Edição XX (Revista Terça Livre 110, revista A Verdade 50, opinião e mais)


Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Terça Livre, da qual sou assinante, com autorização pública dos próprios autores da revista digital. Nenhum texto aqui pertence a mim, todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.


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CULTURAL



ENTREVISTA COM LAUDELINO LIMA
(por Leônidas Pellegrini)


“Uma brincadeira de geeks explode uma guerra até então travada nos bastidores”. Com esta frase você inicia, já na capa, a leitura de “Submundo Hacker”, romance de estreia de Laudelino Lima. Trama eletrizante, feita para virar roteiro de cinema e adaptação em HQ – algo no nível de Chuck Dixon e Luciano Cunha – “Submundo Hacker” realmente envolve e empolga da primeira à última linha.

No entanto, para além de uma aventura que envolve um grupo de nerds hackers e uma organização paramilitar lutando contra o submundo da corrupção política e do tráfico de drogas, o romance de Laudelino Lima revela-se, como defende o próprio autor, “um livro que pode ser comentado em muitas camadas’ – literária, social, histórica, social, filosófica, religiosa. Junto, portanto, a uma aventura digna de Dixon e Cunha, o leitor se depara com Olavo de Carvalho, Ortega y Gasset, Viktor Frankl, Chesterton, a doutrina da Igreja Católica, a história não contada da nossa República, entre tantos elementos com que Laudelino conseguiu compor uma trama envolvente e profunda, e sem vícios de proselitismo.

Confira a seguir a entrevista exclusiva que Laudelino Lima – estreante, mas com muita bagagem e trabalhos que conheceremos muito em breve – concedeu à Revista Terça Livre. 

Terça Livre: Em primeiro lugar, fale um pouco para os nossos leitores sobre quem é Laudelino Lima. Sua formação de vida, trajetória pessoal, formação como leitor etc.

Laudelino Lima: Bom, antes de qualquer coisa, obrigado pela oportunidade e pela leitura do livro. Sou da safra de 1972 e fui criado entre o subúrbio carioca, a roça de Piabetá e o mar de Cabo Frio. Aos 13 anos trabalhava semanalmente na feira perto de casa e escondido dos pais, em troca de um grande saco de biscoitos. Aos 14 fiz um curso da Nashua e fui trabalhar como operador de máquinas reprográficas. Nessa época eu também fazia atletismo e natação no Maracanã. Meu segundo grau foi na área de tecnologia e me tornei atleta de handebol. Fiz um estágio no Conselho Nacional de Cinema e depois ingressei no Exército. Me formei oficial R/2 cavalariano, turma de 1991. Trabalhei depois numa construtora, numa administradora de condomínios, na seguradora AIG e numa consultoria implantando ERP. Fui Gerente de Sistemas da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio, CIO na Agência de Fomento do Rio, Coordenador Nacional de Sistemas do braço logístico da fábrica da Peugeot Citroën no Brasil, Gerente Geral de TI do Grupo Editorial Record e hoje continuo trabalhando com T.I. e também implantando a Lei Geral de Proteção de Dados (http://lgpd.in). Atualmente morando em Brasília, completei 35 anos de trabalho na área de tecnologia. Nesse meio do caminho, tive uma cafeteria e trabalhei em outra.

No ano de 2002, conheci o Olavão através do site Mídia Sem Máscara. Na verdade, a coisa surgiu num site de games, onde vi um usuário debatendo com outro sobre marxismo. Descobri com o tempo que um era professor esquerdista, e o outro, à época, porta-voz da AMAN.

Conheci o blog “Garganta de Fogo”, do Yuri Vieira, e lá, uma série de entrevistas com o Olavo. Foi a primeira vez que escutei a voz do tio. Foi num daqueles áudios, que ele pediu ajuda para criar um programa semanal. Assim surgiu o True Out Speak (TOS). Estive presente e ao vivo em todas as transmissões até o programa 298, quando terminou. Foi no TOS que o Olavo novamente pediu ajuda na criação do seminário. Eu estava lá ao vivo nas primeiras aulas e acompanhando as transcrições. Tive a honra de ser o prefaciador das tirinhas TrueOutStrips. Escrevo para a Revista Terça Livre sempre que posso e também auxilio nos bastidores. Foi o caso da parceria com o canal Hipócritas para a gravação da sátira sobre uma votação num condomínio utilizando o mesmo conceito das nossas urnas. O roteiro foi meu.

Fui o criador dos sites www.monir.com.br, www.averdadesufocada.com, www.tirodefensivo.net, www.ubirataniorio.org, dentre outros. Foram mais de trinta. Sou Integrante do podcast literário Ghostwriter (https://www.programagw.com.br/).

Ajudei na divulgação, pesquisas e publicação do livro "1964 O Elo Perdido" e também participei brevemente do episódio do Brasil Paralelo sobre o período.

Fui o digitalizador do livro secreto do Exército sobre as tentativas de tomada de poder no Brasil, o lendário ORVIL, que tacou fogo na internet por volta de 2006. Fui dublador do site Tradutores de Direita na série sobre os Dez Mandamentos. Colaborador do Instituto Brasil Conservador, da IVIN Filmes (Jambock) e um dos fundadores do Instituto Civitas. Possuo o canal Palpiteiro Amador no Youtube e participo do quadro "Seu professor de história mentiu" no canal do Eduardo Meira, onde já detalhamos a vida de Dom João VI, a construção do Brasil, a vida e formação de Dom Pedro I, nossa independência e a libertação de Portugal. Agora iniciamos a história de José Bonifácio.

No meio disso tudo, entre 2002 e 2018 escrevi o livro “Submundo Hacker” (Faro 2021), uma história ficcional de hackers contra políticos e traficantes. Já entreguei um livro infantil que sairá no segundo semestre e ainda tenho uma encomenda para o fim do ano: Um livro sobre 100 mentiras na história do Brasil. Em paralelo (se isso ainda for possível), tenho dois temas de estudos contínuos: A Questão Christie (Desde 2015) e Votações Eletrônicas (Desde 2000). O interessante é que quando terminei de colocar a última palavra do livro e salvei o texto, vi na TV a informação do incêndio no Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista.

Terça Livre: Você publicou agora em agosto o romance “Submundo Hacker”. Fale um pouco sobre a gênese desse livro, a inspiração para escrevê-lo, o desenvolvimento da obra etc.

Laudelino Lima: Tudo começou em 2002, quando terminei de ler O Senhor dos Anéis. À época, eu já era um leitor assíduo de Segunda Guerra e mais um monte de tranqueiras. Lia tudo que encontrava sobre os Maias, esoterismo, Conan, Asimov, Orson Scott Card, Sven Hassel, MAD, até Júlio Verne. Tolkien foi um choque. A qualidade do texto era incomparável. A densidade do universo idem. Lembro de terminar com a sensação de nunca mais encontrar nada daquele nível. Desenvolvi uma admiração tremenda por aquele professor. A seguir, um amigo de trabalho me emprestou uma obra de engenharia de produção chamada “A Meta”. Achei interessantíssima, pois explicava conceitos técnicos dentro de uma estória ficcional. Como na época eu estava no estado do Rio e sem recursos para fazer qualquer aquisição ou melhoria, acabei entrando de cabeça no Linux, nos cursos e na comunidade. Ali conheci um monte de malucos e nos churrasquinhos com cerveja das sextas-feiras, sentados no meio-fio do Buraco do Lume no centro do Rio, resolvi começar a escrever um livro ensinando Linux em meio a uma estória. Ensinava a configurar, atacar e defender. A obra chegou a ter 700 páginas. A parte técnica era um saco para escrever e testar. A parte ficcional era muito mais interessante. Resolvi cortar o técnico e o livro ficou com 160 páginas.

