Edição LXXXVII (Terça Livre, Revista Esmeril 48, opinião e mais)

Tempo de Leitura LXXXVII

(Opinião, artigos e cultura para pessoas livres)


Resumo semanal de conteúdo com artigos selecionados, de foco nas áreas majoritariamente cultural e comportamental, publicados na Revista Esmeril e outras publicações de outras fontes à minha escolha. Nenhum texto aqui pertence a mim (exceto onde menciono), todos são de autoria dos citados abaixo, porém, tudo que eu postar aqui reflete naturalmente a minha opinião pessoal sobre o mundo.


ACOMPANHE
 


ANTES DE MAIS NADA, ESSA É A BANDEIRA QUE EU DEFENDO:
ESSE É O PAÍS QUE EU QUERO!


Outra coisa:
QUE ISRAEL TRIUNFE SOBRE OS TERRORISTAS DO HAMAS!

REVISTA ESMERIL 48

O Eurasianismo e a Nova Ordem Mundial (Leônidas Pellegrini)

Hamas e Jihad Islâmica exportam táticas militares de Gaza para a Cisjordânia (Lawrence Maximo)





Onde quer ir primeiro?



LEITURA RECOMENDADA


Minhas redes:
    


23 de Outubro de 2023
________________________________



👆 MEMÓRIA: REVISTA TERÇA LIVRE
(matérias de edições antigas da revista que ainda são atuais)


Hoje voltaremos no tempo para a edição 56 da Revista Terça Livre, de 04 de Agosto de 2020.


O novo site do Terça Livre está de volta, e com ele, todos os cursos e todas as edições da Revista Terça Livre desde o seu início. acessem:
ou
Escolham um plano e tenham acesso a todo o conteúdo. Os valores estão em dólares.



COMPORTAMENTO

👆 A DITADURA DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
(por Alberto Alves)


Disse, certa vez, o escritor e poeta teuto-estadunidense Charles Bukowski: “a diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que numa democracia se pode votar antes de obedecer às ordens”. Para aqueles que acompanham e conhecem o modus operandi da esquerda na dinâmica democrática mundo afora, sabe que nada do que está acontecendo atualmente em nosso país é novidade. Que a democracia na boca de um esquerdista não tem o mesmo signiåcado que encontramos nos dicionários.


Como idealizado por Gramsci, a ocupação dos espaços substituía o extremismo das ditaduras, embora a violência contra seus inimigos não perca sua intensidade nem legitimidade. Para a causa, tudo é válido e justificável. Porém, não adianta ocupar espaços se não houver uma linguagem apropriada para convencer e dominar aqueles que estão bem fundamentados dentro do contexto cultural cristão majoritário no país.


Daí, a estratégia é padrão: aproveitar-se da ignorância dos opositores e começar a explorar suas fraquezas e dominar as expressões linguísticas com seu uso indiscriminado, até que elas se banalizem a ponto de se permitir que seu sentido original seja
modificado, sem que haja qualquer resistência e tentativas de recuperá-lo. Por outro lado, para que as estratégias não sejam usadas contra eles mesmos, o genérico entra em cena e a parte acaba sendo confundida com o todo, o que lhe permite substituir
convenientemente suas defesas à maneira que lhes convier.


Foi assim que no começo a esquerda foi ganhando força dentro do imaginário popular. Enquanto os generais, durante o período militar, preocupavam-se em perseguir e desarticular a guerrilha armada, o outro braço esquerdista ocupava-se em estabelecer seu domínio nas universidades, aproveitando-se da “teoria da panela de pressão”, do general Goulbery do Coute e Silva. Assim foi também na Cultura, seguindo os moldes gramscistas.


Na Cultura, começaram com comédias aparentemente ingênuas nas novelas e teatros, apontando e denunciando os “excessos” dos ditos
puritanos, que escondiam suas imoralidades num ambiente conservador hipócrita, fazendo crer que aquilo era mais regra do que exceção – o que, aos poucos, começou a ganhar espaço no imaginário popular. Destacaram-se nessa época os escritores Dias Gomes, Janete Clair e Aguinaldo Silva.


A primeira telenovela do horário das 22h, “Verão Vermelho”, em 1970, também de Dias Gomes, criticava a impossibilidade do divórcio. Naquela época só era permitido, por lei, o desquite. Alguns meses depois do fim da novela, o divórcio foi instituído no país.


Dias Gomes e Aguinaldo Silva se destacaram com a telenovela “Roque Santeiro”, que foi inspirada de uma peça teatral chamada “O berço do Herói”, de Dias Gomes. O objetivo era enganar o crivo da censura durante o regime militar e desmoralizar a Igreja Católica, confrontando o catolicismo conservador com a alternativa da Teologia da Libertação.


Nelson Rodrigues, embora opositor do comunismo, teve seu trabalho amplamente usado como ferramenta revolucionária. Sua série de contos lançados entre os anos 1950 a 1961, intitulada “A Vida Como Ela É”, consistia em crônicas que geralmente giravam em torno do pecado, do adultério, de desejos e da moral, servindo de vitrine do ativismo cultural socialista. As crônicas foram amplamente exploradas pela Rede Globo em contos e séries com o mesmo nome, em 1992.


Não demorou muito para esse tipo de ativismo ganhar um tom mais agressivo, influenciando leis que afrontavam a ordem familiar. É sabido que as leis regularizam o comportamento da sociedade já vigente em determinadas épocas, mas também é sabido que as manifestações culturais, munidas pelas teledramaturgia de ativistas comunistas declarados, antecipavam-se às mudanças legais.


Os passos eram lentos, mas constantes. No começo, influenciaram a lei do divórcio, mantendo o relacionamento heterossexual como o requisito para um final feliz nas novelas. Depois, começaram a incentivar o sexo entre adolescentes e jovens, tratar assuntos como o uso de drogas pesadas, homossexualidade e, finalmente, a ideologia de gênero, com a série televisiva “Malhação” de Andréa Maltarolli e Emanuel Jacobina, que começou em 1995 e dura até hoje. Este segmento cultural é a militância na qual a esquerda tem maior poder de influência.


Na Educação, a escola logo foi ganhando o espaço da família, agora praticamente destruída. A exceção é encontrar uma criança que tenha pai e mãe vindos de um único casamento. Assim, o professor ganha novo significado. Ele é o educador, que agora faz o papel do pai que a criança nunca teve e o da mãe da qual praticamente não vê por passar o dia inteiro trabalhando e pouco pode fazer para acompanhar o filho na escola.


Nas universidades públicas, aqueles que conseguem chegar nesse grau seleto de direito de todos, mas privilégios de poucos, são constantemente bombardeados com visões socialistas contra o conservadorismo cristão, e se tornam perfeitos militantes em favor da causa revolucionária. Lá, eles aprendem a ressignificar conceitos como ditadura, democracia, fascismo etc. Aprendem que o regime militar foi uma ditadura, mas que a ditadura cubana, por exemplo, é uma democracia. Aprenderam também as semelhanças entre nacionalismo e fascismo, mas lhe foi negado a semelhança entre o fascismo e o socialismo.


São esses alunos que hoje viraram profissionais e que agora ocupam os maiores cargos do poder no país. São os mesmos que ditam as leis e remodelam a dinâmica social, ignorando ativamente a visão conservadora da maioria da sociedade que, sustentada pelo ativismo das igrejas, recusam-se a se submeter às causas socialistas.


Enquanto o Estado era dividido entre esquerda radical e moderada, comumente conhecida como centro esquerda, não se percebia o tamanho do alcance que eles obtinham nos vários seguimentos da sociedade ao longo desses anos todos. O máximo que se sabia era que as eleições não passavam de cartas marcadas e que o povo, sob o lembrete constante de soberania no poder, só podia exercê-la no período das eleições. Depois, era completamente ignorado por seus eleitos. Sequer lhe foi dado o direito de conhecer o funcionamento
da democracia, como ela funciona e quais as atribuições de cada seguimento do poder, o que claramente lhe impedia de participar do processo político de forma eficiente.


