Edição XVIII (Revista Terça Livre 108, revista A Verdade 48, opinião e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Terça Livre, da qual sou assinante, com autorização pública dos próprios autores da revista digital. Nenhum texto aqui pertence a mim, todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.



CULTURAL



ENTREVISTA COM FABIO GONÇALVES E GUILHERME MELLIM
(por Leônidas Pellegrini)


Não é segredo para ninguém o estado de crise na educação no Brasil. O que talvez não seja tão evidente para grande parte das pessoas é que tudo começa pela linguagem. Se formos verificar o nível médio de domínio da língua portuguesa entre nossos alunos, desde o ensino fundamental até os cursos de pós-graduação, assim como dos recém-formados profissionais de comunicação (notadamente jornalistas e publicitários), assim como dos licenciados (sim os professores e pedagogos), a situação fica ainda mais evidente e preocupante. E, em um país em que 92% da população não tem um domínio mínimo sobre a linguagem, resta ao povo ser dominado por bandidos, charlatães e picaretas como os membros do STF ou os senadores da CPI do Circo.

Entre as diversas razões que rebaixaram a educação brasileira ao nível em que está hoje, uma delas é a extrema centralização dos sistemas de ensino que começou com o fascista Getúlio Vargas e recrudesce cada vez mais desde então. Isso é apontado há anos, reiteradamente, pelo professor Olavo de Carvalho tanto em suas aulas como em seus escritos, e um dos paliativos que Olavo aponta como possível remediador do problema é justamente a descentralização da educação no Brasil, com a formação de escolas independentes em centros comunitários, paróquias, associações filantrópicas etc. - uma empreitada que não é fácil, ainda mais em se tratando dos trâmites burocráticos educacionais do Brasil, mas que nem por isso não é impossível. Por isso mesmo, o professor sempre incentivou seus alunos que se sentissem vocacionados à educação que a, dentro de suas possiblidades, buscar alternativas para a educação de pequenos grupos em seus círculos de influência.

Pois bem. Oito anos atrás o advogado Guilherme Mellim começou a ensinar a língua portuguesa a crianças e adolescentes pelo método clássico, o Trivium, na Paróquia São Vito Mártir, em São Paulo. Três anos depois, junto com o jornalista, escritor e professor Fábio Gonçalves, também aluno do COF, e um grupo de amigos, criou curso pré-vestibular comunitário em que eram inseridas atividades como a leitura e comentário dos clássicos, resultando num despertar do interesse desses jovens pela literatura e pela cultura em geral. Dois anos depois, em 2018, Guilherme e Fábio fundaram na Paróquia Santa Generosa o Curso Paideia, projeto em que, além do ensino da língua portuguesa pelo método clássico, trabalha-se também com aulas de música, artes marciais e desenho. Finalmente, agora em 2021, a dupla lançou na internet a iniciativa chamada O Poder da Linguagem, que conta com um canal no YouTube, um perfil no Instagram e um canal no Telegram, tudo voltado para a melhor formação humana por meio do domínio da língua.

Para coroar essa trajetória, Guilherme e Fábio lançarão, nas próximas semanas, o curso Domine a Arte de Ler, voltado para pais, professores e todos aqueles interessados em educar ou educar-se por meio de um caminho que leve a um melhor domínio da linguagem. A aula inicial será transmitida no canal O Poder da Linguagem, no YouTube, nesta quinta-feira, dia 5, a partir das 20:30.

Confiram mais detalhes sobre a trajetória e o trabalho desses dois professores na entrevista a seguir exclusiva para a Revista Terça Livre.  

Terça Livre: O trabalho de vocês, que envolve a educação por meio da linguagem, baseia-se na educação clássica, mais especificamente pelo caminho do Trivium. Em primeiro lugar, portanto, gostaria que explicassem a nossos leitores o que é o Trivium e como ele importa no processo de resgate da inteligência neste momento.

Fábio: O Trivium é uma pedagogia muito antiga, que começou a se desenhar no período helenístico grego e que ganhou os contornos definitivos entre o fim da Antiguidade e o início da Idade Média.

Trivium quer dizer três vias; são, na verdade, as três “etapas” da formação em linguagem pelas quais os jovens passavam antes de avançar para estudos superiores.

Quer dizer, os grandes pedagogos, os que formaram as maiores personalidades de nossa civilização, gênios das artes, da política e das ciências, sempre concordaram que dominar a linguagem e alguns dos seus usos era o requisito fundamental para uma boa educação.

Mas, voltando ao Trivium, essas três etapas do ensino da linguagem eram, nesta ordem: a fase da gramática, da retórica e da dialética. Entre uma e outra, embora haja uma mudança de enfoque ou de objetivos particulares, há uma interdependência. Quer dizer, o aluno não consegue dominar a retórica se não se aplicou como devia na fase gramatical; e consegue menos ainda se virar no terreno do discurso lógico-dialético se não teve formação sólida nas duas etapas anteriores.

Guilherme: Em linhas gerais, a gramática do Trivium tem como finalidade, por um lado, fazer com que os jovens assimilem profundamente sua língua, o que se faz, necessariamente, por meio da leitura cuidadosa de grandes obras literárias, e por outro, dar os subsídios para que ele consiga, na medida do possível, se expressar, pela escrita e pela fala, conforme o modelo dos grandes poetas e prosadores.

A gramática, portanto, é a arte de ler e compreender os clássicos, de assimilar a língua nesse processo, e de se expressar com correção e beleza. O seu fim último é conferir ao aluno um pensamento claro, ordenado e criativo.

Já a retórica, partindo dessa formação inicial, é a arte do convencimento ou da persuasão. Nessa etapa o aluno aprende a usar a língua com a finalidade prática de mover as vontades alheias, seja para a escolha de um político, para a defesa ou condenação de um réu, para comover os homens a uma guerra ou para incliná-los à paz, e assim por diante. É um recurso fundamental para a vida em sociedade e para manter a justiça e a harmonia nas relações pessoais.

A retórica se destina a levar as pessoas, pelo convencimento, àquilo que é justo e bom. Mas, claro, não raro é utilizada para finalidades mesquinhas a criminosas, daí que a palavra retórica, hoje, tenha certa carga negativa, como se, em sua essência mesma, fosse a arte da trapaça, do engodo, do charlatanismo, o que é cem por cento falso.

A dialética, por fim, é a arte da discussão com vistas à descoberta de uma verdade. Se a retórica move a vontade, a dialética objetiva “mover” a própria inteligência. É o que Sócrates em grande medida fazia com os atenienses, o que se pode ler nos diálogos de Platão.  Quer dizer, a dialética se utiliza da linguagem, do discurso, para conduzir a mente às intuições e percepções sobre a realidade.

Equacionando esses objetivos específicos, tem-se, na conta geral, que o Trivium, se percorrido do começo ao fim, leva o jovem não só a dominar sua língua, mas a afinar sua inteligência para agir no mundo e para conhecê-lo profundamente.

Nos nossos cursos, vale dizer, trabalhamos, até o momento, com a etapa inicial, a da gramática. Em nossas aulas, lemos textos literários de alta qualidade, fábulas clássicas, apólogos, narrativas mitológicas, contos e poemas célebres, e, como sempre se fez, ensinamos a língua, as classes de palavras, a sintaxe, as figuras de linguagem, os efeitos estilísticos, as artes da recitação e leitura em voz alta, da escrita etc., por meio de comentários à obra e exercícios complementares.

Fábio: A finalidade aí é, pela prática da leitura comentada, indicar ao aluno os aspectos do texto a que ele precisa se atentar caso queira compreendê-lo plenamente. E, na medida em que comentamos a obra, tirando de textos aparentemente simples uma série de temas, referências culturais, sentidos alegóricos e assim por diante, a criança, naturalmente, deseja fazer igual, ser capaz de ler, também, nesse alto nível.  

Terça Livre: Quais têm sido os frutos do trabalho de vocês em relação à formação dos alunos? Como vocês percebem a evolução intelectual deles, como isso tem sido mensurado?