Voltei a escrever lentamente e com o tempo eu sentia que a leitura de outras obras, a maturidade, os compromissos, a família e as aulas do Olavo acabavam por influenciar não só a escrita, mas os temas que eu abordava no livro. Senti que eu poderia escrever algo que tivesse valor para as pessoas e fui até o fim com esse intuito. Chegando nos capítulos finais, senti que faltava um tempero para que tudo terminasse grande. Que acabasse num ápice de virtudes sem ser irreal ou descolado do que eu já tinha feito. Foi quando caiu em minhas mãos o livro “Em busca do sentido” do Viktor Frankl. Assim terminei. Com mais influências que eu consiga descrever. Passagem foram escritas com lágrimas, e outras rindo feito um cavalo.

Obs: Li muitas vezes após o término, e dentro do processo de revisão da editora, que me entregou um desafio de reduzir o livro pela metade para que pudesse ser publicado.

Um fato interessante, é que conheci meu editor num post de internet que pedia ajuda para um engenheiro venezuelano que estava passando fome nas ruas de São Paulo. Peguei o telefone, fiz minha doação comovido e algum tempo depois descobrimos que éramos do mercado literário. A oportunidade surgiu em meio à caridade. A palavra de Deus nos diz sobre fazer o bem sem pretensões e colher a benção.

Terça Livre: Fale um pouco sobre o processo de composição dos personagens de seu romance.

Laudelino Lima: Para me ajudar a transformar um personagem em palavras, eu precisei adotar mentalmente algumas pessoas. É um recurso  muito bom, pois você não precisa se preocupar com a idade, forma física, maneira de falar e a possível reação em determinada situação. A pessoa escolhida já traz tudo isso em seu círculo de latência.

Existem vários núcleos no livro. Os hackers, os policiais, os perseguidores, o doleiro, a Base, o Systema e os familiares. No início me preocupei com a grande quantidade de personagens, mas depois vi que estavam todos surgindo naturalmente e que contribuíam para uma narrativa completa. Eu sempre fui muito observador e isso facilitou bastante. Em 1986 eu fiz um curso de desenho no SENAC (Sigourney Weaver desenhada com pontos em nanquim) que nos obrigava a desenhar um lápis solto na mesa, uma maça, um maço de cigarro. Isso foi muito rico para mim, pois me ajudou a perceber detalhes diminutos nas coisas e eu percebi que as pessoas também possuíam esses pequenos detalhes perceptíveis na leitura corporal, palavras e na entonação vocal. Eu aproveitava todos os momentos do dia para observar as pessoas que poderiam me auxiliar na construção de algum personagem. Filmes também ajudam, pois as vezes a realidade não é tão verossímil.

Terça Livre: Há algumas influências evidentes em seu livro. Entre elas, destacam-se Olavo de Carvalho (em muitos momentos da narrativa, é como se o leitor olavete estivesse fazendo uma revisão de aulas do COF), Viktor Fankl, Chesterton e a doutrina da Igreja Católica. Fale um pouco sobre o papel de cada uma dessas influências da composição de sua obra.

Laudelino Lima: Literatura é impregnação. Ninguém pode dar o que não tem. Para parecer com alguém, é preciso incorporar e treinar. Se alguém me perguntasse o que precisaria fazer para começar a tocar e criar uma banda, eu diria que, antes de tudo, deveria escutar muita música, ter algum conhecimento de teoria musical e praticar muito. Deve tentar tocar tal como ouve. Imitar mesmo. Com o tempo e com a mistura de ritmos e gêneros, a pessoa acaba por desenvolver a sua voz e as suas características.

Em literatura é praticamente impossível alguém ser original. O hábito humano de contar histórias e estórias é muito antigo, e somos bombardeados desde o nascimento com múltiplas mídias fazendo isso. São tantas referências que já não conseguimos identificar a origem dos nossos gostos e preferências. Estão conosco e chegaram durante a nossa jornada. Ficaram. O Olavo disse muito acertadamente numa de suas aulas que cultura é tudo aquilo que sobra quando você esquece o que aprendeu. É isso. Viktor Frankl, Olavo, Chesterton e a tradição católica são obras humanas que só fui conhecer com o auxílio da maturidade. Todas me tocaram profundamente e já não consigo me desvencilhar delas. Fazem parte de mim e acabam fluindo para o teclado, assim como no meu dia a dia em minhas ações e atitudes. Sou o cara mais imperfeito que conheço, mas agradeço a Deus ter tido a oportunidade de ter conhecido o Olavo. Devo-lhe minha sanidade, minha vida intelectual e meu retorno à Igreja.

Terça Livre: Nos agradecimentos do livro, você cita o professor Rodrigo Gurgel, que está tendo um papel importante na formação de novos leitores e escritores no Brasil. Fale um pouco sobre essa influência do professor Gurgel na sua formação.

Laudelino Lima: Conheci o crítico literário Rodrigo Gurgel na treta acontecida no Prêmio Jabuti, quando ele tascou uma nota zero em um livro ideológico de alguém. A gritaria geral me chamou a atenção. Fui olhar mais de perto e vi que ele tinha razão na nota aplicada. A gritaria era apenas um monte de gente que só reclamava, mas eram incapazes de comentar o parecer entregue pelo professor. Olhando mais de perto ainda, vi que ele era aluno do Olavo de Carvalho. Que alegria!

Em 2013 eu tirei uma semana de folga e fui para Chicama, no Perú. A ideia era surfar o dia inteiro. Como era uma região desértica, não havia o que fazer no resort à noite. Resolvi comprar o seu curso “A Descoberta do Ensaio” e passei a semana toda estudando os diversos autores apresentados. Eu tinha todo o interesse em absorver tudo. O Rodrigo acabou sendo uma fonte maravilhosa de autores e hoje mantém um canal no Telegram, que é uma das coisas mais ricas que já vi. Guardo também profunda admiração pelo professor.

Terça Livre: Já que falamos de Olavo de Carvalho e em novos escritores, o professor há tempos fala sobre uma crise da literatura nacional, que acompanha o processo de degeneração da inteligência no Brasil, sendo que, depois dos anos 60, são cada vez mais raros bons escritores brasileiros. Pois bem nos agradecimentos do seu livro, você menciona que após conhecer o grupo Jovem Nerd, o Eduardo Spohr e o podcast Ghostwriter, descobriu “um mundo pulsante de literatura que não conhecia”. Além disso, você também cita alguns escritores contemporâneos de seu círculo de conhecimento e outros que conheceu em contato com a editora Record. Fale um pouco sobre essa galeria de novos escritores que você conhece e suas expectativas, de maneira geral, em relação a essa geração.

