futebol.
Como a Rede Globo acaba recebendo muito
mais dinheiro do que todos outros veículos de comunicação, ela é capaz de inéacionar o preço dos direitos de qualquer coisa que deseje adquirir. Pode ser, por exemplo, o salário de um artista que ela tenha interesse em contratar. Se uma emissora oferece R$ 100 mil para um artista, a Globo pode contratar por R$ 300 mil, caso tenha interesse. Exatamente a mesma coisa acontece em relação aos direitos esportivos.
Quem não se lembra do caso envolvendo o
UFC e a RedeTV? A emissora lançou o UFC no Brasil, renovando o contrato dos direitos de transmissão anualmente no período de 2009 a 2011. Naquele último ano de contrato, conseguiu promover o primeiro evento do UFC no Brasil, o UFC Rio. Com transmissão exclusiva da RedeTV, o sucesso foi tão estrondoso que conseguiram manter-se em primeiro lugar na audiência por 45 minutos. Um feito e tanto para o canal.
Então, a Globo fez aquilo que sempre faz quando sente o seu monopólio na televisão brasileira ameaçado. Segundo nossas fontes, a RedeTV pagava pelos direitos de transmissão do UFC, naquela época, cerca de US$ 1 milhão anualmente. Quando da renovação dos direitos de transmissão do ano de 2012, a Globo procurou o diretor de marketing Dana White e ofereceu US$ 100 milhões pelos direitos. Isso mesmo, cem milhões de dólares.
Em lugar nenhum do mundo pagava-se esse valor pelo UFC. O valor era tão inflacionado, que era impossível cobrir a proposta. Qualquer emissora que pagasse esse valor acabaria por arcar com um retumbante prejuízo financeiro. Mas esse sempre foi o modus operandi
da Globo para sufocar a concorrência: pagar valores absurdos sem se importar com o lucro de mercado, pois ela sabe que tem todo o dinheiro da publicidade do país no bolso.
O monopólio da bola
O carro-chefe do esporte da Globo sempre foi o futebol. Até 2010, os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de futebol no Brasil eram negociados diretamente com o Clube dos 13. Naquele ano, porém, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) resolveu atuar contra uma cláusula absurda do contrato entre o Clube dos 13 e a Globo. A chamada "lei da
preferência dos direitos” dizia que a emissora que tivesse os direitos de transmissão teria prioridade para o fechamento do próximo contrato. Assim, a Globo teria sempre a possibilidade de cobrir a oferta de qualquer outra emissora, mesmo em uma licitação com envelopes fechados.
Essa prática impede qualquer tipo de concorrência justa na hora de adquirir os direitos do futebol. Esse era o segredo do domínio absoluto da Globo na transmissão do futebol brasileiro até então. No entanto, tramitava no Congresso um processo contra essa cláusula havia 13 anos, pois ela constituía um indício de formação de cartel. Assim, em outubro de 2010, o Cade determinou o fim dessa cláusula de preferência nos futuros contratos.
Além do mais, ficou estabelecido que o futebol, sendo um patrimônio nacional e uma fonte enorme de recursos, não poderia estar sempre nas mãos de uma única emissora, mas tinha de ter seus direitos divididos e licitados. Deveria haver diferentes licitações para os diferentes modos de transmissão de futebol: TV aberta, TV fechada, Pay Per View, internet e celular. Com isso, abriu-se uma grande janela para o livre mercado no Brasil em relação à transmissão do futebol.
Copas do Mundo
Toda essa mudança, no entanto, só aconteceu porque nos bastidores do futebol daquele ano estavam ocorrendo grandes conflitos de interesse envolvendo questões relacionadas à Copa do Mundo no Brasil em 2014, como bem descreveu o jornalista Luiz Carlos Azenha em seu livro sobre a corrupção no futebol brasileiro*. Naquele momento, estavam colidindo o presidente e o vice-presidente do Clube dos 13, de um lado, e o presidente da CBF e a Globo, do outro. O presidente do Clube dos 13 chegou a cogitar a mudança de um dos maiores absurdos da televisão nacional: o horário dos jogos de futebol.