Fábio: É difícil mensurar em termos, por assim dizer, matemáticos, quantitativos. Mas o efeito prático é que os alunos vão, pouco a pouco, dominando a linguagem e criando um gosto não só pela literatura, pelas grandes narrativas, como também pela própria língua, o que nos dá a abertura para ensinar assuntos que, deslocados desse contexto, lhes seriam insuportáveis e incompreensíveis.

Essa é a principal diferença desse método clássico para o ensino de língua portuguesa que se oferece hoje nas escolas.

Guilherme: A escola contemporânea, sabe-se lá com base em qual raciocínio, resolveu separar a gramática da literatura. Numa sala, o professor dita uma porção de regras abstratas, com uma porção de nomes complicados; na outra, fala-se esquematicamente de escolas literárias, das características do Barroco ou do Neoclassicismo, das fases do Romantismo e da ironia machadiana — sem jamais ler Machado.

Isso mata o interesse da criança e do jovem.

A gramática clássica, pelo contrário, sempre foi entendida como um instrumento para que o aluno pudesse compreender perfeitamente a alta literatura. Antigamente, aprendiam-se as normas na medida em que elas ajudavam a desvendar os versos de Homero ou de Virgílio, não para aumentar, na cabeça do jovem, o cabedal de termos incompreendidos, desses que só servirão, e olha lá, para a realização do exame semestral.

Então, voltando à pergunta, notamos que os nossos alunos acabam se interessando por compreender a gramática porque percebem sua utilidade prática.

Além disso, claro, ao longo das aulas, percebemos um aumento no vocabulário, na capacidade de memorização, na correção da escrita, na beleza da declamação, no poder de compreender as narrativas, na qualidade da interpretação textual.

Fábio: Há, também, uma melhora no interesse geral pela leitura. Inclusive, um fenômeno que acontece em quase todas as nossas turmas é o da formação espontânea de clubes literários. As crianças e jovens, sem que nós saibamos, se reúnem fora da aula — em regra, virtualmente —, para ler e conversar acerca das obras. Quando soubemos do primeiro caso, ficamos completamente espantados. Ninguém espera uma coisa dessas no Brasil.

São coisas assim que nos dão certeza de que escolhemos o caminho certo para os nossos alunos.   

Terça Livre: Do trabalho que vocês começaram há oito anos, surgiu na internet o projeto O Poder da Linguagem, que hoje consta com um canal no YouTube e um perfil no Instagram, certo? Como tem funcionado esse trabalho na internet?

Guilherme: Viemos para a internet, depois desses anos, com o objetivo de oferecer dicas e materiais para quem queira, assim como fazemos nas nossas iniciativas presenciais, ensinar a língua pelo método clássico.

A nossa percepção era a de que, embora entre as famílias, por assim dizer, mais conscientes da situação dramática da educação brasileira, se estivesse falando bastante de educação clássica, Trivium, e coisas do tipo, poucas pessoas estavam dando esse tipo de formação aos seus filhos na prática.

Fábio:  Porque, veja, uma coisa é falar sobre Trivium, sobre cada uma das etapas, de suas finalidades nobres, da história do método, de quem foi educado por ele etc. Outra coisa é pegar uma fábula do La Fontaine, um conto do Herculano, ou um trecho de Os Lusíadas, e ensinar a língua ao aluno, segundo uma sequência pedagógica coerente e eficaz.

Sentíamos falta dessa abordagem mais prática. Não que não haja. Mas, em face do que se tem por aí em termos de “teoria do Trivium”, é uma quantidade ínfima.

Como estávamos fazendo isso, educando jovens concretamente com base no método clássico, e como os bons resultados começaram a aparecer, resolvemos iniciar essa empreitada no mundo digital.

E tem sido uma ótima experiência.

No nosso perfil do Instagram conversamos com um público mais amplo e, dentro das limitações da rede, buscamos dar dicas de ensino, sugestões bibliográficas, breves orientações para pais, professores e mesmo jovens que estão se auto educando. Ali também fazemos, semanalmente, sempre às quintas, lives temáticas.

Guilherme: No YouTube publicamos um conteúdo mais aprofundado. Ali já temos uma porção de vídeos médios e longos nos quais explicamos questões de gramática, esclarecemos alguns pontos a respeito da metodologia que utilizamos, damos modelos de recitação e assim por diante. Lá é possível encontrar, também, uma série de aulas em que mostramos como é possível ensinar a língua portuguesa pela literatura.

Por fim, temos um canal no Telegram, chamado Ensine Seu Filho a Ler Melhor, onde já disponibilizamos dezenas de exercícios de escrita, dicas de leitura, áudios com leitura comentada de textos literários, introduções a obras clássicas, e por aí vai. É a rede onde deixamos o melhor do nosso conteúdo.

Terça Livre: No próximo dia 5, depois de amanhã, vocês vão transmitir em seu canal no YouTube uma aula inicial do curso Domine a Arte de Ler. Falem um pouco sobre como surgiu a ideia desse curso, para quem ele é dirigido, como funcionará etc.

Guilherme: Concebemos o curso justamente para, de alguma maneira, tentar remediar aquele problema que percebemos: a carência de recursos, por parte dos pais, para realizar, na prática, a educação da linguagem pelo método clássico.

O curso é feito para os pais ou professores aplicarem com seus filhos e alunos. Também serve para um jovem ou adulto que queria se educar, começando pela base.

Nós estruturamos o material de modo que o responsável tenha o menor esforço possível. Tudo o que é necessário para montar uma aula já está ali. A ideia é que, de acordo com as capacidades de cada um, as famílias possam reproduzir em suas casas o que fazemos em nossas salas de aula. 

Fábio: Mas, na quinta-feira, na aula que daremos no nosso canal do YouTube, falaremos com maiores detalhes sobre o método e o fim da educação clássica e também sobre esse curso. Tem mais coisa para revelar, mas vai ter que ficar para o dia 5.

Terça Livre: Tratando agora da formação de vocês dois, sabendo que ambos são alunos do Curso Online de Filosofia, do professor Olavo de Carvalho, respondam: qual foi a importância do COF para vocês, tanto na vida pessoal como no trabalho que vocês vêm desenvolvendo juntos todos esses anos?

Fábio: Já tive a oportunidade de dizer, numa entrevista aqui no Terça Livre, que conhecer o professor Olavo e ingressar no Curso Online de Filosofia foi um momento determinante na minha vida. Tudo o que estou fazendo em termos intelectuais, as atividades como escritor, como jornalista e como professor, tudo devo aos seus ensinamentos. Aliás, ele próprio, claro que infinitamente melhor, é escritor, foi jornalista e é professor. No fundo, dentro de minhas limitações, só o estou imitando.

E o nosso projeto também está intimamente ligado ao COF. Primeiro porque o professor cansou de dizer, em consonância com os grandes mestres do passado, que sem uma bela formação em linguagem, a vida de estudos, a atividade intelectual, as pretensões filosóficas, tudo tende ao fracasso. Mais ainda: a forma como Olavo concebe o processo de aquisição do conhecimento está na sua obra Aristóteles em Nova Perspectiva. Ali o mestre nos ensina que o conhecimento começa na imaginação, e que é o discurso de tipo poético o que amplia e ordena o nosso horizonte imaginativo. Essa é a base.

Ora, percebemos que muitos dos nossos colegas de turma, embora ouvissem essa pregação, sábado após sábado, não estavam buscando educar a si próprios e nem conceber iniciativas educacionais com foco no desenvolvimento das habilidades necessárias para a leitura de obras literárias.

Dito de outro modo, falava-se muito na importância de se ler os clássicos, mas sem levar em conta que todos nós tivemos uma péssima formação e provavelmente já estivemos dentre os 92% dos brasileiros que não são capazes de compreender plenamente aquilo que leem.

Entendemos, então, que era precisa dar um passo atrás e começar a falar de uma formação mais básica, inclusive para que o pessoal possa acompanhar com maior proveito os cursos do professor.

O COF nos influenciou nesse sentido e também num outro.

O professor Olavo, todos sabemos, é grande crítico da educação brasileira contemporânea. Acha que a crise é praticamente impossível de se resolver. Mas um caminho que ele sempre indicou foi o da descentralização do ensino e da criação de iniciativas individuais, nos bairros, nas paróquias, nos clubes etc. E foi justamente o que fizemos.