Laudelino Lima: Enquanto eu escrevia a obra, não me iludia com a ideia da publicação. Eram raríssimos os autores nacionais que eu conhecia. As aulas de literatura na infância, que nos obrigavam e ler e fazer prova sobre livros intragáveis de militantes políticos, assassinaram meu interesse pela literatura nacional. Quando eu li uma matéria da Cora Ronai no finado jornal O Globo, em 2013, sobre um escritor carioca que estava fazendo sucesso, foi um baita presente. Descobri o Jovem Nerd, a obra do Eduardo e que autor brasileiro poderia ser publicado. Aquilo mudou completamente minha perspectiva. Entrando no assunto e nos sites, descobri outros autores como o André Vianco. Por essas coincidências do destino, fui trabalhar no mercado editorial. Já em 2015, fui o presidente do estande da Record na Bienal do Rio. Durante meus anos por lá, conheci diversos autores fantásticos como o Bruno Garschagen e o Alberto Mussa, esse tido pelo Olavo como o melhor autor da atualidade.

Eu estava completamente encantado com a ideia de poder publicar. Conversei muitas vezes com as impressoras Cameron, da Record, dois gigantes que imprimiam 600 novos livros por ano. Imaginava se um dia meu livro poderia sair daquelas engrenagens. Eu seguia trabalhando e vendo escritores de perto. Fiquei impressionado com a humildade do Eduardo, a cultura do Bruno, a simplicidade do Mussa e a família inteira da Carina Rissi. Eram pessoas comuns como todos nós e que batalhavam duro para conseguir publicar um livro. Olhando tudo aquilo de perto, sentia a cada dia, que era possível e o mercado absorvia. Toda essa nova geração, conseguia vender muito bem e não param de surpreender. O Eduardo Spohr, por exemplo, acaba de entregar uma primeira obra de uma trilogia, que conta a vida de São Jorge de uma maneira impressionantemente real e hollywoodiana. É um filme pronto. É nosso. É brasileiro.

Terça Livre: Agora, falemos um pouco sobre o trabalho do escritor, que exige método e disciplina. Você também menciona isso quando cita o amigo André Gordirro, que te ajudou nesse sentido. Relate um pouco sobre essa experiência.

Laudelino Lima: Conheci o André através do grupo do Ghostwriter. Ele é jornalista, escritor e tradutor das antigas. É a única pessoa que eu conheço que já levou um tiro e uma facada. É um nerd raiz tijucano e tricolor, que já entrevistou praticamente todo o primeiro e segundo escalão de Hollywood. Tem uma memória obscena para nomes, fatos e eventos. Consegue passar horas falando sobre produções, filmes, livros, gibis e games. Foi nos jogos que tivemos mais contato. Jogávamos todas as noites divertidíssimas partidas de PUBG, um jogo de tiro muito popular.  Nosso time passava mais tempo rindo de nossos defeitos do que comemorando nossos sucessos. Por diversas vezes o André se ausentava do jogo noturno, por conta de compromissos assumidos para entrega do seu livro, (“Os Portões do Inferno”) ou de alguma tradução. Com o tempo eu comecei a admirar aquela postura.

O André não tem carteira assinada nem um outro emprego qualquer. Todo centavo que ganha vem praticamente das suas traduções e artigos. Não há espaço para um dia ruim. É uma realidade para muitas pessoas. Todos os dias exigem vitórias. Nós chegamos a conversar algumas vezes sobre o que eu já havia percebido e ele me deu várias dicas também. Sim, o escritor é um escravo de uma rotina. Inspirado ou não, tem que escrever. Se o texto ficar estranho, acerta depois. O importante é manter o foco e o ritmo. Stephen King diz que, chova ou faça sol, escreve dez páginas por dia. Ryoki Inoue, brasileiro autor de mais de 1293 livros e o mais publicado no mundo, conseguiu escrever três romances em um único dia. Eu melhorei muito quando eu conheci o software Scrivener. Me ajudou bastante na organização do texto. Eu usei também um software para desenhar a timeline de eventos e pessoas, de maneira que nada ficasse fora do controle. Cada escritor acaba desenvolvendo um método. Eu sigo o que aprendi em tecnologia. Começo ultra macro e vou quebrando em partes, mas sem perder o objetivo. Eu nunca comecei um texto já sabendo do fim. É sempre uma ideia inicial que eu vou desenvolvendo ao longo da narrativa. Tudo tem que ter um início, meio e fim. E tem que ter sempre alguma surpresa ou algo de mistério.

Terça Livre: Voltando a falar sobre as influências presentes no seu livro, é bastante nítida a marca da cultura pop, em especial do mundo das HQs – pessoalmente, vi muito do Luciano Cunha, que ilustra a capa, e do Chuck Dixon em sua trama. Gostaria que falasse especificamente sobre essa contribuição na composição de sua história, e se você tem, inclusive, planos para uma adaptação para os quadrinhos (aliás, seria até uma sugestão que eu daria). 

Laudelino Lima: Muito bom você perguntar isso. Não tive influência do Luciano. Comecei a escrever seis anos antes dele ter a ideia. Eu me surpreendi muito quando li o DESTRO e o Doutrinador. Eu já tinha terminado o livro em 2018 e li os quadrinhos em 2020/2021. Troquei até mensagens com ele (spoiler) me divertindo com tudo isso. Há um ponto a ser estudado por alguém. Por que essas duas estórias criadas em épocas diferente e por pessoas diferentes apresentam esses pontos de coincidências? Eu acredito que o momento que vivemos e as crenças similares, nos conduz nessa direção.

Sobre a capa. Sem comentários. O Luciano é fera.

Sobre virar quadrinhos, acredito que seja um movimento natural caso venha a ter sucesso. Como eu escrevo em forma de filme e já penso a estória como filme, me é muito importante que o leitor construa em sua mente algo mais próximo do que eu imaginava. Em texto e com as restrições de espaço, nem sempre é possível fazer, ou seja, o quadrinho é uma ferramenta complementar na construção do imaginário. Eu sempre gostei muito de encontrar nos livros algum desenho ou imagem que ajudasse a construir o cenário mental da história. São clássicos os vários desenhos que os fãs de “O Senhor dos Anéis” produziram ao longo da história. Muito do visual que vimos nos filmes foi idealizado por leitores a partir do texto do Tolkien. Eu acho mágica essa relação entre o fã e o autor. Penso no futuro em convidar leitores para ajudar na construção da narrativa de algum livro. É impressionante a quantidade de boas ideias que surgem quando você não trabalha sozinho.

Terça Livre: Fale sobre expectativas que você projeta em relação à recepção de seu livro, sobretudo entre o público adolescente.

Laudelino Lima: Esse é um livro escrito para todas as idades. Embora um dos beta-readers tenha dito que parece um livro católico, não se assustem. Contém palavrões. Escrevi para ser real e consegui, pois a editora perguntou se aquilo tinha acontecido em algum lugar ou época. Mas durante o tempo todo eu pensei na juventude e nas pessoas que estão em busca de entender o que está acontecendo à nossa volta. É um livro que pode ser comentado em muitas camadas. Há certamente a primeira camada relativa a uma estória eletrizante. Há a camada do mistério, as organizações ocultas que brigam entre si. Há a camada política e do tráfico de drogas. Há a camada histórica referente ao Brasil. Há a camada do insólito dia a dia de algumas comunidades. Há a camada dos conflitos humanos, dos valores, da família, da amizade, do amor. Há a camada literária. Há a camada filosófica e psicológica. Há a camada religiosa e também vários “easter eggs” sobre temas importantíssimos e que só podem ser comentados com quem terminar a obra.

Tenho muita expectativa com a juventude, pois quem dessa idade leu, confessou ter sido impactado como nenhum outro livro. Impactado sobre a realidade da vida. Quem termina essa estória, vira a última folha entendendo o real sentido da vida. É um livro que te deixa mais forte ao acordar na manhã seguinte. Ele vai fazer parte de você. Será um amigo.

