Edição XLVII (Terça Livre, Revista Esmeril 29, Opinião e mais)

Tempo de Leitura XLVII

(Opinião, artigos e cultura para pessoas livres)


Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Esmeril e outras publicações de outras fontes à minha escolha. Nenhum texto aqui pertence a mim (exceto onde menciono), todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo.


ACOMPANHE
   


REVISTA ESMERIL 29

Retórica, paranoia e mistificação: uma conspiração intelectual (Nati Jaremko)

A justiça social (Vitor Marcolin)

Idade Média, o que não nos ensinaram (Vitor Marcolin)


Onde quer ir primeiro?



LEITURA RECOMENDADA

Minhas redes:
     

15 de Março de 2022
________________________________


👆 Com a palavra, Terça Livre!





ÍTALO LORENZON: Ligando os Pontos || Canal Reserva || Telegram || Gettr || Twitter || Instagram.

MAX CARDOSO: YouTube || Expressão Brasil || Telegram || Twitter || Instagram.

CARLOS DIAS: Portal Factum || Expressão Brasil || YouTube || Twitter.

KASSIO FREITAS: Telegram || Instagram || Twitter || Ligando os Pontos.


PAULO FIGUEIREDO: Conexão América || ConservaTalk || Telegram || Gettr || Twitter.

JOSÉ CARLOS SEPÚLVEDA: YouTube || Ligando os Pontos || PHVox || Gettr || Twitter || Facebook.

__________________________

MEMÓRIA TERÇA LIVRE
(matérias de edições antigas da revista que ainda são atuais)


Hoje voltaremos no tempo para a edição 16 da Revista Terça Livre, de 29 de Outubro de 2019.

Infelizmente não é mais possível acessá-la porque o site TL TV saiu do ar, portanto agora uso do meu acervo de pdfs para publicar artigos da revista. Porém, a área de cursos do Terça Livre se encontra disponível novamente através da plataforma do Canal Hipócritas.



COMPORTAMENTO


👆 A (ANTI) ÉTICA POPULISTA
(por Tom Martins)


1. Introdução

Populismo seria sinônimo de mentira? A questão é intrigante, mas advogarei uma resposta afirmativa. Considero um povo genuflexo ao populismo o maior estímulo aos discursos populistas e seus parlapatões dribladores da verdade. Obviamente, urge não apenas que os políticos sejam éticos e abandonem o populismo, mas que nós, povo do bem, entendamos que devemos depender menos do Estado e mais de nós mesmos. Em suma: a primeira lição ética profilática ao populismo está no apreço à autossuficiência, não somente para nos alforriarmos das amarras estatais, como também para não onerar o próximo com nossas carências, indolências e imaturidades.

Após concretizado o desafio da autonomia financeira, emocional, intelectual e espiritual, estaremos diante da segunda lição do contexto ético, ou seja, o auxílio ao próximo. Nesta seara, devemos ter cuidado redobrado com as armadilhas do narcisismo egocêntrico, e lembrar que o verdadeiro altruísmo emerge naturalmente da espontaneidade, ou seja, da voluntariedade ou facultatividade. Qualquer imposição humana neste sentido deverá ser classificada como tirania. Lembremo-nos que estadismo imposto ao seu povo requer uma despótica carga tributária, além de suas bizarras e também tirânicas obrigações burocráticas escravizadoras.

2. Desenvolvimento psicológico

Enquanto não perdermos a crença infantil no Estadismo (o Estado como responsável por nosso bem-estar social), seremos presas fáceis do populismo e do despotismo. Neste diapasão, e com certa jocosidade, convém lembrarmos a questão popular: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? O fanatizável ou o fanatizador? O populista ou o comodista? Aqui, vale lembrar a advertência de Étienne de La Boétie, em sua obra
Discurso da Servidão Voluntária, em que o saudoso escritor identificou e previu a bizarra situação da servidão voluntária e pleiteada pelo próprio tiranizado, como sugere o título da obra. Eis uma relação cíclica e parasitária, que se retroalimenta patologicamente, muitas delas materializadas em passeadas por mais “benesses” estatais.

A verdadeira demanda deveria ser por mais liberdade e menor carga
tributária. Eis o slogan “mais Mises, menos Marx”, que denota incrível maturidade de alguns ativistas brasileiros. Lamento que nossos queridos vizinhos e irmãos argentinos ainda não estejam nesse nível de maturidade coletiva. Minha consciência diz-me que os chamados “direitos sociais”, presentes nos hábeis lábios dos políticos populistas, são justamente as correntes que escravizam os pagadores de impostos. Eis meu nível de maturidade espiritual. Se meu patamar de lucidez política agrada meus leitores, só Deus o sabe.

Penso que delegar a responsabilidade por nossa existência precária
a algum agente externo seja uma das maiores imaturidades evolutivas da nossa espécie. Culpar coletivos por nossas mazelas personalíssimas e, finalmente, impor ao seu vizinho (o Estado) o ônus da superação de seus obstáculos pessoais, além de desonesto, tornará ainda mais difícil a conquista do protagonismo de sua própria existência. Esse comportamento imaturo da massa impensante, fanatizada e sedenta por mais escravidão não é apenas triste, mas também digno de nossa admoestação carinhosa em prol da liberdade destes espíritos.

A pueril ilusão e crença popular no Estado de bem-estar social ou
em algum outro agente externo e responsável por nossa felicidade, lamentavelmente, oferta terreno fértil aos populistas, que se tornam tiranos com extrema facilidade. Além disso, a débil imaturidade evolutiva gera a ilusão e o fanatismo político, em que o Estado possa ocupar o lugar de Deus, e o populista de plantão preencha o arquétipo de novo messias. Em seguida, surgem os epítetos que cercam os populistas: “o libertador”, o “salvador”, o “caçador de marajás”, o “pai dos pobres”, e até mesmo comparações com Jesus Cristo. Sai de cena a frase religiosa “Deus proverá”, e entra no palco político a seita laica e sua crença no estadismo: “o Estado proverá”.

