Edição XXXVII (Terça Livre, Revista A Verdade 67, Revista Esmeril 26, Opinião e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista A Verdade, da qual sou assinante, e outras publicações de outras fontes à minha escolha. Nenhum texto aqui pertence a mim (exceto onde menciono), todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.
      


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TdL: Antes de começarmos: esta será a última edição do blog em 2021; farei uma pausa para descansar essas três próximas semanas de Dezembro e Janeiro, e na segunda semana de 2022 eu volto. Bom Natal, ótimo ano novo pra vocês, boas festas, que a semente de renovação do nascimento do menino Jesus esteja no coração e na alma de todos para que nosso país saia logo da enrascada em que está e que vai permanecer aí ainda por uns bons anos. Este ano da Igreja que passou foi dedicado à São José. Que a Sagrada Família seja um EXEMPLO para todas as famílias do Brasil e que a constância e a firmeza de São José e a lealdade da Virgem Maria possam ser um exemplo para todos e consolação para os aflitos.

"Eis me aqui, Senhor! Faça-se em mim segundo a Tua Palavra!" (Lc 1:38)

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ÍNDICE

REVISTA A VERDADE

    A universidade e a reeducação pela doutrinação (Carlos Adriano Ferraz)
    - As velhas novidades (Gustavo Victorino)

REVISTA ESMERIL

    - Positivismo e Sua Influência na Sociedade Moderna (Fernando Vaisman)
    - CHINOBYL | Entrevista com Rafael Fontana (Leônidas Pellegrini)
    - H. G. Wells: já não se fazem profetas como antigamente (Antonio Fernando Borges)

BRASIL SEM MEDO

    - Como a bonificação por volume favoreceu escândalos de corrupção como o Mensalão (Ronaldo da Silva Mota)

ALLAN DOS SANTOS

    - Democracia, funcionalismo público e o jornalismo (07/11/21)
    - Era uma vez um país… (11/12/21)

MEMÓRIA TERÇA LIVRE

    - Da caminhada e do valor das coisas... (Luis Vilar, Rev. TL ed. 6)
    - Nárnia e o mundo da narrativa (
Carlos Maltz, Rev. TL ed. 6)
    - Tirania e perdão (Tom Martins, Rev. TL ed. 6)

PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO

OPINIÃO DO AUTOR
    - 
Por que ler? Uma reflexão para o fim de ano

HUMOR 

LEITURA RECOMENDADA

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Boa leitura, e uma boa Terça Livre pra você!!

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👆 Com a palavra, Terça Livre!

 
Terça Livre jamais pode ser esquecido. Por essa razão, esta seção aqui buscará cobrir o buraco que ficou no meu blog após o fim da empresa, dando a vocês links e caminhos fáceis para saberem o que os seus ex-membros estão pensando e onde encontrá-los sempre e com facilidade.

ALLAN DOS SANTOS: Allandossantos.com || Gettr || Clouthub || Telegram || Bom Perfil || Clubhouse.

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ÍTALO LORENZON: Ligando os Pontos || Canal Reserva || Telegram || Gettr || Twitter || Instagram.

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CARLOS DIAS: Portal Factum || Expressão Brasil || YouTube || Twitter.

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KASSIO FREITAS: Telegram || Instagram || Twitter.


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JOSÉ CARLOS SEPÚLVEDA: YouTube || Ligando os Pontos || PHVox || Gettr || Twitter || Facebook.
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OPINIÃO



👆 A universidade e a reeducação pela doutrinação
(por Carlos Adriano Ferraz)


Diferentemente dos ‘campos de reeducação’ que a China vem usando para reeducar os muçulmanos uigures que vivem na região autônoma de Xinjiang (noroeste da China), ou, mesmo, da “reeducação pelo trabalho” utilizada também na China (de 1957 a 2013), bem como dos demais campos de reeducação utilizados em outros sistemas socialistas (Coreia do Norte, Vietnam, Romênia, etc), nas democracias ocidentais o sistema educacional como um todo se transformou em um imenso ‘campo de reeducação’ socialista. Mas de uma “reeducação pela doutrinação”. Portanto, mais sutil e, por muito tempo, subliminar (não à toa ela já ocorria durante o regime militar brasileiro).

Não obstante, apesar de estar atualmente sob suspeita e escrutínio, ela tem sido, ainda, assustadoramente mais eficiente do que as estratégias dos sistemas acima referidos: ela tem logrado fazer com que diversos jovens estudantes rejeitem as causas de sua própria prosperidade e bem-estar.

Dessa forma, em democracias constitucionais como a brasileira essa reeducação toma como ponto de partida um propósito aparentemente “bom”, qual seja, o desígnio transformador. Como nos diz o patrono de nosso fracasso educacional: “a transformação da educação não pode antecipar-se à transformação da sociedade, mas esta transformação necessita da educação”. Mas, antes de qualquer consideração, nos perguntemos: qual a razão de a ideia de “transformação” ser tão atraente?

Creio que podemos responder a essa pergunta da seguinte maneira, a partir de uma constatação indisputável: não vivemos em Utopia! Vivemos no mundo real, com seus problemas, muitos dos quais insolúveis. Por exemplo, a pobreza. Mas a pobreza é uma categoria relativa. Mesmo em sociedades ricas há pessoas vivendo em condições hoje definidas como de pobreza. Mas o ponto que cabe enfatizar é que essas pessoas estão, hoje, em melhores condições materiais (e, mesmo, “espirituais”) do que nobres que viviam em séculos passados: atualmente, mesmo os pobres (principalmente em democracias constitucionais liberais) têm acesso a vacinas, à medicina em geral, a alimentos variados (e saudáveis), a tratamento dentário, a diversos confortos da vida moderna (celulares, carros, televisores, dentre muitíssimos outros), etc. Certamente seu acesso a esses bens é mais restrito do que eles o são para os ricos de hoje. Mas o ponto é que, ainda que pobres pelos padrões atuais (e, claro, comparativamente aos ricos de hoje), elas estão em melhores condições do que ricos do passado. Por exemplo, poucas são as pessoas que ainda hoje mantêm um penico com fezes e urina sob a cama; hoje poucas são as pessoas que raramente tomam banho e que, quando o fazem, se servem da mesma água usada pelos demais; ter dentes estragados não é mais o padrão; não mais usamos folhas de plantas ao invés de papel higiênico; mulheres não precisam usar musgos como absorventes; se hoje alguns reclamam da medicina, lembrem que no passado a “sangria” era altamente praticada: a parte do corpo enferma era cortada para sangrar por um tempo. Com efeito, esses poucos exemplos apontam para condições que eram comuns em séculos passados, as quais são, hoje, incomuns (mesmo entre os pobres). São casos que já não constituem a regra, especialmente em sociedades liberais (observem que tais casos retornam mormente em países que adotam o socialismo – a planificação econômica -, como na Venezuela e, mais recentemente, na Argentina, as quais imergiram na barbárie a partir da adoção de princípios socialistas e da rejeição dos valores e instituições que asseguraram o progresso do ocidente, como propriedade privada, liberdade e economia de mercado).

Mas, em suma, sempre haverá pobreza no mundo. No entanto, devemos reconhecer sua relatividade. Não apenas isso, devemos reconhecer que há culturas, valores, instituições, etc, melhores: são justamente as que nos retiraram daquelas condições miseráveis que vigiam no passado.

Mas a questão é que, dada a inevitabilidade da pobreza (e do sofrimento em geral), as ideias “transformadoras” (“progressistas”) ganham força, pois elas apontam justamente para a pobreza, para o sofrimento, para as desigualdades, etc, e propõem que “transformemos” essa realidade pobre, sofrida e desigual. Propõem a eliminação da pobreza, o fim das diferenças de classe, etc. Ou seja: oferecem algo irreal e irrealizável. Eis seu encanto. Mas seu atrativo é justamente a razão de sua impossibilidade e fracasso. Elas nos prometem Utopia: “lugar que não existe”. E quando as pessoas querem o impossível, elas aceitam as mentiras. Em verdade, quem quer o impossível apenas se contenta com mentiras: não aceita a verdade.

Em virtude disso certas ideias se arraigaram parasitariamente em nosso sistema educacional como um todo, tendo sido engendradas especialmente em nossas universidades, mais especificamente nas ‘humanidades’ (se espraiando pelos outros Campi e, especialmente, pela administração universitária, que as tenta impor às demais áreas). Por essa razão, por décadas nossas universidades têm sido campos de reeducação (para a aceitação de ideias antiocidentais, antiliberais, etc). E isso mesmo em países fortemente liberais como os USA, o que é revelado por uma pesquisa de Mitchell Langbert (“Homogeneous: The Political Affiliations of Elite Liberal Arts College Faculty”) publicada em Abril/2018, na qual ele revela que a maioria (em alguns casos a totalidade) dos professores nas ‘humanidades’ das principais universidades dos USA são Democratas (de esquerda, pois), simpáticos a ideias socialistas. Aliás, em 39% dos departamentos de ‘humanidades’ das universidades pesquisadas simplesmente não havia Republicano algum em seus quadros docentes (tais departamentos eram, segundo o autor da pesquisa, “Republican free”). Nos outros 61% o número de Republicanos estava pouco acima de zero, de tal forma que “78.2% dos departamentos acadêmicos (...) tinham ou zero ou tão poucos que não fazia diferença alguma”. Os efeitos dessa hegemonia são mensuráveis na formação dos estudantes. A economista Amy Liu (Brookings Institution) entrevistou estudantes de 148 universidades estadunidenses e descobriu que a chance de formandos se declararem de esquerda é 32% maior do que a dos calouros. Ou seja, bastam alguns anos em um campo de reeducação socialista para que um estudante mediano se “converta” a ideias socialistas e comece a rejeitar as causas de sua riqueza e prosperidade (e a razão mesma de ele estar em uma universidade). Não apenas isso, em pouco tempo ele estará defendendo as notórias pautas da esquerda, como aborto, poliamor, ambientalismo, intervenção na economia, fim da liberdade religiosa, “multiculturalismo”, relativismo, niilismo, absoluta permissividade sexual, ações afirmativas (cotas, por exemplo), taxação sobre heranças e riquezas, banheiros transgêneros, acesso irrestrito (e “gratuito”) à universidade, etc. Sem falar no autovandalismo perpetrado especialmente por alunos nas ‘humanidades’, que muitas vezes se assemelham mais a figurantes de algum filme da franquia Mad Max (ou de séries como The Walking Dead) do que a sujeitos civilizados, os quais transformam nossos Campi em cenários deprimentes, degradantes e desumanos.

Mas essas pesquisas mostram, com dados, o que já sabíamos por experiência: Desde as ‘humanidades’ nossas universidades se transformaram em campos de reeducação socialista. A homogeneidade nas aulas, nos cursos, nas palestras, nos eventos, nas dissertações e teses, etc, concebidas nas ‘humanidades’ e alastradas para todo o corpus universitarium, se retroalimenta: criamos em nossas universidades um círculo vicioso do qual é, hoje, difícil sair. Nesse momento, por exemplo, em virtude da vitória do projeto de governo de Bolsonaro, estamos assistindo a uma reação truculenta da esquerda nas universidades, a partir de seus gestores, dos sindicatos, dos diretórios acadêmicos, etc. Desde o início da atual administração eles já se pronunciavam como “resistência”. Na verdade, durante o pleito já haviam se declarado a favor dos partidos de esquerda que então disputavam a eleição, instrumentalizando as universidades em defesa de uma agenda esquerdista contra um candidato (Jair Bolsonaro) que notoriamente se opunha a esse programa. Ou seja: os mesmos que defendem a universidade “pública” agem como se fossem seus donos.

Na verdade, uma rápida visita aos seus sites, jornais, etc, revelará manifestamente que a universidade é uma espécie de domínio autossustentável: ela tem “dono”. E são seus “donos”, dissimulada e contraditoriamente, aqueles que cinicamente defendem seu caráter “público”. Mas além de ter “dono” ela é autossustentável na medida em que não precisa de algo que lhe seja externo (exceto, é claro, do dinheiro dos pagadores de impostos). A universidade engendra sua própria realidade, uma realidade paralela. Isso explica a razão de nela termos a defesa de ideias indefensáveis e totalmente desvinculadas dos fatos e, mesmo, do bom senso e das demandas da sociedade civil. Há, na universidade, não apenas evasão de alunos: há uma evasão da realidade.

Com efeito, a reeducação passa, então, pelo neófito iniciado na universidade aprender todo o credo esquerdista e seus “dogmas” e “mandamentos”. Sua reeducação envolve a rejeição dos pilares civilizacionais, como as já referidas ideias de propriedade privada e economia de mercado. E não deixa de ser irônico os ver falarem (ao criticarem o avanço das ideias liberais e conservadoras) do “avanço do obscurantismo” quando, em verdade, eles são justamente aqueles que desejam nos reconduzir à barbárie mediante o colapso dos pilares da civilização ocidental. Basta observarmos que, sempre que implementadas, suas ideias são causa de miséria e dos mais diversos flagelos sociais.

E ainda assim eles seguem reeducando os estudantes nas universidades, defendendo, por exemplo, uma planificação e intervenção na economia, um sistema de cotas, uma separação radical entre universidade e mercado, uma universidade aberta a todos (independentemente das qualificações cognitivas do sujeito), o “multiculturalismo” (nobilitando, por exemplo, povos primitivos), o vitimismo, bem como demonizando a economia de mercado (que eles denominam, evocando uma figura fantasma, de “neoliberalismo”), a propriedade privada, o empreendedorismo, etc. Ou seja: a reeducação socialista significa, sim, uma “transformação”. Mas aqui transformação exprime não prosperidade, mas degradação.