Terça Livre: Para finalizar, e sem querer soltar spoilers aos nossos leitores, mas sua história deixa algumas pontas soltas, alguns “assuntos inacabados” que acredito que sejam propositais. Nesse sentido, há planos para uma continuação? 

Laudelino Lima: Bom, quando escrevi, busquei ser o mais real possível e isso significa que nem tudo precisa ter um fim ou ser explicado. Muitas boas estórias terminam incompletas e essa incompletude alimenta o debate e a discussão sobre as possibilidades. Eu adoraria ter uma “intima$$ão” enorme por parte da editora para escrever uma continuação, mas no momento eu não faria isso. A maior parte das pontas foram finalizadas e esse único livro conta uma estória completa. Ele cria todo um novo universo de personagens e situações que podem fazer explodir as fan-fics, e dou todo o apoio para quem deseje brincar com essas alternativas. O livro tem um início, meio e fim.

Eu já entreguei uma outra estória à editora, e que sairá muito em breve. É uma estória infantil muito edificante e que surge a partir de um acidente de caminhão numa comunidade de beira de estrada. A população, ao saquear a carga, descobre que era um caminhão de livros e abandona tudo no local. Aninha, uma menina por volta de dez anos, e com a mãe, pede ao motorista para pegar um dos livros e ele autoriza. Ela chega em casa, arruma todas as suas bonecas na cama e começa a leitura com todas as dificuldades para uma menina dessa idade e sem a prática. A partir desse ponto, sua vida é transformada completamente e a estória segue até a sua vida adulta. A totalidade das pessoas que leram o script inicial choraram. A editora contratou um desenhista de nível internacional, assim como peritos, para que o livro tenha acesso a todo tipo de escolas e compras do governo. É preciso aumentar a nossa base de leitores, e esse trabalho começa desde cedo.

Um outro trabalho já solicitado pela editora tem relação com o nosso bicentenário no próximo ano. Por conta dos meus vídeos de história do Brasil no YouTube e a série também de história no canal do Eduardo Meira, devo entregar no fim do ano um livro contando “100 mentiras na história do Brasil”.

Guardadas na gaveta tenho três outras estórias. Uma comédia que comecei com meu falecido pai e que tenho o compromisso moral de terminar. Chama-se “O homem que atropelou a morte”, e é literalmente isso. Um homem atropela a morte enquanto ela trabalha e é capturado pela senhora sinistra para acompanhá-la em busca de almas durante o dia. Seu carro fica cheio de almas no banco de trás e a confusão é garantida com todos querendo interferir na maneira como a morte desenha a morte de cada pessoa.

A próxima se chama “A Recriação”, e surgiu num sonho após uma aula do COF. O Olavo falava sobre a revelação surgida com cada uma das grandes religiões e eu sonhei que um enorme anjo de quatro metros de altura, sentado no topo de um prédio no centro do Rio e sendo filmado e transmitido para todo o mundo. A pergunta é: o que a humanidade faria hoje, se um evento dessa magnitude acontecesse na cara de todo mundo?

A estória segue com o anjo passando um poder especial para um rapaz daquele prédio que entra em coma e acorda quatro anos depois com uma inteligência plena e todas as respostas para qualquer questão. Recebe a missão de melhorar o mundo. Em paralelo, surge em algum outro lugar do planeta seu antagonista, que fará de tudo para impedi-lo. Os anjos recebem autorização para permanecerem na terra com o jovem, e assim começa uma guerra.

O último trabalho se chama “Damnatus”.  É a estória de um funcionário público que cresceu em um orfanato onde viveu até a maioridade. Sua boa formação, disciplina impecável e inteligência acima da média sempre lhe ajudaram a superar os degraus da vida e a conseguir um relativo sucesso profissional. Seguia sua rotina controlada de trabalho e atividades particulares. Ele imaginava que possuía pleno domínio de sua vida e de seu futuro, mas uma série de encontros fortuitos com vários velhinhos mostraram que ele conhecia muito pouco de seu passado e suas origens. Quem eram essas pessoas? Por que as encontra onde quer que fosse? Por que sempre estiveram próximas a ele? Por que estavam sempre observando?

Ele não sabia, mas seu destino estava escrito muito antes dele nascer; e pelas mãos dos condenados.

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COMPORTAMENTO

H. G. Wells e a velha novidade do novo normal
(por Cristian Derosa)

A pandemia propõe o abandono de tudo o que nos faz humanos, uma resposta que, embora se diga nova, remete ao início do século passado.

A proposta do novo normal evoca uma vanguarda tão nova e estimulante do progresso e evolução humanas que quem se justifica por essa ideia se sente no ápice da evolução, no centro do desenvolvimento técnico e científico. Mas essa ideia pertence ao início do século passado.

Desde o início de 2020, ouvimos essa expressão “novo normal”, como se fosse uma força da natureza, uma imposição dos fatos da vida real e da mais concreta exigência de adaptação. Mais do que isso, a nova proposta exige de todos um tipo de responsabilidade, uma mobilização social de cooperação com algo simplesmente proposto como obviedade. No entanto, toda a crença na naturalidade das mudanças se baseia na credibilidade das notícias e instituições que falam em nome de uma comunidade científica vista como sábia e iluminada.

Tudo isso foi “previsto” ou, na verdade, proposto por intelectuais do início do século, como Walter Lippmann, que pregava que as notícias fossem orientadas por uma elite ou seriam incompreensíveis e até danosas à sociedade, se deixadas aos jornalistas. Hoje, grande parte dos jornais é orientada por ONGs e intelectuais, tornando jornais apenas diários oficiais de entidades financeiras.

De repente, teve-se a impressão de que estamos vivendo o roteiro de um filme. E isso não é à toa ou coincidência. 

A semelhança da pandemia com filmes de Hollywood não é à toa. O pai da ficção, Herbert George Wells, é um dos mais influentes proponentes da Nova Ordem Mundial, termo cunhado por ele. Wells falava exatamente sobre a necessidade de uma nova normalidade extraída e baseada totalmente no novo ambiente criado pelos avanços tecnológicos. 

Wells bendizia o conhecimento como algo sagrado, assim como a humanidade que o detém, dona de um destino vitorioso de apropriação do poder sobre a matéria que aprisiona o ser humano. Mas, em sua obra, é possível observar uma dualidade, uma tensão que aponta para uma verdadeira dúvida presente no homem. Afinal, das duas uma: ou somos animais biológicos e simplórios, prisioneiros de instintos e de uma biologia que nos oprime diariamente através das doenças, fragilidades, causando sofrimento e morte; ou somos, apesar disso, livres e capazes (quase onipotentes), graças às nossas habilidades, para transcender todas as nossas limitações e tomarmos posse de um destino já escrito: o domínio sobre a matéria e a libertação da natureza através do poder sobre o Universo. Isso significa que, para Wells, o homem precisa decidir se será um animal insignificante ou um deus. Ele acredita piamente na última opção e vivemos, hoje, o resultado dessa crença infantil disseminada por velhos deslumbrados do século passado. Esse deslumbre pôde chegar até nós graças à influência de um imaginário poderoso que fala fundo a anseios universais presentes no homem. 

O darwinismo teve impacto fortíssimo na mente de Wells e isso também não é sem motivo. 