Primeiro o Guilherme, em 2013; depois nós dois, em 2016, com a fundação de um curso pré-vestibular; por fim, em 2018, com o início do Curso Paideia, na Paróquia Santa Generosa, nosso primeiro projeto totalmente voltado para o ensino da linguagem pelo método clássico.

Então, há influência do Olavo nessas duas pontas.    

Guilherme: Antes de conhecer o Olavo, no começo da adolescência, eu já gostava muito de ler e estudar e tinha condições bastante favoráveis para isso. Mas, refletindo retroativamente, tudo aquilo que eu lia e aprendia não se encaixava, não me dava uma perspectiva geral e clara sobre as coisas; pelo contrário, na maioria das leituras ditas “intelectuais” eu ia assimilando uma série de preconceitos culturais e vícios intelectuais. Foi lendo, por acaso, alguns artigos do professor Olavo no seu antigo blog que eu fui percebendo o quanto eu estava confuso e ignorante das coisas mais fundamentais. A partir dali me tornei seu aluno e isso fez toda a diferença, felizmente muito cedo, na minha vida.

Quanto a sua influência no nosso atual projeto educacional, é total. O que queremos fazer é transmitir para os nossos alunos um certo domínio da linguagem, para que eles possam ter mais oportunidades e capacidade de decisão ao longo da vida e, caso queiram, estar minimamente preparados para iniciar uma vida de estudos.

Terça Livre: O curso de vocês possivelmente atrairá professores das redes convencionais de ensino interessados em mudar suas práticas em sala de aula. O que eu gostaria de saber é: seria possível a metodologia e o material com que vocês trabalham serem aplicados ao modelo de educação universal e compulsória como é o nosso?

Fábio: O professor Monir Nasser costumava dizer que o sujeito mais livre que existe é o professor da rede pública dentro da sua sala de aula. E nos parece que é verdade. Escolas particulares tendem a ser mais restritivas, mais aferradas a um determinado método, a dado material.

Então, nada impede que um professor de língua portuguesa, na aula que ensinaria os tempos verbais, fazer isso lendo e comentando um poema de Gonçalves Dias ou de Manuel Bandeira. Ninguém vai reclamar com ele.

Guilherme: Sim, talvez não dê pra dizer que é possível a aplicação strictu senso, porque a grade é muito apertada, as crianças são expostas a mil e um conteúdos, de várias matérias, e tudo isso vai consumindo sua atenção e seu interesse. No entanto, parece que é perfeitamente possível fazer ajustes nas aulas de modo que, consideradas todas as dificuldades, o professor ensine seus alunos com base no método clássico.

Terça Livre: Para finalizar: vocês já vislumbram novos trabalhos dentro do que já têm feito? Há planos para projetos futuros?

Fábio: Nós estamos é com dificuldade de estabelecer uma ordem de prioridades. Tem muito material já pré-concebido. Nossa ideia é lançar uma série desses livros didáticos e materiais complementares, sempre voltados para o ensino da língua e também das humanidades. Depois de lançarmos esse primeiro curso, vamos assentar as ideias e definir o próximo projeto.

Guilherme: Pois é, nos planos há continuações do Curso Domine a Arte de Ler, cursos voltados para ensinar na teoria e na prática a pedagogia clássica para educadores, entre muitas outras coisas.

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Quem é você?
(por Kauê Varela)

Em outro artigo, disponível neste mesmo canal, fiz um comentário sobre o sociólogo Erving Goffman e sua obra “A representação do eu na vida cotidiana” em que ele analisa a vida social como representações teatrais, onde utilizamos inúmeras “máscaras sociais” ao longo de um único dia. No fim, pergunta ele, qual o rosto que está por detrás desses papéis sociais?

Pegando este fio condutor, nas palavras de Immanuel Kant, pergunto a você, caríssimo leitor: QUEM É VOCÊ?

Pense por um momento no estado atual em que você se encontra e se esse “eu” é o mesmo de ontem e se permanecerá o mesmo amanhã. Ouso responder que não, não somos nem permaneceremos os mesmos; a vida enquanto sucessão temporal leva consigo a evolução da personalidade e experiências humanas que nos tornam indivíduos únicos. Essas experiências nos ajudam a amadurecer, trocar ou até mesmo manter as convicções que trazíamos como certas e sólidas. Estou apenas sintetizando algo que todos nós sabemos, mas muitas vezes não conseguimos traduzir verbalmente. Não somente da perspectiva cognoscente, mas também do ponto de vista físico, nós, definitivamente, não somos os mesmos. Não nascemos na exata condição física em que nos encontramos e inevitavelmente sofreremos inúmeras outras mudanças ao longo dos anos. Em média, aproximadamente 50 milhões de células corporais morrem diariamente, resultando em absurdas 18 bilhões de células mortas/ano. No entanto, há um processo corporal chamado de “apoptose” que, grosso modo, mantém o equilíbrio dos organismos multicelulares e que repõe praticamente na mesma quantidade as células mortas por células vivas. O processo do envelhecimento é justamente quando esse mecanismo não dá conta como outrora e acaba por repor em menor quantidade as células.

Pois bem, então não temos as mesmas convicções de antes nem, literalmente, o mesmo corpo, pois ambos estão em constante mudança. Nessa celeuma de informações, a pergunta permanece intacta e mais importante que nunca: QUEM É VOCÊ?

Quem é você além do seu corpo, que perece? Quem é você além de suas convicções, que mudam? Quem é você por detrás das convenções sociais que, na linguagem utilizada por Goffman, são apenas representações teatrais?

Se refletir um pouco, perceberá que tudo o que, aparentemente, torna você único, na verdade lhe assemelha a mais ou menos um milhão de outras pessoas.

Geralmente essa pergunta é respondida, bate-pronto, com a pessoa dizendo seu nome. Mas até onde me consta, via de regra, nossos nomes sequer foram escolhidos por nós mesmos, mas por nossos pais, que utilizaram seus próprios critérios na escolha.

Se, somado ao nome, a pessoa utilizar suas características físicas, profissão, gostos pessoais e personalidade, todas as respostas, por mais claras e específicas que sejam, no fim, são exatamente as mesmas que de outra pessoa. Vamos a um exemplo:

“Olá, meu nome é Daniel tenho 25 anos, sou alto, moreno, advogado, gosto de rock clássico, estou noivo da Roberta, sou honesto e fiel”. Poderíamos imediatamente questionar: “Em um mundo onde, se estima, já passaram aproximadamente 108 bilhões de pessoas[1] até hoje, seria difícil encontrar um outro Daniel de 25 anos, alto, moreno, advogado que goste de rock clássico, noivo de uma Roberta que seja honesto e fiel?”. E se por um milagre não encontrarmos no presente ou no passado alguém com essas mesmas características, o que nos garante que no futuro não haverá alguém assim?

Pois é, se você começar uma anamnese[2] de si, chegará à conclusão de que tudo o que você acredita lhe tornar único é compartilhado, ou pelo menos poderia ser, com pelo menos mais uma pessoa na história humana. No entanto, lá no fundo, você sabe que algo lhe faz único... algo que você sabe que está ali, mas não consegue entender ou verbalizar... seu eu que é diferente de todos os demais!

Nesse momento, você deve estar ansioso por saber o que é. De cara devo dizer que se eu expusesse aqui o que seria esse tal “eu” individual, obviamente que seria o meu “eu” individual que valeria única e exclusivamente para mim e mais ninguém. Dado isso, a percepção do eu cognoscente deve ser buscada em cada individualidade concreta e sim, acalme-se, há um bom caminho para tal!

Continua.


[2] do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória

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O que queremos conservar (Parte I)
(por Paulo Moura)


O legado da civilização grega clássica.

Esse artigo é o primeiro de uma série de três nos quais pretendo abordar a questão dos fundamentos da civilização ocidental moderna que resulta da herança a nós legada pelas experiências da Civilização Grega Clássica, do Império Romano e do Cristianismo.