Todo brasileiro se sente incomodado com os
horários dos jogos sempre às 21h45. Esse horário não beneficia ninguém. As pessoas que assistem o futebol pela TV acabam tendo que dormir depois da meia-noite para acordar cedo no dia seguinte, e ir ao trabalho ou à faculdade. Para os trabalhadores que vão assistir ao jogo no estádio, a situação é ainda pior. Eles voltam para suas casas altas horas da madrugada, e logo cedo precisam sair para trabalhar. Sem contar que, nesse horário, a maioria dos transportes públicos já não funcionam ou estão em regime de horário reduzido.
O transtorno gerado pelos horários dos
jogos na vida do brasileiro é patente, e o descontentamento, geral. Mesmo assim, eles nunca mudaram. A Globo exige que o futebol seja transmitido às 21h45, para não perder os anunciantes do horário do Jornal Nacional e das novelas. Devido a essas mudanças, no final de 2010 o presidente do Clube dos 13 fez uma pesquisa com os torcedores para saber qual seria o melhor horário para os jogos. A resposta foi às 20h30, esse seria o horário perfeito, não tão cedo para que desse tempo de chegar ao estádio, nem tão tarde para se voltar para casa em um horário conveniente.
A Globo não teria ficado satisfeita com
todas essas mudanças, tampouco concorreu na licitação pública para os direitos de transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro dos anos de 2012 a 2014, realizada pelo Clube dos 13 em março de 2011. Quem venceu foi a RedeTV, comprometendo-se a pagar um valor de R$ 516 milhões anuais. Desse valor, cada um dos 20 clubes da primeira divisão recebe uma porcentagem de acordo com o tamanho da torcida e da audiência. Então, Flamengo e Corinthians são os times que ficam com a maior parte, e a fatia vai diminuindo proporcionalmente para os outros.
O que fez a Globo? Ela foi negociar com
cada clube em particular. Segundo nossas fontes, sabendo o valor que cada clube iria receber do Clube dos 13 depois da licitação, ela teria oferecido o dobro para cada um. Assim, o Clube dos 13 foi derrubado e não se cumpriu o contrato assinado na licitação pública. E, por mais estranho que isso possa parecer, o Cade, em abril do mesmo ano, julgou esse procedimento da Globo perfeitamente legal, nada contrário às leis de mercado e da livre concorrência.
Aqui, é importante relembrar que, no ano
de 2010, a “lei do BV” havia sido aprovada na Câmara dos Deputados, o que aumentou ainda mais o fluxo de dinheiro proveniente de anunciantes privados na Globo. A partir de 2011, por causa da prática do BV, ocorre um salto na receita da emissora, que só vai aumentando nos anos seguintes. Ao monopolizar os anunciantes, a Globo arrecada muito dinheiro para inflacionar os preços e conseguir os direitos de qualquer coisa que queira.
Cartão vermelho
Recentemente, foi lançado em diversos países o livro Red card (Cartão Vermelho), sobre
o escândalo da Fifa. Dentre outras coisas, há a denúncia de um esquema de pagamento de propinas por representantes de diversas empresas de comunicação do mundo a dirigentes, para conseguir os direitos de transmissão das Copas do Mundo. Infelizmente, o livro ainda não foi publicado no Brasil, nem há previsão de que venha a sê-lo.
O problema é que, ainda em 2015, quando o
jornalista Ken Bensinger, autor do livro, acabara de assinar o contrato para escrevê-lo, a Globo Livros comprou a exclusividade dos direitos de publicação do livro no Brasil. O autor, em uma entrevista à Folha, disse que viu o manuscrito em português e que a previsão do lançamento estava prevista para meados de 2018, mas não saiu nada até hoje*. (TdL: depois de todo esse imbróglio, o livro hoje se encontra à venda na Amazon, em português BR, inclusive na versão digital da Kindle. Graças às denúncias feitas pelo TERÇA LIVRE em 2019, hoje temos acesso à essas informações.)
Red Card é fruto de uma pesquisa detalhada de anos sobre os casos de corrupção na Fifa. O panorama da rede de corrupção apresentada por ele é espantoso, e a Rede Globo é citada cinco vezes no livro. Ela, então, comprou os direitos de publicação do livro e não dá perspectivas de lançamento. Isso faz com que os brasileiros não tenham acesso ao conteúdo das denúncias. A única maneira de lê-lo demanda comprar a versão de Portugal ou a versão em inglês pela internet.