Foi a subida ao poder por um conservador cristão do baixo clero político que permitiu se ter noção do tamanho da influência socialista no poder e nas instituições. Ficou claro também o ressignificado que as palavras ganharam. Defender a democracia não é reconhecer e respeitar a escolha da maioria da população, mas promover arbitrariamente perseguições contra opositores, prendendo-os sem acusação e negando-lhes o direito de saber sequer o motivo da sua prisão. Bloquear influenciadores digitais sem acusação não é ditadura, mas o direito a defender a manutenção das instituições democráticas. Limitar o poder do Executivo não é violação da independência dos poderes, mas impedir que genocídios sejam realizados. Genocídios que na boca de um ministro do Supremo Tribunal Federal tem um valor genérico, da mesma forma que tem na boca de um militante esquerdista, calouro de universidade.


A Constituição é rasgada, as atitudes são tão nefastas que chega a assustar até pensadores de esquerda que professam a mesma bandeira revolucionária, mas que não pertencem à mesma facção. É o típico medo do socialista, que só teme outro inimigo também socialista.


Esse padrão permeia todos os seguimentos estatais. Até instituições de que não se esperava ver algo nesse sentido vêm manifestando suas tendências revolucionárias. É o caso do Ministério da Saúde, que, não fosse intervenção direta do presidente da República no tocante ao tratamento com a hidroxocloroquina, ainda estaria divulgando a bandeira esquerdista em favor do vírus chinês. Até segmentos científicos como a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira de Infectologia têm manifestado sua militância na causa socialista e contra princípios conservadores. Se fosse uma questão de mera posição ideológica, não haveria grandes problemas, embora isso ainda fosse preocupante para instituições que deveriam ser isentas. O problema é que lutas contra a desigualdade social, direitos das minorias e a defesa das instituições democráticas são recorrentes, o que, pelo modo como elas vêm sendo pronunciadas, e no contexto em que estão inseridas, demonstra claramente o posicionamento ideológico esquerdista destas instituições. Assim, qualquer manifestação contrária a essa bandeira não é encarada como uma contraposição meramente ideológica, mas sim contra a própria instituição em si.


Está claro que essa é uma demonstração de força e resistência contra quem tem se levantado em oposição aos seus planos, o que nos leva a concluir que a esquerda está claramente perdendo espaço e poder frente a cada vez mais crescente indignação da sociedade. O problema é saber até onde são capazes de ir. Se não soubermos reagir da forma correta, eles poderão perder completamente o pouco de respeito pela constituição que ainda lhes resta e transformar nossa democracia numa declarada ditadura.


Talvez seja uma boa estratégica deixar que tentem destituir o presidente do poder para que finalmente as Forças Armadas, que já demonstraram sua insatisfação contra esse tipo de conduta por parte do Judiciário, entrem em ação e dissolvam-no a fim de reestabelecer a ordem e a harmonia entre os poderes. O preço, no entanto, pode ser muito alto, e poderemos perder o mais precioso baluarte se os militares não abraçarem a causa.


Resta-nos apenas pesar nos riscos e avaliar se isso realmente vale a pena. O fato é que a democracia que temos foi tão modificada e aparelhada em favor da revolução socialista, que está difícil tirar algum proveito da Constituição que nos guia. Com ela o povo continuará sendo um mero instrumento de campanha e suas decisões poderão continuar sendo ignoradas quando tudo isso passar.


Portanto, está claro que a nossa Constituição precisa ser revisada. Esperamos que, nesse dia, pelo menos a maioria dos constituintes que a escreverão tenha aprendido a lição e volte a dar ao povo o direito que lhes é verdadeiramente devido.


__________________________


Terça Livre LOCALS /  - 22 de Outubro de 2023




NOVA ORDEM MUNDIAL

















👆 AMEAÇADOR? PUTIN ELOGIA PLANOS DA CHINA PARA UMA 'NOVA ORDEM MUNDIAL'
(por Terça Livre - 15/09/23)


No contexto do Fórum do Cinturão e Rota em Pequim na mesma data, a estreita aliança entre os ditadores Chinês Xi Jinping e o Russo Vladimir Putin suscita preocupações sobre as verdadeiras intenções da China e as possíveis repercussões para o mundo. Esse encontro, que apresentou a grande visão da China para uma NOVA ORDEM MUNDIAL, não é necessariamente uma boa notícia para a comunidade internacional.

A Iniciativa Cinturão e Rota (ICR), a principal política externa da China, esteve no centro desta conferência. Enquanto alega expandir a conectividade global e o comércio por meio de projetos de infraestrutura massivos, ela esconde uma agenda mais sinistra: a dominação de seus vizinhos e a neutralização do Ocidente. O papel proeminente de Putin neste evento enfatiza ainda mais os desafios geopolíticos que podem surgir.

O que pode parecer uma justa frente unida contra a dominação ocidental globalista é, na realidade, um movimento calculado por ambos os líderes para desafiar os Estados Unidos. Suas queixas compartilhadas em relação à ordem mundial globalista são motivo de preocupação. Sua visão de um "mundo multipolar mais justo" esconde o desejo de minar a ordem global atual e se elevar como líderes alternativos.

A declaração de Xi de que "a confrontação ideológica, rivalidade geopolítica e política de blocos não são uma escolha para nós" deve ser vista com ceticismo. Por trás dessa retórica está uma clara resistência aos esforços ocidentais para pressionar a China em questões como comércio, tecnologia e o status de Taiwan. A oposição da China às sanções unilaterais e à coerção econômica serve convenientemente aos seus interesses em evitar escrutínio internacional.

A ausência de países da União Europeia nesta conferência fala volumes sobre a natureza divisiva das ações da Rússia na Ucrânia. Enquanto o Primeiro-Ministro Viktor Orban da Hungria foi o único representante da União Europeia, quase 150 nações em desenvolvimento participaram entusiasticamente. Isso reflete os atrativos incentivos financeiros e projetos de infraestrutura da China, que vêm a um custo significativo.

A Iniciativa Cinturão e Rota da China, financiada por quase US$ 1 trilhão em empréstimos, pode ter impulsionado o crescimento econômico em algumas nações, mas deixou outras acorrentadas a obrigações de dívida onerosas. Apesar dessas consequências, a China insiste em promover a ICR como uma alternativa aos modelos de desenvolvimento liderados pelo Ocidente.

A presença de Putin no fórum permitiu-lhe apresentar-se como um mediador global, apesar das alegações de crimes de guerra na Ucrânia e do isolamento internacional. Num mundo onde as nações ocidentais buscam isolar a Rússia, as interações de Putin com líderes asiáticos mostraram a duradoura influência global da Rússia.

Enquanto esta conferência se desenrolava, o Oriente Médio enfrentava uma crise entre Israel e o Hamas, um conflito que ameaçava engolir toda a região. A relutância da China e da Rússia em condenar inequivocamente o Hamas os separou do firme apoio dos Estados Unidos e da Europa a Israel, suscitando preocupações sobre suas motivações no Oriente Médio.

Em essência, o Fórum do Cinturão e Rota proporcionou à China um palco para promover sua visão de uma NOVA ORDEM MUNDIAL SINO-SOVIÉTICA, que desafia a dominação globalista. No entanto, as implicações dessa visão para o mundo estão longe de serem positivas. A dedicação da China em remodelar a ordem global por meio de influência econômica e projetos de infraestrutura deve ser vista com cautela.

Isso vem sendo planejado há muito tempo, e a Administração Biden parece não compreender (ou ajudar) a importância desses movimentos. E agora, eles estão quase concluídos - isso nos custará caro.


~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
__________________________
__________________________

REVISTA ESMERIL - Ed. 48, de 30/09/2023 (Uma publicação cultural digital e mensal de Bruna Torlay. Assinar a revista


ESMERIL ENTREVISTA

👆 ESMERIL ENTREVISTA | O Eurasianismo e a Nova Ordem Mundial
(por Vitor Marcolin)

Alexandre Costa e Daniel Ferraz falam sobre as relações do Eurasianismo com a Nova Ordem Mundial, o ocultismo e até mesmo a direita brasileira

Você conhece o Eurasianismo? Já ouviu falar em Alexandr Dugin? Sabe como a ideologia eurasiana se relaciona com o que se entende por Nova Ordem Mundial? Conhece as raízes ocultistas do Eurasianismo? E o Brasil, sabe como está relacionado com a onda eurasiana, e por que tantos de nossos intelectuais, à esquerda e à direita, têm se encantado tanto pelo canto da sereia russa?

