Edição XIX (Revista Terça Livre 109, revista A Verdade 49 e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Terça Livre, da qual sou assinante, com autorização pública dos próprios autores da revista digital. Nenhum texto aqui pertence a mim, todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.


(ANTES DE COMEÇAR: Não tem escritos meus hoje. Às vezes é bom se calar e simplesmente ouvir outros com mais conhecimento que você falarem sem serem interrompidos. Também hoje a edição é mais enxuta e mais curtinha. Às vezes é bom um pouco menos para pensar mais. Boa leitura!)


BRASIL



ENTREVISTA COM MURILO DETOGNE
(por Leônidas Pellegrini)


Um cidadão da Baixada Fluminense, certo dia, ao olhar com mais atenção as iniciativas culturais de sua cidade, percebe que tudo ali é dominado por uma elite corrupta que se apropria de dinheiro público para promover militância política rasteira, embebedar-se e consumir drogas enquanto vive – e bem – dessas verbas de que desfruta. E o pior, tudo isso de maneira legal.

Esse cidadão é Murilo Detogne, que, ao observar, estudar e aprender “o caminho das pedras” da esquerda, desde 2013, utilizando-se de estratégias semelhantes às do inimigo, tem conseguido combatê-lo em seu próprio território, ou, melhor dizendo, território do qual a esquerda se apoderou porque, do lado de cá, pouca gente se dispôs a lutar por ele.

Atuando no terceiro setor com um grupo de amigos e colaboradores, Murilo tem conseguido resultados significativos nos fronts da guerra cultural em que atua, mais notadamente um cineclube e um jornal, o Leitura Expressa. Suas metas são a defesa da verdade e, como ele mesmo cita, a preservação da cultura ocidental, e na entrevista que ele que concedeu à nossa revista, Murilo mostra que, apesar dos desafios que se apresentam, são metas possíveis àqueles que se organizam e mantêm-se focados e persistentes.

Confira a seguir as dicas de Detogne, que detalha a história e o progresso de seus projetos e fornece dicas sobre as estratégias de atuação e engajamento no terceiro setor.  

Terça Livre: Você atua na área de projetos culturais desde 2013. Fale um pouco para os nossos leitores sobre você e sobre esses projetos em que vem trabalhando desde então.

Murilo Detogne: Sou morador de Duque de Caxias/RJ e em 2013 percebi que existia uma gangue na área cultural na minha cidade. Eles se diziam “artistas”, mas todos viviam de verbas estatais nos níveis municipal, estadual e/ou federal, ou qualquer combinação dessas. O incrível é que estes “artistas” não eram conhecidos na cidade, melhor dizendo, não eram conhecidos em lugar algum e por ninguém, apesar da propaganda que eles faziam de si mesmos. Na verdade, só eram conhecidos por militantes políticos esquerdistas e outros pseudoartistas que atuavam seguindo o mesmo modus operandi em outras cidades.

Também fiz uma pequena pesquisa e descobri que este grupo “cultural” era na verdade um grupo político de militantes esquerdistas. Eles se autopremiavam através de outros grupos do mesmo tipo, mas que atuavam em outras cidades da Baixada Fluminense, assim, eles podiam dizer que eram “reconhecidos pela Baixada Fluminense inteira” - tudo propaganda, tinha método. Tudo isso e muito mais será descrito com mais detalhes no livro que pretendo lançar sobre o tema.

Voltando à pergunta, no meio dessa situação lamentável, decidi montar um cineclube para exibir filmes de verdade e sobre os quais realmente houvesse um debate justo. Ações desse tipo sempre foram realizadas por um grupo esquerdista, e o local tinha tudo, menos cinema. Na verdade era um ponto de consumo de drogas e bebidas alcoólicas.

Assim, ainda em 2013 fundei o cineclube na minha cidade, juntei alguns amigos e fundei o Cineclube Ágora, que ao mesmo tempo exibia os filmes e realizava os debates. Organizei um grupo de ONGs e conseguimos chegar até o Conselho Municipal de Cultura de Duque de Caxias, onde impedimos que esta gangue pudesse se alimentar da verba municipal da cultura. Afinal, quem fazia a cultura em minha cidade não tinha direito a absolutamente nada, a não ser que beijasse a mão desta gangue militante.

