Edição II (Revista Terça Livre 91, Revista A Verdade 31, opinião e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Terça Livre, da qual sou assinante, com autorização pública dos próprios autores da revista digital. Nenhum texto aqui pertence a mim, todos são de autoria dos citados abaixo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.




CULTURAL

A Páscoa e a Google
(por Robson Oliveira)

Após 40 dias de penitência e frugalidade, os cristãos comemoram a Páscoa de Jesus Cristo por 50 dias, até a Solenidade de Pentecostes. E os primeiros 8 dias são especiais: é chamada Oitava de Páscoa e se comemora como se fosse um só dia, um único Grande Dia de Festa. E é assim, pois para os cristãos, esta data é “A” data. É “A” festa de sua fé. É o dia em que Cristo Jesus venceu a morte e o pecado, trazendo aos homens o acesso à vida divina, à vida eterna. “Bem, alguém pode dizer, isso é lá com os cristãos e com aqueles que creem nas palavras e nos inúmeros milagres de Jesus”. É verdade, assim é também com os crentes do budismo e do taoísmo... ou do judaísmo. Cada fiel, ainda que creia ser sua fé a verdadeira, tem o dever de respeitar a fé alheia, na medida em que não se pode obrigar ninguém a crer. Neste sentido, é salutar a prática da Google de comemorar as festas das crenças, enfeitando seu site principal de buscas com detalhes que lembrem tais festas. Ocorre que, para os membros desta empresa, o cristianismo parece não merecer igual tratamento.

No último domingo, enquanto 1/3 da população mundial comemorava a Ressurreição de Jesus, a página oficial da Google trazia nenhum detalhe comemorativo, nenhuma marca distintiva. Parecia que era um dia comum, um dia sem importância, apesar de significar momento especial para mais de 2 bilhões de pessoas. Para marcar o ano novo chinês, ou as datas especiais do judaísmo ou de religiões orientais, a Google destacou os elementos específicos de tais crenças, mas ao cristianismo, pelo menos em 2021, nenhum destaque mereceu. O que esta prática significa? O que tal atitude pode apontar?

O homem incauto pode imaginar ser tudo isso mera coincidência. Um ato de esquecimento... Tolice! Estamos a falar de uma multinacional, para alguns, “a” multinacional dos tempos hodiernos. Neste nível de poder e influência, não há espaço para coincidências. O que está em jogo é o que se costumou denominar “cristofobia”. Quer dizer, a prática mais ou menos explícita de purgar os elementos cristãos da vida pública e – se possível for – também da vida privada. O que parece laicismo é, na verdade, cristofobia militante e organizada. Pois não se perseguem crenças orientais. Nem o judaísmo é perseguido com o mesmo ímpeto e virulência. Mas ao cristianismo resta o escárnio, a perseguição e a violência. Afinal, o silêncio das grandes mídias com relação às perseguições impostas aos cristãos no Oriente continua retumbante. 

O que não está claro é que laicismo e laicidade são conceitos diferentes. Não obrigar a fé a alguém (laicidade) não é o mesmo que proibir fé pública de modo geral ou de crenças específicas (laicismo). Antes, o caráter não confessional do Estado impõe aos membros não religiosos que permitam aos religiosos defenderem suas causas e seus temas, inclusive em seus próprios termos e valores. E este direito não foi reconhecido por qualquer político cristão, em favor de sua fé secreta. Foi Jürgen Habermas, ateu confesso, que o disse:

"A neutralidade ideológica do poder do Estado que garante as mesmas liberdades éticas a todos os cidadãos é incompatível com a generalização política de uma visão do mundo secularizada. Em seu papel de cidadãos do Estado, os cidadãos secularizados não podem nem contestar em princípio o potencial de verdade das visões religiosas do mundo, nem negar aos concidadãos religiosos o direito de contribuir para os debates públicos servindo-se de uma linguagem religiosa." (HABERMAS, Jürgen; RATZINGER, Joseph. Dialética da secularização: sobre razão e religião. Aparecida: Ideias e Letras, 2007, p. 57).