Sobre essas questões conversei com dois importantes estudiosos do movimento revolucionário, história da filosofia, geopolítica e história dos movimentos esotéricos e ocultistas na formação da modernidade filosófica, cultural e política: Alexandre Costa e Daniel Ferraz.

Alexandre começou seus estudos após o 11 de Setembro de 2001, e desde então já publicou os livros Bem-vindo ao hospícioIntrodução à Nova Ordem MundialO Brasil e a Nova Ordem MundialAs várias faces da Nova Ordem MundialUm copo de redpillO mínimo sobre ocultismo e O mínimo sobre Globalismo. Foi colaborador do canal Terça Livre e da Revista Terça Livre, e faz análises geopolíticas em seu canal no Youtube.

Daniel é autor do recém-publicado O ocultismo na política moderna e coautor de Línguas de Fogo. Possui inúmeros artigos publicados em portais como PHVox e Influência Jovem. Também foi colaborador no canal Terça Livre e tem mais de 600 horas de transmissão em seu canal no Youtube.

Confira a seguir a entrevista com esses dois eminentes alunos de Olavo de Carvalho.


Revista Esmeril: Esta entrevista será em torno dos fenômenos a que chamamos Eurasianismo e Nova Ordem Mundial. Em primeiro lugar, então, gostaria que explanassem brevemente o que são esses fenômenos e como eles se relacionam.

Alexandre Costa: Uso a expressão Nova Ordem Mundial como um processo de construção de uma nova sociedade, com novos parâmetros, novos princípios e um novo ordenamento social. Dentro desse processo vejo algumas correntes de pensamento que em determinados momentos são complementares e aliadas, e em outros parecem adversários inconciliáveis. Na essência dessa transformação social está a capacidade de assimilar contradições para fortalecer a corrosão das estruturas da sociedade que se pretende substituir. O objetivo é instrumentalizar qualquer rejeição aos valores essenciais do Ocidente, por isso todas as ideologias coletivistas de alguma forma promovem esse processo. O Eurasianismo é uma delas.

Daniel Ferraz: Tenho evidenciado a problemática das análises políticas em alguns níveis observáveis:

  1. A política do dia: votações, picuinhas internas e externas, opiniões midiáticas etc. Esse primeiro nível é o mais material e imediato. Podemos datar que, no Brasil, pelo menos desde 2013, o interesse das pessoas pela política aumentou. Tratamos deste aspecto quantitativo por conta de todos os problemas materiais que o povo brasileiro já estava sofrendo há muito tempo: roubalheira generalizada, bandidagem, sacanagens estupendas em Brasília, mentiras midiáticas, destruição da convivência humana mais basilar etc., etc. Muitas pessoas, partindo dessa motivação inicial, não repousaram o seu entendimento apenas nas suas percepções mais sensíveis, mas quiseram ir além desse primeiro espanto, passando para o próximo nível;
  2. A procura pelo entendimento: vídeos, artigos, livros etc. Ao procurarem melhores referências, acharam na internet muitas figuras extremamente importantes e populares, como foi o caso de muitos com o Professor Olavo de Carvalho, entre tantos outros indicados por ele. Nós tivemos uma cadeia gigantesca de indicações de autores e mais autores que nos ajudaram a compreender, com maior profundidade e exatidão, os problemas que estávamos (e estamos) passando. As pessoas começaram a procurar por outras causas além da mera materialidade inicial. Em termos aristotélicos, podemos dizer que conseguiram saltar da causa material (do que estas coisas são feitas) para a causa formal (o que são essas coisas?). Disto, temos a ascensão para um terceiro nível!
  3. Nível histórico-cultural e psicológico: neste nível, compreendendo do que a política é feita e o que ela é em maior profundidade. Muitas pessoas começaram a procurar pela causa eficiente (quais foram os agentes que desencadearam todos esses processos dos quais vivemos hoje?). Isto somente é possível através da compreensão histórico-cultural dos povos; ou seja, compreender ações políticas e geopolíticas à luz das evocações da formação histórica, cultural e psicológica. Entretanto, ainda é possível aprofundar-se mais!
  4. Nível espiritual: metafísica; origem da existência; Deus! Ainda em busca da verdade e do verdadeiro conhecimento, muitas pessoas chegam a este nível da análise em busca de contemplar as verdadeiras causas. Se vamos compreender as ações geopolíticas da Rússia, por exemplo., como faremos sem compreender a sua casta intelectual e o que eles realmente pensam acerca de questões fundamentais? Como o problema do mal, a origem da existência, a ontologia humana etc. Já neste nível de análise, todos os fenômenos da política do dia, o entendimento prévio e as curiosidades (curiositas), a história, a cultura e a psicologia das massas são objetos de estudos metafísicos profundos (studiositas). Portanto, não interessa mais esta ou aquela opinião (doxa) difusa e equívoca, mas o salto para uma compreensão razoável à luz dos primeiros princípios (episteme).

Diante disso, conseguindo conciliar os elementos complexos desses quatro níveis, podemos constatar que tanto o fenômeno da NOM como do Eurasianismo tratam da tentativa de o homem tomar o lugar de Deus e remodelar todo o mundo à sua própria imagem e semelhança. Durante a história, tivemos inúmeros fatos que poderiam ser expostos aqui, iniciando da formação dosprimeiros povos pagãos até à formação dos primeiros Impérios, a completa derrocada da Cristandade medieval ao advento do humanismo neopaganista, as revoluções protestantes, o racionalismo, o romantismo e idealismo do século XIX e a culminação nos totalitarismos do século XX, que comportam todo corpus ideologicum dos movimentos anteriores, a saber: comunismo, fascismo e nazismo. Após a Segunda Guerra, temos a ascensão dos poderes liberais-globalistas que, utilitaristas como ninguém, valeram-se dos Estados-nação burgueses como ponta de lança para destruir a Sã Tradição Católica e, posteriormente, superar os próprios Estados-nação para o advento de um Governo Global. Tanto o movimento ocidental que podemos intitular de Consórcio (centralismo socialista do Clube Bilderberg, CFR, Comissão Trilateral, fundações dinásticas como Rothschilds, Rockefellers etc.), como o Islam (Irmandade Muçulmana) e o Movimento Eurasiano (fruto da gnose eslavófila, do ocultismo perenialista e dos mitos imperiais ocultistas do Cesaropapismo russo) são como que cabeças de uma mesmíssima hidra revolucionária; ou, simbolicamente, a validação espaço-temporal (Leviatã e Behemot) do brado de Lúcifer: non serviam!

No fundamento desses três gigantescos blocos satânicos e globalistas, temos a suprema tentação gnóstica encontrada no Jardim do Éden: “e sereis como deuses” (Gn 3,5). Essa análise teológico-metafísica escapa aos diversos analistas geopolíticos, que, inebriados de análise histórico-crítica, ignoram os princípios ontológicos dos povos, a ordenação temporal à autoridade espiritual, e analisam apenas aspectos indiferentistas, burocráticos e sensíveis. Portanto, com efeito, a relação entre Eurasianismo ou Globalismo (melhor dizendo) se consuma numa Hidra revolucionária de várias cabeças que procura um fim alheio ao da Revelação: seduzir o homem (assim como a Serpente) e convencê-lo de que se é possível alcançar o Paraíso, mas no mundo que jaz no maligno.

Revista Esmeril: Falem um pouco sobre a figura de Alexandr Dugin, criador do Eurasianismo.

Alexandre Costa: Conheço pouco do trabalho dele. Apenas alguns artigos, entrevistas e o debate com Olavo de Carvalho. Deste material posso deduzir que ele é um homem inteligente e erudito, que consegue articular ideologias materialistas e pragmáticas com um pensamento místico que pode ser confundido com tradição religiosa. No meu entender ele é mais um ideólogo do que um filósofo.  

