Edição VI (Revista Terça Livre 95, Revista A Verdade 35, e mais)

Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco na área cultural (mas não necessariamente apenas), publicados na Revista Terça Livre, da qual sou assinante, com autorização pública dos próprios autores da revista digital. Nenhum texto aqui pertence a mim, todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo. Assinem o conteúdo da revista pelo link e vejam muito mais conteúdo.




CULTURAL

ENTREVISTA COM LUCIANO CUNHA
(por Leônidas Pellegrini)

Luciano Cunha começou 2021 com todo gás. Sua editora, a SuperPrumo, assinou parceria com a editora americana Arkhaven, e como resultado dessa parceria haverá um intercâmbio entre os personagens das editoras – além de Doutrinador e Destro passarem a ser publicados nos EUA, trabalhos da Arkhaven (como a série do Universo Alt-Hero, do lendário Chuck Dixon) já começaram a ser publicados aqui no Brasil; a campanha para a publicação de “Destro 2”, noticiada pelo Portal Terça Livre, obteve um sucesso estrondoso, com mais de 200% de engajamento do público; a SuperPrumo, ainda, lançou um canal de cultura pop no YouTube, que promete crescer e prosperar; uma reedição dos três primeiros volumes do Doutrinador será lançada agora em maio, em parceria com o CEDET, e uma reimpressão do Destro (quase esgotado) está prevista para breve; uma plataforma de financiamento própria, a SuperPrumo FC, que promete ser uma via segura para futuras publicações de autores que buscam liberdade e independência no Brasil; e, entre tantos planos e publicações, 2021 ainda contará com duas novidades de arrepiar: a publicação de uma nova aventura do Doutrinador, “O Vírus Vermelho”, cuja campanha de financiamento está online desde 30 de abril, e em poucos dias já conta com mais de 35% de engajamento, e a criação da HQ Doutor Lockdown.

A nova aventura do Doutrinador colocará nosso icônico caçador de políticos corruptos em um patamar internacional, em uma trama que envolve aspectos da atual geopolítica internacional relacionados, segundo o próprio autor, “à pandemia, aos planos de governança global, o avanço da China, o avanço sobre as nossas liberdades individuais; é uma trama para quem gosta de ‘teorias da conspiração’ com bastante tiro, porrada e bomba.” Já a publicação do Dr Lockdown contará com um grupo de heróis, ajudados por ninguém menos que Bene Barbosa, que lutam contra um vilão que espalha o caos e a fome pelo Brasil, amparado pelo aparato estatal. 

Luciano Cunha, outrora muito badalado nos meios esquerdistas e cancelado por eles desde o final de 2019, não tem medo de cara feia e nem de ameaças de haters, e, como ele próprio declara, adora irritar os canhotos. Confira, a seguir, a nova entrevista com esse que tem tudo para ser uma nova lenda dos quadrinhos no Brasil.

Terça Livre: Em primeiro lugar, gostaria que falasse para nossos leitores sobre algumas das novidades que a SuperPrumo tem apresentado agora neste primeiro semestre de 2021. Uma delas é a parceria com uma editora americana, com as publicações da série Alt Hero. Fale um pouco sobre essa nova parceria e sobre essa série, que envolve, inclusive, uma lenda dos quadrinhos, o Chuck Dixon.  

Luciano Cunha: Foi uma parceria que nasceu da forma mais natural possível. Entrei em contato com o Chuck Dixon através do Messenger, quando soube que ele havia sido "cancelado" lá nos EUA quando declarou seu voto a Donald Trump. 

Nunca tinha falado com ele antes, mas ele foi supersimpático e tranquilo. Começamos a bater papo, contei sobre o meu cancelamento aqui no Brasil também e ele me pediu para ver alguns dos meus trabalhos. Eu tenho Destro e Doutrinador traduzidos para o inglês, então mandei pro homem. Ele adorou tudo e me colocou em contato direto com seu sócio e amigo Vox Day, o editor e dono da Arkhaven Comics. E aí tudo fluiu de forma mais tranquila e rápida possível, em 3 meses tínhamos avaliado o panorama e assinado o contrato. 

Hoje já temos publicado um primeiro número do Universo Alt Hero (“A Teia do Mal”), um universo gigantesco, que se passa inicialmente em uma realidade bem próxima à nossa, começando, nessa primeira edição, com uma conspiração internacional, um conluio entre grandes conglomerados, governos, agências secretas de governos, e vai se expandido para uma realidade na qual convivem e interagem heróis como Roland Dane, dessa primeira edição, com heróis com superpoderes, e eles enfrentam toda essa conspiração global. É um universo permeado de ação ininterrupta. Nós temos programado um total de 12 edições desse universo.