Continuei com o Cineclube até 2015, quando tivemos que parar por questões familiares e/ou de trabalho. Iríamos retomar as atividades ainda em 2020, mas por conta do vírus chinês não conseguimos. No momento, estamos atuando na cidade de Mesquita/RJ, em parceria com a Associação Cultural Nino Miraldi. O cineclube acontece sempre no segundo sábado de cada mês e nosso público-alvo são jovens e a comunidade local. Temos um canal no Telegram, Facebook e Instagram para divulgação. Pretendemos voltar a atuar em Duque de Caxias em breve, e quem quiser ajudar ou fazer parte do nosso projeto ou ainda replicar o modelo de cineclube em sua cidade é só entrar em contato pelo e-mail do cineclube: agoracineclube@gmail.com

Além do cineclube, lançamos o jornal Leitura Expressa em maio deste ano. Trata-se de um jornal semanal em formato A4 com duas folhas dobradas ao meio para informar as pessoas sobre o que não sai “grande mídia”. Com pouco menos de dois meses o jornal já conta com os desenhos do cartunista Paulo Sergio Jindlet e um colunista, Marco Mesquita, que é advogado e proprietário de uma editora conservadora, a Marco Editorial.

O jornal é um sucesso, é impresso em várias cidades do Brasil e tem pessoas que contribuem financeiramente com o nosso projeto. Quem quiser ajudar ou quiser replicar o modelo do nosso jornal é só entrar em contato conosco pelo e-mail: jornalleituraexpressa@gmail.com

Terça Livre: Em uma conversa preliminar que tivemos, você demostrou ter um bom conhecimento sobre meios de ação dentro de uma guerra cultural, inclusive utilizando-se de ONGs e verbas públicas legais com leis de incentivo à cultura, o que parece ser um dos maiores problemas entre os liberais e conservadores no Brasil, que têm certo “nojinho” de se utilizar desses meios de ação. O que você tem a dizer sobre isso, e que dicas daria para aqueles que estão interessados em entrar pra valer dentro da guerra cultural que vivemos e na qual, infelizmente, continuamos tomando surras homéricas?

Murilo Detogne: Esqueçam o que os liberais têm para dizer e foquem na realidade. Utilizem todos os meios de ação LEGAIS disponíveis, criem ONGs, projetos sociais dos mais diversos tipos, como curso pré-vestibular comunitário, aulas de reforço escolar, classe de alfabetização utilizando o método fônico, cineclube, curso de idiomas presenciais, clube de xadrez, artes marciais, escolinha de futebol etc., ações que podem trazer benefícios para a juventude.

A esquerda sempre fez e faz isto muito bem, e os liberais não ficam atrás, estes também já atuam dentro das universidades com aqueles jovens que não são atraídos pelo discurso esquerdista. A tática da militância liberal atual, mais precisamente da juventude do Partido NOVO, é oferecer o tal “Chopp Liberal”. O evento consiste em atrair os jovens universitários para um bar que vende Chopp “sem imposto” - é evidente que não existe almoço grátis e alguém paga a diferença deste Chopp; creio que o leitor pode deduzir quem está pagando a diferença, não é mesmo? Mas ali começa uma atividade de camaradagem com estes jovens, laços de amizades são criados e aos poucos os militantes vão cooptando esses jovens para o seu lado.

Não temos isto do nosso lado e isso é preocupante. É mais do que urgente desenvolvermos ações para atrair a juventude para o nosso lado. Sem isso, iremos fracassar. Levantar hashtag no Twitter e dar deslikes em vídeo no YouTube não irá vencer a guerra cultural, precisamos agir, ocupar espaços, e as ONGs têm um papel muito importante neste cenário, pois para participar de conselhos de educação, cultura, segurança, meio ambiente, conselho tutelar etc., só é possível através de uma ONG, e se você não tem condições de formar uma ONG, procure uma que possa abraçar o seu projeto. O importante é começar a agir, mesmo sem um CNPJ. Comece localmente com a ajuda de amigos, o importante é colocar a mão na massa e fazer algo dentro da sua realidade. Quando o momento chegar, utilize cada recurso legal possível, senão o inimigo assim o fará.