Daniel Ferraz: Alexandr Dugin nasceu em Moscou em 1962. Era (ou melhor, é!) um membro arquivista da KGB (atual FSB). Passou a se relacionar com movimentos da direita europeia, foi um dos fundadores do movimento Nacional Bolchevismo, escreveu diversos livros de estratégia de guerra geopolítica com verniz apocalíptico (Fundamentos da GeopolíticaQuarta Teoria PolíticaNoomakhia, entre outros). Desde a sua juventude, interessou-se por toda sorte de correntes mágicas, ocultistas, esotéricas e gnósticas, argumentando que representavam uma aproximação com o que ele próprio chama – seguindo a René Guénon, Julius Evola, Madame Blavatsky, Heidegger, Nietzsche etc. – de Tradição Primordial.

Essa tradição, como bem trabalhada pelo professor Orlando Fedeli, é a tradição da Serpente, dos apócrifos e de todo esoterismo antiquíssimo que se segue. Contudo, segundo as teses mais elaboradas de Dugin – diferindo acidentalmente de Guénon –, o homem deve alcançar essa Tradição que o libertaria do jugo do Demiurgo (Ocidente e Igreja Católica) através da Via da Mão Esquerda.

Esse conceito da Via da Mão Esquerdaé trabalhado incessantemente por ocultistas, mas, resumidamente, defende a tese de que o homem deve procurar uma destruição abrupta e revolucionária para surgir, através das cinzas, uma ordem a posteriori. Ou seja, a criação de Deus (que, para os gnósticos, incluindo Dugin, é fruto de uma prisão cósmica) deve ser superada através da revolta incessante e extrema.

A principal tese de Dugin,a Quarta Teoria Política, nada mais é que o despertar da gnose para que o adepto dessa quimera envenene sua alma de ódio ao Ser e, tomando o lugar de Deus, crie-o de acordo ao seu intento. É claro que, como ensinava Olavo de Carvalho, toda ideologia carrega um discurso pretextual. Isto é, proposições lógicas e fechadas que parecem belíssimas num primeiro momento, mas que, em verdade, a ação do revolucionário que a criou ou a segue, sempre a contradiz. Do mesmo modo, o demônio nunca cumpre aquilo que ele promete, não é mesmo? Trata-se do mundo da pura enganação!

Revista Esmeril: Falem um pouco sobre as raízes ocultistas do Eurasianismo. Como ele está, por exemplo, relacionado a crenças gnósticas?

Alexandre Costa: As ideologias coletivistas sempre carregam algum traço de misticismo em seu núcleo. Embora sempre se apresentem como racionais e materialistas, o próprio desejo de criar um paraíso terrestre já contamina qualquer plano realista. Cientes dessa impossibilidade, ideólogos astutos revestem as suas teorias com eufemismos ou analogias imperfeitas, criando simulacros e evitando a qualquer custo a exposição detalhada de suas ideias.

Com o Eurasianismo parece ocorrer a mesma coisa: para criar coesão em sua teoria, Dugin evoca a importância da tradição, mas oferece uma transformação revolucionária; e para fortalecer uma ideologia coletivista artificial, finge se preocupar com o direito natural dos indivíduos.

Daniel Ferraz: Para responder a esta pergunta, e me aprofundar no que já foi dito na resposta anterior, deixarei o próprio Alexandr Dugin falar em duas oportunidades:

“Se o ateísmo da Nova Era deixa de ser algo mandatório para a Quarta Teoria Política, então a teologia das religiões monoteístas, que uma vez substituiu outras culturas sagradas, não será também a verdade última (ou melhor, poderá ser ou não). Teoricamente, nada limita a profundidade da abordagem dos antigos valores arcaicos, a qual pode assumir um lugar específico na nova construção ideológica, após ser adequadamente reconhecida e compreendida. Eliminando a necessidade de ajustar a teologia ao racionalismo da modernidade, os portadores da Quarta Teoria Política estão livres para ignorar aqueles elementos teológicos e dogmáticos, que foram afetados pelo racionalismo nas sociedades monoteístas, principalmente nas ultimas fases. Estas levaram ao aparecimento do deísmo sobre as ruinas da cultura europeia crista, seguido do ateísmo e do materialismo, durante um desenvolvimento escalonado dos programas da era moderna.

Não apenas os mais altos símbolos supramentais da fé podem ser colocados a bordo novamente como um novo escudo, mas também podem aqueles aspectos irracionais dos cultos, ritos e lendas que tem deixados perplexos os teólogos das fases previas. Se nos rejeitamos a ideia de progresso inerente a modernidade (que como nos vimos, acabou), então tudo que e antigo ganha valor e credibilidade simplesmente por ser antigo. “Antigo” significa bom e quanto mais antigo – melhor. De todas as criações, o Paraíso e a mais antiga. Os portadores da Quarta Teoria Política devem lutar para descobri-lo novamente no futuro próximo.”

A Quarta Teoria Política, p. 38

E em dois outros trechos providenciais de um texto cujo título é bem sugestivo, “O Gnóstico”, diz Dugin:

A humanidade sempre teve dois tipos de espiritualidade, dois caminhos – o Caminho da Mão Direita e o Caminho da Mão Esquerda. O primeiro é caracterizado pela atitude positiva para com o mundo circundante, o mundo é visto como harmonia, paz, equilíbrio, bondade. Todo o mal é visto como um caso particular, um desvio da norma, algo dispensável, transitório, sem profundas razões transcendentais. O Caminho da Direita é também chamado de O Caminho do Leite. Não fere pessoa, a preserva da experiência radical, a retira da imersão em sofrimento, do pesadelo da vida. Este é um caminho falso. Ele leva a um sonho. Quem segue por ele, não chegará a lugar algum.

O segundo, o Caminho da Mão Esquerda, vê tudo em uma perspectiva invertida. Não a ‘tranquilidade láctea’, mas o sofrimento negro; não a calma silenciosa, mas o drama tortuoso e impetuoso de uma vida angustiante. Este é O Caminho do Vinho. Ele é destrutivo e terrível, a raiva e a violência reinam lá. Para quem está seguindo por este caminho, toda a realidade é percebida como o inferno, como o exílio ontológico, como tortura, como a imersão no coração de alguma catástrofe inconcebível originária das alturas do espaço. Se no primeiro caminho tudo parece tão bom, no segundo – muito mal. Este caminho é monstruosamente difícil, mas apenas este caminho é verdadeiro. É fácil tropeçar nele, e é ainda mais fácil de perecer. Ele não garante nada. Ele não tenta ninguém. Mas apenas este caminho é o único e verdadeiro. Quem o segue – vai encontrar a glória e a imortalidade. Quem resistir – vai conquistar, vai receber o prêmio, que é maior que a vida.

Aquele que segue pelo Caminho da Mão Esquerda sabe que um dia o aprisionamento terá terminado. A prisão de substância entrará em colapso, tendo se transformado em uma cidade celestial. A cadeia do iniciado passionalmente prepara um momento desejado, o momento do fim, o triunfo da libertação total. 

[…]

Mas os gnósticos se manterão firmes em seu trabalho de vida. Nunca, nem hoje, nem amanhã. Pelo contrário, há todas as razões para triunfar internamente. Não dissemos aos ingênuos otimistas do Caminho da Mão Direita onde sua confiança ontológica excessiva vai levá-los? Não previmos a degradação do seu instinto criativo se transformar na paródia grotesca que é representada pelos conservadores modernos que renunciaram a tudo, que horrorizaram os seus mais atraentes (mas não menos hipócritas) precursores de um par de milhares de anos atrás? Eles não nos ouviram… Agora deixe-os culparem apenas a si mesmos e ler livros New Age ou manuais de marketing.”

Como tenho insistido em meu livro Do Ocultismo na Política Moderna e nos diversos videocasts que fiz a respeito do Eurasianismo e do Gnosticismo, basta deixarmos Dugin falar. Ele não esconde o que é verdadeiramente: um revolucionário, ocultista e gnóstico!

Revista Esmeril: Como vocês preveem um cenário mundial em que prevaleça a ordem eurasiana? Como, mais ou menos, seria esse novo ordenamento geopolítico? E, mais importante, ele seria viável e exequível? 