Ainda em parceria com a Arkhaven Comics, temos programadas as publicações dos títulos “Avalon” (também do Dixon), “Um Trono de Ossos” e “A Garra da Meia Noite”. E ainda em 2021 pretendemos lançar os primeiros títulos dos meus personagens Tenente Bravo e Garra Cinzenta. 

Terça Livre: Outra novidade que tivemos foi a campanha de financiamento coletivo e o sucesso estrondoso do “Destro 2” - que nós inclusive noticiamos aqui no nosso portal - cuja campanha acabou há poucos dias. Fale um pouco sobre todo esse processo envolvendo o “Destro 2”. 

Luciano Cunha: “Destro 2” é mais um sonho realizado. O sucesso da primeira edição me proporcionou esse engajamento enorme e a campanha mais que dobrou a meta pretendida. É muito gratificante ter meu trabalho reconhecido assim. Me sinto abraçado por todos e, principalmente, por vocês da imprensa conservadora. Praticamente todos os veículos e influenciadores divulgaram Destro. Isso mostra força, é muito importante. 

Terça Livre: “Destro 2” é a primeira obra cujo financiamento foi feito por uma plataforma própria, criada pela SuperPrumo, o que já indica um caminho de independência dos artistas em relação às suas criações. Fale sobre como está sendo essa experiência de conseguir publicar de maneira realmente livre e independente, e sobre seus planos para essa plataforma. 

Luciano Cunha: A ideia de criar uma plataforma própria nasceu assim: a primeira campanha de financiamento coletivo do personagem Destro foi feita numa plataforma muito conhecida, na verdade a maior do país. Não quero sequer divulgar o nome. Mas para que ela acontecesse, foi preciso a intervenção de um amigo, o Marcelo Del Debbio, um conhecido designer de jogos de RPG e escritor de livros que usa há anos esta plataforma para tocar seus projetos. Por ser um projeto de quadrinhos de direita, a plataforma não queria aceitar a campanha. Todos os sócios do site são esquerdistas. O Del Debbio, ao saber que a plataforma não queria aceitar Destro, interveio e colocou-os contra a parede, dizendo que retiraria seus projetos da empresa se não me aceitassem. E assim, Destro foi um grande sucesso lá, mesmo a plataforma se recusando a colocar o projeto na home e na esteira de novidades do site.

Simplesmente eu não poderia passar por esse constrangimento novamente e decidimos montar nossa própria plataforma. Nesse momento, foi fundamental a ajuda de nosso querido amigo Mauro Ventura, cineasta que mantém vários projetos em financiamento próprio também. Ele nos mostrou os atalhos. Inclusive, futuramente, o plano é estender essa plataforma para o financiamento de obras de outros artistas. 

Terça Livre: Agora, vamos falar um pouco do seu outro grande herói, o Doutrinador. Além de uma reedição de suas três primeiras aventuras agora em maio, você está lançou há poucos dias a campanha da sua nova aventura, “O vírus vermelho”, que que vai elevar o personagem a um nível internacional e, assim como o Destro, conectado com o atual cenário geopolítico. Fale um pouco sobre a inspiração, o processo de criação dessa nova história, esse um ano em que ela esteve “em gestação” (lembro de você ter compartilhado em abril de 2020 a primeira capa da HQ) etc. 

Luciano Cunha: Sim, essa pandemia foi crucial para fazer com que eu criasse essa história. Ironicamente, toda essa crise terrível me serviu de inspiração. Nunca, na história deste planeta, estivemos tão próximos de um pesadelo totalitário. Então, estamos cercados por “Teorias da Conspiração”, que é uma fonte inesgotável de inspiração pra mim, pois sempre gostei delas.

Era o ambiente perfeito para criar uma baita aventura do Doutrinador, pois é justamente a hora de internacionalizar o personagem por causa da parceria com os americanos da Arkhaven. O personagem também foi lançado no Japão, Coreia do Sul, França e Itália. Então, eu precisava de uma ação globalizada.