Por fim, se o plano desse processo de reeducação socialista envolvesse ideias não apenas estúpidas, mas divertidas e pueris, seu dano seria provavelmente menor, como ocorre com teorias tolas e tantas outras tolices (às vezes usadas inclusive para se referir a uma suposta conspiração liberal nas universidades). Essas são apenas espetáculo circense. As ideias que nossos estudantes aprendem em sua reeducação socialista em nossas universidades, em contrapartida, não são apenas estúpidas e circenses: são nefastas e têm consequências desastrosas.

Carlos Adriano Ferraz é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). É professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

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👆 As velhas novidades
(por Gustavo Victorino)




Em tudo na vida o processo de renovação se acentua à medida em que os conceitos avançam em direção a novos tempos, ora para melhor, outras nem tanto. Na política brasileira o tempo parece ter uma velocidade própria e indiferente ao conceito de mudança. Castas políticas se formaram num passado não tão distante, algumas já atravessavam décadas de existência e em alguns raros casos, são até seculares. Desde as tradicionais e ricas famílias do centro da país, até o conhecido poder sucessório estabelecido nas regiões nordeste e norte, onde famílias e novidades na política raramente conseguiam avançar sobre os cargos ocupados por sobrenomes poderosos ou vínculos familiares indiretos. Isso ao longo de décadas criou um elo tão forte que mesmo o desejo de mudança não conseguia quebrar.

Avançando na segunda metade do século XX, o Brasil passou a abandonar lentamente os sobrenomes, mas não conseguiu se desvincular desses elos familiares, agora fortalecidos pelo oportunismo e pela busca dos privilégios do poder. Associar nomes a correntes familiares é tema complexo porque dele emerge a natural preocupação com a qualidade do político que daí emerge e o preconceito pode provocar inevitáveis julgamentos precipitados ou até conclusões injustas.

Ter sobrenome de político tradicional não é depreciativo, mas em contrário sensu não pode ser aval para qualquer cidadão que queira se apresentar como novidade política. E são essas novidades que a cada dia se mostram mais rasas, raras e preocupantes. Novos nomes surgem com discursos ou projetos batidos e exauridos na própria prática política onde o tempo ensinou às velhas raposas que o mais importante é dizer o que o eleitor quer ouvir, e não o que pretende ou pode fazer. Fatos isolados ou condutas tópicas viraram plataforma para oportunistas que não renovam a política e exercem apenas o discurso de mais do mesmo.

Essa carência na política brasileira oferece suporte a enganadores que contradizem seu próprio passado ou simplesmente acreditam que ele nunca será lembrado nas posições ambíguas que assumiu tentando agora se vender como novidade. Somos carentes de novas propostas e projetos consistentes. Nessa esteira fica evidente que na política brasileira ser jovem não significa novidade, bem como ser velho não significa estar ultrapassado. As propostas, os fatos e as condutas nos dizem isso diariamente.

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REVISTA ESMERIL - Ed. 26, de 28/11/2021 (Uma publicação cultural digital e mensal de Bruna Torlay. Assinar a revista


ENSAIO


👆 Positivismo e Sua Influência na Sociedade Moderna



(por Fernando Vaisman)



Não há dúvidas de que estudar Filosofia é um modo extraordinário de desenvolvimento intelectual. Nosso cérebro, como qualquer outro órgão, desenvolve-se através dos estímulos e, na Filosofia, encontramos um campo de reflexões quase ilimitado. 

No presente texto, entretanto, ao invés de explorar o profundo oceano reflexivo, pretendo tentar mostrar aos leitores onde a Filosofia afeta nosso cotidiano. Para isso, nada melhor do que analisarmos as correntes filosóficas pós-iluministas, já que, com esse corte analítico, é praticamente automática a conexão entre Filosofia, História, Política e Sociologia. Portanto, já vale deixar claro que estamos tratando de Filosofia, apenas e tão somente, sob um dos ângulos possíveis de análise, qual seja a perspectiva do Conhecimento, ou melhor, refletindo-se acerca do processo de conhecimento a que o ser humano está afeito. 

E, para tanto, decidi tecer algumas breves palavras acerca do Positivismo, corrente filosófica que nasceu na França no Século XIX e que influenciou sobremaneira a forma de pensar dos dias atuais. Inclusive, para fins desse texto, vou me permitir cometer uma quase heresia ao apresentar alguns conceitos baseados nos efeitos verificados na sociedade moderna. Tal expediente poderá ajudar as pessoas a terem uma correta consciência da corrente filosófica, recorrendo a elementos do mundo ao seu redor, não sendo necessárias grandes tergiversações. Isso porque o que pretendo, com a elaboração desse texto, é tornar os conceitos mais acessíveis àqueles que não demonstram muita familiaridade com o assunto e que, muitas vezes, veem na Filosofia algo muito distante de sua realidade. 

Pois bem. O Positivismo teve como seu criador o filósofo Augusto Comte. Contudo, para conseguirmos contextualizar a gênese dessa corrente filosófica, é necessário fazer uma pequena digressão histórica, de forma objetiva e resumida.

Não é segredo para ninguém que a Grécia Antiga é o berço da civilização ocidental. A bem da verdade, praticamente toda a civilização ocidental acaba tendo na Grécia o seu ponto de partida, embora, obviamente, haja influências pontuais de outras culturas, até mesmo pelo fato de tais culturas, de certa forma, terem influenciado a própria civilização grega. Assim, nitidamente, vemos influência da civilização egípcia, dos hebreus, dos persas e de tantos outros povos na nossa formação. A posteriori, quando a civilização grega, praticamente, deu espaço à civilização romana, outras intersecções moldaram a cultura ao longo do tempo, como o contato com os povos germânicos, africanos, anglo-saxões etc. 

Bom, voltando, então, ao período da Grécia Antiga, apesar de haver uma miríade quase infinita de filósofos e, consequentemente, de correntes filosóficas, fica relativamente fácil ver que, sob a perspectiva do Conhecimento, na Grécia, imperava um certo equilíbrio entre a racionalidade e a fé. Para os gregos, de um lado, era importante tentar entender determinado evento de acordo com a sua própria ocorrência física, caso ele, efetivamente, fosse materializável. Por outro, não se abandonava questões metafísicas que, aparentemente, estavam além da compreensão humana dentro dos critérios de verificabilidade. 

Vale dizer que a análise de um evento por meio dos fenômenos/padrões verificados em sua ocorrência física, normalmente, limitava-se ao que chamamos atualmente de Ciências Naturais, ou seja, os fenômenos da Natureza. E veja que a própria Filosofia, nos seus primórdios, se pegarmos Thales de Mileto, era uma ciência que se dedicava muito mais às Ciências Naturais do que a questões existenciais e de autoconhecimento. 

Naturalmente, foi-se incorporando ao pensamento grego questões alheias à ocorrência física de eventos naturais, como as questões existenciais, por exemplo. Não podemos esquecer que, embora houvesse na Grécia Antiga uma exaltação da racionalidade humana, da mesma forma, havia o culto a divindades e a propagação da ideia de que existiam valores muito maiores do que o próprio ser humano. 

Essa forma de pensar teve eco durante toda a antiguidade, sendo, obviamente, questionada por outras formas de pensar, mas fazendo-se dominante até a inauguração da Idade Média, quando, aí sim, houve uma real revolução na maneira em que o ser humano enxergava o mundo. 

Se pegarmos o pensamento dominante na Idade Média – e aqui não nos interessa investigar as causas que lhe deram origem ou a sua pertinência –, fato é que, naquela época, prevaleceu a ideia de que a verdade restava, única e exclusivamente, na doutrina religiosa. Com o advento das religiões monoteístas, ficava muito mais fácil concentrar o conceito de verdade nas mãos da única divindade existente efetivamente, o Deus único. 

Não há dúvida de que a adoção desse paradigma abria uma oportunidade muito grande para a dominação do povo. Ora, se a verdade está, apenas e tão somente, em Deus e os sacerdotes são quem, unicamente, conseguem decifrar a vontade de Deus, é necessário obedecer aos sacerdotes. Veja que, aqui, há uma clara usurpação de competência, na qual a Igreja acaba por se tornar Deus, pelo menos, em relação à divulgação da verdade. 

O ponto negativo dessa corrente filosófica, da dogmática religiosa, não reside apenas nesse poder exacerbado e, potencialmente manipulador, dos sacerdotes. Reside, também, no descarte de todo e qualquer outro método de produção de conhecimento. É por isso que qualquer conhecimento mais técnico-científico, naquele momento da história, era descartado, sendo, inclusive, muitas vezes, seus pregadores tratados como hereges, com todos os desdobramentos possíveis relacionados a essa alcunha. 

Mas, verdade seja dita, apesar de nos parecer uma forma muito limitada de pensar, há coisas positivas que advêm dessa corrente ideológica. Embora saibamos de todos os excessos cometidos pela Igreja ao longo da época da Inquisição, certo é que o pensamento dominante não tinha como se desatrelar dos preceitos básicos do Cristianismo, que consiste em uma doutrina religiosa baseada no amor ao próximo, amor esse não entendido, assim, pela Bíblia, como uma virtude em si, mas uma ação de bondade em relação ao próximo. Ou seja, de forma bem resumida, apesar de todos os excessos e deturpações que possam ter sido cometidos pela Igreja, fato é que a forma de pensar o mundo era pautada em valores tidos como maiores do que o ser humano, valores esses que apontavam para boas ações.

Eu costumo dizer que o mundo tende ao equilíbrio. Ao longo da história, sempre que há um exagero em relação a algum aspecto; verifica-se uma reação contrária que, pelo menos, tenta recolocar as coisas em equilíbrio. Inclusive, essa mesma ideia acabou sendo comprovada por Newton com sua Terceira Lei da Física, que diz: “para cada ação há uma reação, de mesma intensidade e de direção contrária”. 

Então, se a forma de pensar, que encontrava um certo equilíbrio entre racionalidade e fé na Antiguidade, acabou por ser aleijada da racionalidade durante a Idade Média, nada mais natural que houvesse uma reação em sentido diametralmente oposto. E isso começou a existir com o Iluminismo que, a grosso modo, foi um movimento filosófico de exaltação do ser humano e de suas habilidades cognitivas, intelectuais, artísticas etc. 

E daí vem o Positivismo. O Positivismo, de forma bem simples e objetiva, poderia ser definido como a corrente filosófica que privilegia o conhecimento adquirido por meio das habilidades humanas. 

Quando Augusto Comte nasceu, em Montpellier, em 1798, as correntes filosóficas mais proeminentes eram as baseadas no Racionalismo Continental, de Descartes e Espinoza, e o Empirismo Britânico, de John Locke e David Hume. Veja que racionalismo e empirismo já demonstram claramente a predileção pelo conhecimento verificado e entendido através dos métodos humanos de verificação e interpretação. 

Uma forma de pensar importante de ser mencionada antes de adentrarmos, efetivamente, no Positivismo, é a forma de pensar que tinha Kant. Kant, apesar de ter desenvolvido um pensamento semelhante a uma espécie de ponto de intersecção do Racionalismo Continental com o Empirismo Britânico, merece uma especial atenção por conta do seu respeito a questões religiosas. Na minha leitura de Kant, eu vejo um pouco (ressalto o “pouco”) do resgate do pensamento filosófico da Grécia Antiga, já que, ao longo da sua obra, chegamos à conclusão de que, para ele, há verdade naquilo que se pode verificar, mas há, também, certas coisas verdadeiras, mesmo sem a possibilidade de verificação, porém, que devem ser consideradas simplesmente porque se deve acreditar válidas. Obviamente, essa concepção advém do fato de ser Kant um homem religioso e que, dessa forma, via-se bombardeado, de um lado, pela dogmática religiosa e, por outro, pelo pensamento estritamente racional. 

O pensamento de Kant, portanto, é, talvez, o primeiro que traga essa clara divisão entre Ciência e Fé. Dali para frente, foi muito fácil chegar ao Positivismo, já que bastava desconsiderar a verdade advinda da fé. E que fique claro que, quando digo fé, estou me referindo exclusivamente à fé religiosa pautada em eventos não passíveis de explicação por meio dos métodos de verificação humanos. 

É nesse contexto que Comte, partindo do patamar alcançado por Kant, inaugura o Positivismo, que, da forma mais simples e objetiva possível, podemos, mais uma vez, definir como a corrente filosófica que privilegia a Ciência em detrimento da Fé. O ponto fundamental nessa questão reside no fato de que tal entendimento deixa de ser aplicável apenas às Ciências Naturais e passa a ser aplicável, também, às, agora chamadas, Ciências Humanas. Assim, a própria relação interpessoal humana, seja no microcosmo da família, seja no macrocosmo da sociedade, passa a ser entendida como uma ciência. E é por isso que Comte é chamado por muitos como o pai da Sociologia. 

Então, se a régua foi puxada de forma desproporcional para o lado da fé durante a Idade Média, agora, é puxada, com o Positivismo, para o lado da razão. É do Positivismo que derivam ideias ainda mais radicais nesse sentido, como o materialismo de Marx, teoria nominalista e o Cientificismo. 