Terça Livre: No ano passado, você fez o curso O Povo No Poder, com Allan dos Santos e Italo Lorenzon. Fale um pouco sobre como foi sua participação no curso e o quanto ele o ajudou e sua atuação em seus trabalhos no campo cultural.

Murilo Detogne: O curso me deu motivação para reativar o meu projeto do cineclube e, claro, fazer uma rede de networking a nível local e nacional, o que é fundamental, pois eu consegui trocar experiência com pessoas e realidades diferentes. Esse curso é fundamental para quem quer começar a atuar, a iniciativa é excelente, e a única no campo da direita. Ninguém, repito, ninguém irá oferecer um curso com este conteúdo pelo preço que é oferecido.

Além de tudo, os professores são os melhores, todos com experiência no terceiro setor (ONGs), as dicas e lições valem ouro. Esse curso me mostrou os erros que cometi na gerência de projetos e que não irei voltar a repetir. Então, a palavra de ordem é seguinte: FAÇAM ESSE CURSO!

Terça Livre: Fale um pouco mais sobre a motivação que teve para começar esse jornal Leitura Expressa, os desafios que enfrentou e ainda enfrenta, e detalhes sobre como tem sido a sua evolução, distribuição, a recepção dele entre as pessoas, etc.

Murilo Detogne: A motivação para criar o jornal foi ver que os jornais da chamada “grande mídia” estavam omitindo FATOS. A ideia estava sendo construída desde março com um grupo de amigos, mas a gota d’água foi uma manifestação de apoio ao presidente Jair Bolsonaro em Copacabana/RJ, no 1º de Maio de 2021. O fato simplesmente não foi capa de nenhum jornal, sequer noticiado na mídia televisiva, foi como se 1 milhão de pessoas em Copacabana não houvessem estado naquele local naquele dia, algo assustador. Então lançamos o jornal para noticiar esse fato, fomos o único jornal impresso do Brasil a noticiar o fato como ele aconteceu.

Inicialmente começamos com uma folha A4 dobrada ao meio, depois aumentamos o jornal para duas folhas A4 dobradas ao meio, assim, em vez de quatro páginas, agora temos oito páginas. O jornal sempre sai no domingo à noite, enviamos o formato digital para que qualquer um possa imprimir e distribuir. Muitos comerciantes estão imprimindo e colocando o nosso jornal em suas lojas, aqui em Duque de Caxias/RJ estamos distribuindo na rodoviária às 5h30 da manhã, sempre às sextas-feiras. Hoje o jornal conta com alguns apoiadores que contribuem financeiramente com o nosso projeto, e em breve lançaremos um site onde ficará mais fácil para as pessoas contribuírem, terem acesso às notícias e também fazerem o download do jornal para impressão.

Apesar de tudo isto, temos alguns problemas: nosso jornal conta apenas com voluntários, o formato é A4 para que qualquer um possa imprimir em uma impressora doméstica e fazer a distribuição para amigos e pessoas do bairro, alguns comerciantes já imprimem o nosso jornal e colocam em suas lojas, mas o objetivo é que o jornal seja impresso em formato tabloide em papel jornal e distribuído em bancas de jornais em cada bairro.

Terça Livre: Que dicas você teria a dar para as pessoas que querem se engajar em seus próprios jornais locais, mas que ainda não se sentem preparadas para tal?

Murilo Detogne: A primeira coisa é encontrar pessoas ou amigos interessados na mesma ideia, montar um grupo de trabalho, distribuir as tarefas, ter “deadline” e responsabilidade. Fazer um planejamento é essencial. Se você não tem conhecimento sobre como fazer um jornal ou não tem tempo para escrever o seu próprio material, replique notícias de portais como o Terça Livre, Brasil Sem Medo, Jornal da Cidade Online, Senso Incomum etc. Aos poucos, você vai colocando as notícias da sua cidade e pessoas vão se aproximando para ajudar. A meta deve ser você criar conteúdo local.