Os efeitos dessa falsa religião são absolutamente nefastos. O pior
dessa paradoxal seita laica está na pseudo crença da infinidade de recursos estatais. Passou da hora da população adentrar na fase adulta e enfrentar a dura realidade: os recursos são limitados e o Estado jamais substituirá a necessidade do esforço personalíssimo e a verdadeira transcendência, tão vilipendiada no meio político. Em outras palavras, a solidariedade humana e os valores altruístas devem partir espontaneamente do nosso interior, jamais imposto despoticamente para espoliar o direito natural, patrimonial e moral do semelhante.

No sistema atual, os trabalhadores honestos e responsáveis passam a ter o encargo de sustentar cada vez mais parasitas. O desânimo ou revolta dos bons passa a ser uma questão de tempo, e a implosão social é assombrada pelo adjetivo “inevitável”. O resto dessa história está contida na obra de ficção da novelista russa naturalizada norte-americana Ayn Rand,
A Revolta de Atlas, em que os empreendedores cansam de ser injustamente achincalhados pela burocracia e aderem à indiferença. A arte imita a vida ou a vida imita a arte?

Foquemos na reflexão sobre uma dupla responsabilidade: a
primeira envolve o populista, a segunda recai sobre nossos próprios ombros. Nas palavras do filósofo contemporâneo Luiz Felipe Pondé, “a política tomou o lugar da graça”. Os problemas do deslocamento dos temas filosóficos ou transcendentes para o território político parece-me óbvio, a começar pelo deslocamento político da realidade, terminando pelo estímulo à mentira e às promessas falsas (em outras palavras: populismo).

Feita a crítica aos lavradores do território fértil para o surgimento de um político populista, adentrarei a responsabilidade personalíssima do político que optou pela dissimulação e pelo mentiroso populismo. Como sempre afirmei, o meio nos influencia, mas não é determinista. Vale dizer, o político não será populista apenas
em razão do idiotismo da massa, mas apesar desse idiotismo. Em outras palavras, o político populista opta pelo populismo, pela mentira e pela dissimulação. Não há escusa tanto para o populista como para seus asseclas. Neste momento, reitero o jargão popular: a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.

Portanto, descarto escapismos para os parlapatões populistas. No
entanto, credito a responsabilidade pela desgraça política atual tanto para quem se deixa fanatizar como também para o político que opta pela retórica marqueteira, além dos “intelectuais úteis” que propagam e incentivam as panaceias que mitigam nossa responsabilidade individual e depositam a culpa por nossas mazelas em agentes externos, sejam eles os estereótipos dos militares “malvadões”, da elite “isso ou aquilo” ou qualquer outro coletivo da vez. Recuso-me a fazer parte dessa farsa política e, exatamente por isso, escrevo tais linhas com serena assertividade, a fim de concluir que somos responsáveis por nós mesmos, o que não nos impede de sermos solidários e amar o próximo. Todo o resto é covardia existencial.

3. Conclusão

Chamo a atenção para a responsabilidade dos próprios eleitores e,
principalmente, dos educadores que não ofertam, no mínimo, as quatro principais perspectivas políticas aos seus alunos, a saber: 1. Libertarianismo (ilegitimidade do Estado); 2. Liberalismo clássico (Estado minimalista); 3. Conservadorismo (foco na moral e nos bons costumes); 4. Estadismo (Estado tributarista e responsável pelo bem-estar social). Sim, professores e eleitores são também responsáveis pela ignorância massificada.

Todavia, não mitigo nem recuo em um único milímetro sequer, ao sustentar a responsabilidade personalíssima do vigarista populista, aproveitador da crendice e da ignorância alheia. Todo agente político deveria ser obrigado a registrar seus valores e plano de gestão, e sofrer impedimento e afastamento imediato do cargo, além de cassação permanente do título de eleitor, caso não 
cumprisse as promessas de campanha. Simples assim.


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

__________________________
__________________________

REVISTA ESMERIL - Ed. 28, de 28/01/2022 (Uma publicação cultural digital e mensal de Bruna Torlay. Assinar a revista


PATRIMÔNIO E MEMÓRIA

👆 Retórica, paranoia e mistificação: uma conspiração intelectual



(por Nati Jaremko)


Podemos aprender muito sobre a elite falante brasileira ao observar, não só o acontecimento histórico que foi a Semana de Arte Moderna, como as narrativas que adejam seu entorno e que se mostram uma continuidade do modus operandi inerente à burocratização do conhecimento, processo este muito bem representado pelo evento que acaba de completar 100 anos.  

Aprendemos na escola e nas universidades que a Semana de 22 foi um marco na história do Brasil por promover a renovação da arte e da cultura produzidas por aqui até então e colocar o país em compasso com a marcha do desenvolvimento mundial, com relação a qual estaria desatualizado.  

Aprendemos que a Semana fora encabeçada por grandes pensadores e artistas, intelectuais irreverentes e inovadores, pessoas originais e questionadoras, apresentando muita perspicácia em suas análises, críticas relevantes, e trazendo cultura de verdade a um país acostumado às cafonices e carolices burguesas.  

Somos alvejados por uma oratória encomiástica que procura justificar a peculiaridade estética das obras da Semana através, basicamente, de auto validação e tautologia: a premissa é que as obras seriam boas e quem o afirma são seus próprios autores; se alguém discorda, o faz devido à mente viciada numa estética retrógrada e em parca capacidade de compreensão. Desse modo, transformam a verdade em algo misterioso e acessível a poucos, o que faz com que exista um monopólio dos critérios de beleza e excelência.  