Portanto, apenas em nome do laicismo, em nome de uma neutralidade religiosa muito imprecisa e corrompida, pode-se tentar calar um grupo religioso ou proibi-lo de se expressar segundo seus próprios princípios e valores, desde que respeitada a lei natural, evidentemente. 

O silêncio da Google na Páscoa de 2021 constitui mais um passo na perseguição ao Cristo: ontem como hoje tentam calá-lo; tentam tornar surda sua voz. Ontem como hoje pretendem matar sua influência sobre o povo. Mas como no passado, a tentativa é vã. Pois a força que empurra o cristianismo não é uma força capaz de ser ocultada, muito menos sufocada. Antes, é na perseguição que o cristianismo cresce; na injustiça é que cresce como pão fermentado. 

Que os cristãos aprendam, com mais este episódio, que a sua fé ou tem consequências em sua vida prática, ou sofrerão sob ações injustas e violentas. Que aprendamos a amar o inimigo, mas também a ser espertos como as serpentes. Que esta Páscoa nos ensine a não esperar mudanças a partir das ferramentas do século. Que aprendemos definitivamente a esperar o refúgio e descanso, apenas d’Aquele que vê e pode recompensar o interior dos corações. Se ainda nos ocupamos da vida pública e da renovação política do país não é por acreditarmos que dela advenha finalmente a felicidade humana, mas para minorar o sofrimento dos mais frágeis, que agonizam e podem sentir-se desesperançados da bondade de Deus, em razão da crueldade e da ganância de ladrões inescrupulosos. Diante da Cruz de Cristo, contudo, um brado ingente brota do fundo da alma, calando o desespero e oferendo um futuro ao homem sofredor:

Cristo Ressuscitou. Aleluia! Ressuscitou verdadeiramente. Aleluia!

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Ficção e realidade
(por Letícia Dornelles)

Sou escritora, jornalista, dramaturga, novelista, membro da Academia de Artes e Letras de Goiás, membro da Academia de Artes do Rio Grande do Sul, presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa e membro titular do Conselho Nacional de Políticas Culturais. Vivo a Cultura em diversas nuances ao longo de minha jornada profissional. Há 2 anos, atuo como gestora pública. 

Gosto de falar. Às vezes, falo pela boca de personagens. Crio emoções e relações humanas, crio filhos que não são meus, faço casais se conhecerem, se amarem, viverem felizes até que a próxima novela os separe e então conheçam novos pares. Talvez sejam inimigos na próxima trama. 

Nos diálogos, mando recados, crio bordões, gero empatia, faço chorar, instigo ranços, dou risada junto com as frases bem-humoradas que, no dia seguinte, alguém que assistiu na TV vai repetir na praia, no metrô, na conversa informal.  

Trama boa é a que sabe dosar o drama e a leveza. A que tem conflitos interessantes. Família de margarina, perfeitinha demais, não gera interesse. Ninguém mais acredita na felicidade do Instagram. As pessoas sabem que pagando bem até o amor verdadeiro se compra. Nelson Rodrigues ensinou. Trama boa tem personagens tão reais que parecem algum conhecido nosso. Como se o público olhasse pelo buraco da fechadura das casas alheias e acompanhasse uma vida real e não uma vida imaginada por algum novelista. 

Disse Mark Twain que a diferença entre a verdade e a ficção é que a ficção faz mais sentido. Sou obrigada a concordar, quando vejo o mundo estimulando, por exemplo, a “cultura de cancelamento”, na qual algum suposto dono da verdade cancela pessoas apenas porque pensam diferente. O cancelador é o juiz da sociedade. Cancelar é quase impedir de existir. Negar a voz. Negar ouvir. Negar um olhar. Negar. 

Qual o sentido disso? O que ganha a sociedade com separatismo, intolerância e tantos donos da verdade sem o mínimo de conhecimento do que é Justiça? Quando a balança pende apenas para um lado? São estes os justos e juristas informais modernos? Que sacramentam sentenças sem que os “réus” sejam ouvidos? Sem que os comuns e diferentes sejam respeitados? Sem que que todos possam igualmente se expressar? Que seres extraordinários e iluminados são esses que menosprezam o que não está na sua bolha? Gente que desconhece que a vida real não é uma linha reta: é uma montanha russa. Uma estrada cheia de curvas, ladeiras, rotas à beira do despenhadeiro. E que precisamos seguir em frente mesmo assim. Com a cara e a coragem. 