No senso comum da nova direita brasileira que nasceu para a política entre os anos 2013 e 2015, na esteira das mobilizações populares contra os governos petistas, vigora o senso comum segundo o qual ser conservador se equivale a ser contra a ideologia de gênero, contra o aborto, contra a liberação das drogas e a favor da “civilização judaico-cristã”.

De fato, ao defender essas causas e a civilização judaico-cristã, a pessoa se situa no campo dos valores conservadores, mas, também de fato, o modelo de civilização que se constituiu no Ocidente é resultado dos três pilares fundadores citados no primeiro parágrafo, e que a maioria dos conservadores brasileiros desconhece.

No presente artigo, vou me concentrar no legado da Civilização Grega Clássica. Para efeitos da análise que aqui farei, vou me basear na obra “História das Ideias Políticas”, escrita a seis mãos por François Châtelet, Olivier Duhamel e Evelyne Pisier-Kouchner, editada em 1982 na França e na versão em português, no início dos anos 1990 pela Jorge Zahar Editor.

Segundo esses autores, a história da Grécia antiga divide-se em dois momentos, sendo o primeiro o período feudal e o segundo, o do apogeu da chamada Civilização Grega que se constituiu no século V a.C.

O período feudal da Grécia antiga foi um tempo em que o poder político, religioso e jurídico sobre o povo (artesãos, agricultores e pescadores) era exercido por grandes famílias proprietárias de terras. O entorno da Grécia era habitado por povos bárbaros governados por déspotas que impunham seu poder pela força, apoiados em castas militares e religiosas.

Por alguma razão, o povo grego, desde os primórdios, revelou uma inclinação civilizatória diferenciada, isto é, a propensão para constituir formas não violentas de solução dos conflitos entre os membros da coletividade. Uma das primeiras manifestações dessa inclinação decorreu da invenção daquilo que viria a ser, posteriormente, um sistema jurídico-legal.

Na Grécia feudal, conflitos violentos marcavam as relações entre as famílias, ou de integrantes dessas famílias com membros do povo. A violência desses conflitos era tal que, num determinado momento, os envolvidos concordaram em solicitar a indivíduos reconhecidos por sua experiência, sabedoria e desinteresse sobre as disputas em questão, que fixassem as “regras do jogo social” (p.14).

Foi assim que em Atenas, no ano 600 a.C – Dracón e Sólon, um depois do outro, foram encarregados de enunciar os “princípios ordenadores das relações entre membros da comunidade” (p. 14) naquilo que seria o embrião de um sistema de normas legais reguladoras da vida em sociedade.

Num primeiro momento, essas regras se constituíam de enunciados jurídicos genéricos que designavam, também, as “instâncias de onde deveriam provir as decisões sobre os destinos da coletividade, a arbitragem dos conflitos e a punição dos crimes e delitos”.

Num segundo momento, essas regras, consolidadas pelos costumes praticados por tribunais que deliberavam secretamente, serão substituídas por leis formuladas em textos claros, sendo Dracón reconhecido como responsável por exigir que os juízes tornassem públicos os argumentos que legitimavam suas sentenças.

Nascia assim aquela que é considerada a “alma” da Pólis (cidade), a Lei, entendida como “princípio de organização política e social concebida como texto elaborado por um ou mais homens guiados pela reflexão, aceita pelos que serão objeto de sua aplicação, alvo de um respeito que não exclui modificações minuciosamente controladas” (p.14).

Na obra “A política” (Livro I, 2:, 1252 a 24-1253 a 37), Aristóteles enuncia sua compreensão da pólis como sendo a forma mais evoluída da vida humana em sociedade, contrapondo-a à vida simples das famílias isoladas (vizinhos de mesmo sangue) no campo ou nas aldeias (vizinhos por interesses).

Ao contrário dessas duas formas primitivas de vida social, cujo objetivo é apenas a sobrevivência, na pólis, “organização fundada não sobre a força bruta, não sobre interesses passageiros, não sobre as prescrições dos deuses” (p. 15), é que o ser humano realiza logos, o conhecimento, a virtude que nos diferencia dos animais e que se manifesta na capacidade de raciocinar e argumentar com base na lógica.

Os gregos, portanto, entendem que a inclinação para a vida em sociedade é natural nos seres humanos, mas que precisa ser ordenada. Antes da existência das cidades, eram os deuses que apaziguavam os conflitos humanos, mas um cataclisma teria levado à evolução desse modo de vida e sua conversão na sociedade patriarcal. Nascia aqui um fundamento que, séculos depois reapareceria de outra forma nas teorias contratualista sobre a origem do Estado.

Os gregos, no entanto, tinham uma compreensão cíclica do tempo, tal como os orientais, diferentemente da compreensão cristã, segundo a qual a história desenvolve-se linearmente e tem um sentido, tal como preveem as escrituras sagradas, sobre as quais trataremos no terceiro artigo dessa série.

Finalmente, os gregos entendiam a vida humana como a “mais elevada do gênero animal” (p. 15), muito embora houvesse, entre os humanos, seres não dotados dessa “sensibilidade divina”, entendida como capacidade de raciocinar, sendo esses indivíduos destinados à escravidão.

A Cidade, como expressão da “comunidade consciente” (p.15), é a forma política que possibilita à coletividade instaurar a “ordem justa” e ao indivíduo atingir a “satisfação legítima, sob o império das leis”.

O historiador Heródoto (História III, 80-82) se tornará célebre ao classificar os regimes políticos em três tipos:

  • A monarquia, o governo de um só;
  • A oligarquia, o governo de poucos;
  • A democracia, o governa da maioria (ou da comunidade), segundo a interpretação de alguns.

O primeiro regime corresponderia à vida dos povos bárbaros, o segundo ao poder das famílias da Grécia feudal, e o terceiro à contribuição singular de Atenas na qual nasceu o embrião da ideia de democracia como regime da igualdade entre os cidadãos diante da lei.

No modelo de democracia direta (sem a intermediação de representantes), o poder central era exercido pela assembleia popular que reunia todos os cidadãos em cerca de dez oportunidades por ano ou em situações excepcionais para deliberar, escolher os magistrados (estrategistas, inspetores de mercados etc.) e os membros das câmaras de justiça e nas quais todo o cidadão tinha direito à palavra.

Aristóteles e Platão divergiam sobre a eficácia e viabilidade dessa democracia, que viveu uma crise diante de dificuldade de responder às necessidades impostas pela Guerra do Peloponeso.

Para Platão, a massa popular assemelha-se por natureza a um animal escravo de suas paixões e interesses passageiros, o que a torna passível de manipulação e dominação fácil por oradores dotados do dom da palavra e da persuasão, podendo ser induzidos a escolhas irracionais num contexto em que o debate nas assembleias populares careceria de profundidade. Em situações de guerra e necessidade de defesa da cidade, deliberar questões militares em assembleias mostrou-se algo vulnerável.

A República idealizada por Platão em sua obra mais conhecida, deveria se estruturar com base em três classes, sendo elas:

  • Os cidadãos encarregados de prover a existência material;
  • Os cidadãos encarregados de rechaçar inimigos e garantir a segurança interna; e,
  • Os cidadãos gestores da coletividade, que na concepção platônica deveriam ser os mais sábios e preparados.

Para Aristóteles, no entanto, a referência de Platão ao “governo dos sábios” é ineficaz e perigosa. Segundo ele, a filosofia e a retórica deveriam ser levadas a todos, de forma a garantir, “para cada cidade, qual a melhor Constituição e quais as capacidades e virtudes se deveriam exigir dos cidadãos”. Aristóteles também era contra a entrega do poder a uma parte do corpo social, sem que nada o limitasse, pois os cidadãos não devem ter outro senhor senão a Lei. (p. 21) Nasce aqui a semente da teoria liberal, de muitos séculos depois, da submissão de todos, inclusive o rei, à Lei.

Como se pode constatar, o debate sobre os limites e possibilidades da democracia já estava presente nos conflitos “existenciais” da democracia dos gregos - inovadora à época. Igualmente já haviam germinado, naquela época, as sementes da democracia liberal, pelo menos em seus princípios norteadores, já presentes nos dilemas da política grega anterior à ocupação romana que se seguiu a partir do ano 168 a.C.