A retórica é poderosa, pois brinca com inversões de sentido e criação de espantalhos. Transforma os detratores do movimento em autoritários da estética, preciosistas tacanhos, entusiastas de um passado idílico e até mesmo elitistas e machistas, quando surge a oportunidade, ainda que as categorias identitárias apareçam numa associação evidentemente forçada.  

A contenda entre Monteiro Lobato e Anita Malfatti, por exemplo, devida às críticas do primeiro à exposição da pintora em 1917 – críticas explicitadas por meio de um artigo publicado no jornal O E. de São Paulo – foi falsamente associada a questões de gênero, além de ter dado base para se pintar a imagem do escritor como um bronco desinformado. Basta uma lida completa do artigo – que é sempre reproduzido convenientemente por retalhos – para encontrarmos reflexões astutas sobre a natureza da criação artística, elogios ao talento e ao espírito inventivo de Malfatti e um puxão de orelha em quem não tratava as mulheres como iguais. Segundo ele, ao emitir sua honesta opinião, estaria manifestando respeito à artista, que considerou habilidosa, mas cuja mente fora embotada por inventices vazias. Nas palavras de Lobato: 

Os homens têm o vezo de não tomar a sério as mulheres. Essa é a razão de lhes derem sempre amabilidades quando elas pedem opinião. Tal cavalheirismo é falso, e sobre falso, nocivo. Quantos talentos de primeira água se não transviaram arrastados por maus caminhos pelo elogio incondicional e mentiroso? E tivéssemos na Sra. Malfatti apenas uma “moça que pinta”, como há centenas por aí, sem denunciar centelhas de talento, calar-nos-íamos, ou talvez lhe déssemos meia dúzia desses adjetivos “bombons” que a crítica açucarada tem sempre à mão em se tratando de moças. Julgamo-la, porém, merecedora da alta homenagem que é tomar a sério o seu talento dando a respeito da sua arte uma opinião sinceríssima (…)

Monteiro Lobato. Paranoia e Mistificação

A atribuição de um elitismo aos críticos da Semana também é ultrajante; consiste ainda numa boa estratégia para desviar a atenção para longe dos mecanismos de criação de poder arbitrário utilizados pelo establishment intelectual até hoje. É, antes de tudo, uma acusação vazia, pois não rebate as críticas em si e não defende objetivamente o valor das obras produzidas.  

Além disso, atribuem ao “oponente” algo que eles mesmos fazem: não há nada mais despótico do que tomar uma decisão monocrática sobre quais deveriam ser os critérios de análise de uma obra. E não há nada mais elitista do que se arrogar a responsabilidade de redirecionar a história da arte para que ela passe a estabelecer uma conexão com o povo, vedando a esse último um contato digno com os clássicos.  

A ideia do manifesto antropofágico – deglutir o velho para expelir o novo – pode muito bem ser entendida desta maneira: “mastigar” o que já existe e apresentar ao público a sua interpretação disso. A eles tudo; ao povo, o que sobrar de suas teorizações afetadas.
















O próprio Graciliano Ramos, em entrevista concedida a Homero Senna , refere-se às grandes capitais do país como ambientes que incitavam a soberba, a presunção e o embotamento da mente nos jovens literatas. Chega a afirmar que as regiões “provincianas” contribuíram para que o artista entrasse em contato com uma sensibilidade mais autêntica. Lógico que isso é uma simplificação da questão toda; não estou afirmando que o processo de criação seja tão determinista, mas é interessante – e bastante simbólica – a percepção de um contemporâneo do movimento sobre essa prepotência disfarçada de refinamento. 

Graciliano avalia, ao falar dos modernistas, que “enquanto outros procuravam estudar alguma coisa, ver, sentir, eles importavam Marinetti”. E ainda: “os modernistas brasileiros, confundindo o ambiente literário do país com a Academia, traçaram linhas divisórias rígidas (mas arbitrárias) entre o bom e o mal. Caracterizar o parâmetro deles como arbitrário e rígido, ao mesmo tempo, é bastante perspicaz e assertivo e condiz com a análise que tentei fazer neste texto de que há um autoritarismo estético escondido sob uma máscara de libertação.   

A liberdade para esses modernistas era entendida como a subversão de pilares estabelecidos ao longo de séculos de pensamento e cultura sem necessariamente se obrigarem a estruturar nada no lugar, era a transgressão pela transgressão e, ainda assim, rebeldia que só valia se estivesse em conformidade com as regras dos que se apossaram dos meios de expressão.   

E não me entendam mal, não pretendo aqui defender algo, que seria igualmente arbitrário e reducionista, como a reação ao moderno por um apego preciosista e irracional a algum passado ou a uma ideia impenetrável de alta cultura. Mas é importante que se compreenda que o pensamento, típico do pós-iluminismo, de que é possível produzir circunstancialmente um novo aspecto da vivência humana – aspecto este que, aqui, seria a cultura – através de uma absorção centralizada de todas as variáveis que circundam o tecido social do momento é, não só arrogante, como também impraticável. E o resultado disso é, em geral, artificialidade e imposição de alguma narrativa: já que não se dá o tempo necessário para que algo seja compreendido organicamente, deve-se coagir os outros a introjetar o “novo real”.


É isso que entendo quando leio o que o autor de Vidas Secas fala sobre “importarem” algo ao invés de trabalharem os sentidos. No artigo de Lobato, citado anteriormente, o escritor expressa um pensamento semelhante:  

Quando as sensações do mundo externo transformam-se em impressões cerebrais, nós “sentimos”; para que sintamos de maneiras diversas, cúbicas ou futuristas, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em “pane” por virtude de alguma grave lesão. 