Os verdadeiros negacionistas são esses canceladores absurdos e sem humanidade. Ditadores de costumes e regras. Porque só conhecem a negação. Jamais a compreensão, a empatia, a humanidade, o respeito ao próximo. Não conhecem a luz divina da Justiça que deve ser imparcial e ética. Que deve ouvir, buscar compreender, encontrar motivos, se colocar no lugar do outro, ser tolerante com a realidade que o outro vive. Sair da bolha. Deixar de olhar apenas o próprio umbigo para olhar nos olhos de quem cruza o seu caminho. Ter compaixão até pelo ignorante. Quem sabe até isso signifique ter compaixão por si mesmo. Porque ignorante nem sempre é o acusado, mas sim, o acusador. 

Aliás, “cultura” do cancelamento? Sério que chamam de cultura um ato tão incivilizado? Tão ignorante? É, Mark Twain, a realidade não faz sentido. Vamos morar na fantasia. Há mais Justiça na fantasia, onde o bem vence o mal, e o final é sempre feliz. 

A fantasia é tantas vezes óbvia, que mal inicia o filme e já sabemos o final. Mesmo com as reviravoltas dos roteiros. Somos craques em narrativas. Crescemos diante da TV. Já a vida real é uma incógnita cheia de reticências e pausas dramáticas... Pausas. A ideia da pausa dramática é fazer suspense e deixar o público imaginar o que vem em seguida. Pausas. Dramas. Pandemias. Que pausa dramática longa essa que o mundo está vivendo... 

Que novelista é esse que nos colocou nessa pausa dramática e dolorosa por tanto tempo? Prefiro a fantasia. A verdade anda muito mal escrita. 

Meu ex-chefe Boni me ensinou que, como escritores, devemos ser entendidos desde o porteiro até o presidente da República. Para todos sentirem interesse pela história que vamos contar. Levar a mensagem e o produto não apenas às elites entediadas em seus sofás de luxo, mas também falar ao coração do povo mais humilde. Ter nessas duas pontas da sociedade o mesmo sentimento: o que vai acontecer amanhã? 

Como gestora, eu observo a sociedade não para traduzi-la em dramaturgia, mas para ouvir os seus anseios. A sociedade não quer apenas palavras bonitas, frases feitas, ou fotos pomposas. Quer ação. Quer projetos que tornem sua vida melhor. Quer ser incluída. Quer lugar de fala, mas também assento à mesa onde até pouco tempo só a elite tinha espaço. 

Sempre que encontro outros gestores públicos, autoridades com poder de mudar a vida de milhões de brasileiros, peço: sejam novelistas desse país e escrevam histórias honradas. Para que a realidade faça sentido e que não precisemos nos esconder na fantasia. Não vamos desperdiçar essa oportunidade que não sabemos quando se repetirá.

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Operação Caridade
(por Leônidas Pellegrini)

Era quinta-feira da Semana Santa quando o prefeito baixou um novo decreto proibindo qualquer entidade ou pessoa física de distribuir comida, roupa ou qualquer tipo de bem material para moradores de rua. Até moedinhas de esmola estavam proibidas. Segundo o decreto, toda e qualquer distribuição do gênero deveria ser feita pela recém-criada Secretaria Assistência e Justiça Social, que ficaria responsável pela entrega de kits contendo uma bisnaga de álcool em gel, uma caixinha de máscaras de três camadas e dois saquinhos de uma pasta nutricional feita a partir dos alimentos descartados pelo Centro Municipal de Alimentos e Insumos Agrícolas aos oficialmente denominados “cidadãos em situação de vulnerabilidade social”. Todos aqueles que fossem pegos em flagrante delito de caridade não oficial seriam levados sob custódia e poderiam sofrer penas que variavam do pagamento de pesadas multas ao confisco de veículos ou imóveis.