Alexandre Costa: Difícil imaginar um ordenamento possível onde coexistam todas as correntes que Alexandr Dugin tenta reunir: ideologias coletivistas de vários matizes, além do papel institucional de China, Rússia, Índia, uma Pátria Grande na América Latina e remanescentes do Islã, da África, Ásia e Leste Europeu. Um arranjo forçado para abrigar todos esses desejos e ojerizas exigiria um sistema mirabolante, o que provavelmente resultaria em mais controle sobre a sociedade e menos direitos para os indivíduos.

Não acho que seja viável porque todo plano megalomaníaco tende ao fracasso. A ideia de construir um mundo perfeito por vias políticas sempre desemboca em desequilíbrio, injustiça, desordem e, por fim, no totalitarismo.  O problema é que, até dar errado por completo, esses planos sempre deixam um rastro de dor e sofrimento.

Daniel Ferraz: Como dito, toda ideologia possui uma tensão própria entre discurso pretextual e ação concreta. Não poderíamos presumirque haveriaum ordenamento geopolítico literal tal como apresentado pela Quarta Teoria Política de Dugin. O que sempre teremos, nas diversas tentativas de consumar o Império Satânico, é a tentativa ininterrupta de destruir a criação de Deus e a Sua Igreja.

Não deixa de ser engraçado que os blocos eurasianistas (concentrados no poderio russo-chinês disfarçado no BRICS e no Foro de São Paulo), dialeticamente, criticam e dizem combater o “liberalismo” ocidental quando, em verdade, veem com bons olhos à própria revolução transumanista financiada em demasia pelo lobby do Consórcio. Não deixa de ser tragicômico que, enquanto bradam aos quatro cantos a sua tal “Tradição”, historicamente, sabemos que o movimento comunista russo (entre tantos outros) foi diretamente financiado por grandes banqueiros ocidentais. Com efeito, a própria ascensão da China do século XX deu-se pela junção do lobby do CFR e dos neocon do Partido Republicano norte-americano.

Com isto, é evidente que um ordenamento mundial eurasiano, assim como qualquer tentativa de se estabelecer uma ordem global idealmente uniforme, não seria minimamente viável, pois ignoram-se, como dissemos, os princípios ontológicos e metafísicos da própria existência humana.

Revista Esmeril: Agora, falemos de Brasil. Qual seria o papel do nosso país teria dentro desse cenário geopolítico hipotético?

Alexandre Costa: No livro O Brasil e a Nova Ordem Mundial tentei mostrar que o nosso país tinha um papel fundamental nas transformações que ocorriam no panorama geopolítico mundial. Além de todos os recursos naturais, potencial produtivo, localização estratégica e enorme mercado consumidor, o Brasil também oferece uma posição deliderança regional e diplomáticaque pode ajudar a construir na América Latina um bloco aos moldes da União Europeia, ou seja, um conjunto de burocratas não eleitos esmagando soberanias nacionais e individuais.

Daniel Ferraz: O Brasil, de fato, sempre servirá como uma “teta gorda” para todos os lobbys internacionais. Simples assim!

Revista Esmeril: Ainda sobre o Brasil: temosvisto que a filosofia (ou, se preferirem, retórica) duginista, depois de ter se consolidado entre boa parte da esquerda brasileira, tem cooptado e conquistado muitos membros da direita, inclusive entre pessoas que foram alunos de Olavo de Carvalho, principal crítico e opositor de Dugin. Como avaliam essa tendência? Acreditam que a falta da presença de Olavo entre nós, da continuidade do COF, dos esporros do Professor etc., pode estar relacionado a isso?

Alexandre Costa: Como estamos assistindo a um processo sistemático de destruição dos valores constitutivos da nossa sociedade, e os principais executores desta agenda destrutiva são personagens facilmente identificáveis como membros de uma elite política, financeira e cultural do Ocidente, buscar a proteção, o apoio ou o conforto em um lado que pareça o oposto a estas pessoas e instituições é praticamente instintivo. E o nível acentuado da polarização catalisa e sedimenta essa falsa impressão de alternativa.

A presença de Olavo de Carvalho certamente eliminaria muitas dessas ilusões.

Daniel Ferraz: O Brasil é a terra perfeita para oportunistas e charlatães, isto é fato! O sentimentalismo e verbalismo brasileiros servem, única e exclusivamente, para inverter a ordem natural das coisas e privilegiar revolucionários e bandidos de que aqueles que são verdadeiramente bons. Ainda no âmbito do sentimentalismo e do verbalismo, recomendo a todos que releiam o excelente artigo do professor Olavo de Carvalho chamado A palavra-gatilho, e que assistam à minha transmissão intitulada O Poder do Discurso Revolucionário.

O brasileiro, carente de suas verdadeiras história e origem, apartado de todo valor objetivo da realidade, desarmado culturalmente, torna-se um alvo fácil dos psicopatas que estão no poder. Estamos vivenciando, em nosso país, a figura clara do anti-humano e da anticivilização. Somos o povo que confunde sincretismo religioso e espiritualidades fúteis com religião, sacanagem institucionalizada com política, polidez desmedida com erudição, roubalheira e “jeitinho brasileiro” com economia etc.

Bom, como diria o saudoso Olavo: o papel do Brasil nesse cenário seria, claramente, o de tomar no cu. Nesse contexto, podemos estender o palavrão científico aos oportunistas idiotas que se dizem alunos de Olavo, mas que seguem um paspalho esotérico como Dugin por puro sentimentalismo.

Revista Esmeril: Para finalizar: como podemos sobreviver, e mantendo-nos mental e espiritualmente sãos,diante dos avanços do Eurasianismo, e de um possível reordenamento geopolítico mundial?

Alexandre Costa: Estamos atravessando um momento crucial da nossa história, em que o povo se vê esmagado por várias forças contrárias aos seus princípios.

Diante desse bombardeio ideológico cotidiano epersistente, oprimeiro passo é fortalecer a personalidade e tornar a busca pelo conhecimento uma constante, com humildade suficiente para corrigir ou recuar quando necessário e justo.

Apenas uma mente coesa e madura pode se preparar para as turbulências que aparecem no horizonte.
Que Deus nos proteja.  

Daniel Ferraz: Não há nada melhor do que citarmos os bons e sempre atuais Evangelho. Temos em Mateus 16,18: “E também digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

As promessas de Cristo transpassarão todo o período histórico e toda a batalha entre Leviatã e Behemot. Não devemos nos furtar da batalha, é claro, mas direcioná-la ao que realmente importa: através da lapidação, da mortificação e do arrependimento de nossos pecados, entregarmo-nos à Imitação de Cristo e, através das virtudes, levemos o maior número possível de pessoas à Verdade. Temos 2023 anos de História da nossa Santa Igreja, um múnus teológico, miraculoso, metafísico, ontológico, filosófico, psicológico, político etc., etc., e que não raras vezes negligenciamos e procuramos soluções nas propostas da própria Serpente.

Dizer-se conservador e/ou direitista não nos aparta do mal, mas pode tornar-nos ainda mais soberbos e orgulhosos. Afinal, se acreditamos que participar de um movimento ideológico-subcultural, e que esse movimento representa literalmente o “lado bom” da História, podemos apostar tudo – absolutamente tudo – no processo terreno e imanentista, e procurar felicidade onde não acharemos. A decepção e desilusão dessas enganações, portanto, podem levar-nos à perdição completa.

Logo, somente na verdadeira Igreja de Cristo, nos Sacramentos, na verdadeira ascese e na verdadeira vida vocacional teremos chances reais de Salvação. Fora disso, apenas simulacros diabólicos e falsos.

Esmeril Editora e Cultura. Todos os direitos reservados. 2023

__________________________

COLUNAS SEMANAIS




👆 Hamas e Jihad Islâmica exportam táticas militares de Gaza para a Cisjordânia





(por Lawrence Maximo - 21/10/2023)

Sala de Guerra Conjunta em Gaza

Tanto o Hamas quanto a Jihad Islâmica da Palestina (PIJ) rejeitou a ideia de negociações de paz e, em vez disso, permaneceram em juramento de destruição pelos israelitas. Os grupos terroristas têm explorado o vácuo de poder no norte da Cisjordânia para fortalecer sua presença militar e replicar as táticas de combate contra Israel que eles desenvolveram em Gaza, de acordo com um novo relatório.