Monteiro Lobato. Paranoia e mistificação

Se as análises sobre uma criação humana não se ancorarem em princípios que estão fora da obra e para além das percepções subjetivas de seu autor, só nos resta confundir a realidade com a combinação de sensações presentes na mente de cada um ou, como em geral acontece, construir uma outra realidade a partir de uma mistura entre a defesa do subjetivo absoluto com a obrigatoriedade de se aderir ao viés de interpretação de alguns poucos. 

Entendo que quando falamos em arte incluímos também o gosto, e há, sim, uma zona nebulosa, para além de critérios pragmáticos de qualidade e destreza intelectual. Acredito, contudo, que um bom mediador entre objetividade e sensações imprecisas seja justamente a tradição. Lógico que existe uma casquinha estética que varia ao longo dos contextos históricos e que é difícil fazer um juízo de valor desse tipo de característica em cada tempo, ainda mais quando somos fruto do próprio período que tentamos julgar, mas alguns critérios foram selecionados para permanecer e isso diz algo sobre sua importância para a nossa estrutura cultural.  

Quando forçamos a inovação nesse afã de criar familiaridade superficial entre a vida premente e a arte, abandonamos a essência do que nos faz humanos – que é algo que transcende tempos e “latitudes” – para usar a expressão de Lobato –, perdemos a estrutura, ficamos sujeitos às instabilidades próprias de linguagens pobres e imediatistas, como as contidas em manifestos e discursos ideológicos.  

Conhecer a estrutura permite que tenhamos à nossa disposição as ferramentas para desenvolver a individualidade de maneira realmente elaborada. Essa junção da base cultural com a singularidade de cada homem, no seu momento histórico, com sua bagagem própria, através de um processo honesto de expressão – e despido da soberba de achar que pode, sozinho, colocar-se no lugar daquilo que foi construído ao longo de 2500 anos de criação constante – é o que faz a boa arte e o que gera as boas reflexões sobre o mundo.  

Quando acusam de elitistas esses que criticam a modernidade pela modernidade, esquecem-se do caráter limitante dessas teorizações que professam a aproximação leviana entre a conjuntura em que está inserido o sujeito e a cultura que ele consome. Por mais que esse esforço pareça nobre, quando nos apegamos a esse tipo de estratégia, esquecemo-nos de que o outro lado dela é privar as pessoas de tirar suas próprias conclusões sobre as grandes obras.  

Contribui-se, assim, com o achatamento compulsório dos imaginários, que ficam absurdamente restritos à parcela da realidade material com a qual o indivíduo tem contato. Eles tiram a referência clássica e a substituem pela das elites pensantes do momento e não por inovações populares orgânicas. 

A Semana de Arte Moderna, assim como outros produtos da intelectualidade mainstream, não foi resultado de um processo espontâneo de modificação e popularização da cultura, ela foi, inclusive, literalmente financiada por parte dos estamentos burocráticos, pela elite cafeeira, apoiada pelo então governador de São Paulo, o futuro presidente Washington Luís; todos na ânsia extravagante de afetar erudição. Esses modernistas entendem-se o tempo inteiro como rebeldes, sendo que são justamente quem domina o sistema.   

Toda essa confusão entre alta cultura e elitismo fica bem esclarecida por uma frase tirada de um desenho – fofíssimo, diga-se de passagem – que é Ratatouille – provando que bons insights podem, sim, ser apresentados sob os mais diversos formatos: “Nem todos podem se tornar grandes artistas, mas um grande artista pode vir de qualquer lugar”. Pobreza cultural nada tem a ver com seu correspondente material.  

Fontes consultadas 

GURGEL, Rodrigo. Esquecidos & Superestimados. 

GURGEL, Rodrigo. Percevejos, ideólogos – e Alguns Escritores

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2022

__________________________


Esmeril, conteúdo gratuito de 08 a 13 de Março



ESMERIL NEWS | LITERATURA





👆 A justiça social
(por Vitor Marcolin - 13/03/2022)


Comunismo no aquário — trecho de O Professor Jeremias, de Léo Vaz
Núltimo Domingo, publicamos o capítulo Os Peixinhos, do livro O Professor Jeremias, de Léo Vaz. Neste trecho o autor do romance, considerado pelo professor Olavo de Carvalho como um dos melhores já escritos no Brasil, delineia, com humor, a ética de um sacristão socialista. No capítulo seguinte, este que aqui reproduzimos, vemos o desfecho trágico da aplicação de suas políticas.

Ora, aconteceu que Samuel acabou por embirrar com as cenas de selvageria que, às horas de almoço e jantar, diariamente se reproduziam nos seus aquários. E por isso resolveu reformar profundamente os costumes do seu mundo aquático.

— Vou fazer a distribuição igualitária dos bens, disse-me um dia.

Nisso suspeito que lhe tivessem caído nos ouvidos frases de algum caixeiro-viajante, únicos mortais capazes de trazer a Ararucá fórmulas novas.

Como quer que fosse, Samuel gostara daquela e resolveu aplicá-la.

Dito e feito. Com pachorra de um sacristão, arranjou umas gradinhas num imenso aquário, para onde trasladou todos os peixinhos, por modo que, tendo a ilusão de mais ampla liberdade, cada um deles ficava separado dos outros, em escaninhos particulares. Estabeleceu assim, sob a aparência de um comunismo absoluto, completa separação entre os indivíduos da buliçosa grei. E em cada divisão distinta, onde nadava um único peixinho, Samuel deitava agora uma ração suficiente para engordar peixinho e meio.