Para auxiliar o prefeito em seu caridoso decreto, foi criada uma força-tarefa especial com os membros mais leais e fisicamente mais aptos da Guarda Municipal. Divididos em esquadrões de cinco membros, deveriam patrulhar a cidade em busca dos contraventores. Foi confeccionado para eles um uniforme especial, pessoalmente desenhado pelo prefeito: todo preto, com um capacete especial com viseira que propositalmente os deixava parecidos com a última versão do Robocop. Na lateral esquerda da máscara facial e no peito, o uniforme tinha, além do emblema da prefeitura, o desenho de um punho cerrado prateado, como um soco, e abaixo dele a inscrição OPERAÇÃO CARIDADE. Todos eram munidos de um cassetete, uma pistola, um fuzil e um escudo que também trazia o punho e a inscrição. Eram o orgulho do prefeito aqueles rapazes. 

Na sexta-feira que havia deixado de ser Santa por outro decreto municipal, começou a operação. Além das patrulhas, por toda a cidade foram espalhados cartazes e outdoors com fotos do prefeito e seus rapazes, todos com o novo uniforme e fazendo o gesto do punho cerrado, com o telefone do disque-denúncia da prefeitura, que também pagou pela mesma publicidade em todas as redes sociais. Os esquadrões da caridade prenderam esmoleres e entidades filantrópicas por toda a cidade. Marmitex quentinhas, pacotes de bolachas, caixas de bombons, ovos de Páscoa e brinquedos eram  arrebentados pelos caridosos cacetetes do esquadrões; roupas e cobertas eram recolhidas para incineração; padres, freiras e pastores eram levados presos sob chutes, socos e cacetadas; empresários denunciados por suas participações nos esquemas de caridade acordaram no domingo da Páscoa com os bandos do prefeito arrombando suas casas, que foram desapropriadas, assim como suas empresas, e levados algemados com suas famílias, para nunca mais serem vistos; também foram fechadas e desapropriadas diversas igrejas e centros espíritas. Nos principais veículos de mídia, circulavam fotos dos agentes da Secretaria de Assistência e Justiça Social distribuindo os kits oficiais da prefeitura para atores cuidadosamente fantasiados de mendigos. Fotos e vídeos das prisões e pancadarias foram publicados por internautas nas redes sociais, mas rapidamente classificados como conteúdo falso pelas agências de checagem e retirados do ar. Pouco tempo depois, algumas das fotos seriam publicadas por portais em matérias que noticiavam a ação heróica dos agentes da Operação Caridade contra fanáticos religiosos tentando envenenar os cidadãos de rua. 

Na segunda-feira, com o estrondoso sucesso da operação, o prefeito convocou uma coletiva de imprensa para anunciar um novo decreto. No centro de um palco, ele vinha uniformizado como seus rapazes, que atrás dele se posicionavam formando um delta, todos orgulhosamente exibindo seus fuzis. Ele iria anunciar, com sua voz macia mas firme e sua fala tranquila e cuidadosamente cadenciada, que para proteger os cidadãos em situação de vulnerabilidade social de mais ações de grupos extremistas como os que haviam tentado envenená-los, todas aquelas pessoas seriam recolhidas a Centros Municipais de Tratamento e Proteção Social aos Desamparados. Naquele mesmo momento hotéis e motéis estavam sendo desapropriados para a implementação do ousado projeto, que seria uma dupla vitória para a cidade: iria reduzir o campo de ação dos fanáticos extremistas e resolveria a situação cada vez pior dos moradores de rua, que receberiam oportunidades de trabalho, pois nos CMTPSDs receberiam treinamento e trabalhariam em diversas funções para manterem sua permanência por tempo indeterminado. Um dos ofícios seria a confecção de mais uniformes da Guarda Municipal, cujo efetivo seria ampliado em 100%, inclusive com um edital especial para novos membros dos Esquadrões Especiais da Caridade. 

Tudo isso seria anunciado pelo prefeito, não fosse ele ter tirado o capacete para seu pronunciamento. Foi naquele exato instante que um dos fuzis foi apontado para sua nuca.