Deslumbrado com a tecnologia e a ciência do seu tempo, Wells foi aluno de Thomas Huxley, conhecido como “buldog de Darwin” e avô dos famosos irmãos Aldous Huxley (autor de Admirável Mundo Novo) e de Julian Huxley, fundador e primeiro presidente da Unesco. Este último foi um conhecido eugenista, defensor de uma nova ordem comandada pelos melhores espécimes humanos, superiores e biologicamente mais dotados. A eugenia no pensamento de Wells já foi objeto de trabalhos acadêmicos sendo muito mais do que uma mera analogia. 

Em seu clássico livro A Conspiração Aberta, Wells recomenda toda uma nova normalidade como resultado de uma disposição diferenciada e necessária frente às novas descobertas. Ele defende que só homens pouco atentos a essa nova exigência veem as novidades como meras “maravilhas” da tecnologia. 

Escreve Wells: 

“As sete maravilhas do mundo mantiveram os homens livres para viver, trabalhar, casar e morrer da mesma forma que estavam acostumados desde as eras antigas (...) Mas essas novas forças e substâncias estavam modificando e transformando - de forma discreta, certeira e inexorável - os detalhes da vida normal da humanidade”. 

Em outros pontos do livro, argumenta que as tradições ocidentais, sejam religiosas e nacionais, precisam ser abolidas em nome de uma nova normalidade oriunda de uma resposta inteligente diante dos novos fatos da vida.

É claro que em certa medida as transformações exigem mudança e adaptação. Mas dificilmente elas demandariam uma inversão ou abolição dos valores que construíram a civilização. Pelo contrário, se essas mudanças desafiam a nossa compreensão e aplicação dos valores, a resposta do abandono deles figura tão somente como um cinismo ressentido com as exigências maiores e mais urgentes de compreensão da profundidade dessas tradições e do quanto elas respondem permanentemente ao homem universal e não àquele que se conforma com a degradante condição de mero “homem do seu tempo”.

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Próxima etapa: o subconsciente
(por Alexandre Costa)


Os homens preferem geralmente o engano, que os tranquiliza, à incerteza, que os incomoda. Marquês de Maricá

O Fórum Econômico Mundial, um organismo com influência crescente nos últimos anos, famoso pelas teses do Great Reset e pelas ameaças de cyberpandemia, de catástrofe ambiental e crise alimentar mundial, e menos conhecido pela realização do Event 201[1], agora revela interesse na manipulação do subconsciente.

Como sempre ocorre nessas investidas contra os direitos naturais, as liberdades individuais e a privacidade, inventam um pretexto para justificar o ataque ou o movimento. Neste caso, a justificativa para manipular a camada mais profunda da mente é eliminar o preconceito no ambiente de trabalho. Sim! O gigantesco organismo que recebe em suas reuniões centenas de chefes de estado, lideranças políticas e empresariais e celebridades do mundo cultural está promovendo abertamente a ideia de invadir e transformar as mentes das pessoas para torná-las mais palatáveis para o padrão profissional desejado pelo establishment.

A síntese do meu trabalho pode ser descrita nesta frase: alertar as pessoas sobre as iniciativas que visam construir uma nova civilização, dotada de novos valores morais, sociais e culturais muito diferentes, quando não opostos àqueles princípios que durante séculos alicerçaram a nossa sociedade.

Mesmo o aspecto mais visível desse processo de mudança civilizacional, o globalismo, que engloba os fenômenos geopolíticos que colaboram no sentido de criar e fortalecer um ambiente de governança global, ainda depende de um conjunto de iniciativas que revolucionem as mentalidades e o ambiente social para atrair a adesão dos ignorantes ingênuos, e para enfraquecer, desunir ou desorientar qualquer resistência às implantações que apareça no horizonte.

Muitos dos esforços que dedico ao meu trabalho têm sido direcionados para o campo psicológico envolvido nesse processo revolucionário. Mais do que descrever os fenômenos políticos e sociais que influenciam as transformações, procuro alertar para os fatores que provocam corrosão e inversão de valores em um nível psicológico mais profundo, seja devido à ação de um imaginário moldado por uma linguagem aparelhada, por uma cultura corrompida e pelo entretenimento instrumentalizado, seja pela eficiência das iniciativas derivadas das técnicas de manipulação utilizadas por gurus de seitas herméticas, em experimentos sociais e em projetos conduzidos por agências e serviços de inteligência.

Nos últimos anos, além deste tipo de iniciativa, também se tornaram mais evidentes os projetos que incluem altíssima tecnologia e profundos conhecimentos de biotecnologia, neurociência e nanotecnologia, que juntas podem facilitar a hibridização homem-máquina.

Por meio de interações medicamentosas, indução hormonal, nanodispositivos ou implantes neurais é possível criar as condições bioquímicas e mecânicas ideais para que a manipulação de ordem psicológica seja mais eficiente e duradora.

Alterações de pressão arterial, na glicose ou no nível de determinados hormônios pode agravar ou amenizar uma mensagem recebida, pode condicionar uma pessoa para uma reação mais impetuosa ou mais contida, mais impulsiva ou mais racional. A manipulação psicológica, portanto, pode ser turbinada com o uso de substâncias ou dispositivos eletrônicos.

O que podemos deduzir desse fato?

Estão dadas as condições para a manipulação. Do ponto de vista tecnológico e, dependendo do contexto, também científico, e com os agravantes proporcionados pela linguagem corroída e pela cultura devastada, fica claro que o terreno está preparado e os meios estão disponíveis para a manipulação desejada pelo establishment, nesse caso representado pelo Fórum Econômico Mundial.

No artigo de Leslie Zane, presidente de uma consultoria especializada em influenciar o comportamento de consumidores, e que usa a psicologia para desenvolver técnicas de persuasão que atuem nos níveis psicológicos mais profundos, os conceitos de heurística e dos mapas de conexões neurais (conectomas) são “adaptados” para que funcionem como ferramentas que vão limpar e reorganizar o subconsciente das pessoas. Para a autora, as orientações diretas e claras não têm surtido o efeito desejado – e segundo ela são, inclusive, “contraproducentes”.

O próprio título do artigo, “Por que o inconsciente é o caminho de menor resistência para erradicar o preconceito em seu local de trabalho” revela a ideia de usar o ambiente profissional para transformar comportamentos “indesejados”. Esta escolha faz todo sentido quando entendemos que o objetivo é atingir as pessoas de uma maneira bastante persuasiva e de difícil resistência sem, no entanto, parecer obrigatória e autoritária. Por medo de demissão ou outro tipo de retaliação, poucos serão aqueles que vão rejeitar um “adestramento”, ops, um “treinamento” que prometa resolver os conflitos no ambiente do trabalho.

Evidentemente, como sempre ocorre diante de informações como essa, a maioria das pessoas não dará a devida importância, mas para quem aqueles que já acordaram, fica claro que o establishment já está defendendo uma invasão deliberada ao subconsciente das pessoas. Será esse o Gulag do futuro? 

[1]Simulação de pandemia ocorrida em 18 de outubro de 2019 nos EUA. O exercício de alto nível foi sediado pelo Johns Hopkins Center for Health Security e contou com o apoio do Fórum Econômico Mundial e da Fundação Bill e Melinda Gates.