Investigações e conflitos na região confirmam uma nova infraestrutura militar emergente nas áreas de Jenin e Nablus — semelhante ao que já existe no enclave costeiro governado pelo Hamas desde 2007 — graças ao controle cada vez menor da Autoridade Palestina baseada em Ramallah sobre a área.

Entre essas indicações estão à fabricação local de armas e dispositivos explosivos avançados; escavação de túneis; lançamento de foguetes; e promover a cooperação entre diferentes organizações terroristas, semelhante à Sala de Guerra conjunta que eles montaram na Faixa de Gaza.

Como em Gaza, os principais atores dessa nova frente terrorista são o Hamas e a PIJ. Ambos os grupos desfrutam de apoio financeiro e militar significativo do Irã, e ambos os grupos agradecem regularmente ao Irã publicamente pela ajuda que envia a Gaza e à Cisjordânia.

Cooperação entre grupos terroristas

Outro avanço entre grupos terroristas é a expansão do uso de túneis da Faixa de Gaza para a Cisjordânia. Escavados pelo Hamas dentro e fora de Gaza por anos para contrabandear armas e mercadorias do Egito e tentar penetrar em Israel.

Outra evidência do fato de que grupos terroristas estão replicando o modelo de Gaza na Cisjordânia é a crescente cooperação militar entre facções palestinas armadas. O modelo, neste caso, é a Sala de Guerra Conjunta em Gaza, uma organização guarda-chuva, ativada principalmente durante rodadas de luta com Israel. Membros de diferentes grupos terroristas compartilham tudo – dinheiro, armas e até comida.

Sobretudo, no massacre de sete de outubro, o Hamas liderou o ataque terrestre, marítimo e aéreo, que pegou Israel de surpresa e resultou no dia mais mortal para o país desde sua independência. O PIJ participou do ataque e levou dezenas de israelenses como reféns.

Portanto, desde o começo da guerra, ocorrem vários conflitos generalizados na Cisjordânia, com ataques específicos da IDF para desmantelar células terroristas em toda região. Em suma, a Cisjordânia é uma filial da Faixa de Gaza pronta para explodir…

__________________________
__________________________


Padre Paulo Ricardo - 18 de Outubro de 2023

PRÓ-VIDA

👆O maior extermínio de todos os tempos
(por Dra. Joana Campolina)


Por mais que, nos últimos cem anos, tenhamos presenciado tremendas barbáries contra a humanidade, a maior delas não ocorreu em conflitos armados ou em campos de concentração, mas continua ocorrendo “silenciosamente” no ventre de milhões de mulheres.

A Dra. Joana Campolina é ginecologista formada pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP); possui título de especialista pela FEBRASGO e formação em NaPro TECHNOLOGY pelo Saint Paul VI Institute e pela Creighton University (Creighton Medical Consultant).

O século XX, definido por muitos historiadores como “o século dos totalitarismos”, passará para a História também como o “século dos genocídios”. Foram inúmeras as tentativas de exterminar povos inteiros: mais de 6 milhões de judeus foram exterminados no Holocausto nazista; 10 milhões de congoleses foram vítimas do imperialismo belga; 1,5 milhão de armênios foram dizimados pelo Império Otomano; o governo comunista do Camboja promoveu a morte de mais de 1,5 milhão de pessoas; em Ruanda, no ano de 1994, em apenas 100 dias, 800 mil pessoas foram assassinadas por extremistas da etnia dos hutus.

No entanto, o maior genocídio da história da humanidade é silencioso e continua acontecendo até hoje sob o disfarce de “direito de escolha”.

A vítima desse genocídio é o nascituro; e seu campo de extermínio é o ventre da mulher moderna. 

Um estudo publicado no Lancet —  que avaliou estatísticas oficiais de 166 países, entre os anos de 1990 e 2019 — chegou à conclusão de que são realizados, em média, 73,3 milhões de abortos por ano no mundo [i]. A Organização Mundial da Saúde estima que 30% de todas as gestações do mundo terminam em um aborto induzido [i, ii]. Isso representa o assassinato de um terço de todas as crianças geradas. Na China essa proporção é ainda maior: 13 milhões de abortos são realizados por ano, ao passo que ocorrem 20 milhões de nascimentos anuais.

Sem que a sociedade perceba, o aborto provocado é a maior causa de morte da atualidade e uma verdadeira ferramenta de extermínio. Morrem mais pessoas através do aborto induzido do que por todas as doenças cardiovasculares (17,9 milhões de mortes/ano), cânceres (9,3 milhões de mortes/ano) e doenças pulmonares (4,1 milhões de mortes/ano) juntos [iii].

Apesar de tais números serem assombrosos, o extermínio dos não-nascidos é ainda maior do que as estatísticas podem apontar. E não me refiro aos procedimentos realizados de forma clandestina e não contabilizados. Refiro-me à multidão de vidas que se perdem, de forma completamente escondida, em decorrência de técnicas de contracepção artificial e de reprodução assistida.  

“Abortos Ocultos”

É conhecido que tanto os métodos contraceptivos hormonais quanto os dispositivos intrauterinos (DIU) não possuem apenas efeito contraceptivo (impedindo a concepção), mas podem ter também efeito pós-concepcional (após a fecundação do embrião). São os chamados “abortos ocultos”. Isso se deve ao fato de que a mulher, em uso de tais métodos contraceptivos, pode apresentar escapes ovulatórios e, havendo a concepção (o que é possível), a gestação é impedida de progredir, porque esses métodos impossibilitam a implantação do embrião. Esse fato já foi comprovado por diversos estudos e inclusive é citado na bula de tais medicamentos. Antes da implantação, ainda não há produção do HCG, hormônio dosado nos testes de gestação. No entanto, já existe uma vida única, irrepetível e com material genético próprio sendo gerado no ventre desta mulher. Essa vida, ao chegar a um útero modificado pela ação dos anticoncepcionais ou dos dispositivos intrauterinos (DIUs), encontra um ambiente hostil ao seu desenvolvimento, sem conseguir concluir o processo de nidação (fixação do embrião na parede do útero). Assim, essa vida se perde sem que sua mãe sequer saiba de sua existência [iv, v, vi, vii, viii, ix, x, xi, xii, xiii, xiv, xv, xvi].

Estimar o número de “abortos ocultos” não é uma tarefa fácil, porém já foram feitas algumas tentativas relevantes, como os estudos da Dra. Donna Harrisson e do Dr. William Colliton. Este último estimou entre 1,1 e 1,8 milhão de “abortos ocultos” anualmente nos Estados Unidos, apenas em decorrência do uso de pílulas anticoncepcionais. No livro “Abortos ocultos e a mentalidade contraceptiva”, Marlon Derosa e seus colaboradores apresentam como se chegou a esses números de mortes:

Dra. Donna Harrisson, ginecologista e obstetra […] traz indicações mais enfáticas e arrisca a fazer alguns cálculos simples, que podem apontar para uma possível estimativa de abortos ocultos.

Dra. Harrison aponta que a pesquisa de Westhoff e colaboradores indicou que, com o “uso consistente” da pílula, pode ocorrer 2,7% de ovulação (2,7 a cada 100, ou 27 ovulações a cada 1.000 mulheres); contudo, em um uso “inconsistente”, ou seja, com mulheres que por vezes esquecem ou atrasam o horário da pílula, o escape ovulatório pode chegar a 38,5% dos ciclos menstruais (38 a cada 100, ou 380 a cada 1.000 mulheres). Por outro lado, a taxa padrão de gravidez reconhecida pelo FDA é de apenas 0,3%, o que significaria cerca de 2-3 gestações por ano para 1.000 mulheres. Essa diferença entre o escape ovulatório (27 para cada 1.000 mulheres) e a taxa de gestações ao ano reconhecida pelo FDA, que é de 3 gestações a cada 1.000 ao ano, para Harrison, diz muito sobre a efetividade de cada mecanismo do contraceptivo. Um estudo calculou que 57% das mulheres esquecem de tomar pílula 3 vezes ou mais a cada ciclo menstrual, uma taxa bastante significativa, considerando que o uso correto da pílula, bem como o regime de uso, são cruciais para a eficácia em suprimir a atividade ovariana.