“O Vírus Vermelho” é uma história que começa pequena, com um assassinato na véspera do Natal de 2019, mas que na verdade nascia num pequeno ato de clemência na planície de Guanzhong, em 1962. Uma trama que te leva da Avenida Paulista até o Mar da China Meridional, do Mato Grosso (onde um novo e formidável personagem do universo do Doutrinador é introduzido) à Ilha Kitadaitojima, de Hong Kong, ao resto do mundo, culminando num final explosivo - literalmente.

É uma trama sem mimimi, sem um pingo de lacração. Só porrada, suspense e ação! Fui muito ajudado, nos últimos meses, pelo roteirista Sergio Martorelli, um amigo que chegou para terminar a história, já que meu tempo estava muito tomado com a administração da editora. Demorou para ser escrita, pois ficamos reescrevendo a história várias vezes, devido às constantes mudanças no cenário geopolítico internacional.

Terça Livre: Você mencionou recentemente, em uma entrevista à Bruna Torlay, o surgimento meio “acidental” de um vilão cômico em que você resolveu investir, o Dr Lockdown. Fale um pouco sobre a gênese desse personagem, que surgiu como piada e agora vai ganhar as páginas da SuperPrumo. 

Luciano Cunha: Sim, o Dr. Lockdown nasceu de uma “brincadeira”, mas o alcance foi tão grande que decidi levar o personagem adiante. Eu postei na minha página pessoal do Facebook como uma brincadeira, uma sátira, uma capa com esse personagem, inspirado nessa onda de intermináveis lockdowns no Brasil. O nome era “Dr Lockdown, o herói que não deu certo em lugar nenhum”. Esse vilão aparece na frente de uma loja que tinha acabado de fechar, com aquelas fitas amarelas de interdição, de fechamento de espaços nas mãos, e algumas pessoas nos pés dele, como se fossem indigente, mendigos.

O que aconteceu? Muitas respostas positivas, muitos likes. Mas eu também tenho milhares de haters no meio dos quadrinhos no Brasil, e essa imagem foi parar lá nos sites desse pessoal que me odeia. Foi um bafafá. Me chamaram de nazista, bolsominon, contra a ciência, negacionista, pintaram e bordaram. Teve até uns haters que foram lá no meu perfil me chamar de criminoso, dizer que eu tinha que ser preso. 

Bem, como esse meu post brincalhão causou toda essa a ira de vários internautas e páginas esquerdistas, e eu simplesmente adoro irritá-los, pensei: “Ah, é?, fez esse sucesso todo?” E como eu adoro provocar esse pessoal, eu agora vou fazer (na verdade, já estou fazendo) essa revista do Dr. Lockdown. Vai virar um quadrinho. Tive várias ideias boas, inclusive, do pessoal que apoiou a ideia. Vai ter um grupo de heróis, que são brasileiros comuns que estão enfrentando essa situação de forma heroica – uma tia do Zap, um pipoqueiro, um rapaz que trabalhava com a organização de eventos e uma caixa de supermercado -, e que vão combater esse vilão. Esse grupo de pessoas, clandestinamente, vai tramar contra o Dr. Lockdown, que estará espalhando o caos e a fome. E eles vão ser ajudados por dois personagens da vida real que vão fazer o trabalho de triná-los: Bene Barbosa, com o uso de armamentos, e Mestre Paulo, um amigo aqui do Rio, que tem uma academia de Kombato, uma arte marcial de defesa no cotidiano.

Isso vai ser mais um motivo de irritação para os esquerdinhas, e vai me causar muito prazer. Quando contei minha intenção de tocar o projeto aos americanos, a resposta deles foi muito divertida: “Se irritou os comunas, vamos fazer!”

Terça Livre: Para finalizar, gostaria que comentasse algumas recentes declarações suas: 1) “Eu adoro irritar esquerdista”; 2) “Os heróis estão morrendo”; 3) “Quando você usa um símbolo americano, como o Capitão América e outros, para implementar uma agenda política, uma ideologia, isso é desonesto e preguiçoso”.  

Luciano Cunha: Sim, eu adoro irritá-los porque a falta de argumentos da turma é tão gritante que chega a me divertir. E, graças à minha maturidade e força espiritual, o ódio deles não me atinge. Ao contrário, parece me dar mais força, mais impulso. Então, os irrito porque me diverte e me dá combustível. 

Sobre a morte dos heróis, isso é um fato. Números não mentem e a decisão das duas maiores editoras do mundo, Marvel e DC Comics, de assassinar a mitologia de seus principais personagens para implementar sua agenda woke e desrespeitar mortalmente todo o trabalho de ícones como Jack Kirby, Roy Thomas e Stan Lee fizeram, é triste, muito triste. Estamos presenciando a morte de uma era.

