Edição LXXIV (Terça Livre, Revista Esmeril 40, opinião e mais)

Tempo de Leitura LXXIV

(Opinião, artigos e cultura para pessoas livres)


Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco nas áreas majoritariamente cultural e comportamental, publicados na Revista Esmeril e outras publicações de outras fontes à minha escolha. Nenhum texto aqui pertence a mim (exceto onde menciono), todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo.


ACOMPANHE
    


ANTES DE MAIS NADA, ESSA É A BANDEIRA QUE EU DEFENDO:
ESSE É O PAÍS QUE EU QUERO!



REVISTA ESMERIL 40

A Verdade nas Línguas Clássicas e a Guerra Cultural (Jair Araújo)

O pequeno herói (Leônidas Pellegrini)




Onde quer ir primeiro?



LEITURA E FILME RECOMENDADOS

TdL: Aproveite e apóie a campanha de criação do primeiro quadrinho brasileiro que conta a história eletrizante de Dom Pedro I, que será lançada pela Brasil Paralelo! Link na figura abaixo!



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12 + 1 de Fevereiro de 2023
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👆 MEMÓRIA: REVISTA TERÇA LIVRE
(matérias de edições antigas da revista que ainda são atuais)


Hoje voltaremos no tempo para a edição 43 da Revista Terça Livre, de 05 de Maio de 2020.

O novo site do Terça Livre está de volta, e com ele, todos os cursos e todas as edições da Revista Terça Livre desde o seu início. acessem:
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COMPORTAMENTO


👆 Teoria da Conspiração ou Revelação? – Parte 3
(por Alexandre Costa)




E
ncerrei o texto anterior mencionando que a instalação de uma Nova Ordem Mundial exige a criação de um novo homem, adaptado ao novo conjunto de valores que devem sustentar essa nova civilização.


A mudança civilizacional em curso compreende, portanto, transformações que vão muito além das alterações de regime político ou econômico. O alcance destas mudanças precisa ser muito mais profundo, e elas devem atingir todos os elementos basilares da vida cotidiana, aqueles que definem a própria noção de existência.


Com base nas experiências totalitárias do século XX, é possível perceber que mudar as estruturas do poder não é suficiente para alcançar esse objetivo. Na Alemanha nazista ou na antiga União Soviética essa necessidade ficou evidente sob qualquer ponto de vista.


Na Rússia, por exemplo, uma população extremamente religiosa precisou ser oprimida a níveis antes inimagináveis para que a proposta de um novo regime fosse aceita. Como o sistema imposto à força previa mudanças radicais na estrutura da sociedade, essa transformação, que atingia desde a troca de poder e uma legislação completamente diferente até o fim de inúmeros direitos individuais, inclusive o de clero, o povo russo resistiu como pôde e enquanto foi possível. A partir deste momento, que ocorre quase que imediatamente após a Revolução de 1917, os tiranos bolcheviques precisaram agir com violência desumana para impor as “novidades” que prometiam um novo paraíso na terra.


Mesmo assim, mesmo diante de uma máquina opressora de poder cruel e absolutamente insensível aos problemas visíveis daquela implantação diabólica, milhões de russos entregaram suas vidas para tentar preservar o que estava gravado em suas mentes e em seus corações.


Pode-se dizer o mesmo da Alemanha de Hitler, Goebbels, Goering e Himmler. Apesar das circunstâncias um pouco diferentes, tendo em vista que a chegada deste grupo ao poder ocorreu com apoio da maioria da população, e não da forma abrupta e assassina que aconteceu na Rússia dos czares, o nazismo também precisou usar da força bruta para avançar a agenda de modificação social que pretendia impor à sua população.


Observando estas duas trágicas experiências, vemos que a implantação dos dois tipos de totalitarismo, ambos baseados em conceitos pseudocientíficos ou cientificistas – um de ordem econômica e legal, o outro baseado em princípios subordinados à ideia de supremacia racial – falhou miseravelmente e provocou genocídios então inéditos na história devido à ausência de um elemento essencial para o controle social absoluto que pretendiam. Por mais que usassem a opressão e a violência, não conseguiram criar a nova sociedade porque não mudaram o homem suficientemente.


Por exigir a idolatria ao Estado e ao líder supremo, todo totalitarismo precisa aniquilar os elementos culturais, morais e religiosos que sustentam a sociedade alvo da sua megalomania perversa. Na Rússia essa tentativa de mudança cultural, embora mais tímida do que na sua ditadura gêmea, Lênin e Stálin tentaram criar novos conceitos para a música, a literatura e o nascente cinema. No caso alemão ocorreu o mesmo no campo das artes e avançou também para tentativas de substituição das crenças populares pela ideologia, o que pode ser visto na troca de ritos e símbolos (cruz pela suástica, procissão pela parada militar, imagens religiosas pelos estandartes com foto do füher etc).


Em ambos os casos, no entanto, deu tudo errado e os povos sofreram com a ferocidade dos regimes, com a miséria causada pela incompetência, pela maldade e pela guerra.


Mesmo antes do fracasso total destas experiências totalitárias, algumas mentes maquiavélicas começaram a perceber que a mudança cultural deveria ocorrer antes da tomada do poder, e não durante ou depois. Nesse momento surgem teorias como a de Antonio Gramsci, que prega a hegemonia deste aspecto da sociedade como condição sine qua non de qualquer movimento revolucionário que pretenda alcançar algum sucesso. Daí em diante, todas as iniciativas totalitárias passaram a visar a cultura como forma de modificar o homem e torná-lo adequado ao regime que pretendem implantar. E o ocultismo adquire daí em diante uma nova função e passa a ser uma eficaz ferramenta de mudança social, como veremos no próximo artigo desta série.


Alexandre Costa

Site: www.escritoralexandrecosta.com.br 

Canal: www.youtube.com/c/AlexandreCosta


Autor de “Introdução à Nova Ordem Mundial”, “Bem-vindo ao Hospício”, “O Brasil e a Nova Ordem Mundial”, “Fazendo Livros” e “O Novato”.


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Terça Livre via Locals - 11 de Fevereiro de 2023






PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS
















👆 Nicarágua: bispo é condenado na ditadura de Ortega
(por Allan dos Santos - 11/02/23)

A ditadura de Daniel Ortega vai cada vez mais longe em sua loucura e totalitarismo. Em uma de suas últimas ações contra o povo nicaraguense e o cristianismo foi condenar do bispo de Matagalpa, monsenhor Rolando Álvarez Lagos, a 26 anos e 4 meses de prisão, após tê-lo acusado arbitrariamente de "traição".