A princípio, os resultados acompanharam estritamente as intenções do reformador. Os peixinhos parece que apreciaram em boa conta aquela tranquilidade desconhecida, que os livrava do afã de abocanhar o pão com o suor do seu rosto. Portaram-se educadamente, como bons rapazes, que não enxergam competidores. Samuel, satisfeito, radiava em sorrisos. Eu de mim, passada a novidade, comecei a achá-los perfeitamente desinteressantes. Estúpidos, mesmo.

E os peixinhos por fim começaram a pensar comigo. Enfastiaram-se. Já não corriam velozes em porfia de uma bolinha disputada. Antes deixavam-se ficar, de barriga ao ar, no fundo da cela, à espera de que o pão lhes viesse ter à boca. E o tédio, o mais negro tédio que tem assaltado almas, reinou no aquário. Os únicos movimentos, ali, eram de espreguiços e bocejos desalentadores.

Positivamente aquilo ia mal. Eu sugeri a Samuel a volta ao regímen antigo. Mas Samuel era reformador bem-intencionado e por isso culpava a índole dos peixes, desculpando a reforma:

— São uns imbecis estes idiotas: pois não veem que agora é que são felizes?…

Não viam. Não queriam ver. E, em breve, os primeiros sintomas de neurastenia surgiram. Houve tenebrosos conciliábulos entre os varões das grades. Os peixinhos, ao fim de algumas semanas, já não toleravam aquela vida. Resolveram acabar sinistramente com a situação.

E acabaram. Naquela quinta-feira, ao levantar-se, Samuel fora, como de costume, dar os bons dias à sua “rapaziada”. Mas, oh! terrífica visão para um amantíssimo coração de pai e de reformador: — de cada uma das gradinhas pendia, enforcado, um peixinho vermelho!

Tinham-se suicidado coletivamente.

Por isso, quando ao entrar perguntei por eles, Samuel me dera aquela resposta cheio de despeito. E desde esse dia apenas conservou a outra mania, relativa às barbas e menos propícia a desilusões.

De peixinhos e de regimens sociais não quer que se lhe fale. Uma vez que são incapazes de viver sem se esbofetear na conquista de um pão vasqueiro, detesta-os.

E repete-me, de vez em quando, quando para o espicaçar aludo ao caso:

— Vivam lá como quiserem, os estúpidos; devorem-se: é só para o que prestam!…

Com o que, desapareceu de Ararucá o último eco da questão social, voltando a paz de espírito a reinar desimpedida em todas as consciências.


Extraído de Vaz, Léo, O Professor Jeremias, Bom Texto Editora, Fundação Casa de Rui Barbosa, 2001. O livro fora publicado originalmente em 1920.


“É um livro bom, cheio de verdade, cheio de humanidade. É uma obra de arte, segura, coesa, integral, profundamente sentida e maravilhosamente realizada”.

— Menotti del Picchia sobre O Professor Jeremias

__________________________


ESMERIL NEWS | RESENHA






👆 Idade Média, o que não nos ensinaram
(por Vitor Marcolin - 08/03/2022)


A autora do livro foi uma mulher na contramão do consenso acadêmico de sua época

Autores como Alexis de Tocqueville, Johan Huizinga, Eric Voegelin, Christopher Dawson, Ortega y Gasset, Olavo de Carvalho e outros, talvez mais uma meia-dúzia, explicam, cada um a seu modo, como a propaganda anticristã veiculada durante o Iluminismo fora determinante para a formação da opinião pública no Estado Moderno.

A imagem que temos da Igreja Católica e daquela sociedade que cresceu sob a sua autoridade espiritual e moral, a sociedade medieval, é, invariavelmente, negativa. Fundamentados num conjunto carcomido de clichês, os propagandistas anticatólicos e antimedievais tentam, há três séculos pelo menos, dar verossimilhança à ideia de que a sociedade precisa libertar-se das amarras da religião e entregar-se integralmente à administração dos homens de ciência.

Um único fato basta para desconfiar de suas propostas: o Estado Moderno, em nome dos mais esdrúxulos projetos de transformação político-social, encomendou a morte de mais pessoas do que todas as guerras, catástrofes naturais e doenças da Idade Média e da Antiguidade somadas. A conclusão é óbvia: vivemos sob o governo viciado da Democracia, aquele que Aristóteles, no livro III da Política, identificou como Demagogia.

O âmbito acadêmico, gênese de um sem-número de esquisitices que impactam a esfera cultural, funciona como uma espécie de megafone para a propaganda anticatólica. Poucos foram os historiadores sinceros o bastante para denunciar o status quo relativo às narrativas, à formação da opinião pública, à imagem da História veiculada pelas Universidades. Régine Pernoud consta no rol dos historiadores sinceros — e, ipso facto, as bibliografias dos cursos de humanas no Brasil dificilmente subscrevem o seu nome.

Sob a perspectiva dos acadêmicos desta terra, Régine é uma quimera: uma mulher erudita, do meio universitário, mas que não tomou o partido do “empoderamento” feminino. Não. A historiadora francesa dedicou sua longa vida à investigação da Idade Média realizada livremente, sem as amarras dos compromissos ideológicos firmados — desconfiadamente — entre aqueles intelectuais cujo único propósito na vida é a conquista do prestígio acadêmico.

Dona de uma prosa fluida, agradável e clara, Régine trata, no seu Idade Média, o que não nos ensinaram, dos preconceitos que levaram ao descaso, no âmbito do ensino, com a historiografia daquele período. Não só. No livro, a historiadora tece comentários lúcidos sobre o desenvolvimento da arte e o papel da mulher naquela sociedade. Facilmente pode-se supor que o livro não é profundo, talvez seja verdade, mas o valor objetivo da obra está no fato de apresentar novas perspectivas sobre um período histórico tão injustiçado.


Compre o livro AQUI.