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COMPORTAMENTO

Sobre escravos livres e livres escravos
(por Paula Felix)

Um dos gêneros musicais de que mais gosto é o negro spiritual, a música feita pelos escravos cristãos americanos, geralmente com melodias de compasso melancólico e letras nas quais os sofrimentos do presente são contrapostos à certeza da glória do porvir. Ouvindo preciosidades como Soon Ah Will Be Done, Down By The Riverside ou Peace In The Valley é possível entender por que não se deseja vida longa ao escravo: porque mesmo que não houvesse o trabalho penoso ou os castigos físicos, a escravidão, ao retirar do homem o livre arbítrio, por si só consiste em bestializar nele o que há de humano.

Nos escravos que escreveram aquelas músicas, contudo, o cristianismo construiu uma última fortaleza na qual a escravidão não pôde penetrar, porque se é da natureza da escravidão reduzir os homens a bestas, na fé há uma liberdade que nem correntes, nem cárceres, nem sequer a morte numa arena romana podem tirar: a certeza da vitória sobre a morte. Se o escravo é submetido pela força à condição de animal ou coisa, a certeza da vida eterna o restitui à humanidade em Cristo e reduz a morte a uma fronteira a cruzar para a pátria da liberdade que já existe no coração. Ouvindo as canções daqueles cristãos escravizados, é possível perceber a importância enorme que eles davam àquela sua única liberdade, a ponto de que nada mais importava e a morte se tornava uma visita bem-vinda. Nada contrasta tanto com a ansiosa solicitude pela vida que este desapego de parte daqueles para os quais a única liberdade que restou foi a fé, e neste contraste a ânsia de manter-se neste mundo aparece em toda a feiura de sua mesquinhez e covardia.

Nós, os humanos, aprendemos por contrastes. Nestes tempos em que o ocidente vive seus dias de maior liberdade de costumes e fartura de bens é que, paradoxalmente, vemos uma civilização reduzida a uma escravidão à qual a violência do tráfico negreiro e a humilhação do cativeiro não conseguiram reduzir aqueles homens e mulheres que cantavam "mantenha as suas mãos no arado e aguente": a escravidão voluntária a que o medo da morte resume o homem que não tem em si a esperança da vida eterna. Ante a imensa e demoníaca operação global de engenharia comportamental do vírus chinês, vimos homens e mulheres entregarem aos seus governos todas as suas liberdades em troca da garantia, por sinal falsa, de que não morreriam de uma peste de baixa letalidade, mas com excelente assessoria de imprensa. Esmagados pelo pavor de morrer e perder o gozo de seus muitos bens, os abastados cidadãos ocidentais se ajoelharam e entregaram não apenas a sua liberdade de ir e vir, de cultuar, de confraternizar com sua própria família, de trabalhar, de respirar livremente e de não se submeter a experimentos genéticos, mas também as dos vizinhos e a dos milhões de bebês abortados cuja carne foi usada no desenvolvimento da desesperadamente almejada "vacina". Para os escravos do medo da morte, ninguém é mais importante do que ele mesmo nem há ninguém suficientemente próximo para ser amado como a si próprio. Filhos entregaram seus pais à solidão, mães trancaram seus filhos doentes em seus quartos e só lhes tocavam vestidas de plástico dos pés à cabeça, pequenas autoridades como gerentes de supermercado e guardas municipais se aproveitaram para tiranizar qualquer um que se lhes estivesse submetido e todos os que se ajoelharam desejaram a morte dos que teimassem em ficar de pé.

Nesta lenta espiral de degradação, a ansiosa solicitude pela vida foi, aos poucos consumindo a humanidade, de forma que àqueles aos quais faltava antes a liberdade da morte agora faltavam também todas as outras. Nunca a escravidão do homem foi tão completa. A grande civilização cristã ora sem Deus se tornou um curral de bestas humanas tangidas por capatazes satanistas sob o chicote do pânico.

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GERAL


A decadência do jornalismo
(por Carlos Dias)


Interessante como a visão sobre a profissão de jornalista tem, hoje em dia, algum resquício nobre de visão romântica. Estudantes e profissionais em início de carreira carregam conceitos de apuração isenta, informação irrestrita segundo os fatos, respeito ao público e, no campo da análise, na tradução dos fatos, impressão da significação do real sentido. Grande ilusão!

O jornalismo há décadas foi prostituído pelas empresas de comunicação e pela política. Foi estabelecida uma relação de poder ao órgão informativo que se converteu em formador de opinião e produtor de versões para a acomodação de interesses.

As redes antigas de comunicação deixaram a vocação natural da informação e passaram a ser construtoras de novas realidades e mentalidades humanas com script produzido com o intuito de abater valores e princípios fundamentais e regular novo ordenamento social e político que eliminasse a capacidade analítica e ordenada de cada pessoa.

Na realidade, na informação pública, com o advento das redes sociais, foi nela reintroduzida um elemento relevante, antes de exclusiva propriedade das empresas de comunicação: a credibilidade. Em que pese as estruturas das organizações e recursos financeiros disponíveis serem bem distintos e incomparáveis, houve um grande choque na população quando esta teve à sua disposição informações descentralizadas, análises de caráter diverso às apresentadas pelas grandes corporações de comunicação tradicionais e a decisiva condição de interação concreta e direta.

A ascensão de uma comunicação franca, sem maquiagem e aberta através das plataformas de streaming e de redes sociais abateu, sem que fosse o efeito pretendido de seus formuladores, a concentração da informação e, mais ainda, a origem única de fonte e especialização condicionando a credibilidade. Toda essa mudança gerou também, de forma inesperada, uma concorrência no mercado, até então cativo, cujo acesso e disputa não mais se daria pela capacidade de investimento financeiro.

No “novo” mercado, a demanda se apresentava nos mesmos moldes históricos: a busca da informação e de sua congruência. Nesse campo, as redes sociais, com seus influenciadores fora do radar da mídia tradicional, conquistaram de forma virtuosa um conjunto de seguidores espontâneos, relevantes e fiéis.

Essa condição propiciou a organização de novas estruturas de comunicação empresariais que começaram a cobrir o universo da informação com profissionalismo, liberdade de consciência, resgate do sentido do valor e baseada no respeito à integridade do caráter pessoal do comunicador.

O sistema tradicional de controle social através da mídia tem sofrido significativas baixas em sua credibilidade e, consequentemente, de audiência. Isto ocorre indistintamente em todos os setores de produção jornalísticos e de informação especializada no Brasil.

É um mercado disputado e avaliado em bilhões de reais por ano, dominado integralmente pela mídia tradicional, onde anunciantes privados e públicos de um lado e de outro consumidores, se encontram através de veículo de concessão pública. Contudo, observa-se que em breve espaço de tempo, a invariável Verdade irá ser um player decisivo nas novas ordenações de produto e relações com o mercado. Pontuo que este novo modo de produzir, tratar e disponibilizar informação de maneira descentralizada não depende de autorização ou de concessão pública e tem avançado em contornos técnicos e estética visual, minimamente similares aos da comunicação tradicional.

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COMPORTAMENTO


O hábito noveleiro
(por Alexandre Costa)

As novelas moldaram o imaginário e prepararam as mentalidades facilitando o avanço de ideias revolucionárias e de projetos totalitários.


E desviarão os ouvidos da verdade, 
voltando às fábulas.
2 Timóteo 4:4


Nos artigos anteriores, “Servidão voluntária” e “Senta que o leão é manso”, tratamos rapidamente de dois aspectos comportamentais da sociedade atual, ambos responsáveis pelo acelerado processo de deterioração das liberdades e dos direitos naturais dos indivíduos.

A consolidação do totalitarismo, que pode ser observada em praticamente todas as camadas da nossa sociedade, sempre depende de algumas condições.

A primeira delas consiste em uma adequação do imaginário aos interesses ideológicos de determinado grupo. Para implantar um regime opressor, o povo precisa aceitar, pelo menos em um nível psicológico, que a tirania e os abusos de poder são  justificáveis pelas promessas da ideologia.