O uso recente de um símbolo como o Capitão América para fazer politicagem identitária é o capítulo mais recente de uma década de preguiça, mau-caratismo e uma gigantesca falta de talento. A Marvel simplesmente não consegue produzir nada novo que tenha um mínimo de qualidade para atrair novos fãs e resgatar os antigos. É lamentável.

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COMPORTAMENTO

As razões do paternalismo
(por Alexandre Costa)

A mudança mais assustadora causada pela Covid-1984 é a mentalidade autoritária em boa parte dos homens públicos.

Dentre todas as mudanças causadas pela Covid-1984, uma questão parece ser a mais relevante e também a mais assustadora: a forte presença de uma mentalidade autoritária em grande parte dos homens públicos.

Com a chegada do coronavírus o mundo foi transformado em seus mais variados aspectos. Da saúde à economia, de leis a comportamentos, passando pela educação, pelas relações de trabalho e afetivas. Tudo mudou e, pelo andar da carruagem, além de conviver permanentemente com alguns itens dessa lista de incisões no nosso cotidiano, também é muito provável que ainda tenhamos que nos acostumar – em breve! – com medicamentos obrigatórios e controle sobre a comida – disfarçado de “segurança alimentar”. Esse conjunto de pequenas e grandes mudanças artificiais e, portanto, anormais, vem sendo chamado de Novo Normal. 

Por não ser natural, por não nascer de um desejo genuíno da população, o Novo Normal é planejado, pensado ou pelo menos conduzido por um grupo restrito de pessoas, com voz e poder para realizar os seus desejos por meio de uma representação desproporcional sob qualquer parâmetro democrático. Isso é autoritarismo. 

Em menos de um ano e meio assistimos a uma sequência de iniciativas autoritárias que superam em número e gravidade todas as últimas décadas, inclusive contando a Era Vargas ou o período governado pelos militares. 

Com o pretexto da pandemia e apoiada na carteirada “científica”, a vida das pessoas foi transformada sem qualquer discussão ou debate, por meio de medidas definidas por uma classe que se julga iluminada, autorizada a falar em nome das outras pessoas e a decidir pelo conjunto da sociedade. Uma elite que pensa que interferir na vida dos outros é uma prerrogativa da sua existência, um direito garantido pelo próprio Deus. Pode parecer retórica, mas Cecil Rhodes, Victor Rothschild e David Rockefeller pensavam desta forma; Bill Gates, Jeff Bezos e Larry Fink também devem pensar assim. E quando o andar de cima dá o exemplo, a classe política que os representa se acha no direito de expor sua sanha autoritária, então copia e vulgariza.

Daí em diante, a tendência é multiplicar o número de invasões aos direitos naturais. Como o conceito de “autoridade” pode ser bem elástico e subjetivo, qualquer tirano pode aproveitar a oportunidade para impor suas vontades, sejam opressoras ou simplesmente delirantes.   

Outro fator que permite a proliferação do autoritarismo e que não pode ser esquecido: nossa Constituição é burocrática até a medula, remendada à exaustão, soterrada por leis e decretos contraditórios e perfurada por brechas propositais, para gerar ambiguidade, abrigo e ponto de fuga para poderosos. 

Desta forma fica fácil prosperar uma ordem esdrúxula ou invasiva, mesmo quando proposta por um desconhecido vereador de uma pequena cidade do interior do Brasil. 

Por que isso acontece?

O autoritarismo só prospera em um terreno que possua algumas características. A primeira delas é o ambiente burocrático. Com uma sociedade na qual todas as condutas são registradas, inscritas, catalogadas, aprovadas, homologadas e carimbadas por um órgão público, o povo fica mais dependente do sistema e, por isso, quanto mais complicado, melhor. Além de possibilitar a venda da facilidade, promover a dificuldade também favorece o adestramento psicológico dos indivíduos. A dependência torna-se um ponto marcante no imaginário coletivo.

A segunda característica que torna um terreno fértil para o autoritarismo é a infantilização da sociedade. Um povo infantilizado favorece a implantação dos ideais embutidos em um projeto autoritário. Crianças e adolescentes possuem uma tendência a depender da aprovação externa. O senso de pertencimento é mais decisivo nessas fases, quando a personalidade ainda está em formação e frequentemente atravessa momentos de indecisão e insegurança. Um povo acostumado com o infantil, com o vulgar e com o fútil torna-se mais alienado, inseguro e dependente.