“Residência e peregrinação, realismo e fantasia, tais são os dois polos da vida medieval, entre os quais o homem evolui sem o menor incômodo, unindo um e outro e passando de um a outro com uma facilidade que não voltou a recuperar desde então”.

— Régine Pernoud

__________________________
__________________________


Brasil Sem Medo - 13 de Março





TELA FRIA

👆Como a Rússia tem povoado o imaginário ocidental e integrado a linha de frente da guerra cultural
(por Cláudio Dirani)

Em meio ao clima de tensão global crescente, vale a pena relembrar produções que destacam a Rússia na linha de frente da disputa pelo controle do planeta

Durante toda a gélida Guerra Fria (e além), a Rússia em sua encarnação imperial soviética tem povoado o imaginário do mundo em produções cinematográficas que moldaram a cultura do século XX. 

Mais de trinta anos após o fim da chamada Cortina de Ferro, os russos estão de volta ao protagonismo geopolítico. Desta vez, em ações bélicas reais contra a Ucrânia, convertidas em ameaças à segurança e hegemonia ocidental.

Em meio ao clima de tensão global crescente, vale a pena relembrar produções que destacam a Rússia na linha de frente da disputa pelo controle do planeta.

Salt

Lançado em 2009, Salt se encaixa na modalidade de filmes em que a dualidade do protagonista retrata com perfeição todas as facetas da influência russa no jogo da espionagem internacional. Mais do que isso, o plot twist (virada da história) coloca sobre as cabeças do público um ponto de interrogação gigante sobre a verdadeira face da agente da CIA, Evelyn Salt (Angelina Jolie), que na trama é revelada como sendo, de fato, Natasha Chenkov, uma russa infiltrada na inteligência americana.

A questão levantada em Salt é mais do que intrigante, quando se questiona sobre quantos russos e americanos podem ter sido preparados, até mesmo sem ter consciência, para atuar em solo inimigo com identidades secretas.

Raposa de Fogo

Clint Eastwood é indiscutivelmente um dos nomes mais influentes e talentosos de Hollywood, mas Raposa de Fogo não é de seus filmes aclamados. Ainda assim, a produção de 1982 é uma das mais intrigantes. Estrelado e dirigido por Eastwood, o drama tem um roteiro engenhoso, onde um ex-piloto de combate que atuou no Vietnã, Mitchell Grant (Clint Eastwood), é treinado para se infiltrar na Força Aérea Soviética e roubar o sofisticado Mig-25. O problema (ou a solução) é que os comandos do avião só funcionam por comandos mentais na linguagem russa, algo que Grant acaba por resolver com rara maestria.

Ponte dos Espiões

Nada como um roteiro baseado em fatos convertido em filme de forma magistral. Coube o feito ao genial Steven Spielberg e ao protagonista da trama, Tom Hanks. Em Ponte dos Espiões (2015), Hanks é um advogado que aceita a incrível tarefa de defender um espião russo capturado pelos Estados Unidos e que se transforma em moeda de troca para recuperar o piloto norte-americano, Francis Gary Powers. 

Para refrescar a memória histórica, Powers controlava o avião de reconhecimento Lockheed U-2 em uma missão praticamente suicida sobre os céus soviéticos em maio de 1960. Após sua captura, Powers foi julgado e sentenciado a 10 anos de prisão por espionagem. A história de sua eventual soltura é contada em Ponte dos Espiões.

O Dia Seguinte

Não se trata de um filme de terror, mas O Dia Seguinte pode ser categorizado como uma das produções que mais casou temor à juventude dos anos 1980 em suas 2 horas e 6 minutos de pura catástrofe nuclear. Dirigido por Nicholas Meyer, o longa de 1983 conta a história da reação da OTAN a um ataque soviético a Berlim.  Ao invés de sanções, o conflito se transforma no evento mais temerário da humanidade: uma, até então, inimaginável guerra nuclear.

O Espião Que Sabia Demais

Baseado na obra de John Le Carré (o mesmo autor do livro que deu origem ao longa O Jardineiro Fiel), O Espião Que Sabia Demais (2011) apresenta Gary Oldman em mais uma atuação brilhante, sob a direção de Thomas Alfredson. Desta vez, Oldman é George Smiley, um veterano agente secreto britânico que é forçado a deixar sua aposentadoria para impedir que segredos do ocidente continuem a chegar nas mãos dos Soviéticos. Outro ator inglês, Colin Firth (O Discurso do Rei), se destaca como Bill Haydon, o antagonista da trama que se passa no ano de 1973.

Dr. Fantástico

Nenhuma lista de filmes sobre a Guerra Fria pode ser considerada completa sem a presença do mestre Stanley Kubrick. O diretor americano assina Dr. Fantástico, uma rara comédia do gênero lançada em 1964 – um ano após a morte do presidente John F. Kennedy. Em outras palavras, o filme foi exibido em um momento de alta temperatura na relação Estados Unidos-União Soviética. 
Apesar da tensão, Kubrick decidiu transformar o eventual thriller em um filme cheio de humor, cortesia do roteirista Terry Southern e das atuações magníficas dos especialistas no gênero, Peter Sellers e George C. Scott.

The Americans

Além dos longas temáticos, The Americans coloca de forma meticulosa o expectador no centro do conflito entre EUA e U.R.S.S. no auge da Guerra Fria. A série é baseada na rotina secreta do casal Elizabeth (Keri Russell) e Philip Jenings (Matthew Rhys), que na verdade atuam como agentes soviéticos da KGB infiltrados na sociedade norte-americana. 

Com 75 episódios distribuídos em 6 temporadas entre 2013 e 2018, a essência de The Americans é baseada em experiências reais de Joe Weisberg, um ex-agente da CIA na era Ronald Reagan (1981-1988).