Embora seu julgamento estivesse marcado para 15 de fevereiro, ele foi antecipado e sua sentença já veio à tona. O juiz, além de classificar o prelado como "traidor da pátria" ainda estabeleceu: "O réu Rolando José Álvarez Lagos é condenado a 15 anos de prisão e inabilitação perpétua para o exercício de cargos públicos em nome ou ao serviço de o Estado da Nicarágua. É declarada a perda dos direitos de cidadão do condenado, que será perpétuo, tudo isto por ser o autor do crime de ofensa à integridade nacional". Além disso foi declarado a "perda da nacionalidade nicaraguense."


"O condenado Rolando José Álvarez Lagos deverá cumprir 26 anos de prisão e 4 meses de prisão", especifica o texto condenatório e de acordo com esta sentença, o bispo Alvarez ficaria preso até 13 de abril de 2049.


Estamos diante de uma das maiores arbitrariedades da história. E fica a pergunta: nossas autoridades religiosas ficarão caladas? Acovardaram-se diante do mal? Lula é amigo pessoal de Ortega e ambos pertencem ao Foro de São Paulo.
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REVISTA ESMERIL - Ed. 40, de 12/01/2023 (Uma publicação cultural digital e mensal de Bruna Torlay. Assinar a revista


CONTEÚDO LIBERADO | ANÁLISE

👆 A Verdade nas Línguas Clássicas e a Guerra Cultural
(por Jair Araújo - 30/01/2023)

As origens etimológicas da palavra “verdade” são uma prova de que o conceito de verdade como correspondência é antigo e que é a antiguidade que tem razão, ao postular uma epistemologia realista e um conceito de verdade não relativista. O cientista social brasileiro Renato Kress escreveu um texto sobre os sentidos da palavra verdade em idiomas clássicos. Este meu texto se inspira em seu escrito, mas o transcende, a fim de oferecer maiores detalhes etimológicos e realizar aplicações políticas para os nossos dias.

A verdade na língua grega = alétheia

A palavra “verdade” na língua grega é alétheia, que significa “aquilo que não está oculto”, “que não está escondido”, “que não é dissimulado”. O verdadeiro é aquilo que se manifesta como evidente à percepção visual (olhos) e ao espírito (mente) e, portanto, a verdade é a manifestação daquilo que é ou que se percebe tal como é. O verdadeiro é o evidente – em uma acepção visual da palavra, mas também em uma acepção lógico-epistêmica –, o “verdadeiro” é clarodelineadológico, transparente, testado, perceptível àquele que o busca e que o encontra na realidade tal qual é.

No sentido moral, “verdadeiro” é o sincero – do latim “sem cera” –, isto é, no sentido de que era costume, no mundo antigo, que quando um vaso quebrava, era remendado com cera e posto à venda, como se fosse um novo, não quebrado. Ao contrário disso, o verdadeiro é autênticosem defeito, sem má intenção.

Do ponto de vista epistêmico, a verdade é uma qualidade das próprias coisas e o verdadeiro está nas próprias coisas. Conhecer (grego, gnoskou) é ver (grego, blépou) e dizer a verdade que está na própria realidade. Nestes termos, o verdadeiro se opõe ao “falso” (grego, pseudos), “aquilo que é encoberto”, “aquilo que está escondido”, “o que é dissimulado”, “o que parece ser e não é como parece”. Portanto, a verdade fundamenta-se na realidade e tem interesse em que a realidade seja manifestada; ao passo que a falsidade se desvia da realidade, distorce a realidade e tem a intenção de que ela seja escondida pela dissimulação das aparências.

Do ponto de vista epistêmico, não há lugar para o perspectivismo negligente ou relativista. A realidade existe independentemente da vontade e da percepção do sujeito e a “verdade é dizer daquilo que é, que é, e daquilo que não é, que não é.” (Aristóteles, Metafísica, século IV a.C.).

As verdades que não são objetivas – que dependem de estados mentais e de criações mentais – existem e é quanto a elas que tem lugar um perspectivismo realista: aqui há jogos de pontos de vista no que se refere a percepções subjetivas sobre a realidade. Todavia, como é realismoalétheia é a verdade, em si mesma, dos fatos e da realidade; a despeito de como se percebe tal realidade. Assim, há percepções verdadeira e há percepções falsas.

Um dos textos mais importantes da ciência (física) contemporânea foi escrito por Albert Einstein e, nele, Einstein defende a teoria da relatividade que depois seria chamada de “restrita” (ou “especial”) e, a partir de outro texto, de teoria da relatividade “geral”. Ali Einstein revoluciona a física pelo fato de pensar “novos fatos” a partir daquilo que já havia sido conquistado e estabelecido na teoria da física. Quando Einstein fala que “tudo é relativo ao ponto de visão do observador”, ele não está realizando uma defesa do relativismo na forma como os relativistas entendem o relativismo; ele apenas afirma que existe uma realidade ampla em relação à qual um observador humano imensamente limitado não consegue captar em sua exaustividade e que, portanto, uma visada teórica é relativa às capacidades de observação do observador: ao recorte epistêmico do seu campo disciplinar, à sua teoria, à sua atividade cognitiva.

Muitos relativistas (por ignorância ou por blefe) afirmam que Einstein era relativista, mas o fato é que Einstein era um realista e não um relativista. Pelo que afirmei supra, Einstein era uma perspectivista realista. O perspectivismo realista significa que aquele que busca a verdade, pela ciência, precisa (condição analítica) perspectivar a sua análise, e essa perspectivação “é relativa” ao ponto de visão do observador em relação ao ponto da realidade que ele decide observar, em se tratando de fenômenos científicos (físicos, humanos, biológicos, etc.). Da mesma forma, a análise científica, em cada campo em que se insere, depende de uma perspectivação do objeto no campo em que ele será analisado. A verdade existe no conjunto universo que é composto por diversos conjuntos parciais de verdades parcelares descobertas em múltiplas disciplinas científicas e existentes nas diversas ciências. No entanto, perceba-se, a verdade existe (no conjunto universo da verdade)embora possa ser parcelada em diversas disciplinas, em campos científicos e filosóficos e, até mesmo, teológicos.

A verdade na língua latina = veritas

Em latim, “verdade” é veritas, significando precisãorigor e exatidão. Um relato é verdadeiro quando se diz com detalhes, com pormenores e com fidelidade o que aconteceu. Veritas refere-se à linguagem enquanto narrativa de fatos acontecidos, enunciados que dizem fielmente as coisas tais como foram ou aconteceram. Veraz é o relato dotado de veracidade e cuja linguagem é clara, confirmando uma narrativa que se fundamenta em fatos.