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REVISTA "A VERDADE" - Ed. 31, de 05/04/2021
(Uma publicação digital semanal do Jornal da Cidade Online)

EDUCAÇÃO

Eu defendo a educação
(por Lis Macedo)

A educação é serviço essencial, certo? Bom, pelo menos foi isso que nos falaram quando tivemos o Governo Federal se vendo forçado a organizar as contas públicas e a investir na educação básica, cortando gastos do ensino superior. Essa também é uma frase daqueles que defendem melhores condições de trabalho e salários para professores. Afinal, são profissionais que formam outros profissionais. Função extremamente essencial para nossa sociedade. Reconheço isso. De coração!

O problema é quando essa “essencialidade” não é considerada em meio à pandemia da COVID-19. E, mesmo com todos os dados e informações que já temos sobre a doença, (pré)tratamentos que têm se mostrado eficientes, cuidados que são necessários de fato e hoje já são mais conhecidos, e até mesmo vacinas sendo distribuídas, ainda que não seja em ampla escala. Sem falar que a pandemia tem dado uma ótima contribuição para expor o que é discurso barato e o que é defesa da educação, de verdade. Vou citar alguns exemplos.

O primeiro deles é com relação aos críticos do ensino online. Lembro quando o governo Bolsonaro falou a respeito de proposta desse método de ensino ser levado para regiões mais afastadas do país, para atender às pessoas que moram muito distantes das escolas, mas que, nem por isso, deveriam ficar sem acesso a um serviço tão essencial como a educação. Uma boa proposta, olhando para um ponto cego das políticas públicas educacionais do nosso país e visando sanar um problema que deixava alguns milhares de brasileiros sem o conhecimento básico, para terem mais autonomia em suas vidas e poderem sonhar com melhores condições de vida.

Entretanto, na época, os “defensores da educação” criticaram a medida e, como sempre, distorceram a proposta, como se o governo quisesse acabar com o ensino presencial, e alegaram que o ensino online não era eficiente. Bom, parece que o jogo virou bem rápido, não é mesmo?

Muitos dos professores que tiveram esse discurso no passado, hoje, defendem aguerridamente o ensino online e reconhecem que é um bom método e é eficiente. Alguns, inclusive, falam até que os professores estão precisando se dedicar mais. Bom, só nos resta achar que o discurso contra o ensino online era mera implicância com o Presidente Bolsonaro, ou que mentem, no presente, certos “professores” por mera conveniência de ficar em casa.

Outra questão interessante é sobre o homeschooling. Proposta de interesse de muitas famílias que desejam participar ativamente da formação curricular dos filhos de forma integral e que têm condições para isso. A proposta, que é criticada demais pelos defensores do ensino tradicional, com a alegação de que a escola é necessária, a criança precisa do convívio com outras crianças para uma formação saudável e desenvolvimento de habilidades sociais, sem falar no questionamento que fazem da capacidade dos pais de ministrar as disciplinas acadêmicas, hoje, tem sido a realidade das famílias brasileiras.

Há um ano, os pais estão sendo obrigados a participar ativamente da formação dos filhos. Inclusive, aqueles que não estão capacitados para isso. Longe de achar que esse tem sido o melhor dos mundos, tanto para as crianças quanto para os pais, mas a verdade é que os argumentos contra o homeschooling estão sendo destruídos em nossa frente todos os dias. Inclusive, fazendo com que alguns pais reflitam sobre esse cenário e, ainda que desejem manter os filhos nas escolas, passam a compreender a estupidez do Estado impedir a prática para aqueles com preparação e desejo de fazer o ensino domiciliar.

Não param as denúncias e reclamações de pais sobre professores os coagindo a não quererem o retorno das aulas presenciais. Num primeiro momento, muitos pais também tiveram medo, e não quiseram expor seus filhos ao risco da contaminação pelo Coronavírus, ainda que as crianças fossem o grupo de menor risco, sabida essa informação desde o início da pandemia. Entretanto, com um ano lidando com o problema, já ficou claro para a maioria o que é cuidado racional e lógico e o que é medo sem razão.