Esse é o contexto histórico necessário para entender, de forma simples, as origens da corrente filosófica em questão. De qualquer forma, adentrando ao que realmente nos interessa, qual o efeito disso na nossa sociedade?

Ora, é muito simples. Quando uma sociedade abandona os valores relacionados à Fé, acaba sendo pautada, apenas e tão somente, por conceitos humanos. Se, de um lado, valores como Justiça, Bondade e Liberdade parecem universais, numa sociedade positivista, tais conceitos dão espaço para regras criadas pelo ser humano exclusivamente para aquela sociedade. Tais regras, em tese, deveriam advir de um consenso científico. Contudo, Ciência, por natureza, não é consensual e, assim, faz-se necessário que haja uma autoridade instituída que determina qual o pensamento científico que deverá ser seguido.

O efeito prático desse fenômeno é devastador. Na prática, dá-se um “cheque em branco” para a tal autoridade constituída escolher as “verdades” que melhor lhe convier, sem que haja espaço para debates de ordem principiológicos. Conseguiu entender o motivo pelo qual a sua liberdade pode ser tolhida, por exemplo, com a decretação de uma quarentena que, pela autoridade instituída, é comprovada cientificamente? O valor universal dá espaço à tirania, sob o pretexto de respeito à Ciência. 

No Direito, o efeito é ainda pior. As estruturas normativas criadas pelo Homem passam a valer muito mais do que a persecução por Justiça, por exemplo.  Alguém aí já ouviu a tantas vezes repetida frase: “é injusto, mas é a lei”?

Diante de todo esse cenário, é fundamental repensarmos como iremos voltar ao ponto de equilíbrio. Nitidamente, da mesma forma que um mundo pautado, exclusivamente, na dogmática religiosa, é um prato cheio para o autoritarismo, um mundo onde se exclui valores morais e éticos maiores que o ser humano também o é. A solução cabe a nós. A discussão, como não poderia deixar de ser, é estritamente filosófica.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2021
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Esmeril, conteúdo gratuito de 01-07 de Dezembro



ESMERIL NEWS | ENTREVISTA






👆 CHINOBYL | Entrevista com Rafael Fontana
(por Leônidas Pellegrini)



“A prática de origem comunista já começou a ser adotada por aqui, com asfixia financeira, perseguição e ataques partindo do Judiciário, a serviço de uma agenda política. Tanto congressistas quanto membros do Judiciário e barões da mídia já recebem favores, recursos e benefícios dos chineses.”

Se você se pergunta como a China conseguiu colocar o mundo a seus pés neste último biênio e, apesar de todos os seus crimes (passados e presentes), continua sendo poupada e afagada pela mídia, e exaltada por tantas autoridades políticas, talvez você deva ler Chinobyl, do jornalista Rafael Fontana.

O livro de Fontana, lançado há pouco mais de dois meses pela Faro Editorial e já em 1º lugar entre os mais vendidos na categoria Relações Políticas e Ciências Sociais na Amazon, leva o leitor, como indica seu subtítulo, a “uma jornada pelas entranhas da ditadura comunista” chinesa. Com uma experiência de anos na China ou empresas chinesas, tanto como turista, professor universitário e jornalista, Rafael consegue expor, em uma obra que é misto de relatos pessoais com análises políticas, a face do dragão vermelho em sua essência, que pode ser resumida em três palavras: opressão, corrupção e mentira.

De fato, as sete décadas de domínio do Partido Comunista sobre a China criaram um monstro feito de rígido controle social, assassinato, corrupção e mentiras (que se incorporaram à própria cultura chinesa) como jamais se viu na História. Um esquema que, inclusive, tem sido exportado mundo afora, sobretudo para o Brasil, onde comprar políticos e mídia é algo tão fácil.

Se você quer entender melhor como funciona esse esquema de corrupção e mentira em que se traduz a China comunista, não deixe de ler Chinobyl e, mais que isso, divulgue-o. Por ora, um pouco das percepções de Rafael Fontana sobre a China você pode conferir na entrevista abaixo.

Esmeril News: Rafael, suas relações com a China começaram como turista, depois como professor universitário, jornalista em uma rádio chinesa e, enfim, aqui no Brasil, trabalhando na assessoria de comunicação da Huawei. A partir de qual momento você resolveu transformar essas experiências em um livro, e por quê?

Rafael Fontana: Não houve um momento tipo “batida de martelo”, fui amadurecendo a ideia. Primeiro, durante anos eu registrei os fatos, alguns deles em e-mails, mensagens e postagens, além do bom e velho bloquinho de anotações. Depois, eu pensava em transmitir os conhecimentos pela internet, um pouco nas lives, nas redes sociais, quem sabe um blog. Depois, finalmente, com o início da peste chinesa, conversei com um amigo e ele me incentivou a escrever. Mesmo sem saber ainda qual seria o formato da obra, naquela conversa eu já havia tomado a decisão de transformar meus conhecimentos em um livro.

Esmeril News: Os relatos de suas experiências com a China, tanto lá como aqui no Brasil, deixam bastante claro o seguinte: em diversos aspectos, a China parece ser uma peça publicitária, uma farsa gigantesca onde impera a cultura da mentira nos mais diversos níveis. Gostaria que comentasse um pouco sobre isso.

Rafael Fontana: É exatamente assim, você definiu perfeitamente. O Partido Comunista vive de mentiras e de acreditar nas próprias mentiras. O povo não tem muita escolha: ou acredita ou precisará explicar o porquê de não acreditar. E isso pode não ser muito bem visto pelo Partido Comunista.

Acontece que, ao longo das gerações, o próprio povo vai assimilando a vida farsesca e passa a mentir também nos seus negócios. Por exemplo, naqueles eventos em que eu descrevo os estrangeiros sendo usados como iscas para vender produtos, assumindo papéis fictícios como se fossem reais. Eu mesmo descobri da pior forma, sendo apresentado como um neurocirurgião com especialização na Califórnia.

Esmeril News: Há duas questões que são bandeiras caras à esquerda, sobre as quais eu gostaria que você comentasse em relação à China: racismo e homofobia.

Rafael Fontana: Excelentes pontos. O racismo faz parte do dia a dia do chinês sem que ele sequer conheça os conceitos de racismo. Eles dizem com a maior naturalidade que não gostam de pessoas de pele escura, e não precisa ser africano, não, qualquer pessoa mais morena da própria Ásia, ou os latinos, não são muito bem vistos. Há uma admiração pela pele clara, isso acontece também nas Coreias. Os anúncios de emprego na China vão direto ao ponto: “Negros, não.” E fica por isso mesmo.

Quanto à homofobia, você não verá ataques a homossexuais. Não é porque não existam homossexuais, muito menos porque há tolerância. O fato é que eles escondem sua condição a vida toda, do contrário sofrerão toda sorte de isolamento social e profissional. É muito mais cruel do que as pessoas possam imaginar. Dentro do partido, um homossexual assumido jamais ocupará posições importantes. Jamais. Por isso, você raramente descobre quem são eles na China.

Esmeril News: Em seu livro, você relatao caso de Xu Xiaodong, lutador de MMA que desagradou ao Partido Comunista Chinês ao derrotar o mestre de kung fu Wei Lei, uma espécie de garoto-propaganda do governo, sendo então censurado e depois banido de todas as redes sociais, e asfixiado financeiramente, a ponto de ser impedido até mesmo de receber doações de fãs. Essa estratégia chinesa de cancelamento (censurar, banir da internet e asfixiar financeiramente), aparentemente, acaba de ser aplicada aqui no Brasil com o Terça Livre, onde você já trabalhou. Acredita que vai parar por aí? E mais: acredita que existe a possibilidade de haver uma orientação nesse sentido por aqui, haja vista as relações de certos parlamentares, membros do Judiciário e mídia com a China?

Rafael Fontana: É exatamente a mesma coisa na China e no Brasil. A prática de origem comunista já começou a ser adotada por aqui, com asfixia financeira, perseguição e ataques partindo do Judiciário, a serviço de uma agenda política. Tanto congressistas quanto membros do Judiciário e barões da mídia já recebem favores, recursos e benefícios dos chineses. Veja os anúncios nas emissoras de TV, nas emissoras de rádio, nos jornais e nas revistas, com uma forte presença de empresas, produtos e serviços chineses.

E mais: as Big Techs também estão incluídas nesta rede a serviço da ditadura chinesa. Não, não vai parar por aí. O povo brasileiro precisa entender que a sua liberdade já não é a mesma de poucos anos atrás, e apenas uma reação enérgica da população será capaz de frear esse autoritarismo crescente no país.

Esmeril News: Por falar em mídia, vamos direto ao ponto: por que a velha mídia – nacional e internacional – poupa tanto a China em relação à pandemia da Covid-19?

Rafael Fontana: Acabei adiantando um pouco na resposta anterior, mas vamos lá. Além do dinheiro que abastece os cofres da mídia, há também governos estaduais interessados em todos os desdobramentos da fraudemia. E esses governos, ao mesmo tempo em que financiam os veículos de comunicação, também fecham acordos no mínimo suspeitos com empresas e instituições chinesas. Chegamos ao cúmulo de o governo de São Paulo querer ensinar mandarim nas escolas. Mas que palhaçada é essa? Essas crianças mal falam português. A prioridade deveria ser o inglês e o espanhol. As próprias crianças chinesas são obcecadas em aprender inglês. Entendeu como funciona? O dinheiro chinês irriga toda uma cadeia de corrupção e propaganda no exterior. A velha mídia, tanto no Brasil quanto fora, não tem interesse nenhum em acabar com uma importante fonte de renda.

Esmeril News: A China tem investido cada vez mais em suas forças armadas e seu poder bélico, mas, como você bem observa em seu livro, não tem experiência real em conflitos há décadas. Nesse sentido, você considera que esse armamento da China pode ter mais daquele aspecto publicitário que de uma força real e efetiva?

Rafael Fontana: Sim, e os próprios chineses reconhecem essa situação. É claro que, por terra, hoje seria muito difícil invadir a China e ocupar as cidades mais importantes. Na parte aérea eles evoluíram muito nos últimos anos, mas a Marinha ainda precisaria se desenvolver por décadas até alcançar o padrão das Marinhas da Inglaterra ou dos Estados Unidos hoje.

Somado a isso, falta experiência aos militares chineses. Eles estudam muito, mas não entram em combate há quase 70 anos. Por exemplo, a China teria condições de promover um ataque aéreo contra Taiwan? Sim, usaria caças e mísseis, provocaria danos em Taiwan. Mas a China possui condições de cruzar o Estreito para ocupar o território taiwanês? Não, de forma nenhuma. Suas embarcações e aeronaves seriam bloqueadas por Taiwan e seus aliados militares, como os Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão.

Esmeril News: Para terminar, gostaria que você pudesse nos dar algumas palavras de esperança, se isso for possível. Você diz em seu livro que o PCCh tem muitas pessoas que estão lutando em silêncio pelo fim do comunismo no país. Você acredita que a médio ou longo prazo esse regime pode ser implodido na China?

Rafael Fontana: Acredito. Não só acredito, como a queda irá de fato acontecer, nenhum regime autoritário se eterniza no poder, a História se repetirá na China. Mas em quanto tempo isso ocorrerá?

Veja bem, não existe uma data ou um ano específico, mas podemos claramente observar uma piora na imagem do Partido Comunista Chinês pelo mundo, trata-se de um indicativo importante. Só que a implosão da ditadura chinesa virá por dentro, como sempre aconteceu nas dinastias. Quando Xi Jinping assumir o terceiro mandato, em 2023, a corrosão na elite política e econômica da China irá se acelerar. Há milhões de chineses, muitos deles poderosos, interessados em derrubar o grupo de Xi Jinping, principalmente impedir que essa facção forme sucessores. O presidente chinês tem 68 anos e mostra-se cada vez mais paranoico com a sua segurança, isso leva a pessoa a ver traidores a cada corredor do Grande Palácio do Povo. Resumidamente, a soma de instabilidades internas com certeza levará a grandes mudanças na China até o fim desta década.

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ESMERIL NEWS | LITERATURA




👆H. G. Wells: já não se fazem profetas como antigamente
(por Antonio Fernando Borges)


Num ensaio de 1940, o escritor inglês vai além da ficção e apresenta as linhas gerais de uma nova geopolítica global: esta em que hoje vivemos


Os profetas sempre tiveram papel de destaque no anúncio antecipado dos acontecimentos – e, por consequência, em sua realização. Na Bíblia ou nas mitologias antigas, são muitos os exemplos de homens que, por conta de prodígios, cumpriram um papel decisivo nos avanços morais e políticos de seus povos: Isaías, Elias, Moisés, Lao Tzu, Confúcio… Em cada um deles, a mensagem constante: a palavra de Deus (ou dos deuses, ou de algum oráculo menor) é infalível – e dela ninguém se afasta impunemente.

Quando reiterou que nada existe na realidade política de um país se não estiver primeiro em sua Literatura, o austríaco Hugo von Hofmannsthal fez mais do que apenas atualizar as configurações da palavra profeta: agregou a ele a ideia valiosa de que a imaginação sempre vem antes da ação. Então não custa reiterar, como faço sempre, que o que não pode ser pensado é impossível de ser realizado, porque nada pode se concretizar em ato se não puder, primeiro, ser concebido em ideias e valores. 