A verdade depende de que o enunciado corresponda aos acontecimentos. Note-se que, em latim, o “verdadeiro” refere-se, sobretudo, ao enunciado, à narrativa, à linguagem fidedigna daquele que relata. Os fatos e as coisas são realidade e verdadeiro é o enunciado que se refere aos fatos e coisas sem falsificá-los, sem distorcê-los, sem negá-los enquanto realidade. O oposto da verdade é a mendacium (mentira), a falsificação, o desvio e a distorção da veritas, simulação e a dissimulação. Também aqui não há nenhum espaço para o perspectivismo reducionista ou relativista. Há liberdade interpretativa, mas a veritas per se depende de que a perspectiva seja condizente com os fatos, do contrário o narrado será mendacium e não veritas. A palavra “verdade”, em português, tem origem etimológica em veritas¸ do latim. Assim, a verdade é oriunda de um enunciado que corresponde à realidade dos fatos. A verdade é legítima em intenção (sinceridade), em método (fidelidade aos fatos ocorridos e à realidade) e em testemunho (fala-se, com sinceridade e com método, daquilo que ocorreu, de fato, e que corresponde à realidade). Tem-se, portanto, uma verdade robusta, verdade como correspondência entre o enunciado e o fato. O contrário disso é o erro (equívoco), a mentira e a malícia da distorção dos fatos.

A verdade na língua hebraica antiga = emunah

No hebraico, “verdade” é emunah e significa confiável e fielPessoas são “confiáveis” ou “fiéis”, relato são confiáveis” ou “fiéis”; e, esses, merecem confiança e são tidos como fidedignos.  

Verdadeiro é todo aquele que cumpre o que promete, que não faz uso de armadilhas, que não maquina mal contra o seu próximo, que não se desvia da verdade e que não distorce os fatos. O confiável e fiel não trai a confiança e a confiança depende da fidedignidade daquele que promete e cumpre, daquele que é o que afirma ser, daquele que profere a verdade em suas palavras e que não tem más intenções. Por isso, no relato bíblico, Yahweh jura por Si mesmo que cumprirá as Suas promessas: “O Anjo do Senhor bradou uma segunda vez do céu, chamando Abraão, e declarou: “Juro por mim mesmo, Palavra de Yahweh: porquanto me ofereceste este gesto, não me negando teu filho amado, o teu único filho, esteja convicto de que Eu te cumularei de bênçãos, Eu te confirmarei uma posteridade tão numerosa quanto as estrelas do céu e quanto a areia que se espalha pelas praias do mar.” (Gn 22:15-17). Sobre esse episódio, o autor aos Hebreus comenta: “Quando Deus fez sua promessa a Abraão, jurou por si mesmo, tendo em vista não haver outro maior por quem jurar; e declarou: Esteja certo de que o abençoarei e farei numerosos os seus descendentes.” (Hb 6:13,14).

Os hebreus/judeus juravam “pelo Senhor” ou “em nome do Senhor” para atestar o seu compromisso de cumprir as suas promessas fundadas na noção de Emunah.

Emunah está na raiz da palavra amém, que significa “que assim seja”. A verdade se relaciona com a certeza de que aquilo que foi prometido ou pactuado irá cumprir-se ou acontecer. Em termos de emunah, a esperança é uma confiança naquilo que foi prometido, portanto, em termos de emunah, o prometido é uma profecia em que se pode confiar que será cumprida. O mentiroso é um falso profeta, pois fala de coisas que não são, promete falsamente e engana com más intenções, sendo malicioso.

Aquele que age contra a emunah é maldito e será amaldiçoado por Yahweh. Por isso, em um contexto da negação de emunah, no livro veterotestamentário de Provérbios, no trecho 6:16-19, afirma-se que: “Há seis coisas que o Senhor odeia, sete coisas que ele detesta: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que traça planos perversospés que se apressam para fazer o mala testemunha falsa que espalha mentiras e aquele que provoca discórdia entre irmãos.”

Entre outras coisas, este texto deixa evidente que a mentira é contrária à emunah, bem como que a mentira está na origem do “semear discórdias” entre os homens. A esquerda é perita na negação da emunah, visto que age semeando discórdias entre brancos e negros, homens e mulheres, pobres e ricos, pais e filhos, entre as gerações e tutti quanti.

A verdade no Ocidente

    Pode-se dizer, sem possibilidade para dúvidas, que a concepção ocidental da “verdade” faz uma síntese dessas três fontes linguísticas a fim de definir e determinar aquilo que é verdadeiro. Para a tradição ocidental, a verdade se refere às coisas tais como são (alétheia); ao enunciado/narrativa dos fatos tais como aconteceram (veritas); e, fundamenta-se na credibilidade e na fidedignidade daquele que com boa intenção cumpre o que promete (emunah) e se refere às ações e coisas que serão.

Ainda, a verdade refere-se à própria realidade (alétheia), à linguagem que narra dos fatos como acontecidos (veritas) e à confiança em uma fonte credível (emunah). Nessas três tradições, a verdade consiste na correspondência entre a afirmação/o enunciado e o fato/a realidade. O critério fundamental para dizer a verdade é ser claro (na linguagem), objetivo (na percepção/avaliação) e imparcial (no relato).

Verdade, mentira e guerra cultural

Segundo a tradição ocidental, a busca da verdade é alcançada quando há, naquele que busca, a intenção sincera de encontrá-la; bem como de modificar os seus pontos de vista e seus comportamentos em razão do encontro da verdade.

Uma imensa parte de autores de esquerda nega que a verdade exista e afirma que a verdade é apenas aquilo que você “diz que é verdade e impõe aos demais”. A partir desse ponto de vista, a esquerda, por não acreditar na existência da verdade, tanto mente descaradamente e de “de cabeça erguida e consciência limpa”, quanto elabora teorias e explicações falsas sobre a realidade; jamais permitindo que as suas teorias e explicações sejam refutadas pelos fatos, adotando uma postura fideísta em relação às mesmas e suas explicações da realidade.

Embora acusem os cristãos e conservadores de “dogmáticos”, de fato, são eles que são dogmáticos, jamais modificando os seus postulados mais queridos, mesmo quando os tais são desmentidos pela realidade. E para sairmos de ideias feitas e lugares comuns, é preciso afirmar que o dogma é neutro, a questão é saber se o dogma é verdadeiro ou falso. Um dogma ou paradigma na ciência é bom se comprovado e justificado epistemicamente. O dogma cristão é viável ou não da mesma forma que o paradigma é, quando não refutado, na ciência.

O fato, porém, é que os dogmas da esquerda são tidos como verdadeiras revelações de profetas laicos. Eles não se dão ao trabalho de analisar os seus dogmas, antes disso, acusam a todos aqueles que refutam os seus dogmas como “negacionistas”, “fascistas”, “reacionários” e dogmáticos. Por meio da tática da intenção/acusação paradoxal – acusemo-nos daquilo que somos –, a esquerda adquire uma certa autoridade moral para impor as suas mentiras aos outros, obrigando-lhes a aceitá-las, visto que institucionalizadas.