Se tem um lado bom nisso tudo é que a população comum está amadurecendo, participando do debate público, sendo arrastada para o meio da arena e, com isso, está se informando melhor e conseguindo ver com clareza quem defende de fato a educação, e quem defende qualquer outra coisa, menos um ensino de qualidade, eficiente e que ajude a formar brasileiros mais capacitados para lidar com a vida e seus riscos de viver.
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OPINIÃO DO AUTOR

O futuro está no passado
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
07 de Abril de 2021

Não sei quem foi que disse isso que vou dizer, eu fiquei com isso na cabeça mas não estou lembrado quem disse, mas enfim; uma vez eu ouvi alguém dizer que se percebemos que as pessoas estão indo para um caminho que não é bom, então é necessário voltar esse caminho e refazê-lo, não importando se, para isso, tivermos que voltar um ano, uma década, 50 anos, ou até mesmo 1 século inteiro.

A ideia faz sentido. Se a beleza não se encontra no presente, no atual momento que estamos, então é necessário que a busquemos onde ela está... onde a gente a deixou no tempo. No filme "A Fantástica Fábrica de Chocolate", Gene Wilder, que interpreta Willy Wonka, sai de sua clausura após muito tempo e começa a andar pelo tapete vermelho, mancando e com ar meio desesperançoso. Em um dado momento, percebemos que ele abandona sua bengala, e para não cair, vira uma cambalhota e o público que o está vendo vibra com o feito. Depois recebe as crianças e todos caminham felizes para dentro da fábrica, Wonka já com sua bengala de volta, fazendo o caminho por onde veio.

Claro que a coisa não passa de uma encenação do confeiteiro, mas a ideia é ótima para refletirmos. Onde foi que deixamos por último nossa bengala? Agora que estamos sem ela, temos algum plano para não se esborrachar no chão enquanto não a encontramos?

Sei que urge uma explicação de tal analogia. A quantas se encontra a cultura popular? Será que temos um excesso bastante incômodo de ideias birutas e lacração nela nos dias de hoje? Você sabe a resposta! No entanto, temos uma horda de pais e familiares que deixam seus filhos entregues às maiores perversidades atuais do mundo moderno, seja na TV ou na Internet, ou em qualquer tipo de mídia.

E eu nem preciso elencar a lista de perversidades ou entrar em maiores detalhes para constatar isso, dados todos os "cancelamentos" que recentemente vimos pela polícia moral militante do politicamente imbecil. Vou apenas dar aqui um exemplo absurdo de quem não é exemplo moral de nada, mas já foi melhor um dia: você sabia que se você assinar o serviço de streaming do Disney+ HOJE, não terá mais acesso a diversas animações clássicas da Disney nos perfis infantis? Sério, não estou brincando! Se você assinar esse serviço, sua criança não poderá assistir animações como Dumbo, Peter Pan, A Dama e o Vagabundo, Alladin, Mogli e outras que agora não me lembro. Por que? Se segura para não cair! Porque eles alegam que essas animações, tão celebradas, que fizeram um enorme sucesso quando foram lançadas e que encantaram e fizeram a cabeça de tantas pessoas (inclusive desse que vos fala) possuem "ideias erradas e inaceitáveis para os tempos de hoje"! Eu avisei que era bizarra e absurda a justificativa!

Não, você não está sonhando e nem dentro de um episódio de Além da Imaginação ou Black Mirror! É isso mesmo que você leu. Se isso não mostra a decadência intelectual de uma geração inteira que não consegue nem mesmo lidar mais com ideias opostas às suas ou entender metáforas, figuras de linguagem e outros conceitos, então meu amigo, estamos com um gigantesco problema nas mãos.