Na Literatura, os rompantes extremos dessa prática se chamam utopias (ou distopias, tanto faz). Mas na filosofia política da modernidade eles recebem vários nomes, em geral temerários; propostas, teses conspiratórias ou mesmo “recomendações”. Por isso, na Biblioteca de Borges, há uma longa prateleira dedicada a um escritor atuante nas duas vertentes “proféticas”: o inglês Herbert George Wells (1866-1946), que a posteridade abreviou para H. G. Wells. Além de produzir dezenas de livros de ficção científica, que equivalem a uma remodelagem fictícia da realidade (e nesta linha se destacam os clássicos A Máquina do Tempo e A Guerra dos Mundos), no fim da vida Wells quis ajudar a construir o próprio futuro, por meio de ensaios e propostas como A Conspiração Aberta (1928) e o menos conhecido A Nova Ordem Mundial (1940). Isso mesmo, leitor: parece que foi ele quem cunhou o nome, e a ideia central da estrovenga que hoje fornece a cara (e a máscara) da vida que nos cabe viver.

Em mais de um sentido, o ensaio (ou “balão de ensaio”) A Nova Ordem Mundial representa um marco na História recente. Escrito de encomenda pelas think thanks que em plena Segunda Guerra Mundial se juntaram para formar a Liga das Nações, o livro-documento apresenta as linhas gerais de uma nova geopolítica global, que ao longo dos anos seguintes guiou a criação da ONU e da União Europeia, e deu o formato atual à Social-Democracia de Barack Obama e Joe Biden, a atual corrente política mais influente do mundo. Um pensamento que atende pelo nome de globalismo.

Na esteira do “estrategista” Ulisses – o mitológico Odisseu de Homero –, livros como o de Wells tratam sempre de ocultar seu miolo peçonhento sob doces camadas de merengue. Nem mesmo o ostensivo A Conspiração Aberta abriu mão do verniz das boas intenções. Com A Nova Ordem, Wells não faz diferente: afinal, quem não sonha com Paz e Prosperidade? É com essas “palavrinhas mágicas” que Wells monta seu cavalo-de-troia. Some-se a elas um punhado sortido de falácias em que (por exemplo) “um mundo sem fronteiras” significa desburocratização e fraternidade universal, em vez de totalitarismo tout court – onde alguns poucos mandam na maioria passiva. 

Construir uma teoria da conspiração é como fabricar uma bomba atômica: qualquer estudante secundarista pode fazer isso, se dispuser do tutorial adequado na internet e, é claro, de um pouco de urânio ou plutônio. Mas, se o leitor prestar atenção, vai reparar que o livro de Wells vai além: já estamos muitos passos à frente do modelo que o sociólogo americano Robert K. Merton chamou de “profecia autorrealizável” de algumas teorias conspiratórias que funcionam assim: quando as pessoas esperam ou acreditam que alguma coisa está para acontecer, comportam-se como se a “profecia” já fosse real e assim acabam por realizá-la se fato. 

(Em breve síntese: ao ser assumida como verdadeira – mesmo sendo falsa – uma previsão pode influenciar o comportamento das pessoas, levando-as a tornar a profecia real.)

Livros como este de Wells & Cia. são verdadeiros manuais de instrução para a implementação de novas políticas e novos padrões de comportamento. Trazem no estilo os mesmos padrões reguladores de persuasão, assertivos o bastante para convencer os poderosos sobre sua necessidade desse projeto, mas também prudentemente vagos para se adaptarem às circunstâncias e à imprevisibilidade do mundo. Mesmo na vertente fabiana, como a de Wells, a mentalidade progressista-revolucionária sempre funciona assim. De resto, parece que o “destino” das profecias contemporâneas é serem fabricadas – de forma que já nem possam ser chamadas de profecias. Já não se fazem profetas como antigamente. 

É claro que qualquer pessoa pode viver sem compreender (ou sequer conhecer) o globalismo, o Brexit e a atual pandemia – mas vou arriscar que um pouco de entendimento sempre ajuda a fortalecer o espírito. Ler A Nova Ordem Mundial de Wells pode não transformar o mundo ou evitar o pior, mas modifica e fortalece a relação das pessoas com ele. Quem tiver olhos de ler leia.


Acho que escrevi o suficiente para mostrar que é impossível que o mundo permaneça no nível atual. Ou nossa espécie luta (…) para atingir um novo nível de organização mundial, ou a Humanidade entrará em colapso

— H. G. Wells (1866-1946), nas páginas finais de A Nova Ordem Mundial

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Brasil Sem Medo - 12 de Dezembro





COMUNICAÇÃO


👆Como a bonificação por volume favoreceu escândalos de corrupção como o Mensalão
(por Ronaldo da Silva Mota)


Entenda como o pagamento da bonificação por volume a agências publicitárias não só aumenta o montante de dinheiro público repassado para veículos como a Globo, como também favorece a corrupção

Ronaldo da Silva Mota
Especial para o BSM
Considerada ilegal em diversos países, mas ainda em vigor no Brasil, a bonificação por volume (BV) foi consolidada no governo Lula por meio de lei e segue garantindo o poder a grupos midiáticos independente de sua audiência. Funciona assim: veículos de comunicação como a Globo, por exemplo, pagam um valor bônus — como uma espécie de "premiação" — a agências publicitárias, que, em troca, entregam anúncios de seus clientes. O valor é desconhecido e chega a ser inclusive protegido por sigilo quando se tratam de clientes governamentais. 

A prática, portanto, não só serve para encarecer a publicidade estatal como também dificulta a negociação dos valores de propaganda, aumentando significativamente o valor de dinheiro público repassado aos grupos de mídia. Reportagem do BSM publicada neste sábado (11) mostrou como o presidente Jair Bolsonaro, antes preocupado com a BV, acabou se "esquecendo" do assunto. Nesse novo texto, nosso jornal mostra como o bônus foi amplamente utilizado no Mensalão.

Como o esquema funcionava
Em junho de 2005, o deputado federal Roberto Jefferson declarou à Folha de São Paulo que o PT pagava mensalmente deputados para que votassem favoravelmente aos projetos de interesse do Poder Executivo. Segundo ele, o dinheiro sujo provinha de orçamento de publicidade de empresas estatais por meio de uma agência de publicidade de Marcos Valério.

A coisa funcionava, basicamente, do seguinte modo: a agência de publicidade recebia recursos das empresas públicas, firmava contrato com veículos de comunicação e recebia o tal “bônus de volume” (BV), valores aos quais a agência teria direito pelo volume total de serviços contratados por ela junto aos veículos de mídia. Nessa brincadeira, a agencia publicitária de Marcos Valério, a DNA Propaganda, abocanhou R$ 2.923.686,15 de BV e repassou por debaixo dos panos R$ 326.660,67 a Henrique Pizzolato, então Diretor de Marketing do Branco do Brasil (BB).

Joaquim Babosa, então ministro do STF e relator da Ação Penal 470, indicava a fraude apontado o contrato entre a DNA Propaganda e o Banco do Brasil, onde estaria previsto que os valores do tal bônus de volume deveria ser repassado ao banco e não para a conta particular do diretor de marketing do BB e os deputados da base “azeitada”...

O curioso é que, em 2010, antes do termino do julgamento da Ação Penal 470 e ainda no governo Lula, foi aprovada uma lei no Congresso Nacional, a Lei 12.232/10 que dispõe sobre as normas para contratação de serviços de publicidade, onde se define que:

    1. Serviços de publicidade para a administração pública devem ser contratados necessariamente por meio de agências de publicidade (art. 1º).
    2. Essas agências precisam apresentar certificado fornecido pela CENP (Conselho Executivo das Normas Padrão, entidade sem fins lucrativos) ou por entidade equivalente (art. 4º, § 1º), atualmente inexistente.
    3. Incentivos (vulgo BV) concedidos por veículos de comunicação às agências de publicidade, “para todos os fins de direito”, são receita das agências (art. 18º). 

E tudo isso fica mais curioso ainda quando a defesa de Marcos Valério recorre a essa lei para provar que não houve crime na apropriação dos quase R$ 3 milhões pela DNA Propaganda. Contudo, graças a uma cláusula contratual, o ministro Joaquim Barbosa demonstrou a evidente falcatrua e condenou Marcos Valério.

O tempo passou...
Em janeiro de 2021, vimos o rompimento entre a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) e o Conselho Executivo das Normas Padrão (CENP). Ora, vale salientar que a ABA foi simplesmente uma das fundadoras do CENP. Segundo Meio&Mensagem, a ABA pulou fora do barco da CENP porque “não se sente representada mais no CENP” e considera essa ruptura apenas como “uma necessária evolução”. 

Nelcina Tropardi e Sandra Martinelli, respectivamente Presidente da ABA e Presidente Executiva da ABA, por ocasião da inauguração de sua sede própria e lançamento do Anuário ABA 2021, afirmaram ao BSM que a desfiliação da ABA do CENP se deu em função de “divergências com a atual governança do CENP”. Nenhuma delas quis entrar em detalhes, mas questionadas pelo BSM sobre um ponto específico desta divergência, elas fizeram menção às “Normas Padrão” e ao BV. Afirmaram que não são contra o BV em si, mas sim a favor da transparência de todo o processo que envolve as relações entre marcas e suas agências.

Outro ponto de descontentamento comentado pelas executivas foi o fato do CENP pretender tratar diferentemente anunciantes privados de anunciantes públicos no quesito “anexo B” (remuneração de agências).Foi nesse sentido que a ABA lançou, em 23 de setembro, o Movimento em prol das boas práticas do mercado publicitário brasileiro.

De qualquer modo, essa pendenga entre a ABA e a CENP já vem de longe. Segundo Meio&Mensagem, já em 2015, a ABA acionou o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que reabriu um processo administrativo para investigar “supostas condutas anticompetitivas” praticadas pelo CENP. 

E realmente a coisa é séria. Em dezembro de 2020, o CADE instaurou um inquérito para apurar indícios de condutas anticompetitivas da Rede Globo em seus contratos com agências de publicidade. Segundo o CADE, dentre outras coisas, o adiantamento de bonificação (BV) praticado pela Rede Globo promove a dependência econômica das agências com a emissora:

“Ao entregar antecipadamente os valores de bonificação, a emissora torna-se credora da agência, que, portanto, deverá assegurar que seus futuros trabalhos sejam suficientes para garantir percentual de bonificação equivalente ao já recebido”.

É claro que nesse jogo os critérios de mídia técnica, que devem ter prioridade no momento de se contratar publicidade, vão para o brejo e a lei do mais forte vigora...

Nesse sentido, Adriano Silva, em seu artigo A Bonificação de Volume e a hegemonia do meio TV no Brasil, fez a seguinte constatação:

“A TV Globo é disparada a maior pagadora de BV do mercado brasileiro. “O BV da TV Globo é o maior vendedor do país”, me disse uma vez o presidente de outra grande empresa de mídia, que também oferece BV ao mercado. Isso ajuda a explicar por que um programa como o Fantástico, por exemplo, perdeu quase 40% de sua audiência na última década e meia e o preço das inserções em seus intervalos comerciais, lotados de anúncios, continua aumentando progressivamente.”.

Não há dúvida de que o BV, como é utilizado atualmente pelos grandes veículos de mídia, tende a gerar uma distorção no mercado publicitário em detrimento dos anunciantes. 

A lei
Mas há outro nó da questão que se encontra exatamente na Lei 12.232/10. Isso porque, os grandes anunciantes privados não se submetem ao “desconto padrão de agência”, definido pelas “Normas Padrão” do CENP que significa ao menos 20% (vinte por cento) sobre o valor dos negócios que a agência encaminha ao veículo de comunicação por ordem e conta de seus clientes. Eles têm condição de fugir das distorções do mercado publicitário, mas milhares de outros anunciantes privados menores não o fazem e os anunciantes públicos são obrigados, pela Lei 12.232/10, a se submeter. 

Segundo Adriano Silva, “há muitos anos, por pressão dos anunciantes e pelo acirramento da competição entre as próprias agências, outros modelos de remuneração emergiram. Algumas agências passaram a receber a comissão a que tem direito – hoje, entre os grandes anunciantes, pratica-se de 3% a 5% sobre a verba a ser investida – em doze prestações, na forma de um fee fixo mensal.”.  

Esses valores são agressivamente negociados pelos grandes anunciantes privados, sem contar que o contrato não sai do papel sem uma avaliação técnica criteriosa dos departamentos de marketing dessas empresas, garantindo assim melhores preços e maior eficiência na divulgação de seus produtos.

Por outro lado, nas atuais condições, os anunciantes públicos gastam mais que os privados e gastam mal. Eles precisam contratar agências de publicidade, agências credenciadas no CENP e, portanto, precisam pagar “o desconto padrão de agência”, além de não haver qualquer transparência sobre a negociação entre veículos de comunicação e agências publicitárias referente ao BV. Some-se a isso, claro, o fato de que o atual modelo do mercado publicitário, no aspecto modelado pela Lei 12.232/10, garante grandes margens para negociatas criminosas envolvendo dinheiro público.  

Basicamente, o anunciante público paga ao menos 20% dos seus investimentos à agência de publicidade e sabe-se lá quanto mais de BV que é negociado entre veículos de mídia e agências de publicidade sobre os eventuais 80% restantes de seu investimento inicial!

Bom, e como tudo isso é injusto, sem transparência e foge muito da realidade do mercado, voilá: temos um campo aberto e convidativo para o balcão de negócios obscuros.