Uma forma ainda mais perversa – e, sobretudo, moderna – de elaborar mentiras e as impor aos outros está na imposição cultural do politicamente correto e na imposição de leis “de minorias”, fundamentadas em conceitos mentirosos como “racismo estrutural”, “patriarcalismo estrutural” e “homofobia estrutural”. Desde os escritos de Gramsci e Alinsky, a esquerda aprendeu que é possível fazer uma revolução sem armas, via Golpe de Estado – o próprio Marx diz isso no livro “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte” (1852), quando afirma que, para se realizar uma revolução sem armas, basta modificar o direito e as constituições –, simplesmente (como disse Marx), modificando o direito e as constituições.

Ora, não estamos vendo o direito ser distorcido – pela esquerda que blefa afirmando-se democrática – para violar as liberdades de opinião e de expressão? Não temos visto, dia após dia, novas leis “de minorias” e do politicamente correto se imporem à maioria silenciosa, forçando a maioria a se submeter a elas?

A esquerda tem, em nossos dias, o poder de institucionalizar pautas mentirosas teorias mentirosas. No plano jurídico, quando uma lei fundamentada em pautas mentirosas é estabelecida, temos uma institucionalização de uma mentira. No plano acadêmico, quando uma teoria mentirosa, como o marxismo, é estabelecida como conteúdo obrigatório de uma disciplina – ou de todo o curso de Serviço Social, por exemplo –, temos a institucionalização acadêmica de uma teoria mentirosa. Quando diversos atores estão estudando para concursos públicos, observa-se (basta atentar para os “conteúdos” cobrados em concursos) que diversos temas e teorias mentirosas da esquerda estão sendo cobradas como conteúdos verdadeiros e necessários para ingressar em concursos públicos, no ENEM e no ENADE.

Livros da Márcia Tiburi e da Djamila Ribeiro estão sendo cobrados em concursos públicos e no ENEM. Isso demonstra que a esquerda é imensamente competente em institucionalizar o seu discurso e as suas pautas. O que deixa evidente que a direita está perdendo, em anos, a chamada “guerra cultural”.

Eu, particularmente, não vejo como a direita e os conservadores poderiam, ao menos, fazer frente a esta hegemonia (jurídica, cultural, acadêmica, midiática, etc.) da esquerda. Como conservadores e direitistas jamais seriam aprovados – em razão do patrulhamento ideológico na academia – em concursos para professor universitário, o único caminho seria a criação de cursos acadêmicos reconhecidos pelo MEC (instituição nas mãos dos esquerdistas, mas em que ainda vigoram critérios técnicos) com professores de direita e, sobretudo, faculdades ou instituições acadêmicas conservadoras e de direita. Algum empresário conservador deveria encabeçar um projeto como esse.

A direita está, cada vez mais, sendo lançada em um gueto de marginalização. A mentira esquerdista segue vitoriosa conquistando espaços na cultura e se petrificando em leis e imposições legais. A esquerda tem sido vitoriosa em divulgar as suas mentiras nas universidades, nas escolas, na mídia e, até mesmo, no direito.

Se o livro da Revelação afirma, sobre o Inimigo dos justos, que “Foi-lhe dado poder para guerrear contra os santos e vencê-los” (Ap 13:7), aos justos e defensores da verdade não cabe motivarem-se por vitórias, mas sim pela verdade de seus argumentos e pela justiça de sua luta. Não se trata de mero maniqueísmo mítico. Para os conservadores cristãos o mundo espiritual é uma realidade e a luta espiritual entre o bem o mal é um fato. Digam o que quiserem os críticos do cristianismo, para quem tem experiência espiritual, o mundo espiritual é factual. Não podemos demonstrar, mas podemos dar testemunho.

O que nos resta, como direita, é nos fortalecermos na convicção, realista e verdadeira, de que estamos do lado da verdade e de que defendemos esta verdade. Como disse, com imensa importância, C.S. Lewis: “Nós provavelmente falharemos, mas vamos seguir lutando pelo lado certo. [Uma vez que a] Nossa lealdade não se deve à nossa espécie, mas a Deus.” (In: A última noite do mundo, 1960).

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Esmeril, coluna semanal de 12 de Fevereiro



SANTO CONTO




👆 O pequeno herói
(por Leônidas Pellegrini - 12/02/2023)


Concentrada nas tarefas de casa e ao mesmo tempo distraída com seus pensamentos, Lucilene não notou o fogo que começou na sala depois que uma brisa derrubara a vela para São José que ela havia acendido no oratório. Estava estendendo roupas no quintal quando sentiu o cheiro estranho de queimado e ainda demorou para perceber que era a sua casa que ardia. Arremessou longe toalha e pregadores e correu para o quarto onde a bebê dormia, mas no caminho, passando pela cozinha, tropeçou numa cadeira e caiu batendo a cabeça em um armário. Não chegou a desmaiar, mas levantou zonza, bambeando, trançando as pernas, e, quando viu, estava na rua, onde caiu sentada.

Tentava pedir por socorro com o mundo turvo e girando à sua volta, até que foi acudida por Dona Zélia, vizinha ali de frente, que atravessara a rua exasperada. Balbuciou o nome da nenê e a vizinha arregalou os olhos e levou uma das mãos à boca enquanto olhava para a casa que queimava com força:

– Meu Deus!

A interjeição de Dona Zélia despertou Lucilene do transe como que por mágica, e a mulher levantou de um salto, tentou correr de voltou à casa, mas não havia por onde entrar. Suas pernas bambearam, ela tombou de joelhos na calçada bem em frente à casa e começou a gritar por socorro, repetindo sem parar o nome da filha, aos berros e prantos.

Já haviam chamado os bombeiros, e em volta já se amontoavam vizinhos e curiosos. Alguns homens olhavam a casa em chamas e esboçavam mentalmente uma rota de entrada e saída rápidas, ensaiavam um salvamento heroico, mas não havia mais por onde entrar. Um grupo de mulheres cercou a pobre mãe aos prantos, tentando consolá-la, e algumas senhoras, lideradas por Dona Zélia, sacaram do bolso seus Rosários e já foram desfiando as contas, pedindo à Providência pela vida da bebê sob a intercessão dos Anjos e da Virgem.

E os Céus escutaram. Três casas adiante, o pequeno Riquelme, de cinco anos, brincava no quintal de terra com seus heróis favoritos, São Miguel (cuja imagem de resina ele insistia em surrupiar do oratório da avó para participar de suas aventuras) e Homem-Aranha. O Santo Arcanjo e o aracnídeo enfrentavam uma legião de monstros de lama que ameaçavam destruir uma cidade quando o embate foi interrompido pelos berros de Lucilene e todo o burburinho da vizinhança lá na rua. Riquelme correu para ver o que era e, como seus queridos heróis, agiu, sem medo.