Uma das vezes em que o livro cita a Globo
faz-se evidente o poder de caixa que a emissora tem por causa das décadas de prática do BV. E, mais uma vez, revela-se como ela fica muito acima dos preços de todas as emissoras do mundo. Em 2005, enquanto ABC e ESPN pagaram US$ 100 milhões pelo pacote de direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2010 e 2014, a emissora dos Marinho pagou US$ 340 milhões pelos mesmos direitos.
O livro conta em detalhes a história de J.
Hawilla, repórter esportivo da Globo até o final da década de 1970. Já na década de 1980, ele criou a agência de publicidade especializada em marketing esportivo Traffic. Ela chegou a ser a maior agência de marketing esportivo do mundo, fazendo de Hawilla dono de uma grande fortuna. Mas o futebol mundial tornou-se uma grande máquina de propinas da qual a Traffic situava-se bem no centro. Para negociar o direito à publicidade dos grandes eventos do futebol mundial, J. Hawilla teve de pagar propina a muitas pessoas, e o dinheiro da publicidade dos anunciantes ia para a Rede Globo, que transmitia os jogos por aqui.
Não é difícil perceber que o dinheiro da
BV era uma ótima compensação para quem tinha um imenso rombo em sua receita anual por causa do pagamento das propinas. Hawilla, preso nos EUA em 2013, contou todo o esquema em delação premiada ao FBI. É bom lembrar também que José Maria Marín, ex-presidente da CBF, foi preso nos EUA justamente por receber propinas. Marín até hoje limpa sua cela na prisão, aos 87 anos, nos Estados Unidos, enquanto nenhum cartola da CBF jamais cumpriu pena no Brasil.
O livro Red Card termina com um epílogo chamado The Trial (O julgamento). Nele, vislumbra-se o testemunho de Alejandro Burzaco, ex-CEO da Torneos y Competencias, empresa argentina de marketing esportivo. Burzaco relatou que a Torneos, junto com uma emissora de TV mexicana e a Rede Globo, pagaram US$ 15 milhões em propina para dirigentes do alto comando da FIFA pelos direitos de transmissão das copas do mundo de 2026 e 2030*.
As acusações contra a TV Globo são graves e devem ser investigadas. Não se sabe ainda se é verdade ou não que a emissora tenha pago as propinas, mas de uma coisa não há dúvidas: ela tinha dinheiro de sobra para pagá- las.
* Para entender profundamente todos os meandros dessa complexíssima situação e erigir um panorama da história da corrupção no futebol brasileiro, compensa ler o excelente livro “O lado sujo do futebol”, do jornalista Luiz Carlos Azenha em colaboração com outros jornalistas. Algumas informações utilizadas nessa matéria tiveram esse livro como fonte.
* Segundo o próprio Ken Bensinger, a Globo teria informado na época que não queria publicar o livro até que o caso criminal fosse encerrado.
* No final do livro Red Card há uma nota informando que a TV Globo negou envolvimento em atividades criminosas.
O ditador Putin continua chocando o mundo com seu plano maligno e atroz na Ucrânia. Avançando com o plano expansionista para recriar o império soviético de Pedro I, Catarina, a Grande, e dos Czares. Diante dessa barbárie, os russos cometem crimes de guerra, violações dos direitos humanos internacionais e atos terroristas. Todavia, o sagrado também está em jogo nessa batalha.
Você sabia que uma “Guerra Eclesiológica” também
está sendo travada entre a Igreja Russa e a Igreja Ucraniana? Para entender
essa “Cruzada”, precisamos olhar atentamente para história, de forma holística,
para elucidar os fatos.
Segundo a tradição cristã, a igreja na região da
Grande Rússia tradicionalmente começa ainda no período apostólico, quando Santo
André teria chegado aonde hoje é Kiev e profetizado a construção de uma grande
cidade cristã. Ali, ele teria erigido uma cruz, onde hoje se situa a Igreja de
Santo André. A história da cristianização da região começou na década de 860. A
cristianização oficial da Rússia ocorreu em 988, quando o príncipe Vladimir I,
de Kiev, oficialmente adotou o rito bizantino do cristianismo como a religião
oficial da Rússia. A milenar Igreja Ortodoxa Russa (IOR) tem um papel dominante
na sociedade e cultura russas desde então.