Terça Livre: Sei que, dentro das ações culturais em que você se engaja, o Leitura Expressa não é seu foco principal. No entanto, com pouco tempo em circulação, vemos que ele já cresceu de tamanho e tem sido inclusive impresso e distribuído em outras partes do Brasil. Você cogita planos mais ambiciosos para ele no futuro?

Murilo Detogne: Sim, o objetivo é transformar o Leitura Expressa em um jornal em formato tabloide, como mencionei, com uma grande tiragem para atingir pelo menos a região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.

É preciso ter um veículo impresso com leitura rápida e direto ao ponto. Quem acorda às 5h da manhã para trabalhar não tem tempo de ler “textão”. Com um jornal assim, em pouco tempo a população vai perceber que sempre foi enganada pela “grande mídia”, e para isso só precisamos divulgar fatos e a verdade.

E é importante lembrar o seguinte: jornal impresso não poder levar 30 dias de bloqueio do Facebook ou de alguma outra rede social.

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COMPORTAMENTO

A Agulha e o Camelo
(por Robson Oliveira)

O homem é, simultaneamente, um arquiteto brilhante e um demolidor eficaz. Ele é capaz de destruir pontes milenares ou construir muros intransponíveis, quando lhe apraz. Com isso quero dizer que, quando interessa, cada um de nós torna-se especialista em levantar argumentações francamente fantasiosas e pueris para defender as próprias opiniões e ignorar enormes problemas em favor das próprias preferências. É o que observamos no recente e conturbado período político brasileiro. Testemunhamos atônitos como pequenas imperfeições, piadas fora de lugar ou discordâncias secundárias transformam-se em barreiras indestrutíveis, ao passo que gravíssimos pecados, defeitos de caráter, ameaças à liberdade, suspeição de homicídio, fraude contra o erário público bem como atentados contra a democracia (e mesmo crimes hediondos!) são minimizados até o limite do ridículo, a fim de justificarem as próprias escolhas e os caciques de sempre.  Vem à mente a passagem do Evangelho de São Mateus (19, 24): o camelo e o buraco de agulha.

Parece-me que uma ideia importante no texto evangélico é a constante de que há limites verdadeiramente inegociáveis e forçar exceções e estudos de caso pinçados estrategicamente são apenas artimanhas para defender o indefensável, para realizar o impossível. Pelo contrário, importa lembrar que nós, homens, desde o próprio natal até o dia de nossa páscoa definitiva, trabalhamos para criar situações nas quais o camelo faça o impossível e passe pelo buraco da agulha. Mesmo que - para que isso aconteça - criemos buracos de agulha cada vez maiores ou camelos cada vez menores (Chesterton). Contudo, essa postura deselegante para com a realidade só é possível quando o indivíduo não possui a fé ou quando o sentido espiritual não está pleno para aceitar o mundo como ele é. Disse certa vez o Papa Bento XVI:

“Onde o mistério já não conta, a política se converte em religião” (Fé, Verdade e Tolerância, p. 119).

Quando a fé não está mais no horizonte da possibilidade, ou o sentido espiritual já está em seu ocaso, outro deve ser o ponto seguro da vida. Santo Agostinho afirma que o coração do homem é um altar. Se não é o Deus Verdadeiro que ali está, um outro falso deus se colocará no lugar e exigirá o culto devido apenas ao verdadeiro Senhor. Analogamente, se o mistério não é mais o motor (ou mesmo o principal motor) da vida do indivíduo, a primeira opção de substituição em nossos tempos é a política, pois o bem comum, o bem-estar e a justiça social são verdadeiros bens e habilitam-se ao trono vazio, pois há algo de relativamente belo, verdadeiro e justo nesses valores. 

 Mas a política não tem a última palavra na construção da felicidade humana, nem na integração da personalidade ou mesmo na autorrealização individual. Imaginar que da reflexão da filosofia política (ou pior, da política partidária!) virá o bem, a verdade e a beleza desejadas pelo homem é frustrar-se irremediavelmente. Por isso, oferecemos nesse lugar reflexões sobre a formação integral, crescimento pessoal e atualização das potências humanas. A filosofia clássica chamou essas propriedades de virtudes, pois são forças (virtus – virtutis) que fazem o homem crescer a partir de dentro.

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Quem é você Parte 2 - O testemunho solitário
(por Kauê Varela)

Uma pausa..., mas continuando!