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Breves contos intempestivos
(por Robson Oliveira)

Do Cuco e da Cambaxirra ou como idiotas úteis promovem a própria desgraça

Era uma vez uma floresta encantada, onde os animais viviam em paz e uma harmonia quase palpável podia ser sentida no ar. O que vou contar aconteceu antes da era dos homens, no tempo em que os animais falavam entre si, como hoje alguns cidadãos conversam e se entendem mutuamente. Naquele tempo, os animais selvagens, como era de se esperar, alimentavam-se de suas presas. Os animais mais frágeis, como costuma ser, eram mais ágeis e tinham maiores e mais frequentes ninhadas, para compensar o ataque dos selvagens sobre seus filhotes. Nada disso, contudo, diminuía a sensação de que as coisas eram como deviam ser. De fato, na floresta encantada, a paz e harmonia não eram mantidas de modo artificial, mas também nenhum animal nutria a ideia idiota de que o equilíbrio da floresta se dava sem custos e sem perdas. A luta entre predadores e presas era franca e, dependendo do ponto de vista, cruel. Mas a floresta encantada acabava, todo fim de tarde, com um entardecer belíssimo, mantendo o sentimento benfazejo de que a batalha ocorria segundo leis justas e sem trapaças. Entretanto, um visitante novo na floresta lançou uma sombra sobre o equilíbrio paradisíaco desse jardim. Um Cuco apareceu, numa tarde invernal. Na reunião mensal dos animais, a mamãe Cuco apresentou-se aos habitantes da floresta.

- Senhores, sou Mafalda, a Cuco, e venho solicitar aos habitantes da floresta encantada abrigo para meus filhotes. Não tenho condições de chocar minha ninhada, por isso peço ajuda dos animais destas paragens, cuja fama de generosidade e pacifismo chegou muito além do Rio Prata.

Ao que respondeu a Cambaxirra, presidente do conselho dos animais:

- Pois não, senhora Mafalda. Todos os animais da floresta ficarão felizes em ajudá-la na defesa da vida e da liberdade de seus filhotes e nós, os pássaros, com ainda maior alegria, o faremos de bom grado. Eu mesma, Pacífica, serei a primeira a receber seus ovos, com muito zelo para demonstrar a solicitude e acolhida das cambaxirras.

Foi então que, com a anuência dos animais da floresta e dos pássaros em geral, os cucos tiveram permissão para pôr seus ovos nos ninhos da floresta encantada. Às vésperas dos nascimentos dos pássaros, contudo, os ovos dos cucos eclodiram e, durante a noite, seus filhotes lançaram os ovos das aves hospedeiras para fora do ninho, dizimando a ninhada de todos os outros pássaros da floresta encantada. Na manhã seguinte, uma reunião extraordinária foi convocada por Mafalda, que tomou a palavra.

- Meus amigos animais, é de cortar o coração a tragédia que aconteceu na última noite... Não tenho palavras para consolar Pacífica, tão generosa para comigo e minha família. Algo precisa ser feito, a fim de consolar as aves da floresta...

Nesse momento, a coruja Sócrates tomou a palavra:

- Curioso é que os únicos sobreviventes dessa tragédia tenham sido os filhotes de cucos, não é Mafalda? E eu seria capaz de jurar que, durante a madrugada, vi seus filhotes lançando os ovos dos outros pássaros dos ninhos...

- O senhor tem provas do que disse, Sócrates?

- Bem, provas eu não tenho, além de minha palavra sobre o que vi e da curiosa coincidência de apenas os filhotes de cucos sobreviverem ao massacre do resto dos pássaros.

- Aqui na floresta encantada é possível acusar outros animais sem provas? – inquiriu Mafalda. Pois Sócrates está acusando os cucos de algo infame.

- Não, não podem, disse Pacífica. Por isso, Sócrates deve ser expulso de nossas reuniões mensais.

E assim, de acusação em acusação, todas as aves noturnas e mais atentas ao que acontecia na penumbra foram sendo excluídas da reunião mensal. E sem os olhares cuidadosos dos vigias, o massacre dos cucos perpetrou-se durante meses seguidos, diante dos olhos das aves da floresta, que começaram a desconfiar de que o apoio irrefletido às denúncias de Mafalda terminaram por ajudar no massacre de seus filhotes.

Pacífica e as outras aves permaneciam inconsoláveis, pois viram seu futuro ameaçado. Por causa da manipulação dos cucos e pela falta de coragem em defender a raça das aves – havia certa vergonha de usar a violência para defender o futuro das aves, pois Mafalda incutira a ideia de que a violência deveria ser evitada a todo custo. Desde então, todos os pássaros da floresta – com cada vez menos filhotes - se tornaram reféns dos cucos. E todas as florestas próximas à floresta encantada tornaram-se vítimas da estratégia dos cucos. E as cambaxirras – em razão de sua passividade e burrice – tornou-se a ave preferida para o golpe.  

Foi nesse tempo que a tristeza se abateu sobre a floresta encantada e, paulatinamente, os animais perderam a capacidade de falar. A desconfiança reinava entre eles, mesmo sabendo que evidências apontavam para Mafalda e suas comparsas. Por medo dos cucos, os pássaros – que conheciam os detalhes da história – pararam de cantar, a fim de não denunciarem aos aproveitadores a localização de seus ninhos. Com o passar do tempo, desaprenderam a falar e algumas perderam a vontade de cantar... e até hoje os ovos de cuco não são bem-vindos nas casas dos pássaros.

E assim começou o tempo em que, reféns de pacifistas e manipuladores, os animais da floresta foram se tornando massa de manobra nas mãos de espertalhões. Mas a estratégia só funciona se os animais livres e vigilantes são impedidos de denunciar a estratégia e apontar os criminosos. A estratégia só funciona se os animais mais atentos temem a violência sofrida, se trocam sua consciência pela paz, que será tomada de outros. Em todos os casos, a traição e o silêncio dos animais favorecem a violência dos criminosos contra outros.

***

Com efeito, os empresários, ao submeterem-se à patrulha comunista e apoiarem a perseguição a mídias e empresas conservadoras, comportam-se como as cambaxirras, incubando o mal que vai destruir-lhes o lar e o futuro. Os juristas, guardando o silêncio sobre o que acontece – ou vendendo suas consciências – chocam o ovo da serpente, que lhes devorará ou a seus filhos. Jornalistas que fecham os olhos aos absurdos cometidos no Brasil estão devagarinho construindo o país em que não mais haverá liberdade e segurança para o exercício do próprio jornalismo. Enfim, calar-se sobre os descalabros que o comunismo impõe ao povo livre do Brasil é tornar-se um idiota útil, promovendo o fim da sociedade que pretende defender.

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Ideias abrangentes, mulas sem cabeças
(por Bruno Dornelles)


Se pudéssemos resumir a modernidade em poucas palavras, certamente poderíamos defini-la como o período da desinteligência em massa. Neste período, desde o desaparecimento da formação individual do imaginário, houve uma clara diminuição do discernimento das possibilidades individuais, até chegarmos ao ápice desse processo: a regra da histeria como método de descrição de qualquer fato da realidade - isso, se ainda restar alguma na cabeça do sujeito. Todo processo de desinteligência começa em um desmonte da capacidade de absorver nossas circunstâncias, começando com uma devoção sutil às próprias paixões, até chegarmos à doença absoluta: a idéia revolucionária e abrangente a tudo, mais conhecida como "mudar o mundo".

Estamos diante de um dos períodos mais burros e menos contemplativos da história. Sem contemplação, perdemos a capacidade de presença, ou de simplesmente estarmos ou aceitarmos totalmente onde deveríamos estar. Sem a presença, a narrativa do dia também se torna mera paixão, e as expressões acabam por se tornarem histéricas, sem fundamentos e desprovidas de conexão com a realidade. Nunca, em toda a história, a humanidade esteve tão próxima da animalização completa como agora. As depressões, suicídios e desolações são meros sintomas da absoluta perda de identidade humana, que é o verdadeiro alvo dessa desconstrução.