O Banco do Brasil
Para efeito de ilustração, peguemos o caso do Banco do Brasil. Em 2019 e 2020, o Banco do Brasil gastou aproximadamente a bagatela de 557 milhões reais e 616 milhões de reais em publicidade respectivamente, o que lhe garantiu destaque no ranking dos 10 maiores anunciantes do Brasil em 2020. Ora, isso significa que o Banco do Brasil entre 2019 e 2020 gastou praticamente 235 milhões  de reais apenas com o desconto padrão de agência (20%) e sabe-se lá quantos milhões mais em BV...

Bom, caros leitores, falamos apenas do Banco do Brasil. Agora somem ao BB o incrível número de todas as instituições que estão, de algum modo, sob o guarda-chuva societário do Estado, desde das federais, passando pelas estaduais até as municipais; multipliquem isso por milhões em desconto padrão de agência e mais milhões indefinidos em BV, assim você poderá deduzir o tamanho do ralo necessário para escoar essa fabulosa vasão de dinheiro público.

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Allan dos Santos
 - 06 a 11 de Dezembro




COMUNISMO / CULTURA




👆 Democracia, funcionalismo público e o jornalismo
(07/12/2021)


É impossível agir sem saber o que realmente está acontecendo. Não se ama o que não se conhece. Não se evita o que não se sabe como perigoso. Mas, o brasileiro sabe o que está acontecendo? Dos que sabem, quais deles podem ser afetados pela mudança que o Brasil precisa ter?

O ministro Rogério Marinho disse no Boletim da Manhã de 11 de Março de 2020 no Terça Livre que cerca de 100 MILHÕES de brasileiros estão sem saneamento básico e mais de 30 MILHÕES estão sem água tratada.

A população brasileira é de 211 MILHÕES. Destes, 147,9 são eleitores.

Com um cálculo de padaria e sem preocupar-me com uma precisão cirúrgica, posso afirmar que pouco mais de 2/3 dos eleitores estão sem saneamento básico e que quase 1/3 estão sem água tratada.

Acham mesmo que essa população sofrida sabe o que é globalismo, agenda 2030, problemas culturais, doutrinação nas escolas etc? Essa população não sabe o que se passa no país e no mundo. Eles não sabem e por isso não reagem de maneira proporcional e efetiva contra os tiranos.

É como estou dizendo frequentemente: TEMOS MUITO TRABALHO PELA FRENTE.

Você achou assustador os números que publiquei anteriormente? Veja esses aqui, então:

O número de funcionários públicos no Brasil mais que dobrou em três décadas. De 5,1 milhões em 1986 para 11,4 milhões em 2017, segundo estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

De acordo com o estudo, enquanto o número de empregados no setor público cresceu 125% nos últimos 30 anos, o de trabalhadores no setor privado cresceu 96%.  E enquanto o salário médio dos funcionários estaduais cresceu 23,5% no período analisado, o dos funcionários privados manteve-se estável.

O forte crescimento do tamanho do Estado fez com que o custo dos funcionarios públicos no Brasil em 2017 crescesse para 750.900 milhões de reais (uns 183.146,3 milhões de dólares de acordo com a cotação da pesquisa), o equivalente a 10,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.

O estudo mostrou que o aumento de servidores públicos é maior nos governos municipais e estaduais, e que apenas um em cada dez servidores depende do governo federal (nacional) do Brasil.

Enquanto o número de funcionários públicos nos municípios saltou 276%, de 1,7 milhão em 1986 para 6,5 ​​milhões em 2017, esse aumento foi de 50% nos governos estaduais e de 28% no Governo federal.

Apesar de representar 60% dos servidores públicos do país, os funcionários municipais ganham, em média, um valor três vezes menor do que os vinculados ao governo federal.

O salário médio mensal dos funcionários públicos nos municípios em 2017 era de 2.800 reais (cerca de $682,9 dólares na cotação da época), o dos governantes estaduais era de 4.600 reais (cerca de $1.121,9) e o do governo federal de 8.500 reais (cerca de 2.073,2 dólares).

O crescimento do funcionalismo público também é maior entre os servidores do Poder Judiciário e Legislativo do que do Executivo.

Enquanto o número de funcionários do Poder Executivo aumentou 115% no período analisado, de 5 milhões em 1986 para 11,1 milhões em 2017, o dos vinculados ao Poder Judiciário saltou 512%, de 59.000 para 363.000, e os 436% do Legislativo, de 51.000 a 275.000.

O salário médio dos funcionários do Poder Judiciário (R$ 12.081 reais ou $2.946 dólares) é quase o dobro do do Poder Legislativo (R$ 6.025 reais ou $1.469,5 dólares) e triplica o do Poder Executivo (R$ 3.895 reais ou $950 dólares).

Um outro estudo divulgado na mesma época (2017) pelo Banco Mundial mostrou que o salário de um funcionário público no Brasil é em média 96% maior (quase o dobro) do que o de um profissional com cargo semelhante no setor privado na mesma área de atividade.

O organismo multilateral concluiu que os reajustes salariais acima da inflação que o Estado concedeu aos seus funcionários, mesmo em períodos de recessão e queda de receita, foram a principal causa do aumento do valor da folha de pagamento nos últimos anos.

O valor destinado à folha de pagamento dos servidores ativos é a maior despesa das contas públicas do Brasil, depois das pensões e aposentadorias, como o próprio Governo admite.

O alto déficit fiscal brasileiro e a enorme dívida pública tornaram-se dois dos principais desafios do governo do presidente Jair Bolsonaro, que adotou diversas medidas liberais para reduzir os gastos públicos, entre as quais se destaca uma ampla reforma do sistema.

Vou repetir: TEMOS MUITO TRABALHO PELA FRENTE. E mais, a imprensa não irá falar isso para você. A liberdade e a democracia só serão objeto de desejo do povo, se aqueles que não são beneficiados com a LIBERDADE forem minoria e expostos dia e noite. Liberdade só se obtém por quem não a tem e consegue derrubar quem a impede.

Assine e divulgue entre seus amigos: www.allandossantos.com 

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CENSURA / COMUNISMO


👆Era uma vez um país…
(11/12/2021)

Cada dia que passa chego a conclusão de que as pessoas com sanidade mental são pouquíssimas no Brasil e esse fenômeno não se repete em outros países como se fosse algo global.

No episódio 23 do programa Guerra de Informação, relato o caso das três crianças brutalmente assassinadas pelo narcotráfico na Baixada Fluminense, RJ, e me espanta que isso não é e não será um crime que deixa a sociedade brasileira em geral escandalizada. O auge da empatia das massas é dizer que o episódio é lamentável. Mas a gravidade do ocorrido ultrapassa o lamento.

Isso explica muito outro fenômeno, o descaso, inclusive na direita, com as pessoas perseguidas por Alexandre de Moraes. Se uma atrocidade bárbara cometida com três criancinhas não comove uma nação, como comoverá o fato de eu ter dificuldade de pagar o tratamento de minha filha que ora luta para se recuperar dos efeitos de uma encefalite?

A conclusão é evidente. Se você se compadece de quem é perseguido por Alexandre de Moraes e se choca com o que aconteceu com as criancinhas mortas pelo narcotráfico, saiba que são poucos os que possuem sanidade mental para perceber isso.

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MEMÓRIA TERÇA LIVRE
(matérias de edições antigas da revista que ainda são atuais)

Hoje voltaremos no tempo para a edição 6 da Revista Terça Livre, de 20 de Agosto de 2019.

Infelizmente não é mais possível acessá-la porque o site TL TV saiu do ar na terça-feira da semana passada, portanto agora uso do meu acervo de pdfs para publicar artigos da revista.



CULTURAL


👆 Da caminhada e do valor das coisas...
(por Luis Vilar)


Eu gostaria de saber mais coisas do que o que sei? Sim! Mas desde que me entendo por estudante – e acredito que leio razoavelmente, ainda que menos do que o que gostaria! - quanto mais me aprofundo em alguns temas passo a me espantar com a minha própria ignorância.

Certo pensador já disse uma vez que o espanto é o primeiro passo para a boa filosofia. Creio ser por aí. Nos dias atuais, espanta-me a pressa com que alguns eliminam suas dúvidas sem nem ter a paciência de ler com atenção, ouvir cada argumento testando as validades das assertivas, pesquisando sobre eles e comparando com a possibilidade de serem “falácias lógicas”.

Confesso que há assuntos sobre os quais não tenho opinião. Em alguns casos, são até assuntos que me interessam, mas que me falta tempo e disposição para acompanhá-los com a atenção exigida, indo a literatura mais fundamental sobre para então conquistar a base de posteriormente separar joio e trigo. Pois em tudo há “joio e trigo”.

Não podemos esquecer que uma das facetas do “joio” é se misturar ao trigo. Logo, por vezes, uma mentira pode ser composta de um conjunto de meias-verdades justamente para fraudar a verdade. Assim como uma teoria errada pode conter em si questões interessantes a serem travadas. Mas, na época da pressa, é mais válido o rótulo.

Isso é cansativo.

O estudante tem que aprender a não ter pressa. Tem que aprender que a solidão e o silêncio são terrenos a serem atravessados e – muitas vezes – isso significa abandonar clubinhos que nos cooptam pela vaidade.

É encantador a posição de destaque na “voz do consenso”, pois todos preferem aplausos a pedradas. Todavia, a verdade não depende de maioria ou minoria e as evidências não deixam de existir por conta de determinados consensos que as escondem.

Daí, determinadas buscas requererem coragem para não se negar o que se encontra. Coragem também para o meaculpa quando se percebe errado nas conclusões precipitadas. Não raro, isso pode acarretar em ser expulso da tribo, ser rejeitado, ser visto como alguém a ser evitado, perder companhias ou lidar com a hipocrisia de alguns. Há até aqueles que diante do que não sabem preferem decretar o desconhecido como inexistente.

Estes fazem do outro o espantalho para não perderem a coroa de supostos sábios, já que Narciso não é afeito ao que não é espelho. Há até momentos em que se é incisivo no argumento e o outro leva para o lado pessoal, como se fosse uma ofensa alguém questioná-lo.

Há quem confunda o humor em uma assertividade como ofensa para – propositadamente – praticar o vitimismo e fugir do debate. O politicamente correto pode muito bem servir a isso.

E há aqueles que fogem por meio de debates paralelos, desvirtuando a questão para que você tenha sempre que responder outros tópicos que vão lhe distanciando do que prioritariamente você afirmou. Uma forma de emparedar para em algum momento poder gritar aos quatro ventos: “está vendo, você está errado! Peguei!”.

Uma das obras que me fez refletir muito sobre essas coisas foi A Vida Intelectual de Antonin-Gilbert Sertillanges. O autor me levou a compreender – com maior precisão – o que Goethe queria dizer quando falar sobre a urgência de se ter paciência. Afinal, a vida é curta para que eu consiga responder a todas as dúvidas que rondam a minha existência.

Confesso: cético que sou, algumas buscas me angustiam. Pode até parecer paradoxal para muitos, mas foi o ceticismo que me empurrou a pesquisar sobre tudo que afetavam as minhas certezas, tratando – como diz o professor Olavo de Carvalho – minhas próprias opiniões a chicotadas, e assim chegar ao catolicismo e enxergar o Cristo como VERDADE.

Não digo com isso que compreendo todos os aspectos da Verdade, pois – como nos ensina São Paulo – vemos apenas em partes. Um dia vereamos face a face. Espero que, pela misericórdia divina (uma vez que sou um mísero pecador) possa chegar lá.

A minha conversão me ensinou o valor da humildade e uma luta tremenda contra a vanglória. É que – inicialmente – veio a necessidade do mea-culpa público, como quem varre o lixo para fora de casa depois de tantos anos acumulando os entulhos. Ainda estou a varrer tal lixo. Acredito que o farei pela vida inteira.

Depois, como posto na Oração Eucarística, a necessidade de dar graças em todo lugar, por ser justo e necessário. Perdi amigos ao me firmar cristãos. Só depois fui entender que não era amigos. Mas, me pesa muito mais que essas perdas, saber que fiz mal a pessoas em função das coisas que acreditava. Peço muito perdão por isso, como pelas eventuais quedas por conta dos espinhos que permanecem em minha carne, mesmo depois de ter atravessado a minha pessoal estrada de Damasco. É meus caros, sou um mísero pecador. Mas confio cegamente na misericórdia divina.

De toda forma, ganhei novos amigos. Janelas se abriram e Deus é bom comigo. Reflito muitas vezes o seguinte: se Deus é tão bom comigo que sou tão miserável, chegando tarde, imagine para com aqueles que estão muito próximos, mas falta apenas um pequeno salto de Fé para encontrá-Lo enquanto Ele ainda permite se achar.

Nessa trajetória do testemunho – que é o que de fato me interessa falar um pouco nesse artigo – também vieram dúvidas, anseios, e aprendi a ter confiança para não dar ouvidos à pressa. Algumas pessoas, se encantaram com alguns textos que fiz no passado sobre o processo de convertimento. Houve quem se convertesse por esses escritos e, não raro, conseguiam me achar por meio das redes sociais para agradecer.

Isso tocava a minha vaidade, mas me ensinou a perceber que somos todos instrumentos, pois se não for assim, a vanglória embota a nossa visão, nos sentimos maior que o corpo místico que nos une e acabamos por fundar o nosso próprio sacerdócio ou acharmos que estamos mais próximos que os mais pequeninos, quando a centelha divina ilumina os dons de cada qual a seu modo e jeito.