Após o Grande Cisma de 1054, que dividiu as igrejas
do Ocidente (católica) e do Oriente (ortodoxa), o Cristianismo chegou ao
território então conhecido como a Rússia de Kiev (uma união de tribos eslavas
que habitavam uma grande faixa do Leste Europeu que hoje corresponde a partes
da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia).
O controle da Igreja Ortodoxa pelo Estado se
manteve durante todo o período da União Soviética e, continua a ser, em grande
medida, usada pela Rússia de Putin como ferramenta geopolítica. Com mais de 90
milhões de fiéis, o Patriarcado de Moscou, hoje liderado por Kirill, também tem
jurisdição sobre comunidades ortodoxas fora das fronteiras nacionais, sendo a
maior delas na Ucrânia.
Com o fim da União Soviética, em 1991, a Igreja
Ortodoxa na Ucrânia acabou se desmembrando em três partes: a Ortodoxa da
Ucrânia, ligada a Moscou e maioritária; o Patriarcado de Kiev (minoritário e
não reconhecido por nenhuma igreja oficial); e a Igreja Ortodoxa Autocéfala da
Ucrânia (autoproclamada em 1921 e sem reconhecimento internacional).
Duas
Igrejas Ortodoxas na Ucrânia
Em 2018, já num contexto de enorme instabilidade
geopolítica entre a Rússia e a Ucrânia, a tensão aprofundou-se também no
domínio religioso. Durante um concílio das igrejas ortodoxas realizado na ilha
grega de Creta, todos os representantes do Patriarcado de Kiev e da Igreja
Ortodoxa Autocéfala da Ucrânia, bem como dois membros da Igreja Ortodoxa da
Ucrânia, votaram favoravelmente pela fusão das denominações religiosas e a
criação de uma única Igreja Ortodoxa Ucraniana, totalmente independente de
qualquer outro Patriarcado e com sede em Kiev.
Em 2019, a Igreja Ortodoxa Ucraniana tornou-se
“autocéfala”, ou seja, totalmente independente do Patriarcado russo. Essa
separação chegou a ser comparada com o Grande Cisma de 1054. Segundo as
palavras do arcebispo Hilarion, chefe de relações exteriores da Igreja Ortodoxa
russa. Ele ainda advertiu que o conflito atual pode se prolongar por décadas ou
até mesmo séculos.
Atualmente, há no país duas comunidades ortodoxas:
de um lado, a Igreja Ortodoxa da Ucrânia (IOdaU), autônoma e liderada pelo
metropolita Epifânio. Ela foi reconhecida em 2019, em Istambul, por Bartolomeu
1º, uma espécie de “pontífice honorário” dos 260 milhões de cristãos ortodoxos
de todo o mundo.
Do outro lado está a Igreja Ortodoxa Ucraniana do
Patriarcado de Moscou (IOU-PM), uma comunidade independente dentro da Igreja
Ortodoxa Russa e que no passado não se manifestou com frequência sobre questões
políticas. Juntas, elas representam 60% da população ucraniana. Ambas chamam
pelo nome a guerra deflagrada por Moscou e a condenam expressamente. Isso já
seria de se esperar da IOdaU. O Sínodo das Igrejas Ortodoxas da Ucrânia chegou
a apelar ao patriarca de Moscou para fazer valer sua influência sobre Putin e
se engajar pela paz. O Patriarcado moscovita silenciou longamente sobre a
guerra.
Patriarca
de Moscou expressa “dor sincera”, mas não pede paz
Em seus sermões em Moscou, Kirill apresenta a
guerra de Vladimir Putin como uma resistência legítima aos “valores
ocidentais.” Kirill expressou “dor sincera” em “eventos que ocorrem” depois que
a Rússia desativou a invasão e pediu “a todas as partes do conflito que
fizessem todo o possível para evitar vítimas civis”, mas não pede paz.
Mas mais tarde, em 27 de fevereiro, a AFP informou
que Kirili, num trabalho religioso de domingo, chamou os oponentes de Moscou na
Ucrânia de “forças malignas”, no quarto dia da invasão do Kremlin de seu
vizinho.
“Deus me livre que a atual situação política na
Ucrânia fraterna seja destinada a garantir que as forças malignas que sempre
lutaram contra a unidade da Rússia e da Igreja Russa prevaleçam“, disse o
patriarca Kirill em um discurso aos paroquianos.