Como possuo liberdade para estender um determinado tema da maneira que bem me aprouver (e agradeço demais por tal liberdade à equipe do Terça Livre Juntos!), me dou ao “luxo” de ter certa paciência para que, uma vez postos, cada tijolo desta construção teórica fique firme e inabalável, de modo que irei postulando as bases de tal construção para que no fim, ainda que a princípio pareçam desconexas, constituam o raciocínio completo.

O testemunho solitário.

Tanto para quem é aluno do professor Olavo de Carvalho ou para seus leitores ocasionais, o tema do “Testemunho solitário” com certeza já foi visto de uma forma ou de outra. Em que consiste? Explico através de um exemplo que o próprio Professor já expôs: Imagine que você testemunhe um crime de assassinato. Fora você, não há uma única pessoa que poderia corroborar tal fato: sem câmeras, sem triangulação da telefonia móvel. Nada. Apenas um corpo sem nenhuma pista. Você vai até a delegacia mais próxima e então dá seu testemunho de quem foi o assassino. Pois bem, neste exemplo trivial, já percebemos que, de imediato, a prova daquele crime não existe materialmente, mas repousa sobre o seu testemunho solitário. Obviamente que dentro de um contexto criminal, há inúmeras etapas que precisarão ser percorridas para corroborar seu testemunho, mas ele será o pilar para essas etapas existirem e, eventualmente, o crime ser solucionado. Quando levamos esse tema adiante, percebemos que a própria ciência tem como sua base de provas, algo que em si mesmo não pode ser provado pelo método científico: “Ademais, a menos que estejamos tratando de demonstrações formais em matemática ou lógica, toda prova dependerá de um testemunho humano. Nenhum testemunho possui uma testemunha externa que testemunhe a seu favor (...) a própria repetição de um experimento já será outro ato e dependente de um novo testemunho, o qual poderá ou não se confirmar o testemunho anterior, mas de todo modo não se confundirá com este (...) todo conhecimento humano se fundamenta no testemunho solitário.”. É claro que esse testemunho depende da sinceridade e entendemos com isso que “a veracidade dos testemunhos depende da sinceridade. Sinceridade é a adaptação do discurso à realidade do ser”

Entender a ideia do testemunho solitário é de suma importância para se entender quem somos independentemente dos papéis sociais, pois assim perceberemos que, em certo sentido, a máxima de Protágoras não é tão absurda, como em uma primeira impressão nos pareceria, de que “O homem é a medida de todas as coisas”. Perceba, por exemplo, como tal afirmação se torna mais palatável quando lida em conjunto a frase do professor Olavo de Carvalho, que diz: “O homem não é nada, mas é o único ser que pode dizer a palavra Tudo!”.

Ou seja, sus experiências de vida são únicas e intransferíveis e digo com certo grau de certeza que se lhe fosse pedido para “provar” qualquer um destes eventos, em sua maioria, eles estariam sob a “prova” do testemunho solitário, sejam eles os seus, ou de mais alguns indivíduos que, eventualmente, também testemunharam. Lembre-se que todos os fundamentos das religiões também estão sob este preceito do testemunho solitário: "…A Vida se manifestou, nós a vimos e dela testemunhamos, e vos anunciamos a Vida eterna que estava com o Pai e a nós foi revelada. Sim, o que vimos e ouvimos, isso vos proclamamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. Estes ensinos vos escrevemos para que a nossa alegria seja absolutamente completa. Deus é luz e devemos andar na luz.".

Em suma, parte do que você é são suas experiências pessoais que, apesar de não serem passíveis de “provas”, no fim são algumas das coisas que lhe tornam único.

Creio ter deixado essa base sólida o bastante para que possamos prosseguir a próxima etapa: a consciência humana.