A ação foi tão rápida que o povo, espantado, só se deu conta do feito quando a coisa já havia acontecido: o menino passou como um raio por entre as pessoas, adentrou a casa por uma brecha entre as chamas e, logo depois, já saía com a bebê no colo. Tudo em segundos.

Quando ele entregou a pequena à mãe, enquanto a casa vinha enfim abaixo, todos em torno, olhos arregalados e bocas abertas, foram tomados por um mutismo momentâneo. Depois, vieram o choro de Lucilene, que se agarrava à filha enquanto abraçava e beijava Riquelme, os burburinhos e comentários, os vivas, os agradecimentos a Deus e aos Santos, as palmas e urros de festa ao pequeno herói. E então, as sirenes dos bombeiros.

Naquela semana e nas seguintes, circulariam pela imprensa mundo afora duas imagens: uma com o pequeno Riquelme, com uma camiseta do Homem-Aranha toda embarreada, ao lado de Lucilene com a bebê no colo; a outra, do oratório da casa, com a Santa Cruz, São José, Nossa Senhora e São Miguel,  completamente preservado em meio aos escombros.


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Padre Paulo Ricardo - 31 de Janeiro


EDUCAÇÃO

👆São João Bosco e o segredo da educação
(por Sean Fitzpatrick)


Praticado com amor e lealdade, o método preventivo de São João Bosco dá muitos frutos, tanto para professores quanto para alunos. Com seu conhecido lema, “Dai-me almas”, o santo expressava o principal objetivo da verdadeira educação: formar verdadeiros católicos.

Apesar da implementação do Common Core, permanece a conclusão comum a respeito da educação nos Estados Unidos: ela está em queda livre [i]. Os estudantes terminam o ensino médio com pouca capacidade para ler textos em prosa e com baixa habilidade para escrever em nível elementar. Falta-lhes apreço pela herança cultural da civilização ocidental e elas sequer conseguem datar os acontecimentos históricos mais importantes. Assim sendo, pais e professores católicos muitas vezes se queixam da situação da juventude, da educação e da cultura nos Estados Unidos [ii].

Essa corrupção tem muito a ver com a prevalência de uma ordem moral decadente. Os adultos devem assumir a responsabilidade pelo colapso que dá origem a uma juventude bárbara e renegada, bem como à sua cultura de rua niilista. Porém, responsabilidade supõe ação. Existe uma tendência natural de responder aos problemas da juventude com castigos e regras mais estritas, com uma severidade proporcional à depravação. Embora tais medidas possam ser necessárias às vezes, a caridade recomenda que os adolescentes sejam colocados num ambiente em que (espera-se) a civilidade e a virtude moral possam se desenvolver razoavelmente. O segredo educacional de São João Bosco (16 de agosto de 1815–31 de janeiro de 1888) foi propiciar esse ambiente.

São João Bosco e São Domingos Sávio.

Repressão versus prevenção. — “Ao longo de todas as épocas, foram usados dois sistemas na educação da juventude”, diz João Bosco, “o preventivo e o repressivo”. No método repressivo (mais comum) são estabelecidas regras cuja observância é seguida à distância pela autoridade, que interfere apenas para punir quando elas são transgredidas. No método preventivo são estabelecidas regras, e a autoridade, ao invés de recuar, permanece na companhia dos pupilos, participando das vidas deles tanto quanto possível e prevenindo as falhas que merecem punição, num espírito de vigilância amigável.

Dentre os dois métodos, Dom Bosco adotou o preventivo, que hoje é praticado pelos salesianos, uma ordem fundada por ele sob inspiração da gentileza, paciência e caridade de São Francisco de Sales. Muitas vezes Dom Bosco usava as palavras de São Francisco para promover o método preventivo: “Apanham-se mais moscas com uma colherada de mel que com um barril de vinagre”. O sistema educacional de Dom Bosco se desenvolveu como um resultado de seu tremendo amor pela juventude e no espírito salesiano de compreensão. A técnica do método preventivo consiste, principalmente, em supervisionar gentilmente com o objetivo de edificar a personalidade e proteger os jovens contra influências nocivas: a conjunção entre vigilância e afeição familiar, a fim de evitar infrações ao invés de puni-las. Diz o santo: “Esse sistema se baseia inteiramente na razão, na religião e na gentileza”.

Razão. — Muitas vezes observa-se, com acerto, que um dos defeitos da educação moderna é o fato de raramente os estudantes aprenderem a raciocinar e expressar seus pensamentos com clareza, apesar de terem acesso a uma miríade de informações tomadas de uma vasta gama de assuntos. Quando se lhes apresenta um novo fato, os estudantes têm dificuldade de o integrar ou aplicar a um contexto geral que dê a visão de um todo coerente. Depois da análise de um novo assunto, a maioria dos estudantes é incapaz de realizar uma divisão elementar de suas partes, de distinguir o essencial do acidental ou de detectar um falso argumento.

Essa deformação mental certamente se deve ao fato de que referida formação não é uma preocupação da educação moderna. O intelecto fica enfraquecido e se distrai por causa de uma irracional profusão de assuntos. A verdadeira educação, porém, é mais do que o simples aprendizado de assuntos ou a assimilação de fatos. É um cultivo da mente, que, como diz o Cardeal Newman, “supõe uma ação sobre nossa natureza mental, e a formação de uma personalidade”. 

razão, primeiro elemento do sistema educacional salesiano, é a estratégia de compreensão da personalidade do jovem e como ele aprende. Ao mesmo tempo, a razão fomenta a habilidade de comunicação com ele. Tais requisitos exigem uma presença ativa e constante do professor junto ao pupilo; trata-se de uma amizade agradável e livre. Esses esforços suprem as necessidades emocionais e psicológicas do jovem, que busca o pertencimento [a um grupo] e o reconhecimento. Essas necessidades são supridas pela confiança gerada através desse relacionamento interpessoal entre pupilos e professores, que, nas palavras de Dom Bosco, são como “pais amorosos” que encorajam e elogiam nos momentos adequados. O método salesiano procura minimizar os efeitos negativos do conflito entre gerações ao promover o equilíbrio adequado entre autoridade e tolerância, mesclando liberdade e responsabilidade, e congregando os mais velhos e os mais jovens.

    Dom Bosco atendendo confissões dos jovens.

Religião. — O fator mais angustiante em relação à situação dos jovens americanos é a corrupção do caráter atestada pela falta de virtudes morais básicas e das virtudes sobrenaturais da fé, esperança e caridade. Nem mesmo as escolas católicas estão imunes à degradação acadêmica, cultural e moral que se pode observar em suas equivalentes profanas. A juventude moderna é marcada por uma postura de cinismo que exulta em ironia e sarcasmo. O “catolicismo de ocasião” é a norma numa América cada vez mais ímpia [iii]. O que mais se pode esperar quando o secularismo, o materialismo e o relativismo formam a trindade profana que governa o deserto onde se perde a juventude? Sem exemplos verdadeiros, as crianças e os jovens estão fadados a se perderem. Somente o amor a Deus pode vencer o mal e substituí-lo por um cálice que transborda [iv]. 