Já encontrei mais verdade nos pequeninos mais simples que em muitos teólogos sofisticados. Já vi lições onde menos esperava. Percebi a presença de Deus em sorrisos e até na ausência de palavras. Todavia, há quem queira encontrar tudo pelo diminuto horizonte de consciência que possui como se a própria inteligência fosse capaz de produzir uma visão irrestrita de mundo e todas as certezas surgissem do cientificismo. Com um detalhe: não é nem de toda a ciência, mas daquela migalha de visão científica ou de conhecimento científico que o sujeito acredita possuir e faz disso uma cosmovisão.

Assim é o tempo de nossa modernidade. Uma overdose de informação diária que nos encharca do desimportante e nos faz desviar das dúvidas tão necessárias para atravessarmos a solidão e o silêncio na busca do que somos diante das circunstâncias que nos são postas, dentre elas as fatalidades, os desígnios e tudo mais que nos cerca.

Ao fazer esse texto, lembrei – por exemplo – de uma canção do compositor Humberto Gessinger. Certamente, o que o levou a escrever a música não é o tema desse artigo, mas há ali uma construção poética que aqui se encaixa: “Um solo tão ressecado já não aceita o que a semente traz/ Uma esponja tão encharcada já não absorve nenhuma gota a mais”.

Quantas vezes – diante desse mundo de aparências – não somos esse solo, essa esponja e ridicularizamos, sem nem querer ouvir qualquer coisa que confronte o nosso horizonte de consciência, como se tivéssemos uma visão irrestrita do mundo que nos cerca?

Que o Espírito Santo ilumine o dom das nossas inteligências, meus caros (as) leitores (as), para que não estacionemos em um cume que – no final das contas – é apenas miragem. Do alto dele, como profetas do que não sabemos, que não caiamos na tentação de sermos os propagandistas da ignorância alimentados pelo aplauso fácil. Que saibamos o valor de cada coisa independente do preço que o mundo coloca nelas. Não raro, não é coincidente. Fiquem com Deus.

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👆 Nárnia e o mundo da narrativa
(por Carlos Maltz)


"Mas afinal de contas, em quem você vai acreditar, em mim ou nos seus próprios olhos?” - Grouxo Marx.

Dos fenômenos da pós-modernidade, um dos que mais chama a minha atenção, é a capacidade impressionante de o ideário socialista continuar exercendo fascínio e sedução a adolescentes (e argentinos) de todas as idades e nacionalidades, apesar das claras demonstrações inequívocas de que na prática sempre instala uma hecatombe.

Sim, já li diversas explicações que vêm pelo campo da política, da economia, da filosofia, da sociologia, e até da psicopatologia. Mas, vamos ensaiar aqui-agora um olhar psicológico.

Ultra-resumidamente (me perdoem os fãs), as “Crônicas de Nárnia”, de C.S. Lewis nos contam a história de jovens ingleses que são separados de seus pais, na época dos bombardeios nazistas à Londres, e vão parar na casa de um parente interiorano. Ali, eles têm de viver por tempo indefinido uma vida monótona e insignificante, sem saber o que lhes reserva o futuro. Porém, nesta casa existe uma passagem inesperada para outro mundo, em outra dimensão mágica, na qual esses mesmos jovens na verdade são reis e rainhas e têm por missão, nada menos do que a própria salvação daquele mundo das garras do mal.

Nada mal. O que você preferiria? Ser uma criatura medíocre lutando pra sobreviver em um mundo “pequeno” e insignificante no qual você é um ser dual tendo que fazer escolhas o tempo inteiro e responder por elas, ou um jovem rei que combate a bruxa do mal, que é sempre o outro, e salva a própria civilização?

Na semana passada, os movimentos “progressistas” que se opõem ao governo ultrarrealista de Jair Bolsonaro convocaram mais uma passeata pra protestar contra... Contra... Contra o que mesmo? Ah, sim, contra os cortes de orçamento para a educação, ou coisa que o valha. Na véspera, os noticiários, cujas redações são dominadas por Peter-Pans e Sininhos progressistas, anunciavam um “Tsunami” de gente nas ruas contra o “monstro fascista”. No dia seguinte, no mundo da realidade, tinha menos gente na rua que todas as torcidas organizadas da Portuguesa de Desportos reunidas.

Curiosamente, os estudantes brasileiros, ao que tudo indica, preferiram ficar estudando a ir para as ruas incendiar pneus e salvar o mundo. Os noticiários, mais uma vez com suas mágicas edições de imagens, confirmaram suas previsões anteriores, como se nada diferente das mesmas tivesse acontecido.

Em “Guerra de Narrativas”, o jornalista e escritor Luciano Trigo traz a seguinte definição: Narrativas não são decalques da realidade: são ficções mais ou menos verossímeis sobre essa realidade, que atendem a determinados interesses em detrimento de outros.

Ele disse: FICÇÕES mais ou menos verossímeis. Mas… Quais seriam, observando sob um olhar psicológico, os interesses de adolescentes e argentinos de todas as idades e nacionalidades, a serem atendidos pela narrativa “revolucionária progressista”?

Em “Saudades do Paraíso”, o analista junguiano Mário Jacoby explica que:

O termo Paraíso comumente utilizado para designar o Jardim do Éden do Antigo Testamento, tem sua raiz etimológica no avéstico (iraniano antigo) Pairi-da-za, signicando “murado” ou “cercado”… A ideia da condição de êxtase é, portanto, expressa na imagem de um jardim fechado cheio de plantas, árvores e animais. Na linguagem simbólica da psicologia, essa imagem pode ser expressa em termos de segurança ou contenção (o espaço fechado) na Natureza benevolente (as árvores), com as necessidades instintivas-animais (os animais) sendo satisfeitas sem culpa ou conflito.

Penso que todos os marqueteiros que vendem o peixe socialista-ecológico, especialmente para os adolescentes e argentinos de todas as idades e nacionalidades do mundo hoje, conhecem conscientemente, ou não, o trecho acima.

Alguém perguntou uma vez, ao velho Freud, por que os políticos mais mentirosos eram os mais bem-sucedidos. O velho disse: O povo odeia a realidade e fará qualquer coisa para negá-la.

Será que estamos chegando a um tempo aqui no Brasil, onde algumas pessoas, adolescentes, argentinos ou o que seja, começamos a nos dar conta de que a realidade, por pior ou menos gloriosa que nos pareça, é a única coisa que realmente temos e que realmente importa? E que encará-la nos olhos é o único caminho que temos pra sair do buraco em que a ilusão e a fantasia do “Paraíso Revolucionário” nos colocaram?

Espero sinceramente que sim.

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👆 Tirania e perdão
(por Tom Martins)

Estou convencido que as causas das pequeninas rusgas e dos grandes dissabores relacionais emergem da fricção entre personalidades de diferentes patamares espirituais ou de consciência, como queiram. Sim, falo de diferenças éticas e na divergência de valores em seu aspecto qualitativo. Enfim, o enfrentamento dos graus evolutivos de nosso caráter está sobre a mesa.

Paradoxalmente, justamente tais amargores relacionais arrancam-nos de nossa zona de conforto para buscarmos novos e mais sublimes padrões de reflexões, autoconhecimento, auto-enfrentamento e, por fim, autotransformação. Mas como tolerar o intolerante? Como expulsar um indesejado invasor de nosso lar com amabilidade ou pacifismo, se ele não respeita essa linguagem? Devemos renunciar à nossa liberdade e submetermo-nos aos caprichos do intruso?

Origem

O grande laboratório ou território para observarmos a tirania e o perdão está na própria convivência humana. O convívio pode ser visto como um notável recurso evolutivo, inclusive, para adquirirmos noção de nossa própria individualidade, além de propiciar a reflexão sobre valores sombrios e/ou edificantes.

Algumas convivências frutificam de nossas escolhas personalíssimas ou predileções cotidianas (amizades) e outras nos são ofertadas pelas teias da vida familiar e profissional, cujos desafios não podemos nos esquivar sem impor prejuízos ou mágoas a outras pessoas e a nós mesmos. Eis aqui os desafios evolutivos das reconciliações e aprendizados recíprocos.

Diagnóstico

A tirania poderá se manifestar na forma de violência explícita, onde dominará quem detiver o maior bíceps. Todavia, os piores tiranos são os travestidos de cordeiro, cujas expressões mais comuns são “pela democracia”, “pelo povo”, ou a pior delas, “pelo teu bem”. Aliás, a tirania “pelo bem do povo” é a mais opressiva, pois o tirano a exerce sem a condenação de sua própria consciência.

No campo político, convencionamos chamar tal estratégia despótica de populismo. Constata-se facilmente que o populismo tirânico não se limita às abjetas manobras e maledicências pelo poder. Existem egos bisbilhoteiros dentro e fora das disputas eletivas. Políticos, juízes e autoridades, tanto corruptos como despóticos, lamentavelmente, abundam em nosso querido Brasil.

Entretanto, se observamos cautelosamente, notaremos perfis tirânicos também em muitas relações de nosso cotidiano profissional, familiar e no campo das amizades. Bisbilhoteiros, palpiteiros e invasores de nossa vida privada, de nossa intimidade ou de nosso lar causam-nos de severos tormentos e podem, até mesmo, destruir nosso casamento, desautorizar nossa paternidade/maternidade e provocar a ruína de nossa programação existencial, sempre com a retórica de que tudo foi feito pelo nosso próprio bem. Devemos perdoá-los? Como trata-los?

Contenção legítima

Tendo a legitimar a resistência serena, ou seja, a feita com racionalidade, lógica, proporcionalidade e bom senso. No meu particular nível de consciência, valido a contenção dos invasores de nossos lares ou
de nosso espaço personalíssimo, mormente aqueles que desrespeitam nossos valores, impondo-nos a tolerância do intolerável.

Podemos e devemos resistir ao tirano de plantão, mas desprovidos de sentimentos sombrios. As ações firmes, tenazes e estoicas são conciliáveis com a serenidade, a altivez e a confiança dos justos. Justiça pode ser amiga da compaixão. Fácil? Possuo uma rotunda negativa como resposta. A próxima pergunta não será tão óbvia: o que fazer quando os sentimentos mais obscuros aparecerem?

Lago cristalino

Usarei a imagem de um lago cristalino. A convivência gera movimento e a sujeira sedimentada no fundo lamacento do lago poderá emergir. Obviamente, devemos ter cuidado no convívio profissional, familiar e social, pois a lama poderá provocar problemas que nenhum dos envolvidos está capacitado para suportar.

O tirano remexe e agita essas águas até provocar uma reação contrária. Tsunamis à vista! Em geral, o intrometido termina por amargar o peso da solidão, da condenação e de uma morte assombrada pela violência e pelo ódio de seus antigos asseclas fanatizados, que algum dia despertarão de seus respectivos estados sonambúlicos.

A relação entre o títere ideológico e o tirânico é brutalmente didática. Ambos os lados aprenderão, inclusive o observador distante. Os déspotas aprenderão a respeitar o livre arbítrio alheio e os idiotizados sonâmbulos (adoradores da terceirização existencial e do deus-Estado) compreenderão que devem abandonar o parasitismo e assumirem o protagonismo de suas vidas.

Psiquismo frágil

Seja na convivência política mais ampla ou em nosso ambiente familiar ou profissional mais restrito, encontraremos o ambiente para trabalharmos a difícil conexão entre tirania e perdão, tanto na polaridade ativa como na passiva. Uns têm mais dificuldade em perdoar, outros perdoam com mais facilidade, mas algo os impede de reconhecerem suas falhas e pedirem perdão por suas intromissões indesejadas. Nos dois casos, o orgulho parece-me o grande agente causador da fragilidade psíquica.

Um psiquismo forte emerge, paradoxalmente, da coragem de assumirmos nossas fragilidades e imperfeições. Isso nos coloca no controle do momento evolutivo vivente e convida-nos para ações edificantes. Opostamente, o psiquismo frágil esconde-se nas armaduras do ego, a fim de proteger-se do lodo emergente dos lagos narcísicos, próprio e alheios.

Perdoar a animalidade dos leões alheios não implica em acolhe-los em seu leito. Isso seria um óbvio ato de insensatez. Perdoar é renunciar a condição de verdugo, desprendendo-se da necessidade revanchista, mas conservando as medidas profiláticas contra a tirania. Manter as feras afastadas é puro ato de bom senso.

Enfrentamento

O déspota de plantão poderá ser um parente desrespeitoso, um político populista, um retórico comunista, um insensível materialista, um chefe arrogante, um oportunista malandro, um carente energívoro etc. Cabe-nos a decência de um enfrentamento altivo, elevado e assertivo, não apenas para a nossa própria paz e integridade familiar, mas também pelo bem do próprio tirano, cuja limitação imposta por nossos atos de contenção mostrá-lo-á as privações impostas por seu despotismo.

Como previmos, o tirano encontrará em seu destino o azedume e o fel da solidão. Seus comparsas serão incapazes de um único sentimento de amor genuíno e disputarão o açoite para a imatura e crudelíssima função de carrasco. O pobre tirano, na verdade, é um frágil psíquico, um covarde, um tolo cuja carência narcísica apressa-se em apossar-se de tudo e de todos, a fim de preencher um vazio existencial de tamanha magnitude, que o impede de respeitar o tempo o espaço adequado das relações humanas.