Continua.
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REVISTA "A VERDADE" - Ed. 49, de 09/08/2021 (Uma publicação digital semanal do Jornal da Cidade Online)


OPINIÃO


‘Inteligência artificial’ versus ‘estupidez natural’ em nossas universidades

(por Carlos Adriano Ferraz)


Embora o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) esteja prosperando nas áreas STEM (Science, technology, engineering, mathematics) de nossas universidades, esse desenvolvimento, infelizmente, não tem conseguido impedir o avanço da “estupidez natural” que também se espraia celeremente por nosso meio acadêmico. Na verdade, ela se enraizou, fez metástase e, portanto, tomará tempo para que se possa expurgar nossas universidades do mal da estultice crônica. Aliás, sequer sabemos se ela será erradicada. Tendo em vista seu avanço, é difícil acreditar que nossas universidades eventualmente resgatem seu propósito originário, qual seja, o de elevar aqueles que delas fazem parte. O caminho da degenerescência parece irreversível.

Mas escrevo esse texto tendo em mente diversos exemplos, um dos quais, mais recente, oriundo de uma notícia de um site de uma associação docente. Aliás, ainda que eu escreva motivado por uma notícia em particular, qualquer um desses sites ligados a universidades é claramente voltado não para o resgate de nossas universidades, mas para o proselitismo político mais abjeto. Assim, recentemente li uma notícia que anunciava um podcast no qual uma professora de antropologia e arqueologia lançaria “luzes descoloniais” (em verdade, trevas) sobre a universidade, a qual teria sido erigida sobre um pensamento “eurocêntrico, branco, hetero e cisgênero”.

Com efeito, o que subjaz a esse discurso é a ideia de “desconstrução” (destruição) de nossas instituições e valores. Em suma, especialmente nas (des) humanidades de nossas universidades, assim como em seu corpo administrativo, vige a ideia torpe de que devemos “descolonizá-las”, o que nos permite compreender a motivação por detrás das tentativas de se erradicar homens brancos, heterossexuais, europeus, cristãos, etc, dos currículos universitários.

Por que? Ora, não pelas suas ideias, mas porque eram homens, brancos, etc. Noutros termos, a ‘estupidez natural’ é hoje um lugar comum em nossas universidades. Falas como a do podcast acima, que causariam, no passado, reação de desprezo em indivíduos com bom senso, hoje ocupam espaço privilegiado nas universidades. De acordo com esse tipo de discurso, cientistas como Arquimedes, Galileu, Newton, Kepler, e tantos outros, deveriam ser banidos (“cancelados”), pois são julgados não pelas descobertas que entregaram à humanidade, mas por aspectos irrelevantes (serem homens, brancos, etc). Mas o fato é que instituições como as universidades não foram erigidas sobre sua cor, seu gênero, sua orientação sexual, seu local de nascimento, etc, mas pelas suas ideias, teorias, descobertas científicas, etc, as quais não são deles, mas da humanidade. A ‘teoria da gravitação universal’, a ‘ótica’, a ‘teoria do eletromagnetismo’, etc, não pertencem a certos indivíduos, mas à humanidade em geral. Fazem parte daquilo que poderíamos denominar de herança civilizacional.

No entanto, desde o ápice de sua estupidez, os “descolonizadores” desejam simplesmente fazer colapsar aquilo que de mais elevado a cultura humana produziu.

Não é preciso muito esforço para que reconheçamos, de imediato, que tal podcast foi mais uma de muitas atividades, desde dentro de nossas universidades (e também de outras instituições de ensino), voltadas à rejeição dos pilares sobre os quais foi erigida nossa civilização.

Os bárbaros estão, hoje, no interior de nossas instituições. Eles já transpuseram os muros.