Como segunda condição necessária para implantações totalitárias podemos incluir a tendência ao consentimento preguiçoso. Essa inércia pode ser motivada pela acomodação, pela ignorância ou pela covardia.

Apesar de o totalitarismo depender do desejo megalomaníaco do tirano, que sempre será o maior responsável, em todas as experiências ditatoriais o povo teve alguma responsabilidade no processo, seja na sua gênese, seja no seu desenvolvimento ou no seu fortalecimento nas entranhas da sociedade.

A predisposição para a servidão atua nas respostas às demandas imediatas do cotidiano, mas também age no imaginário mais profundo, criando e fortalecendo as bases para a racionalização das ideias e das informações captadas pela percepção.

Da mesma forma, existe uma tendência a minimizar problemas incompreensíveis ou insolúveis.  Este comportamento dá espaço para que burocratas e poderosos passem gradualmente a controlar as várias instâncias da sociedade, até que passem a tomar decisões privadas em nome do povo que, de uma forma ou de outra, transferiu esse poder, consciente ou inconscientemente.

Considero o hábito da novela um terceiro aspecto dessa equação que procura refletir sobre as condições que precedem o totalitarismo, a coluna que faltava para a sustentação dessa mentalidade que não apenas aceita a submissão, mas se oferece e até clama por ela. Em outras palavras, a correia de transmissão.

Antes de falar do “hábito”, propriamente dito, não podemos esquecer o conteúdo pernicioso dos folhetins eletrônicos. A começar pelos temas, quase sempre irrelevantes, distorcidos ou vulgares, passando pela estrutura simplista das tramas e pela linguagem aparelhada, as novelas foram decisivas para moldar o imaginário coletivo e preparar as mentalidades de forma a facilitar o avanço de ideias revolucionárias e de projetos totalitários.

Além da influência social que vai da escolha de nomes para os filhos às roupas que as pessoas vestem, e do conteúdo estupidificador, que rebaixa as capacidades cognitivas e vulgariza a fala, os gestos e o comportamento, as novelas ainda prestaram outro desserviço: criaram o “hábito da narrativa”, que condicionou milhões de telespectadores a transpor para o mundo real o “modus operandi” da ficção.

Como se não bastassem o rebaixamento cultural e moral, a degeneração do mérito, a bandidolatria, a diluição dos valores e o controle sobre a moda e a linguagem que foram provocados pelas peças de ficção produzidas sob medida para este fim, as novelas também acostumaram as pessoas com o que podemos chamar de “roteirização” da vida.

Desde as conversas sobre celebridades até o vício de consumir informação de maneira absolutamente passiva, a influência das novelas foi decisiva para a construção do status quo e do imaginário deformado que presenciamos.  E por conta desse hábito enraizado, que de tão assimilado já passa despercebido, todas as interlocuções entre as pessoas tendem a seguir esses cacoetes que tanto contribuem para a corrosão das soberanias e liberdades. Ou mudamos esse imaginário, aproveitando o surgimento das mídias independentes e dos novos canais de comunicação, ou permaneceremos à mercê dos desejos totalitários.
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REVISTA "A VERDADE" - Ed. 48, de 02/08/2021 (Uma publicação digital semanal do Jornal da Cidade Online)


OPINIÃO


Uma fraude chamada Paulo Freire

(por Giorgio Cappelli)


Nas True Outstrips mencionei Paulo Freire umas nove vezes. Neste texto, contudo, rebatizo o sujeito como Fraudo Freire.

Fraudo atingiu, no governo Dilma, o status de “patrono da educação brasileira”. O motivo? Confira algumas frases dele:

“Na verdade, seria incompreensível se a consciência da minha presença no mundo não significasse já a impossibilidade de minha ausência na construção de minha presença.” (Pedagogia da Autonomia)

“Somente na medida em que os produtos que resultam na atividade do ser ‘não pertençam a seus corpos físicos’, ainda que recebam o seu selo, darão surgimento à dimensão significativa do contexto que, assim, se faz mundo.” (Pedagogia do Oprimido)

“O ponto de partida desse movimento está nos homens mesmos. Mas, como não há homens sem mundo, sem realidade, o movimento parte das relações homens-mundo. Daí que este ponto de partida esteja sempre nos homens, no seu aqui e no seu agora que constituem a situação em que se encontram, ora imersos, ora emersos, ora insertados.” (Pedagogia do Oprimido)

Entendeu? Não o sentido das frases, mas o porquê da identificação da “impichada” com Fraudo.

Infelizmente, há quem defenda tanta mediocridade. Lembram pseudo-intelectuais que, diante de uma tela incompreensível e cheia de rabiscos coloridos, ao avistar quem torça o nariz, retrucam, com afetação: “Você não entendeu a mensagem do artista!”

Grande mensagem! De quem escreveu que Che Guevara “revela uma profunda capacidade de amar e comunicar-se”. De quem afirma que “As relações pais-filhos, nos lares, refletem, de modo geral, as condições objetivo-culturais da totalidade de que participam. E, se estas são condições autoritárias, rígidas, dominadoras, penetram nos lares que incrementam o clima de opressão”.

Chama genocida de amoroso e joga filhos contra pais. Que lindo.

“Mas Paulo Freire é estudado em outros países.”

As doenças tropicais também, e nem por isso eu quero pegar uma.

“Mas a Alemanha o utiliza para ensinar refugiados e pessoas com Alzheimer.”

É pra rir? Refugiados e doentes? Por que não com nativos e gente saudável?

A boa notícia é que Fraudo só foi utilizado no Brasil uma única vez: em 1963, na cidade de Angicos, sertão do Rio Grande do Norte. Supostamente, 380 pessoas foram “alfabetizadas” em 40 horas. Bastante oportuno o fato ter ocorrido há quase 60 anos e talvez não se encontre nenhum aluno vivo para avaliarmos a eficácia desse método.

Graças a Deus, não precisamos temer pelo futuro da educação brasileira. Quando o Ministro da Educação, Abraham Weintraub eliminou toda a possibilidade de inserção do maldito Fraudo no Brasil. Weintraub introduziu o método fônico – este sim, funcional – e Carlos Nadalin está à frente da Secretaria de Alfabetização para garantir que isso se mantenha.

Aos que insistem em defender o Fraudo, um desafio: produzam um reality show que reproduza o evento de alfabetização em massa de 1963. Peguem adultos comprovadamente analfabetos. Não precisam ser 380. Bastam 40. Dobrem as 40 horas. Caso consigam que esse pessoal escreva o próprio nome, redija de forma inteligível e interprete um texto corretamente, reconhecerei que estava errado. Vamos lá?

Giorgio Cappelli publica as True Outstrips todas as segundas-feiras neste jornal.

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Licenciosidade universitária: Uma ameaça à verdadeira liberdade acadêmica
(por Carlos Adriano Ferraz)


Nos últimos dois anos as universidades em geral, e as federais em particular, têm evocado reiteradamente as ideias de “autonomia universitária” e de “liberdade de cátedra” para a defesa de uma posição partidária e ideológica em específico, especialmente contra o presidente Bolsonaro e seus correligionários, os quais não estão alinhados com a tradicional agenda da esquerda. Em verdade, embora certamente não seja uma posição hegemônica entre estudantes, servidores e professores, nossas universidades têm sido hostis e parciais em sua defesa de posições ideológicas contrárias a ideias liberais, conservadoras (sobretudo de viés cristão), etc. Noutros termos, principalmente nos últimos dois anos nossas universidades usaram como uma espécie de “trunfo” as ideias acima referidas (“autonomia universitária” e “liberdade de cátedra”), e isso não para a defesa da diversidade de ideias, mas para assegurar que poderiam continuar impunemente sua defesa das típicas ideias ‘esquerdistas’ (ou “progressistas”) contra um presidente que se opõe explicitamente às ideias atualmente vigentes em nossas universidades (dentre as quais poderíamos citar as ideias de ‘multiculturalismo’ – que qualquer cultura é tão boa quanto qualquer outra -, de ‘antiliberalismo’ ... sem falar na predominante ‘mentalidade antiocidental’, assim como o relativismo em relação a valores, instituições, etc).