Pelo fato de o Patriarca Kirill não ter se
empenhado pela paz, diversos bispos da IOU-PM aconselharam a não mais mencionar
o nome dele nas orações, como é usual. A indicação foi seguida até mesmo no
nordeste da Ucrânia, na fronteira com a Rússia.
O patriarca de Moscou perdeu a confiança de seus
irmãos da Ucrânia e, com isso, também numerosos fiéis praticantes no país: das
38 mil congregações da Igreja Ortodoxa Russa, cerca de 12 mil se localizam na
Ucrânia e são parte da IOU-PM.
No início de março, clérigos e sacerdotes
ortodoxos-russos publicaram uma carta aberta exigindo o fim da guerra. O
documento em russo diz, literalmente:
“Nós, os sacerdotes e diáconos da Igreja
Ortodoxa Russa, apelamos em nosso próprio nome a todos em cujo nome a guerra de
irmãos na Ucrânia terminará, e conclamamos à conciliação e a um cessar-fogo
imediato.”
Eles se referem ao “calvário a que os nossos irmãos
e irmãs da Ucrânia são expostos, sem merecer”, e já olham para o futuro:
“Estamos tristes ao pensar no abismo que nossos filhos e netos na Rússia e na
Ucrânia vão ter que transpor para voltar a ser amigos, a se respeitar e a amar
mutuamente.”
Putin
evoca falsamente o espírito messiânico
O megalomaníaco, Vladimir Putin exaltou, nesta
sexta-feira, 18, o que seu país chama de “operação especial” na Ucrânia
durante discurso para marcar o aniversário da anexação da Crimeia
ao território russo, no Estádio Luzhniki, em Moscou, diante de
milhares de pessoas que carregavam bandeiras russas e cores do país pintadas no
rosto.
Putin disse ainda disse que, segundo a
bíblia:
“não há amor maior do que alguém
dar sua alma por seu amigo”.
Historicamente, o Cristianismo Ortodoxo
está intimamente ligado à política, e Putin se aproveita perfeitamente
disso. Assim, num discurso em que justificava suas “operações militares
especiais” na Ucrânia, chegou a evocar essa dimensão religiosa, também ao
afirmar, falsamente, que ortodoxos russos seriam perseguidos na Ucrânia.
Trata-se de uma narrativa de unidade que tanto a IOdaU quanto a IOU-PM repudiam
totalmente.
A Igreja Ortodoxa russa percebe a si mesma como um
dos pilares do Estado russo, logo, era impossível que suas intenções de impedir
o processo de independência fossem simplesmente de matiz “eclesiológico, mas
também, “político”.
Sobretudo, precisamos entender que esse
conflito também é cultural. Já que foi justamente na Rússia de Kiev
(federação de tribos eslavas) que, em 988, converteu-se ao cristianismo o
príncipe Vladimir, a figura eslava medieval hoje invocada tanto pela Rússia
como pela Ucrânia. O processo de separação foi intensificado depois que a
Rússia anexou a Criméia. Na época, o Patriarcado de Moscou questionou o valor
canônico da separação.
Por fim, diante dessa guerra santa, caso a Rússia
anexe o país-irmão, isso será o fim da autônoma Igreja Ortodoxa Ucraniana do
Patriarcado de Moscou. Os efeitos da invasão sobre as Igrejas Ortodoxas
dependerão dos próximos desdobramentos – e de quem vai sair vencedor. Mas, seja
como for, a Igreja Ortodoxa Russa já perdeu centenas de fiéis na Ucrânia, e
diversos também na própria Rússia.
Verbum Domine Manet In Aeternum
“A Palavra de Deus permanece para sempre”
Jeff Bezos era o homem mais rico do mundo, também bilionário da tecnologia como Musk, quando comprou o Washington Post em 2013. Quando Bezos comprou, tornou-se o único proprietário do veículo de notícias.
O
Washington Post era o "jornal líder" de Washington, informou o WaPo
na época, "e uma força poderosa na formação política da nação".