Juntas, essas características abrem espaços para a aparição do desejo autoritário latente em líderes e burocratas. Essa é a deixa para surgir um político disposto a usar as ferramentas paternalistas para manipular a dependência da população, e com discurso coletivista pronto para mostrar o caminho para os adolescentes tardios. A soma da dependência com infantilização cria uma essência que funciona como fertilizante para o cultivo do autoritarismo, que bem regado pode chegar ao totalitarismo.

Crises acumulam poder. Esse será o tema do próximo artigo. 


Alexandre Costa

Autor de “Introdução à Nova Ordem Mundial”, “Bem-vindo ao Hospício”, “O Brasil e a Nova Ordem Mundial”, “Fazendo Livros”, “O Novato”; e organizador do livro coletivo “As várias faces da Nova Ordem Mundial”, lançado em fevereiro de 2021.



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CULTURAL
Os lobos e o cordeiro, uma fábula de três poderes
(por Paula Felix)

Às margens plácidas do rio Ipiranga matava a sede um cordeiro, quando da praça saiu uma alcateia faminta. Com o bucho seco a roncar, disse o lobo relator: 

- Como ousas turvar a água cristalina da democracia que nós íamos beber? Hás de pagar! 

Humildemente, respondeu o cordeiro: 

- Senhores, vós que representais o povo, os estados e a justiça, reparai que bebo metros a jusante, e que se bem que a água agora esteja mesmo lamacenta, a democracia flui de vós para mim! Como poderia eu, dessa forma, turvar as águas que passam por vós antes de chegar-me? 

Sem dar-se por achado, redarguiu o velho lobo: 

- Isso não vem ao caso! Tu nos ofendestes a todos quando chamastes a pandemia de gripezinha! 

- Mas, senhores! - tornou, manso, o cordeirinho - Não fui eu quem assim a chamou, foi o médico daquela empresa de televisão... 

- Chega! Se não fostes tu, foram teus ministros, que nada fizeram para combater a peste! 

- Excelências, não lembrais que me proibistes de fazer o que quer que fosse que não entregar a vós o dinheiro para que vós mesmos decidísseis como agir? 

- De fato, porém fostes tu quem quebrastes a economia! 

- Meritíssimos, não eu! Antes, clamei a vós que não tolhessem o povo, impedindo-o de ir e vir e de trabalhar, mas dissestes "a economia vemos depois"! 

- Sim, pode ter sido assim, mas tu não comprastes as vacinas! 

- Pois que não existiam! Contudo, negociei desde o início com os fabricantes e as comprei assim que, estando disponíveis, me autorizastes a comprá-las. Estamos hoje entre os que mais vacinam, e mais estaríamos se vós mesmos não estivésseis escondendo as doses... 

- Como?! Ousas acusar-nos? 

- Não! Não é isso! Decerto algum problema de logística! Já determinei ao meu rebanho que pare por ora de pintar os meios-fios e passem a aplicar vacinas... 

- Basta! Chega de tuas desculpas! És genocida! 

E saltando sobre o cordeiro, a alcateia faminta o dilacerou. 

Do alto de uma árvore, ao longe, contrafeita, uma velha coruja que a cena presenciara observou: 

- Ah, cordeirinho inocente! Bem que eu te disse! Ao assumires o poder, trata antes de amarrar as mãos de teus inimigos e só depois vais cuidar do governo! Mas foi o mesmo que tentar ensinar aritmética a um porco-espinho surdo, ora porra!



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REVISTA "A VERDADE" - Ed. 35, de 03/05/2021
(Uma publicação digital semanal do Jornal da Cidade Online)

OPINIÃO

A culpa é da revolução francesa
(por Erika Figueiredo)

Sempre fico abismada, quando vejo professores e seus alunos, historiadores e advogados, exaltando os feitos da Revolução Francesa, um embrião do que seria o comunismo, que instituiu a matança generalizada e o confisco de liberdades naquele, que já fora o berço da religião católica na Europa.

Esse episódio sangrento da História, idealizado por burgueses que se reuniam em sociedades secretas e clubes privados, dentre eles Robespierre e Danton, surgiu do incentivo à disputa entre nobres e plebe (os sans culotte), ricos e pobres, em uma sociedade governada por um monarca absolutista.

A Revolução Francesa, ao contrário do que aprendemos na escola, na faculdade e nos livros, não foi um marco positivo para a civilização ocidental, mas sim uma demonstração trágica de a que ponto se pode chegar para defender ideias que não se sustentam na realidade.