Outra tentativa de estimar abortos ocultos é defendida pelo Dr. William Colliton. Em sua estimativa, ele considera que em 14% dos ciclos ocorre ovulação de escape em mulheres que usam pílula com 50 microgramas de estradiol. Ele projeta esses valores em cima de dados gerais dos Estados Unidos, onde se estimava 10,4 milhões de usuárias de pílula. Colliton multiplica 10.410.000 usuárias por 0,14, projetando 1.457.400 ovulações de escape por ciclo menstrual, e acrescenta que cada mulher pode ter, considerando ciclos de 28 dias, 13 ciclos ao ano. Para estimar um possível número de abortos ocultos ocasionados pela pílula, o Dr. Colliton deduz uma taxa de perdas embrionárias espontâneas naturais na ordem de 60%, chegando, por fim, a uma estimativa que varia entre 1,1 e 1,8 milhão de abortos ocultos ao ano para os Estados Unidos, apenas em decorrência das pílulas, naquele ano [xvii].

Vidas Descartadas

Além disso, as clínicas de reprodução assistida também contribuem para o genocídio silencioso. Estima-se que, para cada bebê que nasce da fertilização in vitro, cerca de 28 embriões são perdidos ou descartados.

Um trabalho publicado na revista Human Reproduction, em 2006, evidencia a proporção de quantas vidas se perdem para que se consiga uma: obtiveram-se 368 embriões normais. Transferiram-se 331 e tornaram a ser congelados os 37 restantes. Dos 331 transferidos, conseguiram-se implantar adequadamente 145. Finalmente, obtiveram-se 18 gestações (12,4%), das quais 12 pacientes deram à luz 13 crianças sadias. No primeiro trimestre, ocorreram 6 abortos (33%). Em resumo, dos 365 embriões gerados, apenas 13 conseguiram nascer, o que é um resultado catastrófico. É uma razão de 28 embriões perdidos para cada criança nascida pela FIV [xviii].

Um estudo semelhante foi publicado na revista Reproductive BioMedicine, também em 2006. Foram gerados 1.771 embriões, dos quais apenas 1.360 sobreviveram. Foram transferidos 819 destes embriões, em 410 ciclos. Destes, apenas 109 conseguiram se implantar no útero de suas mães (com teste de gestação positivo) e somente 69 evoluíram com gestação clínica. O número de abortamentos e nascidos vivos não foi relatado neste estudo. Ainda assim, com esses dados, pode-se concluir que, de 1.771 embriões gerados, apenas 69 gestações conseguiram se desenvolver (3,8%), uma taxa semelhante à do estudo anterior [xix].

Além disso, a fertilização in vitro abre portas para questões morais ainda mais graves, tais como o congelamento dos embriões excedentes, a seleção embrionária (que pode determinar desde alterações genéticas até o sexo e características físicas, representando, portanto, uma ferramenta para a eugenia), o descarte de embriões, a manipulação genética, os bancos de gametas, entre outros.

De acordo com o mais recente Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o número de embriões congelados cresceu mais de 250% no Brasil nos últimos 10 anos. Nos últimos 3 anos, foram congelados mais de 284 mil embriões. Segundo o mesmo relatório, entre o anos de 2020 e 2022, 146.028 embriões foram descartados em nosso país, ao passo que apenas 45.236 embriões foram transferidos [xx].

Todos esses números podem parecer apenas uma infeliz coincidência, de uma ciência que se desenvolve às custas de vidas humanas, o que já seria trágico. Mas essa cultura de morte, que permeia a ciência e as escolas de Medicina, não surgiu por acaso. É decorrente de uma engenhosa articulação entre forças políticas e ideológicas que almejavam o controle populacional. Aborto, contracepção, esterilização e manipulação genética estão intimamente relacionados; são instrumentos de controle populacional e de genocídio da “população disgênica”. 

Um Plano Eugênico

As pesquisas que culminaram no lançamento da primeira pílula anticoncepcional nos Estados Unidos foram lideradas e financiadas pela militante feminista Margaret Sanger, que pertenceu ao movimento eugenista norte-americano e fundou a maior clínica de aborto do mundo, a Planned Parenthood

Em seus escritos, é expressa de forma clara a sua intenção de promover a popularização da contracepção como forma de “limpeza da sociedade”, descartando os indivíduos com características indesejáveis.

Em 1932, num artigo intitulado My way to Peace (“Meu caminho para a paz”), Sanger listou algumas medidas que deveriam ser adotadas pelo governo, para garantir a paz da nação. Alguns deles são:

manter as portas da Imigração fechadas para a entrada de certos estrangeiros cuja condição é sabidamente prejudicial à pureza da raça, como débeis mentais, idiotas, loucos, sifilíticos, epilépticos, criminosos, prostitutas, entre outros.

- aplicar uma política severa e rígida de esterilização e segregação para aquele grau de população cuja progênie já está contaminada ou cuja herança é tal que características questionáveis podem ser transmitidas à prole.

- toda a população disgênica teria sua escolha de segregação ou esterilização [xxi].

Já em 1919, em seu artigo Birth Control and Racial Betterment (“Controle de natalidade e melhoria racial”), ela afirmava:

O objetivo da civilização é obter a cultura mais elevada e esplêndida de que a humanidade é capaz. Mas tal realização é impensável se continuarmos a procriar com a raça atual [...]. Algum método deve ser planejado para eliminar o degenerado e o defeituoso; pois estes agem constantemente para impedir o progresso e cada vez mais arrastando para baixo a raça humana [...].

É impossível conceber uma legislação eugênica que seja aceitável e que cubra a necessidade atual. Nosso conhecimento é insuficiente para garantir uma cultura racial inteligente por meio de leis estatutárias [...].

Felizmente, porém, o controle da natalidade oferece uma via de escape. É razoável supor que as mulheres de mentalidade subnormal, por mais carentes de visão e altruísmo que possam ser, prefeririam evitar a dor e as responsabilidades da procriação, se a satisfação do sexo pudesse ser divorciada da reprodução. Dado o controle de natalidade, os inaptos irão eliminar voluntariamente sua espécie [xxii].

Foram essas as motivações que levaram Margaret Sanger a defender a contracepção e o aborto; e, mais ainda, impulsionar o desenvolvimento de um método contraceptivo que fosse “eficaz e prático”: a pílula anticoncepcional. A partir da década de 1950, Margaret Sanger articulou-se com a milionária Katherine McCormick, que financiou o projeto. Então, com a colaboração do pesquisador Dr. Gregory Pincus e do ginecologista Dr. John Rock, elas iniciaram pesquisas totalmente questionáveis sob o ponto de vista ético, que culminaram no surgimento da primeira pílula anticoncepcional comercializada nos EUA: o Enovid ®.

Cultura da Morte

A partir de então, os anticoncepcionais foram abrindo uma pequena brecha no tecido social, da qual se originou o grande abismo civilizacional em que nos encontramos: uma poderosa agenda mundial que promove a contracepção, o aborto e a ideologia de gênero, e que ficou conhecida como “cultura da morte”.

Cerca de 10 anos após o surgimento da primeira pílula nos Estados Unidos, em 1973, a Suprema Corte reconheceu legalmente o “direito ao aborto”, na famosa decisão Roe vs. Wade — que acabou sendo revertida em 2022Em pouco tempo, a contracepção e o aborto tornaram-se ferramentas oficiais do governo para o controle populacional.

Em 1974, foi escrito o Relatório Kissinger [xxiii], um documento histórico encomendado pela Casa Branca, com recomendações para reduzir o crescimento populacional nos chamados países de terceiro mundo, dentre os quais se encontrava o Brasil. Na forma de plano de recomendações, o relatório sugerira investir não somente na expansão das tecnologias de contracepção e aborto, mas também nos programas educacionais. Desse modo, seria possível falar sobre o “planejamento familiar” a nível global e provocar as mudanças sociais e culturais desejadas, para frear os índices de natalidade.