Discorri sobre esses temas em meus dois últimos textos aqui em ‘A Verdade’:



Portanto, não se iludam: a defesa da “liberdade de cátedra” e da “tolerância” (expressa, por exemplo, em “notas” nos sites de nossas universidades) nunca pretendeu assegurar a real diversidade: visa justamente o oposto, a saber, garantir a hegemonia da tradicional visão esquerdista (trato disso, por exemplo, nesse artigo: https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/11802/a-universidade-e-sua-rejeicao-seletiva-da-intolerancia).

Dito de outra forma, o uso desses “trunfos” visa assegurar que estudantes, professores, servidores, gestores, possam continuar seu proselitismo político vulgar, desde dentro de nossos Campi, inclusive vilipendiando qualquer um que a eles se oponha, chamando a esses últimos, por exemplo, de ‘fascistas’. Não apenas isso, qualquer posição que lhes seja contrária é colocada sob a denominação “fascismo”.

Trata-se, claramente, de um discurso simplório, vazio, no qual são evocados mantras cujo propósito é tão somente causar um efeito emotivo.

Dessa maneira, com a evocação dos “trunfos” acima, os gestores de universidades têm pretendido assegurar não sua ‘liberdade’, mas sua ‘licenciosidade’. Faço essa distinção a partir de John Locke, o qual, no seu “Segundo Tratado sobre o Governo civil”, afirma: “a liberdade não é como nos dizem: licença para qualquer um fazer o que bem lhe apraz – porquanto quem estaria livre, se o capricho de qualquer outra pessoa pudesse dominá-lo?”

Portanto, à luz dessa distinção podemos observar que nossas universidades (que até a eleição do presidente Bolsonaro não tinham enfrentado oposição alguma) subitamente passaram a recorrer, desesperadamente, às ideias de “autonomia” e “liberdade” com o propósito seja de conter o avanço da diversidade, seja de sustentar de maneira ainda mais explícita sua agenda. Essa talvez seja sua ‘ultima ratio regum’ para tentar impedir a real diversidade (e liberdade), a qual está, contudo (felizmente), crescendo dentro de nossos Campi (algo observável no aumento do número de estudantes liberais e conservadores, mesmo nas “humanidades”). Mas o ponto levantado pela distinção proposta por Locke nos mostra precisamente em que medida nossas universidades são, ainda, uma ameaça à liberdade (como expus aqui: https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/11853/como-as-universidades-se-tornaram-uma-ameaca-ao-bem-estar-publico).

Dado nelas viger a ‘licenciosidade’, o que temos, então, é a defesa de posições fundadas nos caprichos pessoais de alguns, os quais, aliás, por décadas alastraram-se sequiosamente dentro de nossas universidades, inicialmente nas ‘humanidades’, mas posteriormente fazendo metástase e avançando por outros departamentos até, finalmente, chegarem à administração de nossas reitorias, sindicatos, centros acadêmicos, etc (não causa espanto, portanto, que a maioria de nossos gestores ou é filiada a partidos de esquerda ou os apoia declaradamente). Nesse sentido, ao promoverem a ‘licenciosidade’, nossos gestores, professores e estudantes incorrem no problema que Locke já havia percebido, a saber, o problema da tirania de alguns sobre os demais (quem estaria livre se o capricho de qualquer outra pessoa pudesse dominá-lo?”).

Dessa maneira, quando falamos em “autonomia universitária” e “liberdade de cátedra” temos em mente que a universidade deveria estar imersa na busca pela verdade (e o consequente avanço do conhecimento), o que envolveria ela estar focada também no desenvolvimento das capacidades cognitivas (e morais) dos estudantes, especialmente em seu aperfeiçoamento mediante o estudo. Não à toa as universidades mais antigas do mundo tinham como lemas, por exemplo, “Dominus Illuminatio Mea” (Universidade de Oxford), “Alma Mater Studiorum” (Universidade de Bolonha). Originalmente elas estavam intituladas para a verdade, para a busca pelo conhecimento em suas diversas formas, o que assegurou, inclusive, nosso progresso material e “espiritual”, progresso hoje surpreendentemente ameaçado pelas nossas universidades mesmas.

Assim, somente quando visando ao seu propósito originário, qual seja, a busca pela “iluminação mediante o conhecimento”, faz sentido falarmos em “autonomia universitária” e em “liberdade de cátedra”. No atual estado de coisas, evocar essas ideias é disfarçar sob elas a ‘licenciosidade’ da qual nos falava Locke. Além disso, uma instituição que ignora a distinção entre ‘liberdade’ e ‘licenciosidade’ muito provavelmente irá fomentar a tirania de alguns sobre os demais, algo evidenciado especialmente nos últimos dois anos, ao longo dos quais testemunhamos, desde dentro de nossas universidades, diversas agressões à liberdade individual, seja à liberdade de expressão seja à liberdade em suas outras formas. Ou seja, nossas universidades têm sido reiteradamente “violentadas” por uma minoria que as tem instrumentalizado não com vistas à verdade, à busca pelo conhecimento, mas para a implantação de ideias hostis aos pilares civilizacionais e à universidade mesma.

Em suma, os gestores universitários, em sua maioria, estão mais comprometidos com sua ideologia abjeta do que com a busca pela verdade e com a prosperidade, material e espiritual.

Assim, um dos pilares civilizacionais ameaçados pelas nossas universidades é justamente a liberdade, a qual segue sendo assaltada sordidamente, inclusive com apoio institucional (como exponho no artigo acima referido, sobre a ‘rejeição seletiva da intolerância’). Observem que nossas universidades (bem como sindicatos, centros acadêmicos, etc) têm anunciado, por exemplo, que serão “resistência” ao governo federal, independentemente de quais sejam suas políticas, de quão eficientes e benéficas elas sejam. Isso significa dizer que persistirão em sua luta contra o “fascismo”, contra o “neoliberalismo”, etc. Ou seja, sob o pretexto de lutar contra inimigos imaginários criados por elas mesmas, nossas universidades seguirão resolutamente sua batalha contra os valores e instituições que assentaram as bases da civilização ocidental e de nossas benesses (materiais e “espirituais”/morais), o que inclui, também, insisto, a liberdade. Portanto, precisamos ter em mente que devemos, juntamente com o governo, “resistir” de forma enérgica diante dos avanços bárbaros de nossas universidades. E devemos fazê-lo visando à proteção de valores dentre os quais o de liberdade.

Ou resistimos ou nossas universidades seguirão sendo instrumentalizadas para a defesa de ideias ineficientes, sem espaço para a real diversidade e para a liberdade, isto é, para a defesa de ideias que, se implementadas, serão causa de prosperidade em nossas universidades em específico e, consequentemente, na sociedade civil de uma maneira mais abrangente. Colocado em outros termos, precisamos, sobretudo o governo, agir vigorosa e virtuosamente no fomento da “liberdade” para, assim, protegê-la da “licenciosidade acadêmica” que tem se espraiado pelas nossas universidades e danificado gravemente a sociedade civil.

Carlos Adriano Ferraz é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). É professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

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CULTURA


1984 ou 2021? A história de George Orwell é mais atual do que nunca
(da Redação)


Talvez seja o ano de 1984, é difícil saber, mas nunca se foi tão livre. Não existem mais leis, mas claro que, se você pensar, falar ou agir contra o Partido poderá ser punido. Tudo é controlado, o que se veste, o que se come, e através das teletelas todas as casas estão seguras. Afinal, o Grande Irmão está sempre vigilante para que os desvios de comportamento não comprometam uma sociedade tão perfeita. Amor, Verdade, Fartura e Paz, essas são as virtudes necessárias, e sempre alguém estará no controle. Bem-vindos a 1984.

A Faro Editorial lança este mês, pelo selo Avis Rara, o clássico, “1984” de George Orwell. Uma das distopias mais lidas em todo mundo, a história nos leva para um mundo controlado pelo Grande Irmão e o Partido, num misto de realidade e ilusão, apresentando uma alegoria sobre poder. Essa edição possui uma marca – não minimizar as decepções do autor nas experiências com ideologias e lideranças que se revelaram perversas e autoritárias.