Esse grupo, que se reunia para pensar uma transformação social (os iluministas), defendia o fim da Monarquia, a fim de estancar os privilégios da nobreza e do clero. É indiscutível que os nobres, haviam, há muito, se afastado dos deveres de sua classe: exercer a carreira militar e defender a nação em qualquer circunstância e momento. A essa altura, eram verdadeiros parasitas, vivendo às custas do Rei e desfrutando de suas benesses.

Desde Luís XIV, no século XVII – um rei devasso e adepto da luxúria e dos excessos, a Corte desvirtuara-se por completo, tornando-se um antro de orgias e gastos sem fim. Era realmente necessário, ao tempo de Luís XVI, já no século XVIII, conter a monarquia e a nobreza. Entretanto, o caminho escolhido foi o pior possível – o do extermínio dos opositores da causa revolucionária.

Nessa época, a suntuosidade da corte contrastava com a pobreza do povo, que passava por muitas privações, tendo sido instaurada uma Assembléia Constituinte, na qual ficou estabelecido que a Monarquia precisava ser extinta, e que o poder deveria emanar do povo, por meio de um governo republicano.

Girondinos e Jacobinos enfrentavam-se no Parlamento, tendo surgido, de seus embates, a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão. A posição em que sentavam-se na Assembléia, era determinada pelo lado direito ou esquerdo, passando essas palavras a serem sinônimo de posicionamento político, a partir daí. Os Girondinos ficavam à direita, e os Jacobinos, à esquerda.

Ficou estabelecido que os religiosos deveriam jurar obediência ao Estado, o Clero deveria submeter-se, assim como todos, ao poder estatal. Propriedades da igreja foram confiscadas. Se o Rei dizia “O Estado sou eu”, agora os revolucionários bradavam o contrário, tomando direitos e liberdades à força, no intitulado Período do Terror.

As coisas não saíram exatamente como idealizadas (como acontece com todas as ideologias). Os revolucionários tornaram-se enlouquecidos, e avançavam sobre a nobreza com sede de sangue, guilhotinando os nobres (mais de dez mil), incluindo-se aí o rei e sua esposa. Vários camponeses rebelaram-se contra os revolucionários, tentando defender suas regiões, tendo uma dessas revoltas ficado conhecida como Guerra da Vendéia, com saldo de mais de 128 mil mortes.

Com a deposição forçada do rei e o estabelecimento de um “Estado de Direito”, os revolucionários passaram a ameaçar as demais monarquias da Europa, principalmente a austríaca, da qual descendia a rainha Maria Antonieta, recrutando, dentre a população, soldados para lutarem pela tomada do poder. O povo estava dividido entre girondinos e jacobinos, e o caos havia se instaurado de modo incontrolável na sociedade.

Foi nesse contexto social e histórico que surgiu a máxima de que, em nome da revolução, tudo é permitido. Essa verdade revolucionária foi, dois séculos depois, a linha de ação dos comunistas, que assassinaram mais de cem milhões de pessoas pelo mundo, justificando seus atos como necessários para resguardar o regime.

O ideal revolucionário precisava estar acima de tudo, até mesmo da própria vida humana. Todo e qualquer obstáculo precisava ser removido e aniquilado. Sem hesitação. Sem culpa. Sem remorso. Assim pregavam os jacobinos, chefiados por Robespierre, que dizia que o terror estava plenamente justificado, pois resguardava os ideais do povo. A França virou um grande cemitério.

Eu já comentei, em outros artigos, que a civilização precisa da ordem: ela confere segurança e paz. Por isso a rotina é fundamental, na vida da gente. Quando a desordem passou a imperar na França pós revolução, e a matança foi institucionalizada, tornou-se necessário buscar uma figura icônica, capaz de restaurar a ordem perdida a qualquer preço.

Foi nesse cenário que o General Napoleão Bonaparte ganhou força. Ele, que havia formado ao lado dos jacobinos e comandado uma série de execuções durante a Revolução Francesa, com o golpe de 18 do Brumário de 1799 tomou o poder, instituindo um Consulado. Incensado como esperança na luta pela paz na França, estava ele muito longe de ser um salvador da pátria: seu objetivo oculto era dominar a Europa, criando um Império Continental.