Tratamento e caratê

O perdão é a cura para a libertação. Responderei as provocativas perguntas deste texto com outra questão: com que olhos vemos nossas experiências? Perdão não significa esquecimento, tampouco tolerância com a maldade ou a tirania. Agiremos com veemência, se assim for preciso, mas despido de mágoas, ressentimentos ou espírito vingativo. O ato de perdoar representa a caridade no repúdio do mal, jamais na sua aceitação.

Nos tempos de criança, eu treinei caratê e conquistei mérito para galgar uma faixa qualificada. Animado com a possibilidade de evoluir naquela arte marcial, fui agraciado com o direito de perguntar o que quisesse ao faixa preta da academia. Há algum tempo incomodava-me um fato intrigante dos combates caratecas. Aquele que recebia um golpe do adversário deveria interromper a luta e agradecê-lo.

No dia da fatídica cerimônia da entrega das novas faixas, indaguei o Sensei faixa preta para entender o que significava o estranho agradecimento pelo golpe recebido. O mestre mostrou apreço pela pergunta e presenteou-me com uma preciosa lição: quando o adversário rompe tua defesa, ensina-te onde está o ponto vulnerável da tua luta. É por esse ensinamento que agradeces. Como não o atingistes, nada ensinastes ao oponente, assim sendo, não mereces agradecimento algum.

Cura e gratidão

A partir desse insólito ensinamento germinou em minha consciência uma semente de lucidez sobre a conexão entre perdão e gratidão. Em síntese, perdão pelo golpe e agradecimento pelo ensinamento. De alguma forma, tal lição ainda desafia minha racionalidade, intrigando-me com reflexões sobre a inteligência de nossa união pelo convívio, a fim de polirmos nossas arestas mais ásperas, num sofisticado processo de
burilamento.

A simbologia aqui usada convida-nos a digressões profundas e contundentes, tanto no estilo mítico e simbólico da teia de Indra, como no estilo oriental do koan zen, ou ainda através dos sofisticados e maravilhosos ensinamentos civilizacionais cristãos. Confesso que esse texto foi desenvolvido para lapidação de minha própria personalidade, porém talvez sirva também para ti, caro leitor.

A ponderação é complexa, mas minha conclusão é relativamente simples: quando formos credores, exercitemos a grandiosidade de perdoar. Na posição de devedores, exercitemos a modéstia rogando sua concessão. Resta-nos a compreensão de que na medida que formos capazes de perdoar, adquiriremos mérito para que também sejamos perdoados.

Derradeiramente, conclui que perdão está longe de significar inação ou inércia, mas seu exato oposto. A expressão “dar a outra face” está distante da negligência atitudinal, mas sim no repúdio da face materialista e oferta de uma ação oriunda de nossa face transcendente. Eis aqui a resiliência estoica e altiva, desprovida de rancor e culminando na feliz união entre a dura lei de Moisés e a doce suavidade cristã. Eis a legitimidade da firme correção em nada contra caridade, mas sim por caridade. Enfim, em linguagem hodierna, eis os laços simbióticos entre justiça e amor.

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👆 PALAVRA DE OLAVO DE CARVALHO!


"Lendo a bela tradução que o Anthony Doyle fez do meu "Maquiavel", percebo que jamais estaria na minha capacidade tornar-me escritor de língua inglesa. Meu inglês será sempre inglês de congresso filosófico, um idioma geral sem nacionalidade precisa. O inglês dos ingleses (e americanos) é um idioma mais cheio de mistérios do que o estudante estrangeiro poderá jamais imaginar." (06/11/2021)

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"Todo aquele que, sem ser sacerdote ordenado, fala EM NOME DA FÉ CATÓLICA é um charlatão. O fiel católico deve ter a humildade de limitar-se a expressar as suas idéias pessoais, ORANDO para que estejam harmônicas com a doutrina da Igreja, em vez de ludibriar a platéia levando-a a confiar cegamente que já estão. Esses pregadores não passam de pregadores de peças." (07/11/2021)

"O tal de Carlos Bezerra, metido a doutrinador católico, ensina que, segundo René Guénon  e os demais perenialistas, o conhecimento esotérico é essencialmente secreto. No começo, todos os seres humanos o possuíam, mas depois ele se perdeu e virou propriedade de uma elite. Esse rapaz fugiu da escola primária. Se um conhecimento estava ao alcance do público e depois se tornou apanágio de uma elite, é óbvio que nunca foi secreto em si. Por que semi-analfabetos têm tanto prazer em dar aulas?" (07/11/2021)

"Não vou, é claro, me rebaixar a discutir questões doutrinais com um pregador religioso que não tem nem a consciência do que seja um falso testemunho, mas há um ponto que não posso deixar de observar. 
Neste país onde praticamente não há pensadores com individualidade marcada e cada falante só abre a boca como “representante” ou porta-voz de alguma escola ou corrente vinda de fora – comunista, católica, protestante, liberal etc, -- é óbvio que ninguém sabe ler as obras de um filósofo para apreender os traços que o singularizam, mas, ao contrário, só para catalogá-lo o mais depressa possível em alguma moda ou tradição com a qual se possa  aparentá-lo por meio de semelhanças verbais fortuitas as mais bobas e superficiais.
Assim, o referido Bezerra, sem a prática de leituras filosóficas, me cataloga na escola gnóstica pelo simples fato de reconhecer nos seres humanos, além de corpo e alma, uma dimensão espiritual que os diferencia dos animais. Se lesse os meus escritos com atenção e inteligência, veria que a minha concepção do “espírito” não tem nada de gnóstica, de vez que jamais me passou pela cabeça imaginar que alguém já nasce salvo pelo simples fato de ter um espírito." (07/11/2021)

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"O Brasil está repleto de gente que pretende alcançar a santidade por meio da maledicência." (08/12/2021)

"O sujeito que oferece um 'CURSO COMPLETO DE HISTÓRIA" não tem a menor idéia do que seja História." (08/12/2021)

"Já expliquei: Dos meus cursos e escritos, quem é inteligente sai mais inteligente, quem é burro sai louco." (08/12/2021)

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"Minha participação na Igreja Católica resume-se em ir à missa, confessar e comungar. Nunca me aproximei, nem em pensamento, de nenhum desses grupões e grupinhos cuja fé e caridade consistem em ficar se acusando uns aos outros de modernismo, gnosticismo e outras heresias variadas. Tudo isso, para mim, é pura vaidade." (09/12/2021)

"TODA a literatura universal é um esforço, sempre renovado, para vencer a dificuldade de expressar a realidade em palavras. O cidadão sem cultura literária nem percebe essa dificuldade." (09/12/2021)

"O Verbo divino expressa a realidade corretamente porque ele a CRIA. Algum Zucchi ou Schlichter pode fazer isso?" (09/12/2021)

"Bancar o fiscal da ortodoxia alheia é a forma mais requintada de estelionato." (09/12/2021)

"Afirmo que "a Igreja Católica" falhou em atender ao pedido de Nossa Senhora de Fátima (consagração da Rússia), e o tal Zucchi, incapaz de perceber na minha expressão oral uma simples referência metonímica aos papas pós-conciliares, diz que estou condenando a Igreja inteira como instituição, É ou não é um bostinha?" (09/12/2021)

"Não sou líder nem membro de organização alguma. Digo apenas o que pensei com os meus botões." (09/12/2021)

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"O traço mais inconfundível na mentalidade dos fiscais da religiosidade alheia é a sua total incapacidade de distinguir entre impressões de momento, hipóteses filosóficas e teses doutrinais formais." (10/12/2021)

"Você solta uma piada e eles a comparam com um parágrafo da "Suma Teológica"." (10/12/2021)

"Esses idiotas que hoje cagam regras em nome da "ciência" não sabem sequer que praticamente todas as filosofias científicas do nosso tempo negam peremptoriamente o conceito da "verdade", resultando, portanto, seja num niilsmo, seja num relativismo total. 
Qualquer um que pretenda impor verdades absolutas em nome da "ciência" é, ou um menino ignorante presunçoso, ou um temível vigartista." (10/12/2021)

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"As falsas promessas de futuro estarão sempre no topo entre as crenças preferidas da platéia, porque sustentadas pelos maiores poderes econômicos." (11/12/2021)

"O Anta publica: "Olavo orquestrou ataques ao STF". Vamos ver como esses bostinhas se explicam num tribunal." (11/12/2021)

"Alguém pode me explicar que tipo de democracia é aquela em que falar mal de uma autoridade é antidemocrático?" (11/12/2021)

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"Se o nosso Presidente, os generais que o cercam e até mesmo a massa popular  não têm nem a coragem nem a autoridade moral para coibir por todos os meios legais os abusos contra as liberdades democráticas constitucionais praticados por juízes e congressistas de mentalidade totalitária, a única esperança de salvar a nossa democracia são os tribunais internacionais." (12/12/2021)

"Nunca preguei idéias liberais ou conservadoras -- apenas ANTICOMUNISTAS e, em geral, ANTITOTALITÁRIAS. Limito-me à análise crítica, sem propor nenhum programa doutrinal ou ideológico. Quem não percebe isso nos meus cursos e escritos é ANALFABETO." (12/12/2021)

"Estou enganado ou uma ilustre figura da República -- não lembro exatamente qual -- demonstrou admiração e respeito pelo assassino Cesare Battisti e pelo estuprador João de Deus?" (12/12/2021)

"Três gerações acostumaram-se tão confortavelmente à onipresença da hegemonia esquerdista que a mera hipótese de um dia terem de lutar contra idéias concorrentes lhes parecia o horror dos horrores, a impensável catástrofe unviversal. Aberto o rombo no muro da hegemonia, as mediocridades coroadas como Claudio D'Antas e Deu Ôco Mainardi viram-se tão  incapazes de enfrentar no campo dos debates intelectuais o autor de tamanha abominação, que só lhes restou o alívio postiço de atribuir a ele toda sorte de crimes e conspiraçõees, para voltar a sentir-se, como nos bons velhos tempos, as donas da normalidade." (12/12/2021)

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"A grande missão de Hollywood, nas últimas décadas, é persuadir o público de que ladrões e assassinos são pessoas normais, diferenciadas das demais apenas pela sua profissão." (13/12/2021)

"NENHUMA opinião minha nasceu jamais de acordos e  negociações. Não sou um dos Antas." (13/12/2021)

"Perguntar não ofende: Que foi que algum dos dois juízes do STF nomeados pelo Bolsonaro -- Kassio Nunes e André Mendonça -- fez contra o comunismo algum dia?" (13/12/2021)

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"Paguei impostos durante SESSENTA ANOS, mas, segundo os atuais professores de moral, ter usado os serviços médicos do Estado por TRÊS MESES foi um crime imperdoável." (14/12/2021)

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👆OPINIÃO DO AUTOR

Por que ler? Uma reflexão para o fim de ano
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
10 de Dezembro de 2021




Recentemente, andei revendo determinados pontos de vista frente a uma certa variedade de opiniões que temos na nascente direita brasileira. Não faz muito tempo, havia um conceito determinante em relação à certas pessoas do país de que devíamos promover uma verdadeira "ucranização" da política, ou mesmo acionar o tão famoso e temido Art. 142. Após muita reflexão, essas estratégias não foram para frente, devido à leitura melhor de cenário que temos da sociedade em geral.

Aqui eu não vou entrar no mérito da melhora ou da piora da saúde do país, ou mesmo da saúde de nossa já tão combalida civilização. Somente pretendo apontar este detalhe relativo à leitura, a qual me firmarei para depois trazer um outro ponto de vista. Vamos então dividir as coisas.

I
Primeiramente, por que temos que promover a leitura? A resposta pode parecer óbvia, mas muita gente ainda que pensa que livro serve apenas como decoração de estante - ou peso de papel, ou como abanador, ou mesmo pra tacar na cabeça do amiguinho da escola fiel da ideologia do Chaves (o do barril) que prega o "cê vai ver na saída!" - se recusa a ver: lemos para nos informar, ou para nos entreter. Pois muito bem, já partimos de alguma coisa. Mas se partirmos apenas desse tipo de pensamento tecnicista, altamente positivista e sem muita profundidade, não vamos chegar a lugar algum.

A leitura é uma das atividades mais antigas do mundo desde... aquela profissão lá das pessoas que ficam nas esquinas rodando bolsinha. E nem mesmo o advento do áudio-visual no final do séc. XIX tirou do homem a necessidade de ler, e muito menos tirou a ânsia de certas pessoas procurarem pessoas que fazem da bolsinha um chamativo exótico e hipnótico para encherem as burras. Pois bem, estabelecida essa peculiaridade, deixemos as rodadoras e rodadores de bolsinha para lá e foquemos nos livros.

Por que eu chamei a atenção para o áudio-visual? Bom, chamei a atenção porque muita gente pensava, até a década de 2000, que os filmes e video-games iriam ser os substitutos permanentes dos livros. Não estou exagerando, tinha gente que realmente pensava dessa maneira, sem brincadeira! Eu nunca levei isso a sério, nem mesmo na época de jovem em que eu detestava ler. Só que tínhamos um pequeno problema cognitivo em nossas mentes devido a anos de um ensino que não captava e muito menos nos qualificava para compreender a necessidade de se ler, então as pessoas simplesmente largaram os livros. Com o advento da internet, e depois das mídias sociais, você vê de repente um retorno a essa condição da necessidade de ler. As pessoas leem o tempo todo, mesmo que seja apenas posts no Facebook e no Twitter, mensagens de Zapzap, títulos de notícias em portais cujo link ninguém se preocupa em abrir, ou... é... mensagens de pessoas que criativamente se adaptaram a um novo método de atrair clientes sem precisar rodar a bolsinha na rua.