Winston Smith é mais um membro do Partido que faz a máquina funcionar. Sendo parte do Ministério da Verdade, sua função é justamente mentir. Ele já não tem certeza se está mesmo em 1984, afinal, são tantas mudanças no passado, que fica impossível medir o presente e prever o futuro. Tudo isso estava alinhado, não fosse o pensamento-crime que rondava sua mente: O Grande Irmão mente!!!

O que mais se combate nessa nova sociedade é justamente a dúvida, o questionamento, e Winston sabe que ele poderá virar uma despessoa a qualquer momento, mas o desejo de saber a verdade, de ter provas, é mais forte, e ele está disposto a pagar esse preço, custe o que custar.

Uma das distopias mais famosas do mundo, com uma alegoria sobre o socialismo utópico, as relações de poder e o controle do pensamento. Um romance atemporal, visceral, muitas vezes cruel, mas necessário a todo leitor.

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PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO!

(É!!... Ele voltou! 😎👌 Seja bem vindo de volta, grande mestre! 💣💥 Vamos fazer esses comunistas sem-vergonhas se esconderem debaixo da cama!)

(31/07/2021)

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OPINIÃO DO AUTOR

Firmeza de verdade
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
2 de Agosto de 2021

Um pequeno comentário hoje, pra não deixar passar. Assunto que não dá pra ignorar nesta semana: as ruas do Brasil absolutamente lotadas de gente pedindo o voto impresso e auditável. As pessoas tiveram que chegar ao cúmulo (porque sim, é o cúmulo do cúmulo) de ter que ir às ruas exigir um direito fundamental delas protegido e regido pela própria CF: a verdade. Sim meus amigos e leitores, as pessoas estão querendo apenas saber a verdade dos fatos. "Lá garantia soy yo" já morreu e perdeu as vestes, senhor Borroso! Vamos refletir um momento sobre isso.

Essa Segunda-feira, o comentarista Paulo Figueiredo fez um comentário muito pertinente no Radar da Mídia, quadro noturno do Terça Livre nas noites desse dia: "o voto impresso não deve apenas ser uma pauta de direita". E a razão dessa afirmação estar correta é muito simples: toda e qualquer pessoa minimamente decente e honesta deveria se pautar pela verdade. Desconfie de qualquer pessoa que seja avessa a mais transparência, seja da direita, da esquerda ou do... centrão. Lição batida, mas sempre necessária do professor Olavo de Carvalho: não existe essa de ser moderado quando se defende a verdade. "Moderação na defesa da verdade é serviço prestado à mentira", diz o filósofo com a sua costumeira razão.

Mas defender a verdade vai além dessa frase: o cidadão, principalmente o cidadão que se diz CRISTÃO, tem que saber onde está a verdade, sua natureza. Cristo nos responde com veemência em João 14:6: "EU SOU o caminho, A VERDADE e a vida". Ele não somente nos responde sobre a verdade, como também nos diz a natureza da mentira, em João 8:44, se dirigindo aos fariseus: "Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira."

Substituindo na frase de Olavo de Carvalho, temos que: moderação na defesa de CRISTO é serviço prestado ao DIABO. Estão percebendo a seriedade dessa questão? É muito séria. E pode custar a sua alma se você não se apegar à verdade com todo teu ser, porque todos nós sabemos o que diz em João 8:32, versículo bíblico que o próprio presidente Bolsonaro gosta de mencionar. E eu não preciso especificar o conteúdo dele pra ninguém, mas obviamente fala de ser livre, algo que todo mundo concorda ser bom e justo.

Outro dia desses, num grupo de Telegram que faço parte, foi questionado como que certas pessoas que antes tinham ideias que pareciam tão certas, de repente se desvirtuam, e eu me propus a responder a questão. Disse o seguinte, uma visão pessoal que eu tenho: "As pessoas quando estão apegadas à busca pela verdade de forma resoluta estão sempre num caminho bom. A partir do ponto em que a pessoa se contamina com soberba e orgulho sobre as próprias ideias, ela se esquece de que essas ideias não são dela, mas de uma Força Superior que a inspirou, e então ela se desvia. Tenho notado isso em diversas pessoas ao longo desses anos."

Disse isto, porque foi o próprio Lúcifer que, apegado à sua soberba e orgulho desmedidos, foi expulso do Céu. Percebam que não se pode haver desvios e nem suavizações quando se sabe que algo é verdade. Você tem que ir até as últimas consequências. Pe. Sertillanges nos ensina em "A Vida Intelectual":


"Aqui não se trata mais de provar sua habilidade, de fazer suas faculdades brilharem, como se fossem uma jóia; o que se quer é comunicar-se com a origem da luz e da vida; esse centro é abordado em sua unidade, tal qual ele é; é adorado, e renunciamos ao que se lhe opõe para que sua glória nos inunde."


Em "O Idiota", romance de Dostoiévski, o protagonista, que acaba de sair de um tratamento contra a epilepsia, várias vezes aposta na boa vontade de seu grande amor e das pessoas que a circundam. Esses acabam se aproveitando da exagerada bondade e abertura de nosso herói para se aproveitarem dele; aquela por sua vez faz que o ama, depois se decide pelo concorrente, depois volta para torturá-lo, e por fim, nosso herói acaba sofrendo uma nova crise epiléptica, se colocando novamente dentro de sua bolha. Se há algo a se aprender de Míchkin, é a lição mágica: "o bonzinho sempre se... lasca".

Isto posto, se todos estão de acordo em continuar na batalha pelo voto impresso para que a verdade do que acontece naquelas maquininhas nos transborde e nos ilumine, não aceitem qualquer tipo de concessão! Não sejam bonzinhos, dóceis, achando que os inimigos da transparência (que tem muito a esconder) vão lhes dar livremente o que querem apenas indo às ruas. Neste momento, quando se fez manifestar a vontade de um povo, a firmeza de atitude tem que mostrar uma determinada determinação em mudar. Caso contrário, a ida às ruas estará apenas prestando um serviço de moderação entre luz e trevas, e sobre isso, acabamos de discutir e concluir: ou você está se comunicando com a origem da vida e da luz, ou você ainda não está pronto para renunciar à escuridão das trevas que lhe opõe.

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HUMOR

(02/08/2021)



"Charge de hoje." (@PS_Jindelt_60)
(02/08/2021)



"FH Seboso e a "terceira via" cheia de assaduras..." (@SalConservador)
(01/08/2021)



"Enquanto isso nas manifestações..." (@SalConservador)
(02/08/2021)

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RECOMENDAÇÃO DE FILME:



Aqui está um filme que você não pode deixar de assistir: Cortina de Fumaça, a nova produção da Brasil Paralelo. O filme versa sobre as razões do interesse que certas pessoas e instituições tem por trás da pauta do meio-ambiente e da exploração da imagem da Amazônia. Não deixe de ver! Aproveite e assine HOJE o plano Patriota da Brasil Paralelo por 10 reais mensais e assista este filme em três partes, com cenas estendidas. Boa sessão!


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LEITURA RECOMENDADA

Citei a leitura em meu artigo aqui no site, e agora recomendo diante de vocês o referido livro. Trata-se de uma leitura maravilhosa e que pode mudar a sua vida. Embora o nome do livro remeta à pessoas que queiram levar de fato uma vida nos estudos e na educação de si mesmo (e por isso é fundamental para mim), o texto do Pe. Sertillanges é tão inspirado que ele vai encantar mesmo a pessoa de vida mais simples, e que queira entender melhor o pensamento regado a princípios, moral cristã, a importância fundamental que é se voltar para os elementos artísticos e culturais elevados de seu país para a criação ou perpetuação da identidade nacional, e sobretudo, a busca incessante e apaixonada pela verdade das coisas. Na minha humilde opinião, todas as pessoas deveriam se dedicar à leitura deste texto extraordinário e que, numa opinião pessoal, foi verdadeiramente inspirado por Deus desde o princípio. Vocês vão perceber pelo prefácio do professor Olavo de Carvalho o quão consternante é a situação cultural atual do nosso país cujo vocabulário somente da língua portuguesa não me permite abarcar todos os sentimentos de tristeza que me acometem.

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