Esse processo se inicia com uma sucessão de eventos revolucionários e filosofias progressistas que nos levaram a esse resultado. Contudo, ele fica claro quando explicado sob a ótica dos quatro discursos de Aristóteles, teoria filosófica do professor Olavo de Carvalho na obra “Aristóteles em Nova Perspectiva”. Nessa obra, a despeito dos três discursos já conhecidos nas academias brasileiras (retórica, dialética e lógica), Olavo apresenta um quarto e precursor discurso diante daqueles três, porém desconhecido no Brasil em razão de uma edição tardia da obra Poética para a nossa língua pátria.

 A diminuição da capacidade do imaginário significa o rebaixamento das possibilidades humanas ao zero. Assim, a pessoa perde a referência de todas as coisas em sua psique: das soluções diante de problemas, da sua identidade, do sentido do sofrimento, etc. Em toda essa perda de referências faz com que as possibilidades individuais acabem daí substituídas pelos programas partidários clientelistas, pelas modas reproduzidas pelas mídias, pelas dicas dos gurus da autoajuda, ou simplesmente pelo compartilhamento do fracasso pelas convenções sociais, o que certamente não preenche a pessoa com um todo de sentidos, humanidades, contemplações e beleza. Pelo contrário, a retrai à eterna frustração, timidez e desânimo, que a levarão a questionar a própria realidade com ímpetos revolucionários, como se ela fosse a causa da maldade escancarada do mundo.

Além do mais, os hábitos dos tempos atuais não contribuem. Se antes, diante da natureza exuberante e do ambiente rural, a simples presença individual trazia uma consolação humana diante de um exercício de estabilidade e meditação constantes, agora as extremas disciplinas forjadas sob quatro paredes e as proposições quânticas de hábitos cada vez mais variados geram uma servidão psicológica para que a pessoa tente suportar as tensões vazias do automatismo moderno. O resultado é a sensação de que a pessoa nunca está sozinha ou que o estado de meditação e presença é simplesmente impossível. Logo, impossível também é a sua felicidade.

Não obstante, o rompimento com as tradições também estende esse período de desolação moderna e ausência de referências. Não havendo mais velhos sábios a serem consultados – sob a pena de recebermos respostas baixas como “aproveite a vida”, “se cuide e não se importe com problemas”, ou (o pior de todos) “fuja e evite os sofrimentos” -, não resta nada à pessoa moderna senão recorrer aos métodos mais comuns de remendo da psique, o que acaba gerando uma “motivação” momentânea, mas sem muita consistência e honestidade diante da falta de sentido que demandaria dela o chamamento a uma confissão individual quanto às motivações, circunstâncias e seus ideais, todos provavelmente desconhecidos diante da escassez de seu imaginário.

Os danos à ciência das possibilidades individuais acabam, assim, afetando o mundo das narrativas, onde as pessoas se expressam e dialogam. Sem capacidade de prever possibilidades reais ou obter sentido verdadeiro, a pessoa acaba por apenas sentir as coisas mais primárias. Daí que a histeria se torna inevitável, adiando as soluções para os problemas e a própria maturidade individual por falta de consistência humana. A fábrica de analfabetos funcionais do mundo atual é apenas a consequência mais óbvia e natural desse rompimento com a própria alma.

Diante da perdição, surge uma filosofia com uma práxis chamativa, por combinar a existência de um espírito abrangente que age perante toda a história, com a possibilidade de dar ao ser humano a ação diante da injustiça dessa realidade. Aproveitando-se dos processos de desinteligência, o mal marxista conseguiu convencer as pessoas mais comuns a se unirem a um processo revolucionário com ímpetos demoníacos, esquecendo-se de avisar que o espírito da história era o próprio Deus – e sua providência divina – ou que a realidade não pode ser modificada, senão pelos processos de sua negação - tais como a desconstrução dos gêneros, o revisionismo histórico e a luta “por relevância” das minorias.

José Monir Nasser, em seus comentários do Livro do Gênesis, fez uma analogia de J. R. R. Tolkien e o anel de Sauron para descrever o dano do pensamento abrangente. O anel, simbolizando o pecado, dá ao seu detentor a falsa impressão de poder, desviando a pessoa pela abrangência de sua soberba perante todas as circunstâncias do seu detentor. O marxismo age da mesma maneira: ele tudo entende, ele tudo pode mudar, ele tudo pode possuir. É a mais evidente materialização política do anel de Sauron, mas também do pecado favorito de Lúcifer.

O antídoto mais imediato, sobretudo a quem está no meio do mais agressivo caos da modernidade, é o do consumo de literatura clássica. Ao exercitar a leitura, a pessoa trabalha paralelamente a sua capacidade para os discursos poético e retórico, aumentando a possibilidade de produção de um bom resultado dialético e humano, e tornando-se uma pessoa capaz de perceber, de inteligir e de ter uma capacidade maior de resolver as crises individuais. Não obstante, é também necessário que as pessoas reaprendam a sentir a própria presença e tenham momentos para dialogarem com a própria alma, entendendo que as angústias e agonias só podem ser remidas por alguém que busque a simplicidade ante a loucura moderna, e que olhe para a realidade com certa contemplação amorosa, desejando que dela se revele o melhor das pessoas, e não propondo utilizá-la para delinquências mal resolvidas a serem convertidas na imbecilidade completa de uma nova humanidade.
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REVISTA "A VERDADE" - Ed. 50, de 16/08/2021 (Uma publicação digital semanal do Jornal da Cidade Online) Assinar a revista


OPINIÃO


E quando a primeira pessoa do singular não existir mais?

(por Diogo Simas)


Eu.

Eu decido.

Eu sinto. Sinto profundamente por quem sofreu, sofre e sofrerá.

Toda morte é absoluta e crer que números possam apaziguar a dor de quem perdeu alguém, é de uma insensibilidade triste.

Mas ser objetivo é urgente e a urgência, muitas vezes, é a luz que ilumina a escuridão.

Há escuridão? Sim. Mas há cegos que deliberadamente escolheram não ver, e cegos, seguem e fazem tudo que seu mestre mandar.

O fato (e nesse ponto não se trata de opinião, mas de um fato) é que a esmagadora maioria das pessoas que contrai o coronavírus sobrevive.

Fato.

Os números mostram isso.

A pandemia dura em torno de um ano e seis meses e a pergunta é: onde estão as 40 milhões de mortes que ocorreriam somente em 2020, cujo risco levou a toda essa loucura?

O caos tão temido por muitos e, sim, tão querido por outros não veio e não virá, mas os controladores, após fazerem os adultos adolescentes ficarem apavorados, querem mais e mais, controlar.

É preciso seguir...

Vacinação obrigatória... O fato é que as vacinas são experimentais. Novamente, não se trata de uma opinião, é um fato e não enxergar esse fato é cegueira deliberada.

Entendamos: somos em torno de 7 bilhões e 800 milhões de pessoas no mundo. Morreram em torno de 4 milhões e 300 mil.

Faça o seguinte: pegue o número de mortos, divida pelo número de habitantes do mundo e veja se há algum sentido em promover uma vacinação planetária em massa.