Frente a isso, você vê de repente uma legião de pessoas ávidas por leitura novamente, mesmo que seja apenas a literatura de ficção de baixa estatura. E foi inclusive nesse clima de retorno aos livros que você testemunha o renascimento de uma direita brasileira que pareceu morta por muitos anos. E se antes a esquerda incentivava efusivamente a leitura, agora é o contrário, não é? Pessoas da esquerda querem impedir que outros leiam certas coisas e castrar os seus meios, direta ou indiretamente de ler por causa de uma agenda altamente ideológica de grandes conglomerados globais. Mas isso nos leva à questão por hora primordial desta primeira parte: por que ler. Por que não somente pegar livros e começar a tacar na cabeça do seu amiguinho esquerdista para ele começar a criar juízo?

Bom, primeiro porque livros custam para serem feitos. E não me refiro somente ao dinheiro, mas também ao desenvolvimento intelectual que se tem para criarmos uma obra relativamente decente. Mas vai além disso. E isso é algo que o nosso grande jornalista e amigo Allan dos Santos sempre enfatizou à exaustão. Foi inclusive uma das justificativas que ele deu para a criação da Revista Terça Livre em 2019. A literatura precede a política de um povo. Quando tudo quanto é registro de vídeo some, ou quando não some, se espalha por aí de uma forma que seja impossível ou extremamente penoso juntar os pedaços, o que nos resta é o que ficou ESCRITO.

Pense o seguinte: como você teve acesso à Verdade revelada na Bíblia? Pela escrita, oras! Alguém no início dos tempos teve essa verdade revelada do próprio Deus, e séculos depois, do Deus feito Homem, mas VOCÊ não. Você pode rever os acontecimentos que são narrados ali? Não, claro que não, no máximo imaginar como foi. Você pode rever registros visuais de Sócrates, Aristóteles, São Tomás, Agostinho, Marco Aurélio, Nietzche, Maquiavel, ou os outros 265 papas anteriores da história? Descontando os papas da era moderna do áudio-visual, óbvio que não, e mesmo para esses, teríamos uma dificuldade enorme de compreender algo deles, seus escritos e ideias, fosse somente pela arte áudio-visual. O que está escrito é o que está registrado de maneira INDELÉVEL. Note o seguinte, não estou aqui fazendo uma defesa da supremacia da Bíblia sobre a Palavra, que fique bem claro, porque senão vão confundir minhas posições aqui. Pois bem, dito isso, confirmo e subscrevo o que eu digo a seguir: a palavra escrita tem um GRANDE poder.

São Tomás de Aquino nos ensina o seguinte: Deus é ato puro. O que Ele fala, acontece. Se Ele disser para existir um animal com cabeça de girafa e patas de elefante, esse animal aparece nesse instante, na sua frente. Nós, meras criaturas miseráveis e pecadoras não somos assim. Nós somos potência. Se dissermos que queremos uma criatura nos mesmos moldes, ela vai ficar unicamente restrita ao campo da nossa imaginação. Para podermos fazer algo, temos que imaginar uma ideia, colocá-la em potência para, tendo as condições favoráveis, transformá-la em ato pelo uso de nossos próprios punhos. E ideias que não são registradas, são esquecidas. E o único meio de se registrar uma ideia de forma indelével, como vimos, é transformando-a em TEXTO. "Precisamos de texto." Isso o Allan dos Santos afirmou categoricamente em 2019. Reafirmo aqui e subscrevo. E acabei de mostrar o porquê.

O que me faz chegar na resposta para a pergunta que fiz no início: por que lemos? Lemos porque são nos livros que vamos encontrar as ideias necessárias para transformar nossos anseios em algo concreto. Lemos para nos melhorar, para transcender. Lemos porque, sem leitura, não há ideias, sem ideias, não existem ações concretas, e sem ações concretas, nada é realizado por nós, homens.

PORÉM, podemos ter também uma leitura estéril.

Tendo portanto a primeira parte como resolvida, partimos então para a parte dois.

II
O que vamos tentar mostrar aqui nessa parte dois, é o que deve ser feito para que a leitura nos gere frutos. Você, sentindo-se bastante astuto, deve estar respondendo o seguinte: "oras bolas carambolas, ler coisas boas, uai!" Sim, meu caro encerador de carros, mas como saber diferenciar o que é bom e o que é ruim, e vou mais longe, como ter condições mínimas necessárias para saber o que é bom e o que é ruim?

Bom, sabemos diferenciar o bom do ruim pelos valores que cultuamos. Quando cultuamos belos valores, temos belas ideias, e descartamos as ruins, por óbvio. Não que não iremos ter contato com ideias ruins, é claro que iremos, pois o homem é um grandessíssimo filho de uma rapariga que, se deixado sozinho, pode transformar isso que conhecemos por mundo em um caos infernal e da qual não teremos saída. Felizmente, Deus não permite males dos quais não possa tirar um bem maior, e a história de Jó na Bíblia é prova irrefutável disso que eu estou dizendo, então o homem, mesmo sendo um miserável, pode servir a propósitos elevados e chegar até mesmo a se santificar com isso.

Portanto temos que bons e elevados valores que constituem o BELO, nos levam a ações elevadas, que nos aproximam do sublime, e que como consequência, podem nos salvar. Também temos que o culto ao belo e o descarte do feio é um ganho. Mas e as condições para que isso ocorra? Uma pessoa, por mais desafortunada que seja, precisa ter condições mínimas para que possa treinar a sua mente para o belo. Do contrário, ela nunca, jamais irá sair do lugar. Alguém que esteja no meio de um lamaçal jamais vai pensar em ler, o que ela vai querer por primeiro é sair do lamaçal. Alguém que não tenha o que comer vai pensar primeiro em comer, claro, será sua prerrogativa principal. Veja então a situação das pessoas que não podem contar com recursos mínimos de água e esgoto, por exemplo. Das pessoas que não tem o que comer, ou mesmo sequer não tem onde reclinar a cabeça. É muito fácil chegar para alguém como eu, que tem emprego, comida, água e esgoto, e também um teto e uma cama confortável e dizer "leia Dostoiévski, leia Eric Voegelin, leia Olavo de Carvalho, leia Machado de Assis, leia Mário Ferreira", e por aí vai. Uma pessoa com fome e necessidades primárias vai no máximo querer ler o letreiro do lugar que diz "contratamos", e isso está mais do que suficiente. Percebeu a diferença gritante?

Por isso, a primeira coisa a ser feita caso você veja uma pessoa passando necessidades primárias, não é recomendar a ela curso de conservadorismo, ou dizer pra ela "tá vendo essa pilha de livros aqui? Vou ler tudo no ano que vem, e quero que você venha comigo!"... NÃO! Primeiro você ajuda a pessoa e depois que ela estiver em condições melhores, com o mínimo necessário, você começa a instruí-la. Trazer a pessoa para o belo é também tirar essa pessoa de uma situação lastimável para uma minimamente aceitável para que ela se vire sozinha. Isso por si já é uma forma de mostrar à pessoa algum princípio de "belo". Não se cobra de alguém algo que ela não conhece, pois ninguém te dá o que não tem. Primeiro se apresenta, mostra como é. Jesus não ensinava coisa alguma a quem não tinha o que comer sem antes... dar a eles o que comer.

Uma vez que tenhamos condições para pensar, aí sim devemos ler coisas boas. Olavo de Carvalho nos recomenda que comecemos sempre com obras de ficção, pois através delas a gente consegue ter ideia das possibilidades existentes no campo das ideias. Não somente. Lendo muitas obras de ficção, começamos a ter a habilidade de perceber possibilidades boas de possibilidades não boas, pois vamos populando nosso imaginário. Da mesma forma, vamos observando vidas aceitáveis de vidas inaceitáveis, valores belos e morais como sacrifício e entrega, de valores feios e imorais como roubo e... rodar bolsinha. Quanto mais pessoas leem, mais pessoas temos aprendendo e cultuando esses valores. Um grande número de pessoas formam uma cidade, ou pólis, um grande número de cidades formam estados, um grande número de estados formam regiões, e dessas regiões, surge um país.

Eis o porquê o cristianismo, por exemplo, teve papel fundamental e fundador de civilizações. Se um grande grupo de pessoas tem valores ruins, não adianta querer escolher um representante honrado desse grupo de pessoas, pois as escolhas que esse representante irá fazer sempre serão ruins, pois ele não é honrado. Essa é a razão pela qual a boa política nasce de uma civilização com bons valores, honrada, que irá verdadeiramente representar essas pessoas igualmente honradas. Lógico que estou usando de hipérboles aqui, uma civilização nunca será inteiramente de pessoas honradas, sempre terá um problema aqui ou ali, mas quanto mais pessoas honradas, menos pessoas ruins dentro desse cesto teremos.

Bom, o que nos retorna à pergunta do início deste segundo tópico. Como extrair da leitura frutos? E a resposta é simples, tendo o acima exposto: com calma, reflexão e várias leituras, mas não somente várias: com repetidas leituras de obras realmente belas. Como a Bíblia. Como a obra de Dostoiévski. Como os livros de Olavo, de Mário Ferreira, de Sertillanges, de Aristóteles, de Jordan Peterson, de Santo Agostinho, que são verdadeiros aprendizados e que tem um conteúdo inspirador. Mas também um conteúdo direcionado. Organizado. Com uma vida de estudos frequente, regrada. Não se pega um livro para ler e simplesmente se passa o olho. Você lê, pára um pouco, reflete sobre o que leu, e continua. Demora, consome tempo. Mas é preferível consumir a sabedoria do que ser consumido pela pressa e pela urgência de agir. Seja Maria, não seja Marta. Tenha vida interior. Tenha paciência. "É urgente ter paciência", diria Goethe. É isso que significa. É assim que a leitura nos produz fruto. Eu tenho repulsa daquelas pessoas que se vangloriam (de "vã glória" mesmo) de ler 30 ou 50 livros por ano. Se você consegue ler tanto assim e refletir sobre os assuntos que lê, ótimo, parabéns! Mas se não consegue, você não está realmente lendo, está apenas se mostrando para os outros, dando um verniz em uma pintura feia, algo que você não é.

Leia devagar, saboreie o texto lido, pare, reflita, pense. Dê tempo a si mesmo para aprender de fato. Do contrário, sua jornada será inútil, infrutífera e só servirá para te deixar frustrado e louco. Envaidecido pelos seus sentidos. E procure ter também um direcionamento quando lê. Não leia coisas a esmo, apenas pela mera curiosidade. Você precisa de uma finalidade, um propósito. Dessa forma, sua leitura vai fruir, e vai te dar frutos.

Eu sei que este texto foi longo, e tocou em vários pontos sensíveis, mas não quis deixar o ano passar sem dar para alguém algo que consegui pela minha própria experiência do real. Portanto, espero que você, se não desistiu no meio do caminho e conseguiu chegar até aqui, tenha tirado algum fruto para sua própria vida. O que desejo não é tomar o seu tempo, mas sim garantir que ele tenha sido bem aproveitado. Que neste fim de percurso você tenha a oportunidade de garantir a si mesmo, e se for possível aos outros também, uma vida de maior fruto e reflexão para que suas decisões sejam mais acertadas daqui pra frente. Leia, se eduque, se instrua. Não perca tempo com futilidades. Esse é meu conselho.

"Senhor, onde os meus planos não são os Seus, destrua-os!" (Santo Agostinho)

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👆 HUMOR (agora com meus comentários!)

E na tira de hoje, Olavo dá conselhos! SIGAM!! 😊...
(13/12/2021)


E tem o Brilhante Ilustra! Mostrando aqui a doutrina Marreca. Resultado: teto 15%!
(08/12/2021)


"E a Revellati Online entendeu bem a coisa: a mentira é uma fofoqueira de beira de portão; a verdade é o loco que te fala "você é uma fofoqueira de beira de portão!" Nunca falha! Run Allan, run!! 👌"
(08/12/2021)


E na charge do Sal Conservador, tem cadáver político tentando se emplacar? Tem sim senhor!! 🙌
(11/12/2021)

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👆 LEITURA RECOMENDADA

Essa é uma leitura excelente que eu comecei a fazer faz algumas semanas e não consigo parar. O livro de Rafael Fontana, Chinobyl, faz uma análise detalhada da situação do povo na China, e retrata o tempo que Rafael esteve por lá, aprendendo sobre a vida e o cotidiano. O livro é recheado de imagens e fotos, inclusive do próprio Rafael, em localizações que esteve em sua passagem, e também traça um paralelo, em um dos capítulos, da vida das pessoas por lá antes e depois da fraudemia. É com toda certeza uma leitura essencial de se fazer, até para termos uma ideia das dificuldades que o Brasil pode vir a passar, servindo como um grande alerta a nós mesmos. Considerem para o início do ano que vem, se debruçarem sobre este livro, aproveitando a entrevista do Leônidas aí em cima para alavancar essa tão importante investigação. Façam isso o quanto antes, porque a nossa liberdade está acabando, e só o conhecimento poderá nos libertar de fato. Bom fim de ano pra todo mundo e nos vemos na segunda semana de 2022. Que Deus abençoe a todos.

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