Como a História é cíclica e se repete, se observarmos com atenção, veremos que de todo ciclo de grande desordem, surge um regime totalitário ou uma tirania, como uma necessidade de se restabelecer a ordem a qualquer custo. Napoleão valeu-se desse momento, e dominado por sua megalomania, marchou sem trégua sobre várias monarquias europeias, afugentando reis e rainhas, submetendo Impérios a seu exército sanguinário.

Entretanto, essa História, a real, não é contada nas escolas e Universidades. A visão de que o Iluminismo e a Revolução Francesa não protegeram direitos humanos, mas sim, incineraram-nos, dando causa ao primeiro genocídio da humanidade, não é trazida a lume pelos educadores e historiadores modernos. Esse período é incensado como um divisor de águas para a Civilização Ocidental, e assim vem sendo contado e transmitido.

Por uma ideologia, foram assassinadas, decapitadas, torturadas e esquartejadas, violentadas, queimadas e empaladas vivas, milhares de pessoas. Todos os direitos humanos consagrados na Declaração de Direitos do Homem foram violados, em nome da Revolução. Desse Período do Terror surgiu um líder megalomaníaco, que quase inaugurou o globalismo em pleno século 19, face à sua sede de poder.

A face oculta do Terror precisa ser revelada. A culpa de muita coisa que vemos na modernidade é da Revolução Francesa. Ali, a morte foi legitimada, o mal foi banalizado, e as ideologias foram celebradas. Quando contamos esse episódio, elevando-o a uma grande conquista da Civilização Ocidental, damos respaldo a tudo que foi feito durante aquele período, e passamos uma mensagem equivocada às próximas gerações. Não vejo, nessa triste passagem que deixou mais de 250 mil mortos, sombra de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Mas, Sangue, Terror e Morte.

Erika Figueiredo é promotora de Justiça desde 1997 no Rio de Janeiro, atuando na área criminal, mestre em ciências penais e criminologia, membro da escola de altos estudos em ciências criminais São Paulo e do Ministério Público Pró-Sociedade. Aluna do Seminário de Filosofia do professor Olavo de Carvalho
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CULTURA


O clássico “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, ganha nova edição
(da Redação)

Escrito no século IV antes de Cristo, e um dos livros mais lidos e aclamados ao longo de milênios, os ensinamentos de Sun Tzu seguem inspirando pessoas em todo mundo por seu espírito atemporal. Como isso é possível? As táticas para vencer uma batalha, conhecer seu inimigo, o campo do combate e as consequências de suas escolhas, não mudam. O que muda é quem as coloca em prática e de que forma, essa é a verdadeira arte da guerra!

A Faro Editorial lança mais um clássico pelo selo Avis Rara, “A Arte da Guerra” de Sun Tzu. Uma das leituras obrigatórias para empreendedores, gestores de todas as áreas, militares e universitários, o livro apresenta táticas de batalha que são aplicáveis em todas as áreas da vida, e que seguem acompanhado gerações e gerações.

Hoje, seus ensinamentos foram transportados para longe dos campos de batalha, tornando-a uma das obras mais importantes sobre estratégia profissional, tanto para empresas quanto para indivíduos que desejam alcançar sucesso em qualquer área da vida.

Algumas das lições fundamentais de Sun Tzu sobre lutar e vencer todas as batalhas:

• A excelência suprema consiste em minar a resistência do inimigo e vencê-lo sem que haja qualquer batalha.

• Informação é crucial. Nunca vá para a batalha sem saber o que pode enfrentar.

• Um líder comanda pelo exemplo, não pela força.

• A invencibilidade está na defesa; a possibilidade de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca mostra que ela é abundante.

• A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar.

Sobre o autor:

Sun Tzu foi um estrategista, general e filósofo chinês que viveu há cerca de 2.500 anos. Este livro foi colocado no topo dos Clássicos Militares da China, em 1080, pelo imperador Shenzong de Song e, desde então, tem sido o texto de estratégia mais influente no Leste Asiático. Descoberto nas últimas décadas pelo mundo ocidental, passou a influenciar o pensamento militar, as táticas de negócios, as estratégias de retórica e muito mais. Seus conselhos inspiram legiões de líderes a motivarem outros na busca do sucesso em qualquer empreendimento, por meio da persistência, paciência e tática adequada.