Então
está tudo bem quando o homem mais rico do mundo compra um jornal inteiro mas
quando o homem mais rico do mundo compra ações em uma plataforma de mídia
social, a liberdade de expressão está em perigo. Entendi. O Twitter continua
como uma empresa pública após a compra de ações de Musk, mas quando Bezos
comprou a WaPo ele tornou a empresa privada. Isso significava que o Washington
Post "não precisava relatar os ganhos trimestrais aos acionistas ou ser
submetido às demandas dos investidores por lucros sempre crescentes". O
Washington Post informou na época que isso significava que Bezos "poderia
experimentar a posição sem a pressão de mostrar um retorno imediato de qualquer
investimento". A compra da WaPo por Bezos foi considerada uma coisa boa,
para o jornal, para a indústria, para os funcionários e para o próprio Bezos.
Nada muito Musk.
"Elon Musk acabou de comprar uma participação de US$ 3 bilhões no Twitter Inc., porque quando você é o ser humano mais rico do mundo, pode jogar bilhões como fichas de pôquer", escreveu Timothy L. O'Brien, da Bloomberg, de propriedade do bilionário Mike Bloomberg. Musk é um grande acionista, mas longe de ser o dono da própria empresa. Ele criticou a atitude aparentemente desinteressada de Musk, observando que quando Musk apareceu no podcast de Joe Rogan, ele “ponderou o sentido da vida enquanto bebia uísque e fumava maconha”, como se houvesse algum momento melhor para refletir sobre as questões existenciais da vida. Musk também se posicionou a favor da humanidade, de ter filhos e da própria vida. O'Brien criticou a postura de Musk como um "absolutista da liberdade de expressão". Isso em um jornal cujo lema é "a democracia morre na escuridão". Ele ainda afirma que "não está claro por que o Twitter é seu alvo". Não está claro como O'Brien poderia ser claro sobre isso, já que Musk é um absolutista da liberdade de expressão e o Twitter é uma plataforma essencial em que o CEO afirmou não ter obrigação alguma com a liberdade de expressão. São os negócios de Musk e os seus tweets, que O'Brien está discutindo. WaPo não gosta que Musk tenha comparado o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau a outros tiranos históricos, apoiado o conceito de sexo biológico sobre a identidade de gênero, ou que seus tweets tenham o poder de movimentar os mercados de ações. Depois que a participação de Musk no Twitter foi anunciada, o preço das ações do Twitter saltou 23%. A alegação vai além ao dizer que Musk é um “absolutista da liberdade de expressão que não é absolutamente a favor da liberdade de expressão” e que ele provavelmente não está no negócio do Twitter por dinheiro, mas para conseguir observar. É seu dinheiro e sua motivação que estão em questão para o Washington Post aqui. Bezos recebeu o benefício da dúvida quando comprou o Post. Em uma entrevista na época, ele chamou o Post de "uma instituição importante" e expressou otimismo sobre seu futuro."Não quero insinuar que tenho um plano elaborado", disse ele. "Isso será um terreno desconhecido e vai exigir experimentação." "Haveria mudanças com ou sem novos proprietários", disse Bezos na época. "Mas a principal coisa que espero que as pessoas tirem disso é que os valores do The Post não precisam mudar. O dever do jornal é com os leitores, não com os donos." Musk tem sido um crítico vocal do Twitter há algum tempo. Ele viu os usuários serem suspensos e censurados na plataforma. Ele viu a administração do Twitter mudar de Jack Dorsey, o fundador da startup que tentou descobrir como equilibrar a liberdade de expressão com as preocupações com material hackeado, para Parag Agrawal, que não vê necessidade de defender os valores da liberdade de expressão. Musk pode ser mais franco do que Bezos na época de sua compra de mídia, mas nem sua riqueza nem sua curiosidade e propensão à exploração serão negativos para a empresa. De fato, muitos defensores da liberdade de expressão estão ansiosos por mudanças que possam ser feitas para tornar a plataforma mais aberta, menos censurável e mais de acordo com os ideais americanos com os quais foi fundada.
"A realidade existe e nós estamos nela. Não é uma ideia nossa, não é o que nós pensamos. Quando a gente se acostuma a ficar dentro da realidade existente, deixar que a realidade nos ensine, quando você perde o medo do tamanho da realidade, ou seja, ao contrário, você começa a ter medo da sua própria burrice, do seu próprio autoengano, aí você está no caminho da Filosofia."
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