Dessa forma, tais “ungidos”, embora sempre criticando o conservadorismo (e orgulhosamente se autointitulando “progressistas”), falam enfaticamente em “descolonizar a universidade”, o que revela o seu “reacionarismo” e sua demagogia, ou seja, sua tendência a defender a imposição de ideias torpes que não deram certo e que simplesmente não funcionam, agindo e falando como se tivessem o monopólio da virtude, quando na verdade talvez sejam apenas “posers” de moralidade. Diferentemente do conservador, o qual quer conservar o que passou pelo teste “da consagração pelo uso”, nossa elite acadêmica insiste em preservar ideias estúpidas e disfuncionais. Insistem em ideias como a de “multiculturalismo”, expressa em sua concepção de “diversidade cultural”. E o fazem com o propósito de sugerir que todas as culturas são igualmente importantes (embora desprezando a cultura ocidental). Obviamente elas não são. A questão não é a de se eu “prefiro” a minha cultura: a minha cultura – ocidental – é, inquestionavelmente, melhor do que outras! Que dizer, por exemplo, de leis baseadas na Sharia, a qual autoriza que pessoas sejam vergastadas, apedrejadas e tenham membros amputados? Está um imigrante islâmico legitimado a nos dizer, “descolonizando” nossos valores e exigindo que aceitemos sua cultura (ou, que ele possa “se expressar a partir de sua cultura”): “vocês não podem afirmar que sua cultura [ocidental] é maior ou melhor do que a minha. Não em uma sociedade democrática como a de vocês”. Ora, nossa cultura - ocidental - e seus valores e instituições são, sim, melhores. Nossa cultura, inclusive, não permite atos bárbaros como os acima citados, autorizados na cultura islâmica. Aliás, que diriam nossas “ungidas” defensoras do “multiculturalismo” sobre a mutilação genital feminina? Seria uma prática legítima? Ora, o ocidente engendrou (frequentemente a partir de homens brancos, heterossexuais, europeus, etc.) ideias como a de “dignidade da pessoa humana”, bem como a de “direitos humanos”, criando leis para que atos bárbaros como esses simplesmente fossem erradicados de comunidades civilizadas. Aliás, há ainda um aspecto hipócrita nesse tipo de discurso. Afinal, nossos “ungidos” usufruem da cultura ocidental (que lhes deu inclusive a universidade, a qual lhes garante seus proventos, status e confortos) e rejeitam as causas mesmas de sua prosperidade. Eis a estultice da maioria e, talvez em alguns casos, a má fé de alguns. Vivemos em instituições criadas por uma cultura ocidental essencialmente cristã (ainda que com valores cristãos secularizados), bem como nos beneficiamos de todas as descobertas, conquistas, avanços, instituições, etc, assegurados por essa mesma cultura e pelos homens brancos, heterossexuais, europeus, etc. que a promoveram. Não apenas isso, nosso conforto material e, mesmo, “espiritual”, vem dessa mesma herança cultural. E eis que alguns “ungidos” simplesmente a rejeitam, não reconhecendo que ela representa o “melhor dos mundos possíveis” (o que, obviamente, não a torna perfeita. Afinal, não há perfeição em mundo algum). Aliás, qual a razão de diversos povos, oriundos especialmente de países socialistas e islâmicos, fugirem para o ocidente liberal cristão? Ora, eles sabem que estarão em condições melhores no demonizado ocidente liberal cristão, com sua propriedade privada, seu estado de direito, sua laicidade, sua economia de mercado, seu foco no empreendedorismo, sua meritocracia, seus direitos humanos, etc., do que nos lugares infelizes e muitas vezes miseráveis em que vivem (atualmente muitos venezuelanos, argentinos, por exemplo, estão fugindo para o Brasil, atualmente governado por um presidente conservador – “de direita” -, Jair Bolsonaro. Por que o fazem? Por que brasileiros não fogem para a Venezuela e para a Argentina?).

Mas o fato é que estamos, no ocidente liberal e conservador, em melhores condições do que aqueles que vivem em uma cultura islâmica; e, também, do que aqueles que vivem como se ainda estivessem na idade da pedra, os quais são frequentemente tão enaltecidos pela nossa mesma elite acadêmica, “descolonizadora”, a qual vê tais sujeitos primitivos como “bons selvagens”. Mas, curiosamente, embora insistam em elogiar tais povos (que de forma alguma são “bons selvagens”: são apenas selvagens), não me parece que nossa elite acadêmica deseje viver como eles, sem todas as benesses do mundo civilizado (ocidental e liberal de base cristã).