Oferecer aos estudantes apenas valores humanos seria uma grave injustiça no processo de educação. Por isso o método educacional salesiano põe uma grande ênfase em seu segundo pilar: a religião. A mensagem do Evangelho é parte integral da educação, já que a Boa Nova é a luz que conduzirá os indivíduos ao longo da vida neste mundo até a vida no próximo. Hoje a luz do Evangelho é obscurecida por sistemas opressores e valores materialistas. Esses fatores culturais negativos afetam os jovens com uma força especial. A corrupção no governo, as rupturas familiares e o desprezo pelas restrições morais são realidades que causam estragos no desenvolvimento saudável dos jovens. O remédio é a religião, que pode governar as ações deles e provocar mudanças permanentes para o bem do indivíduo e da sociedade. A educação salesiana, que sempre se inspira na rica tradição católica, considera sumamente importante a frequência aos sacramentos, canal ordinário da graça e auxílio divinos.

Gentileza. — Acrescente-se a gentileza à razão e à religião. Esse princípio não é uma fraqueza, mas antes uma demonstração de força e autocontrole. Procura criar uma atmosfera persuasiva, onde a confiança e a comunicação são estimuladas. Essa gentileza (ou caridade) propicia a expansividade e a confiança de que a juventude de hoje tanto precisa. O elemento da gentileza faz com que levemos em consideração o relacionamento existente no outro lado da base da educação: o professor, o pupilo e a família. A primeira escola é a família e os primeiros professores são os pais. Os educadores salesianos entendem esse importante fato psicológico e em suas escolas buscam desenvolver um espírito de família, tal como o que existe numa família verdadeiramente cristã, em que todos são unidos num espírito de alegria, amor e paz.

O relacionamento entre um estudante e seu professor deveria ser marcado por harmonia, concórdia e afinidade. Essa postura deveria imperar com total liberdade numa escola, de acordo com os escritos de Dom Bosco. Caso contrário, desenvolve-se um obstáculo de falta de confiança, que impede qualquer influência real que o professor possua para o bem. Quando estão numa posição em que sua autoridade é respeitada e exercida de forma amigável, os professores têm o potencial de ensinar muito mais que suas respectivas disciplinas em sala de aula. Eles podem ensinar a virtude em todos os aspectos da vida através de seu exemplo em nível social. Até pouco tempo atrás, as sociedades davam muita importância ao aprendizado das crianças com os mais velhos, que atuavam como mentores que as guiavam pelos ritos de passagem para a vida adulta. A educação salesiana escuta essas tradições, na esperança de que os estudantes sigam os passos de seus professores na vivência da fé, na busca da sabedoria e no refinamento de suas predileções. Esse senso de união, que é a essência do ensino, é fruto de uma abordagem amigável. Escreve o santo: “Um mestre que só é visto na cátedra de professor é apenas um mestre e nada mais. Mas se ele participa da recreação com os meninos, torna-se irmão deles”. Essa união nos momentos de diversão, compartilhando risadas e conversas, forma laços de amizade que duram por anos a fio.

Retrato de São João Bosco. (Créditos: De Agostini/Getty Images.)

O segredo da afinidade. — O método preventivo de Dom Bosco consiste em criar uma atmosfera de amizade e compreensão mútua, ou em estabelecer afinidade: uma relação na qual a confiança e o respeito mútuos são alimentados num espírito de amizade, simpatia, cooperação e (acima de tudo) vigilância. Por um lado, o educador se interessa profundamente em ajudar as pessoas a resolverem seus problemas; e o educando, por outro lado, aprecia essa atitude. Existe afinidade entre professor e aluno quando entre eles há a compreensão de que o professor se importa sinceramente com o bem-estar do estudante, e este aprecia isso e age de forma adequada. Quando se estabelece a afinidade, um professor pode se tornar uma influência positiva sobre o estudante, e os estudantes se esforçam por agradar aqueles a quem amam — pois a razão da afinidade é o amor.

Para ser eficaz, esse relacionamento deve assumir uma natureza personalizada e individualizada. São João Bosco insistia em que, para a transmissão de uma duradoura formação física, emocional, intelectual, moral e espiritual, era necessário o estabelecimento da afinidade. Seguindo os passos desse santo professor, os professores deveriam aprender a falar com os estudantes na linguagem do coração, exercendo assim uma influência positiva sobre eles. Os estudantes, por sua vez, seriam levados a enxergar seus professores como amigos e benfeitores que buscam o bem deles. Deve-se dizer, porém, que o sistema delineado aqui não é simples. Conviver com estudantes e tomar parte em seus interesses, conversas, deficiências e progressos — ainda que se faça tudo isso com alegria — não é nada fácil. Mas quando o método preventivo é praticado com lealdade e amor, dá muitos frutos para o estudante e o professor. O lema de Dom Bosco era: “Dai-me almas”. Assim ele expressava o principal objetivo da educação: a verdadeira educação forma verdadeiros católicos

Nada mais importa, e este é o verdadeiro segredo da educação.

Notas

  1. A ideia do Common Core americano (literalmente, “núcleo comum”) foi trazida para o Brasil e tornou-se a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Trata-se de uma referência obrigatória para as redes e instituições de ensino elaborarem seus currículos escolares e propostas pedagógicas, desde a educação infantil até o ensino médio. (N.T.)
  2. A juventude, a educação e a cultura no Brasil definitivamente não estão isentas dessa mesma crítica, como pode observar qualquer pessoa minimamente atenta à realidade. (N.T.)
  3. Talvez um equivalente brasileiro mais adequado para a expressão casual Catholicism seja “catolicismo não-praticante” ou “catolicismo de IBGE”: uma referência aos batizados que talvez até frequentem a Missa uma vez ou outra, mas cuja prática religiosa não transforma realmente suas vidas e seu modo de pensar. (N.T.)
  4. Referência ao Sl 22, 5, do Bom Pastor: “Preparas uma mesa para mim, à vista dos meus adversários; unges com óleos a minha cabeça; o meu cálice trasborda”. (N.T.)
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👆 OLAVO DE CARVALHO

A ética da baixeza
(Publicado originalmente no O Globo, em 24 de Junho de 2000, disponível no site do professor)

Anterior à definitiva adesão do autor ao ideário liberal, e ainda marcado pelas ressonâncias de sua formação marxista, “Saudades do carnaval. Introdução à crise da cultura” (São Paulo, Forense, 1972) ainda é, para o meu gosto, o melhor livro do inesquecível José Guilherme Merquior. Muitos preferem “A natureza do processo”, mas tenho tantas objeções ao triunfalismo progressista meio hegeliano, meio kantiano, aí assumido pelo autor na maturidade do seu pensamento, que prefiro ficar com a visão histórica mais trágica, frankfurtiana, que entenebrecia as meditações do jovem filósofo.