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Enquanto isso, no THINKSPOT...
(texto traduzido do inglês)

Além da Ordem | Ensaios bônus | Estabelecendo uma reivindicação na hierarquia
(por Jordan Peterson)

Dominar um corpo de pensamento, uma vez que esse corpo de pensamento tenha sido considerado valioso, é reivindicar competência dentro de sua hierarquia. Acredito que esta seja uma observação da maior importância. Ajuda a explicar por que as pessoas se tornam tão comprometidas com suas crenças e por que estão tão motivadas a ignorar as evidências em contrário - e não é apenas uma teoria psicológica. Se eu sou o mestre da doutrina comunista em um estado comunista, então posso assumir uma posição de privilégio na hierarquia social proporcional a esse domínio. É essa posição que me dá status, segurança (livre de privações e incertezas e, portanto, dor e ansiedade), bem como oportunidade e esperança. Isso é em grande parte fornecido pela sociedade ao meu redor.

Não é tanto que minhas crenças arbitrárias expliquem o mundo e, assim, me mantenham seguro e esperançoso. Crenças verdadeiramente funcionais - que, quando postas em prática, logo produzem os resultados desejados - fazem esse trabalho. A função da crença ideológica em regular a emoção e a motivação é mais indireta. Em primeiro lugar, devemos ter em mente a compreensão de que meu posicionamento social regula minhas emoções, evitando o desespero, tornando o presente acolhedor e iluminando o futuro. Além disso, é a validade de minha reivindicação de conhecimento, conforme definida pela hierarquia que ocupo, que me fornece a justificativa moral para o status que me foi concedido. Se essa afirmação for prejudicada - proximalmente, por um crítico de meu domínio ou, pior, distalmente, por um crítico do sistema de crenças e sua hierarquia como tal - então eu perco minha reivindicação moral de status, segurança e esperança a que o meu posicionamento social me proporcionou. Isso não apenas permite que um determinado desafiante em particular tenha a oportunidade de reivindicar tudo o que me rodeia, mas corre o risco de me expor a todo o medo, incerteza e raiva - toda a desregulação insuportável de minhas motivações e emoções - que minha potencial perda de posição implicaria. Isso pode incluir a perda da fé daqueles que me cercam socialmente e as consequências práticas potencialmente devastadoras disso, mas também a possibilidade psicológica igualmente aterrorizante de perder a fé em mim mesmo.

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ESPAÇO DO AUTOR

Silabagem (ou a incrível história do anão que encolheu)
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
03 de Maio de 2021

É...
Era...
Foi.

Lê...
Fala...
Queima.

Fúria...
Fúria...
Fúria.

E aquela guitarra na parede?
É só pra fazer enfeite!
É só pra causar deleite
Ao jovem que dê o aceite
Antagonista de leite
Conservador afeite
Como o cabelo enjeite
Que agora não está mais lá.

"Para mim é mulher... Sem problema."
Diz o seu inicial edema...
Ah, se visse o problema!...
Que veio a causar esse emblema!
E aqui eu fecho esse esquema
Maestro do musicalema
Anão, travequeiro, não importa o dilema!
És o grande enema
Que agora deixamos pra trás.

Na Virgínia é que mora o caubói.
Aquele que era teu herói
Aquele que tu nunca foi.

Nem nunca será por sua freima

Não mais ...
Nem mais fala...
queima... aquilo que tu sabes bem!

Agora só lhe resta a espúria
Vivenda em tom de penúria
Envolto em sua esnobe... fúria.

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HUMOR

(03/05/2021)


"Derrete vig@ristas!!!" (@SalConservador)
(04/05/2021)



"As falas do "Mutretta" não são apenas de alguém cara de pau, são de alguém mentiroso e de mau caráter." (@SalConservador)
(04/05/2021)



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LEITURA RECOMENDADA

Eu ia recomendar, mas a revista A Verdade já se adiantou lá em cima. Trata-se justamente do clássico do general chinês Sun Tzu, reconhecidíssimo como um manual para quaisquer empreendimentos que você venha a fazer em sua vida. Tzu, que viveu no séc. IV AC, ensina os pormenores da guerra, como estabelecer estratégias de sucesso, e entre os capítulos, o livro é permeado com diversos exemplos dessas estratégias funcionando na prática, ou o que não fazer desenhado em um relato verdadeiro. Desde que eu li esse livro, minha visão de mundo mudou, e hoje eu posso dizer de fato que qualquer pessoa deve ler esta obra seminal. Reza a lenda que o rei, nessa época, ficou tão impressionado com os ensinamentos do general, que o tornou responsável por toda sua tropa. Para mim, não existe bom general, ou empreendedor que não tenha lido esse livro, portanto, vá atrás dele.


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