__________________________
__________________________


Allan dos Santos
 - 09 de Março




COMUNISMO | RÚSSIA



👆 Biden está reeditando a Guerra Fria
(por Thiago Rachid - 09/03/2022)

Por Thiago Rachid

Biden está jogando a Rússia nos braços da China e reeditando um cenário semelhante ao da Guerra Fria

A ação militar russa sobre o território soberano da Ucrânia não foi suficiente para provocar uma solidariedade bélica da comunidade internacional. As muitas reações de contrariedade com a decisão do presidente russo de invadir o país vizinho têm se dividido entre medidas inócuas, como a resolução e os debates da ONU; publicidade politicamente correta, com a decisão de grandes corporações de sair da Rússia; e as sanções econômicas de outros Estados e da União Europeia. Vladimir Putin tinha consciência de que as sanções econômicas viriam após a agressão ao território da Ucrânia. Ele contava com isso e, seguramente, as contabilizou no cálculo político que o levou à decisão de atacar. A Rússia enfrentará dificuldades, não há dúvida, mas existem caminhos a seguir para buscar compensar as perdas e os boicotes. E o caminho principal e mais óbvio tem cinco letras: China.

PARA CADA PUNIÇÃO OCIDENTAL, UMA SOLUÇÃO CHINESA

Se a Apple deixou o país, a Xiaomi ampliará seu espaço no mercado russo. Se o petróleo e o gás russos ficarem sem mercado, a gigantesca necessidade energética chinesa está de braços abertos para comprá-los. Para cada empresa multinacional ocidental que sair da Rússia, há algumas outras chinesas para abocanhar o mercado. Há, ainda, a possibilidade do Estado russo encampar parques industriais estrangeiros e aumentar sua participação na economia.

BLOCO EURASIANO

Mas, só nesses dois exemplos, os mais prováveis, percebemos que as sanções à Rússia podem acabar por fortalecer o Estado russo e sua relação com outro Leviatã, o Estado chinês. A pretensão ocidental de punir a Rússia pode estar, na verdade, jogando-a de vez nos braços da China, consolidando o bloco eurasiano. Um cenário que gera uma união capaz de polarizar com os EUA e recriar um mundo semelhante ao da Guerra Fria.

O EXEMPLO ALEMÃO

Nós temos um exemplo histórico não muito distante das consequências que as sanções econômicas podem gerar sobre um país. O Tratado de Versalhes e suas rigorosas imposições contra a Alemanha provocaram a ascensão da reação nazista. Quais serão as consequências que as sanções à Rússia legarão ao mundo?

REAÇÕES RIGOROSAS SÓ ATENDEM AOS INSTINTOS PRIMITIVOS A ação militar de Putin é, portanto, um movimento muito mais sensível no tabuleiro geopolítico do que pode parecer à primeira vista. As reações devem ser muito bem medidas e não devem atender ao instinto das turbas, mas à solução negociada e inibidora. Do lado agressor o que encontramos é um Estado que, embora não seja economicamente tão forte como já foi, possui ainda um grande arsenal atômico, além de um líder obstinado, frio, violento, preparado e com o suporte da maior agência de inteligência do mundo. Embora para o senso comum pareça uma atitude covarde, as grandes potências não erraram ao não entrar em guerra com a Rússia em solidariedade à Ucrânia, mesmo que indiretamente, com fornecimento de suprimentos em larga escala. Este seria um movimento irresponsável e de consequências imprevisíveis.

AS CONSEQUÊNCIAS DAS SANÇÕES

Menos imprevisíveis, porém, são as consequências da guerra econômico-financeira que vem sendo feita contra a Rússia de Putin. Talvez seja conveniente moderar este arsenal também, para não alterar o equilíbrio geopolítico de maneira ainda mais desfavorável para nós do lado de cá do mundo.

BIDEN, O PROVOCADOR

O presidente dos EUA, Joe Biden, já deu ao congênere russo de bandeja a desculpa que ele precisava para iniciar as hostilidades contra a Ucrânia quando em novembro passado seu governo e o de Zelensky, da Ucrânia, assinaram uma Carta de Parceria Estratégica, que confirmava o apoio dos Estados Unidos ao direito de Kiev de se tornar membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Agora, Biden segue capitaneando as reações pelo caminho das sanções rigorosas e que parecem perseguir obstinadamente uma reação mais violenta de Vladimir Putin. Um exemplo está o boicote ao petróleo russo ao qual Putin já ameaçou reagir encerrando o fornecimento de gás para a Europa.

NÃO HÁ MOCINHOS

Não há mocinhos nessa história. Biden, Putin e Zelensky têm, cada um, sua parcela de responsabilidade por causar esse conflito, cada um a seu modo e com maior ou menor responsabilidade. A comunidade das nações e seus Estados não devem aceitar a ação militar de Putin e o modelo de reação de Biden, tampouco deixar Zelensky negociar sem apoio de países neutros.

O PAPEL DA UCRÂNIA NO EQUILÍBRIO GEOPOLÍTICO

A Ucrânia exerce no contexto europeu um papel de “zona de amortecimento”. Seu controle pela Rússia ou pelos países ocidentais desequilibra o jogo. A Rússia não pode mesmo aceitar a integração da Ucrânia à OTAN, embora este seja um país soberano, pois isso ameaçaria a segurança russa. A Europa não pode aceitar a tomada da Ucrânia pelos russos, pelo mesmo motivo. Se a intenção da Ucrânia de entrar foi apenas uma desculpa para o projeto do pan-eslavismo de Putin, não há justificativas para o presidente russo colocar tal projeto na mesa de negociações. O caminho é buscar uma negociação que dê à Rússia e à Europa a segurança de que o território ucraniano será militarmente neutro e não oferecerá riscos a russos e europeus.