Eu vivenciei isso no âmbito religioso. Em toda minha vida, jamais havia ouvido falar de Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho ou qualquer outro doutor da Igreja Católica da qual sou membro. Muita gente que passava temas de educação religiosa para nós inclusive (isso eu fui perceber depois) achavam esses teóricos da igreja "medievais demais", com "ideias ultrapassadas". Ou seja, você distorce toda uma doutrina religiosa de uma igreja, chama os maiores especialistas dessa igreja de "ultrapassados" e tendo "ideias atrasadas", e coloca a sua visão distorcida e amalucada do que é essa igreja. Ou seja, ignorância virou sinônimo de autoridade. O poste mija no cachorro; a pipa empina o menino; a banana descasca o macaco. No Brasil de agora é assim: quanto mais uma pessoa desconhece um assunto, mais ela se sente no direito de opinar sobre ele. Virou regra. Não é de se admirar que tenhamos tido a campanha da fraternidade (assim, minúscula mesmo) mais fracassada, desastrosa e torpe que tivemos neste ano de 2021. Mas, como tudo um dia chega no limite, este foi o limite para reavaliarmos muitas coisas em nossa sociedade e em nossas instituições.

Chego então no ponto que queria chegar: pais e professores que tenham um pingo de bom-senso e discernimento: é preciso com que façamos um "cancelamento" muito bem feito da modernidade que vivemos e retornemos às tradições. Ensinem a seus filhos, suas crianças e jovens, aquilo que é clássico e reconhecido. Volte aos estudos de Educação Moral e Cívica, Educação Religiosa Clássica, ensino clássico (se necessário via homeschooling), assista filmes e produções que revelam a beleza do ser humano e evitem essas baboseiras da atualidade que nada acrescentam; leiam bons livros com os jovens. Façam com que retornem àquilo que é clássico, tradicional, e que temos certeza que funciona e que corresponde à realidade das coisas, e façam ouvidos moucos à polícia moral e ideológica que queima filmes e livros na fogueira doutrinária deles. É preciso recuperar essas coisas imediatamente para que possamos assim garantir um futuro melhor para nossos filhos e netos.

Por que voltar ao passado? Para vermos onde foi que deixamos escapar nossa bengala! Entrar novamente em contato com o nosso passado é uma maneira de estarmos olhando para o que originalmente foi, resgatar o belo que não está no mundo de hoje, trazer essa beleza para a modernidade e assim podermos seguir em frente com ela. Resgatamos assim nossa bengala perdida para seguimos em frente, desta vez no caminho certo.

Tudo que a modernidade diz que é "impróprio" para os jovens de hoje, eu estou assistindo ou lendo com minha filha. Um recente exemplo é a coleção de livros de Dr. Seuss; compositores clássicos como Bach, Beethoven e Mozart, ou personagens de seriados cômicos como o Chaves, ou de desenho como o gambá Pepe Le Pew. Posso garantir que nada disso escapará aos olhos e ouvidos atentos da minha menina, pois não quero que ela se transforme em mais uma louca neste hospício a céu aberto que o mundo se tornou.

A dica que dou a todos é bem fácil de seguir: se os grandes veículos de comunicação dizem que é ruim, então é bom. O que eles disserem que não presta, lhe fará bem. Inverta tudo que a imprensa tradicional lhe disser, e terá a verdade. Não falha nunca! Há conteúdo que é moderno e bom? Há, mas fora da grande imprensa, pelas mídias independentes. Eu vou indicar vários aqui neste meu endereço.

O professor Olavo de Carvalho nunca se cansa de destacar: os jovens e crianças de hoje são os trabalhadores e a classe política de daqui 15, 20 anos. Portanto, façamos tudo que esteja ao nosso alcance para que essa geração de pessoas não tenham o mesmo e triste destino que a geração "pátria educadora" teve. Sejamos responsáveis com a educação de nossos herdeiros, herdeiros deste mundo.

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HUMOR

(05/04/2021)

(06/04/2021)

(27/03/2021)

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LEITURA RECOMENDADA

Em comemoração à Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, a recomendação de hoje fica para um pacote de três volumes de quadrinhos... mas não são quadrinhos quaisquer! Conheça a Bíblia Kingstone, a adaptação gráfica do Livro Sagrado. Comprei e estou lendo, e cada vez mais impressionado com a qualidade. Essa é a dica desta edição. Compre e não se arrependerá:

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