“Saudades do Carnaval” permanece, até hoje, a mais ambiciosa tentativa de situar uma “interpretação do Brasil” no quadro da história geral das “paidéias” ocidentais – os ideais educativos que vieram, de época em época, orientando e cristalizando os sucessivos esforços da nossa civilização rumo a um modelo ético habilitado a conciliar a organização prática da sociedade com as exigências da dignidade espiritual da espécie humana.

Digo a mais ambiciosa, e não necessariamente a mais séria, porque em seriedade é igualada por sua precursora imediata, “Desenvolvimento e cultura. O problema do estetismo no Brasil”, de Mário Vieira de Mello (São Paulo, Nacional, 1963), a qual, sem tomar esse tema geral por seu objeto explícito, muito fez avançar a sua compreensão ao destacar, na formação da mentalidade das nossas classes letradas, em vez da herança dos grandes ideais ético-pedagógicos, a influência predominante de uma hipnose estética contraída de Jean-Jacques Rousseau, pseudo-ideal educativo que ainda hoje contamina de um viés teatral, posado e desrealizante o grotesco debate “ético” em que se deleita uma “ntelligentzia” microcéfala.

A importância vital dessas duas obras para nós hoje em dia reside precisamente no fato de que, na ausência de uma visão dos modelos superiores de conduta que fundaram a nossa civilização — para não falar das outras — , toda discussão ética tende a se perder em casuísmos e oportunismos de uma baixeza incomparável, invertendo no fim todos os valores e consagrando como exemplos de honradez e quase santidade os politiqueiros mais mesquinhos, os agitadores mais brutais, as estrelas mais ocamente vaidosas do “show business”.

Que de início todas as esperanças se depositassem sonsamente na promessa de “passar o Brasil a limpo” mediante CPIs e cassações, repetindo com signo ideológico inverso as Comissões Gerais de Inquérito do regime militar, mostra apenas a pressa indecente com que um descarado revanchismo, apostando na falta de memória popular, lança mão das armas cujo uso condenava em seus adversários. Mas que, passados doze anos de escândalos, perseguições, demissões e “impeachments”, sem outro resultado visível senão a multiplicação das denúncias e a fixação do país num estado crônico de desprezo a si mesmo, ainda haja quem insista em que “o problema do Brasil é a impunidade” e em que tudo se resolverá com novos acréscimos de ferocidade na autodestruição das instituições, eis um fenômeno que denota, nas nossas classes falantes, já não apenas a recusa obstinada de aprender com a experiência, já não apenas a confiança cega nas virtudes da oratória selvagem, mas, positivamente, uma visceral desonestidade e uma falta completa de amor ao Brasil.

Não existe ética, não existe moral onde não existe amor à verdade, e não existe amor à verdade onde não existe a paciência de buscá-la. Quando os intelectuais abandonam toda investigação séria para consagrar-se à tarefa auto-assumida de “fazer história”, de moldar o mundo à sua imagem e semelhança, de derrubar governos e inventar sociedades, a consciência geral se rebaixa ao nível dos cabos eleitorais e dos incitadores de desordens. Nesse momento, dizia Eric Voegelin, os personagens mais desprezíveis e caricatos, que numa situação normal seriam votados ao esquecimento ou ao ridículo, adquirem súbito relevo como encarnações literais e rasas dos caprichos da multidão enfurecida que, na desorientação geral, se afirmam como um “Ersatz” do bem e da justiça.

Já observei que, em outras épocas, “líder popular” era uma pessoa de extração social humilde que, por seus méritos e esforços pessoais, se elevava acima de seus pares sem perder o elo de fidelidade com o meio de origem. Hoje, ou é um diplomado que se disfarça de proleta, imitando o vestuário e a fala dos pobres (o que é no mínimo um desrespeito), ou é algum filho do acaso, que, vindo de baixo e desfrutando à larga de seu novo padrão de vida, insiste em conservar e alardear com orgulho sua condição originária de pessoa de poucas letras, choramingando sua exclusão do ensino “elitista” e promovendo a identificação, altamente difamatória, da pobreza com a ignorância.

Esses tipos são hoje exibidos à multidão como modelos de vida humana, para a edificação de nossas crianças. Em torno deles, um círculo de intelectuais bajuladores consagra-os como personificações máximas do gênio popular brasileiro. Deprimente e aviltante, esse fenômeno reflete, nas gentes acadêmicas, a perda completa da orientação no universo dos valores e da história.

Levado pelo discurso insano de acadêmicos semiletrados, o Brasil desgarra-se do eixo do mundo, errando num espaço sem fundo onde todas as proporções se embaralham, onde os juízos morais mais óbvios suscitam escândalo e onde o disforme e o obscuro se tornam a medida de todas as coisas.

Eis o motivo pelo qual é urgente retomar os estudos que foram iniciados por José Guilherme Merquior e Mário Vieira de Mello. Ou aprendemos a encaixar as aspirações brasileiras no quadro de critérios éticos universalmente válidos — pois este era o problema que os atormentava –, ou logo não conseguiremos conceber moralidade mais alta que a do delator ressentido que, entre uivos de ódio cívico, envia seus desafetos à guilhotina.

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👆SUGESTÕES DO AUTOR

Leituras sugeridas para iniciantes na busca pelo conhecimento
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
28 de Janeiro de 2023

Tenho visto que várias pessoas agora (precisamos de muito mais) tem investido seu tempo em iniciar uma vida mais voltada nos estudos. Essas pessoas entenderam o que o professor Olavo, o Allan, eu há pelo menos dois anos e meio, e outros mais já entenderam: temos que ficar inteligentes antes de querer resolver nossos problemas. Apesar de entenderem isso, não sabem por onde começar.

Primeiro de tudo, eu recomendo entrarem no COF e paralelo a isso irem alimentando o imaginário com literatura clássica de ficção; Dostoievski, Machado de Assis, Gustavo Corção, Tolkien, Shakespeare, teatro grego, coisas assim. Se isso for possível, viável, será excelente. Agora, independente de quem já pode ou ainda não pode entrar no COF ou ler muitos livros de uma vez, aqui eu vou recomendar 5 leituras filosóficas, descritivas e instrucionais que eu fiz e que só me fizeram bem, e eu pessoalmente recomendo essas leituras como um bom começo pois elas vão te situar no espaço e no tempo que estamos vivendo.