FORA DA NEGOCIAÇÃO NÃO HAVERÁ SOLUÇÃO

Se as chances de uma negociação são difíceis, não buscá-la não pode ser uma alternativa. A via militar é quase apocalíptica. A via das sanções criará um problema maior que o do atual conflito. O sacrifício da Ucrânia deverá ser o da renúncia de forças militares que possam ameaçar a Rússia e a perda de uma parte do seu território que garanta aos russos o acesso ao Mar Negro, um dos objetivos de Putin nessa história. Será o preço a pagar pela bobagem feita por Zelensky em aceitar a proposta de Biden de negociar com a OTAN.


__________________________
__________________________

👆 ENSINAMENTOS DE OLAVO DE CARVALHO

(TdL: extraído das minhas anotações pessoais.)

"O critério sobre a sinceridade também vale para a sociedade até certo ponto. Há uma quantidade mínima de sinceridade circulante que a sociedade precisa ter para que suas lideranças encarem um problema com um certo realismo e possam tomar decisões que sejam mais ou menos razoáveis. Se não há isso, se todo mundo começa a mentir ao mesmo tempo, então todas as decisões são loucas e alienadas. Mas não é a sociedade em si que está mentindo, mas um certo grupo de pessoas, como por exemplo a intelectualidade, a classe falante. Pessoas que vivem da ocultação." (COF, Aula 04 - 18/04/2009)

__________________________
__________________________

👆OPINIÃO DO AUTOR

Ainda sobre a hipocrisia
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
14 de Março de 2022



Somente um comentário curto hoje, porque meu tempo esta semana foi bem reduzido. Estava eu lendo o livro de Daniel novamente esta semana. E é uma leitura muito interessante para quem quer entender as veredas do mundo moderno, porque não sei se vocês já notaram, nada do que passamos hoje é novo. Tudo que acontece (sim, mesmo a questão da fraudemia) já teve um precedente histórico nas escrituras sagradas e em escritos antigos de civilizações que não mais existem. Basta pesquisar.

Enfim, o livro de Daniel tem uma passagem interessante, que se dá antes do reinado de Belsazar, que é quando o rei Nabucodonosor se rende finalmente à sabedoria infinita de Daniel, profeta (e dos melhores) e servo de Deus. Só que logo depois disso, percebe-se que o rei Belsazar não conhecia Daniel.

Esta passagem meio que dá a ideia que, em algum ponto na história, Daniel foi meio que deixado de lado entre os reinados. Especulações à parte, a verdade é que Nabucodonosor conhecia Daniel, e ficou perto dele, e por mais que tenha sido perverso em muitos pontos de seu reinado, ele se permitiu ouvir a Daniel, principalmente depois do episódio da fornalha. Daniel profetizou que o rei perderia seu reinado e passaria 7 anos comendo capim. E foi o que aconteceu. Depois de retomá-lo, passou a ouvir Daniel e a se render a sua sabedoria, e morreu com o mínimo de dignidade.

Mas Belsazar não teve como se aproximar da verdade e da sabedoria, pois nem sequer o conhecia. Daniel apenas habitava seu quarto no castelo real, quando finalmente foi chamado para ler as famosas escrituras na parede. Aquelas que diziam que o rei cairia e seria destronado como castigo a sua vaidade. Mas nem isso foi o bastante para fazer o rei tomar jeito. Quando o rei Dário invadiu, Belsazar foi expulso, e um novo reinado teve início.

A conclusão é a seguinte: o governante que se humilha, admite a própria pequenez e mantém a sabedoria e seus sábios por perto, por perverso que seja, acaba fazendo algo de bom e termina a vida com algo a apresentar, mesmo que não se torne exatamente um santo. Mas o governante que dispensa a sabedoria e seus sábios, acaba por cometer barbaridades insólitas e termina em desgraça.

Lembram que, no artigo da semana passada eu falei que a avareza alimenta a soberba? A avareza e a ignorância geram falsidade e hipocrisia; uma mentira tem que ser alimentada por outra mentira, e de hipocrisia em hipocrisia, aumentam as ignomínias que um governante comete e faz com que seja visto por maldito aos olhos de seu povo. Eis uma observação pertinente a todos os governantes, não só do nosso país, mas do mundo, para que se voltem à sabedoria, e nunca abandonem seus sábios.

__________________________
__________________________

👆 HUMOR

E nas True Outstrips de hoje, Olavo avisa: "vai dar merda"! Olho no lance!! 
E ainda: o que a galera mais quer ver por aí... sacanagem PRESOdencial, calibre 51. Parece que naquela noite os detentos descobriram uma nova modalidade de canto lírico! E segundo meu correspondente e amigo Marcelo Gazzoli (citação dele), fontes seguras dizem ter ouvido do fundo da cela o Putinho no final berrando: "Corrreçon: o Ucrranha é mínia!!"
(11/03/2022)
(14/03/2022)


E, pra variar, o Sal Conservador nos mostra... os "izpeççializtes" da "Imprensa"...
(27/02/2022)

__________________________
__________________________

👆 LEITURA RECOMENDADA

Hoje vocês vão ler sobre usar panos na cara para cobrir boca e nariz por vontade própria e se submeter a tomar uma substância experimental na veia correndo um sério risco de morte, gostar disso, e ainda pagar por isso. Boa leitura! 😊

Comprar

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Edição XCI - Terça Livre, opinião do autor e mais

Edição XC - Extraordinária de fim de ano (Terça Livre, Revista Esmeril 51, Revista Exílio, espaço do autor e mais)

Edição LXXXV (Terça Livre, Revista Esmeril 47, opinião e mais)