Vacinas representam um avanço fantástico na história da humanidade e quem pensa em impor vacinação obrigatória faz um completo desserviço e dá um ânimo inacreditável ao movimento antivacina.

Você quer tomar vacina?

Tome.

Porém, os controladores de plantão querem que todas as pessoas do mundo tomem a vacina para que eles se sintam seguros.

Você não se sente seguro porque alguém não tomou a vacina? Então você está precisando de ajuda!

O mais absurdo é o precedente que está sendo aberto ao se dar aos parasitas estatais a prerrogativa de fazer com que todos (TODOS!) sejam obrigados a ingerir uma substância, sob pena de não ter o direito de ir, vir, entrar, permanecer.

Isso não terá fim e não há como acabar bem.

O que esses idiotas que clamam pela vacinação obrigatória desconhecem é uma coisa basilar: nós somos donos dos nossos corpos e cada indivíduo é livre para decidir o que fazer com o próprio corpo sem a interferência de outrem.

O indivíduo decide.

Você pode decidir tomar a vacina, mas não tem o mínimo direito de decidir por outra pessoa.

Eu.

Eu decido.

Porém, os coletivistas, em suas loucuras coletivistas, desconhecem o “eu” e vivem o “nós”, o coletivo e querem que todos façam tudo para que eles se sintam seguros.

O próprio corpo é o bem mais escasso que há e permitir tamanha intromissão por parte dos parasitas estatais é de uma burrice que beira a loucura.

Livres?

Esta pandemia (pois houve outras e haverá outras) apenas deixou cristalino que a esmagadora maioria da humanidade tem vocação para escravidão.

Escravos... eu lhes respeito.

Escravos... carreguem suas correntes.

Escravos... façam tudo que seu mestre mandar.

Eu não.

Eu sou Livre.

Eu.

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PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO!

Nesta edição, apenas uma singela imagem celebrando o dia do Filósofo, 16 de Agosto. E uma oração: 

Senhor, Deus do universo,
Pela intercessão de Nosso Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo,
Por intermédio de Maria, mãe de todos nós...
Abençõe e restaure a saúde do nosso querido professor.
Amém.


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OPINIÃO DO AUTOR

A realidade em nova perspectiva
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
17 de Agosto de 2021

Na edição de ontem da Revista Terça Livre saiu uma matéria do Bruno Dornelles mecionando o livro Aristóteles em Nova Perspectiva, do professor e filósofo Olavo de Carvalho. Coincidentemente é o livro que eu vou indicar a vocês desta vez. Este livro é maravilhoso porque ele aborda a questão da materialidade no discurso. É o tipo de coisa que vai auxiliar muito as pessoas a não somente identificar os pontos e recursos de ação, mas também a organizar melhor as ideias para se trabalhar.

Já que Bruno Dornelles o citou em sua matéria "Ideias abrangentes, mulas sem cabeças", inclusive usando o maravilhoso livro do prof. Olavo para abordar um problema enorme na sociedade atual que é o processo de emburrecimento programado que nos traz à modernidade (que poderia ser evitado se as pessoas se dessem mais ao trabalho de ler ao menos o conteúdo jornalístico de Olavo de Carvalho), vou ficar com a incumbência de falar mais do livro em si, uma vez que eu o terei como referência bibliográfica de hoje.


O livro foi escrito como resultado de uma tese defendida por Olavo em uma série de conferências que ele realizou expondo a perspectiva de que na obra de Aristóteles, há uma ideia bastante sutil, que poucas pessoas notaram ao longo da história. Trata-se dos Quatro Discursos e de sua ordem hierárquica de verossimilhança com a realidade intrínseca. Através dessa ordem, nós teríamos que existem discursos que se afastam mais da ideia verossímil, e discursos que se aproximam dela. Esses discursos podem ser vistos de forma separada, mas nunca funcionarem de forma separada, uma vez que um depende do outro, e uma vez que separamos um discurso dos demais, esse fica sem sentido de existir. A grosso modo e usando de uma linguagem mais acessível, vou tentar explicar cada um, mas não com a mesma profundidade que Olavo se detém em seu livro, contudo, creio que seja uma introdução válida.

A POÉTICA estaria assim no nível das emoções, onde somos introjetados com uma certa ideia manifestada na realidade. Pense aí numa letra de música, num poema de Drummond ou de Manuel Bandeira, ou mesmo em um filme. Por estar no nível das emoções, seria um nível mais distante do fato concreto, ou da realidade em si, apenas um eco dessa realidade. Mutatis mutandis, teríamos em seguida a DIALÉTICA. Esta se trata de uma forma de discussão das ideias, e por isso, também mais distante do fato verdadeiro, embora um pouco mais próxima. É quando pessoas se sentam em uma mesa redonda e discutem um assunto, debatem, com a intenção de chegar a uma verdade.


Mais acima da pirâmide temos a RETÓRICA, que como o próprio Aristóteles define em sua obra homônima, trata-se do processo de convencimento da pessoa a partir de argumentação. Você, claro, não é obrigado a concordar com nada, não existe ainda o compromisso de você acatar o discurso como uma verdade, mas ele pode contribuir para o seu processo de convencimento, uma vez que você foi fortemente influenciado pela forte retórica de quem lhe fala. Por fim, todos esses discursos tem o potencial de se tornarem conditio sine qua non para o último, o mais próximo e verossimilhante à realidade, que é o discurso ANALÍTICO, onde existe materialidade inescapável para o acatamento do discurso, e consequentemente um compromisso firme do falante de lhe representar a realidade. Desse ponto em diante, meus amigos, veritas lux mea.


Vemos então que o Brasil, nos últimos anos não tem passado por uma realidade onde discursos analíticos poderosos vem convencendo a opinião pública desse ou daquele objeto, mas sim discursos demagogos. Demagogos, pederastas, infantis e completamente sem tamanho e sem chão na realidade. Tão sem chão, que todos nós observamos que a direita em um debate tem a capacidade de fulminar o esquerdista mais apaixonado na argumentação. O resultado de anos e anos de lavagem cerebral na nossa sociedade hoje então vem como fato de que, não podendo a esquerda vencer no discurso, quer vencer no "cala-boca". Daí se entende perfeitamente a censura imposta à canais como o Terça Livre, o Jornal da Cidade Online, e assim por diante. A verdade incomoda. Mas não podemos deixar de dizê-la por uma questão moral muito simples, e que eu já expliquei anteriormente no meu artigo "Firmeza de Verdade", na edição XVIII deste compêndio.


"E conhecereis a verdade, e ela vos libertará." (João, 8:32)
Vincit omnia veritas. Somente com a verdade seremos capazes de vencer cada batalha.


No final do livro, após exaustivamente exposta a Teoria dos Quatro Discursos, para nos entreter um pouco, Olavo nos conta, de maneira muito divertida e irônica, como sua tese foi recusada em uma universidade nos anos 90, em um capítulo extra chamado "Aristóteles no Dentista". Vale a pena ler não somente para dar umas risadas, mas também para nos darmos conta de como esse emburrecimento geral foi tomando corpo desde há muito tempo. O texto envolve Olavo, um parecerista da vila Nhocunhé... e um suposto exame dentário. Só lendo mesmo pra se ter ideia da maluquice!

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HUMOR

(16/08/2021)



(16/08/2021)


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LEITURA RECOMENDADA

Conforme citado no meu artigo desta semana. Sem mais delongas, convido a todos para lerem essa excelente obra do prof. Olavo.

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