Vou explicar cada uma:

  • A primeira é O IMBECIL COLETIVO. Por que? Primeiro por causa da falta do MÍNIMO..., que foi onde eu comecei com o professor Olavo, mas o IMBECIL também vai lhes dar um excelente escopo de a que ponto nós chegamos e o que virá ainda por aí. A série de textos e artigos que o professor colocou neste volume irão sanar o status quaestionis de muitos assuntos e dar uma base mínima para que vocês entendam o estado de coisas. Tem que ler.

  • Depois tem A ARTE DE ESCREVER. São dicas preciosas do senhor Antoine Albalat sobre como escrever em 20 lições sucintas, você pode até ler uma por semana e praticar em cima. O Allan sempre destaca a necessidade que temos de documentar a nossa história para não deixar a esquerda ter o monopólio da narrativa e do discurso, e saber escrever bem é primordial para isso. Aqui o Antoine fala sobre texto narrativo, concisão, originalidade, observação direta, enfim, coisas que depois podem ser aprofundadas por todos, mas neste livro o autor dá fundamentos sólidos para que vocês possam começar. Funcionou para mim, então estou recomendando.

  • Vou recomendar outro do Olavo, este eu acho muito importante. Trata-se de ARISTÓTELES EM NOVA PERSPECTIVA. Primeiro porque você não precisa ter lido Aristóteles para ler este livro, muito embora deva começar a pensar na ideia após a leitura. Segundo porque o Olavo explica no detalhe aqui a teoria dos Quatro Discursos. Isso é essencial, porque a gente tem que pegar esse hábito de saber com que pessoas nós estamos nos comunicando e dessa forma saber nos comunicar bem com elas. Aqui o Olavo vai falar sobre discurso poético, dialético, retórico e analítico, o que é cada um deles, como e quando usar, enfim, basicamente vocês irão trabalhar aqui o processo geral de convencimento das pessoas sobre as coisas. É de suma importância saber isso. Olavo não falava palavrão no YouTube à toa. Ele sabia o que fazia. Tanto sabia, que hoje eu estou aqui falando com vocês, então tratem de ler e compreender bem esse livro.

  • Se você já leu tudo isso e quer um aprofundamento maior na organização da sua vida de estudos e das suas ideias como um todo, eu recomendo a seguir A VIDA INTELECTUAL, do Padre Sertillanges. Um livro tão maravilhoso e tão abençoado que eu não o uso somente para me organizar os estudos, mas também para absorver conselhos práticos para minha própria vida pessoal. É um livro indispensável que qualquer um que leve os estudos a sério tem que ter na cabeceira.

  • Por último, uma recomendação que caiu na minha mão por causa do próprio Allan dos Santos. O TOLO E SEU INIMIGO, do Jeffrey Nyquist. Eu nunca esqueço o Boletim da Manhã do Terça Livre em que o Allan estava recomendando essa leitura, tendo inclusive o livro na mão e lendo um trecho dele em voz alta. Foi em 2019. Aquilo me capturou a atenção de uma maneira tal que eu me senti compelido a ir atrás do livro e do próprio analista político americano. Ele inclusive resolveu me procurar no Facebook quando viu que eu seguia o Allan e mais tantas outras personalidades da direita brasileira. Além de ter conversado com ele pelo messenger e visto a pessoa amável que é, fiquei pessoalmente impressionado pela sua inteligência e perspicácia em descrever a realidade. Esse livro do Nyquist vai dar a todos vocês um complemento altamente necessário ao IMBECIL COLETIVO do Olavo, e vai falar de forma sucinta sobre os problemas e desgraças que acometem o mundo moderno, dando foco no problema da Nova Ordem, da Nova Religião, traçando um histórico detalhado sobre a infiltração Comunista nos EUA, enfim, dando bases sólidas e fortes para que os leitores saibam explicar o mundo. E isto é extremamente necessário, porque se você não souber fazer isso, não vai conseguir avançar muito e nem ajudar ninguém.

Dessa forma, eu me despeço por agora e deixo vocês com essas indicações. Vejam, novamente reiterando, isso não é uma receita de bolo a ser seguida. É somente algo que deu certo pra mim e por isso estou repassando. Se alguém está procurando por uma base para começar, talvez esse norte que eu dei lhes ajude em alguma coisa. Fato é que temos que começar de algum lugar, então espero que essas dicas sejam de grande ajuda.


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👆 HUMOR

E nas True Outstrips de hoje:

- A literatura brasileira moderna (se é que existe) a passos de tartaruga... ;

- Aí o Cocô Instantâneo, quem diria, foi o único que conseguiu entender... tempos estranhos!;

- E os inteléquituais discutindo a aporrinhação da apropriação... tenso! Hahaha!;

- Por fim, um urso muito louco aprontando várias confusões na floresta foge do Olavão e fica... bem... afrescalhado, hehehe!... 😓

Se nada acontecer comigo, a gente se vê de novo em 15 dias!
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- Ah, e quem puder, colabore com as True Outstrips! É você que as mantém funcionando sem dinheiro de Rouanet, Secom, e cia limitada!



(12+1/02/2023)



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👆 LEITURA E FILME RECOMENDADOS

Hoje a recomendação ficará por conta de uma HQ e um filme.

O primeiro, uma história em quadrinhos. Mas não é qualquer história em quadrinhos: trata-se de um dos projetos mais ambiciosos e emocionantes que já foram desenvolvidos por artistas brasileiros. É uma HQ sobre a vida de São Padre Pio de Pietrelcina. Um projeto ousado, que conta com artistas de primeira classe, incluindo roteiro e desenhos do grande quadrinista João Spacca e todo o apoio e divulgação do nosso querido sacerdote e professor Padre Paulo Ricardo. Você pode pedir no próprio site do padre a edição capa dura com prefácio escrito pelo próprio Padre Paulo Ricardo e ler sobre a vida de um santo que marcou e vai continuar marcando a vida de muitas pessoas, inclusive a minha. Eu já comprei e estou lendo, e está sensacional.

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RECOMENDAÇÃO DE FILME:



Quanto ao segundo, aqui está um filme que você não pode deixar de assistir: Mentirocracia, a primeira produção oficial do jornal Brasil Sem Medo. Esta produção vai traçar um paralelo da sociedade moderna com  o maior e mais antigo vício da humanidade desde o Pecado Original: a mentira. Juntos de Roger Campanhari, Paulo Briguet, Silvio Grimaldo, Bernardo Küster e Brás Oscar se embrenham pelas artimanhas do poder em busca de esclarecer as pessoas sobre o mundo de mentiras e conspirações que vivemos nos dias de hoje, e o quanto isso tem feito com que fenômenos como o Ministério da "verdade" e as fake news tem se proliferado por aí. Um  documentário imperdível e necessário. Boa sessão!


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