Obviamente, a demagogia dos eventos promovidos em nossas universidades, tal como o acima referido podcast, abarca outros elementos do conhecido discurso com o qual já estamos habituados, o qual envolve mantras como o notório “nenhum direito a menos” (sob a ideia de uma suposta retirada de direitos e “conquistas”), a defesa da “educação pública, gratuita e de qualidade”, etc. Mas tais frases são semanticamente assignificativas e hoje fazem parte de um discurso vazio que apenas degrada e ridiculariza nossas universidades. Tal discurso não encontra nem justificativa empírica nem apoio popular. Tampouco ele faz sentido diante do bom senso. São apenas mantras repetidos, como riffs de alguma música pop, ad nauseam. Mas, assim como riffs se exaurem e se tornam nauseantes, o mesmo ocorre com os mantras. Na verdade, a impressão que temos é que essa elite acadêmica vive em uma bolha, alheia à realidade e à sociedade civil (e suas demandas). Na verdade, cada vez mais nossas universidades se distanciam da realidade, defendendo ideias e demandas que só fazem sentido para sua elite acadêmica, para a “intelligentia” mesma, em uma linguagem que apenas eles entendem. Por exemplo, apesar de falarem em “união”, seguem insistindo em mantras típicos, como o clássico “luta de classes”. Como assim, “luta de classes”? Seguem anulando a individualidade e insistindo que o coletivo é a menor unidade existente, ou seja, que não somos indivíduos, mas parte de algum grupo e que devemos nos comportar correspondentemente. E o fazem mesmo que as pessoas “de verdade” possuam uma identidade pessoal, com desejos, anseios, crenças, e várias outras “atitudes proposicionais”, que a tornam única e que nem sempre são parte, por exemplo, de sua “classe”.

Por fim, não poderia faltar, insistem na defesa da “autonomia para as instituições de ensino”, para justamente poderem continuar a usar a universidade como uma propriedade privada (que eles tanto rejeitam teoricamente), para usá-la de acordo com seus interesses particulares, frequentemente para proselitismo político, algo observável em uma simples visita aos seus websites. E depois ainda questionam projetos como o “Escola sem Partido”, quando é evidente o uso ideológico de nossas instituições de ensino, inclusive (e talvez sobretudo) as de ensino supostamente “superior”. Realmente, nossa elite acadêmica, no auge de sua estultice, vive em uma realidade paralela, em uma bolha, se auto alimentando rumo à total esterilidade e, infelizmente, à ruína civilizacional, a qual eles chamam, para simular um aspecto de academicismo, de “descolonização”.

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Enquanto isso, no THINKSPOT...
(texto traduzido do inglês)


Sobre porque a serpente se esconde eternamente no jardim
(por Jordan Peterson)

A presença da serpente no jardim também significa algo ainda mais profundo: a impossibilidade da ordem adequada aos seres humanos existir sem alguma mistura de caos. Simplesmente não há maneira, nem mesmo para o próprio Deus, de separar alguma parte isolada da grande realidade circundante e tornar tudo permanentemente previsível e seguro dentro dela. Parte da realidade que foi cuidadosamente excluída sempre voltará sorrateiramente. Uma cobra aparecerá, portanto, inevitavelmente, não importa o cuidado que seja tomado.

Mesmo o mais assíduo dos pais modernos não será capaz de proteger seus filhos da pornografia na Internet, drogas ou álcool, mesmo se eles os trancarem no porão (nesse caso, eles acabam apenas expondo-os às cobras que abrigam dentro de si) . Podemos ter aprendido essas coisas observando as grandes utopias totalitárias degeneradas do século XX. Líderes e cidadãos tentaram, com desespero cada vez maior, forçar tudo o que existia em uma ordem definida, compreensível e perfeita demais. Isso apenas garantiu que o caos explodisse sem reservas em suas almas e, em seguida, em suas sociedades.


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PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO!

(06/08/2021)

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HUMOR

(09/08/2021 - por Giorgio Cappelli)



(09/08/2021 - por O Ilustra)



"E assim nasce a "Japanese ogreDEMÔNIOcracia" em 2021..." (@SalConservador)
(03/08/2021)

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LEITURA RECOMENDADA


Para compreender os meandros da desinformação e como iludir as pessoas a pensarem de uma determinada forma, um ex-KGB, Ion Mihai Pacepa, detalha em seu livro os truques usados pelo serviço de inteligência russo. Uma leitura imprescindível para você entender por qual razão é enganado, como fazem para te enganar e por que você vive no mundo deteriorado e distópico que vive hoje, onde o poste mija no cachorro, a banana descasca o macaco e a pipa empina o menino.

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