Várias décadas depois da revolução sexual, da invenção da pílula, do surgimento das técnicas de reprodução assistida e da legalização do aborto pelo mundo, tornaram-se cada vez mais urgentes os apelos proféticos do Papa São Paulo VI no final da Carta Encíclica Humanae Vitae [xxiv].

É nítido o impacto não somente na saúde pública, mas também na sociedade. Desde a década de 1960, houve um aumento significativo do número de divórcios, da desintegração das famílias e do número de abortos provocados. Atualmente, inúmeros países vivem um inverno demográfico que ameaça suas bases. 

Diante desse cenário, é fundamental que empenhemos todos os esforços para promover a cultura da vida. Os grandes genocídios ocorrem não somente devido à ação dos assassinos, mas também em virtude do silêncio da sociedade. É desse silêncio e da nossa indiferença que vem a força da cultura da morte, cujos agentes autorizam o extermínio de milhões por meio de uma canetada, ou, como aconteceu recentemente, por meio de um voto no plenário virtual [xxv].

O sangue dos inocentes está também nas mãos daqueles que enxergam o massacre e decidem não fazer nada. É dever de cada um lutar contra esta dupla injustiça: milhões de crianças indefesas assassinadas e privadas de um futuro; e milhões de mulheres traumatizadas e destruídas interiormente, porque tornaram-se túmulos de seus próprios filhos

Por fim, faço um apelo especial a meus colegas médicos, que receberam a graça imensurável de cuidar das vidas que diariamente Deus nos confia. Honremos o juramento que fizemos: 

A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. 

Conservarei imaculada minha vida e minha arte (Juramento de Hipócrates).

Lutemos, pois, para construir uma Medicina pela Vida; uma ciência médica verdadeira, que respeite a dignidade da pessoa humana. Quando nós, médicos, exercemos a profissão sem primar pela dignidade da pessoa, não existe verdadeira promoção da saúde e, com o tempo, tudo passa a ser “justificável”, inclusive a promoção da morte.

Notas

  1. Cf. Bearak J, Popinchalk A, Ganatra B, Moller A-B, Tunçalp Ö, Beavin C et al. Unintended pregnancy and abortion by income, region, and the legal status of abortion: estimates from a comprehensive model for 1990–2019. Lancet Glob Health. 2020 Sep; 8(9):e1152-e1161. doi: 10.1016/S2214-109X(20)30315-6. 
  2. Cf. Organização Mundial de Saúde. Abortionhttps://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/abortion. Acesso em 30 de setembro de 2023.
  3. Cf. Invisible numbers: the true extent of noncommunicable diseases and what to do about them. Geneva: World Health Organization; 2022. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.
  4. Cf. TONTI-FILIPPINI, Nicholas. The pill: abortifacient or contraceptive? a literature review. The Linacre Quarterly, v. 62, n. 1, p. 5-28, 1995.
  5. Cf. SOMKUTI, Stephen G. et al. The effect of oral contraceptive pills on markers of endometrial receptivity. Fertility and sterility, v. 65, n. 3, p. 484-488, 1996.
  6. Cf. CHOWDHURY, V. et al. ‘Escape’ ovulation in women due to the missing of low dose combination oral contraceptive pills. Contraception, v. 22, n. 3, p. 241-247, 1980.
  7. Cf. PECK, Rebecca et al. Does levonorgestrel emergency contraceptive have a post-fertilization effect? A review of its mechanism of action. The Linacre Quarterly, v. 83, n. 1, p. 35-51, 2016.
  8. Cf. HILGER, David J.; RAVIELE, Kathleen M.; HILGERS, Teresa A. Hormonal contraception and the informed consent. The Linacre Quarterly, v. 85, n. 4, p. 375-384, 2018.
  9. Cf. LARIMORE, Walter L.; STANFORD, Joseph B. Postfertilization effects of oral contraceptives and their relationship to informed consent. Archives of Family Medicine, v. 9, n. 2, p. 126, 2000.
  10. Cf. CHOU, Chia-Hung et al. Divergent endometrial inflammatory cytokine expression at peri-implantation period and after the stimulation by copper intrauterine device. Scientific reports, v. 5, n. 1, p. 15157, 2015.
  11. Cf. ÄMMÄLÄ, Martti et al. Effect of intrauterine contraceptive devices on cytokine messenger ribonucleic acid expression in the human endometrium. Fertility and sterility, v. 63, n. 4, p. 773-778, 1995.
  12. Cf. KAILASAM, Chandra; CAHILL, David. Review of the safety, efficacy and patient acceptability of the levonorgestrel-releasing intrauterine system. Patient preference and adherence, p. 293-302, 2008.
  13. Cf. SMART, Y. Cheng et al. Early pregnancy factor as a monitor for fertilization in women wearing intrauterine devices. Fertility and Sterility, v. 37, n. 2, p. 201-208, 1982.
  14. Cf. MORTON, Halle. Early pregnancy factor (EPF): a link between fertilization and immunomodulation. Australian journal of biological sciences, v. 37, n. 6, p. 393-408, 1984.
  15. Cf. XIONG, Xu; BUEKENS, Pierre; WOLLAST, Elisabeth. IUD use and the risk of ectopic pregnancy: a meta-analysis of case-control studies. Contraception, v. 52, n. 1, p. 23-34, 1995.
  16. Cf. LETHBRIDGE, Dona J. Post‐tubal Sterilization Syndrome. Image: the Journal of Nursing Scholarship, v. 24, n. 1, p. 15-18, 1992.
  17. Marlon Derosa, Ana Derosa e Luan Silva Gonçalves, Abortos ocultos e a mentalidade contraceptiva. Campinas: Id Editora, 2020, p. 130.
  18. LEVI SETTI, P. E. et al. Cryopreservation of supernumerary oocytes in IVF/ICSI cycles. Human Reproduction, v. 21, n. 2, p. 370-375, 2006.
  19.  GABRIELSEN, Anette; FEDDER, Jens; AGERHOLM, I. Parameters predicting the implantation rate of thawed IVF/ICSI embryos: a retrospective study. Reproductive biomedicine online, v. 12, n. 1, p. 70-76, 2006.
  20. Cf. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA). SisEmbrio – 14° Relatório do Sistema Nacional da Produção de Embriões, 2022. Brasília: Anvisa. Disponível em: <https://bit.ly/3lyTzry>. Acesso em 22 mar. 2023.
  21. SANGER, Margaret. My Way to Peace. New York University, 17 jan. 1932, grifos nossos. Available: www.nyu.edu/projects/sanger.
  22. SANGER, Margaret. Birth Control and Racial Betterment. Birth Control Review, vol. III, n. 2, p. 11-12, feb. 1919, grifos nossos.
  23. EUA, National Security Study Memorandum (NSSM 200). Implications of Worldwide Population Growth for US Security and Overseas Interests (The Kissing Report), 1974.
  24. Cf. Papa Paulo VI, Carta Encíclica Humanae Vitae. Roma, 25 de julho de 1968, n. 23-31.
  25. A autora se refere ao voto da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADPF 442. O voto da ministra, que estava prestes a se aposentar, foi proferido em sessão de plenário virtual, no dia 22 de setembro de 2023.

_______________________
__________________________

👆 OLAVO DE CARVALHO

Mundo e província

(Publicado originalmente no jornal O Globo, em 09 de Outubro de 2004, disponível no site do professor)

O Globo, 9 de outubro de 2004

Os jornalistas brasileiros, com raríssimas exceções, guiam-se muito pela grande mídia dos EUA, maciçamente pró-Kerry, acreditando ou fingindo acreditar que assim estão bem informados. O New York Times, o Washington Post, a CNN, a CBS servem-lhes de gabarito para medir a importância dos fatos, a credibilidade das fontes, a influência de uma idéia, a reputação de um escritor, o valor de uma teoria.

Enganam-se a si próprios e ao público. Nenhum jornal ou canal de TV americano desfruta de autoridade comparável à de seus similares brasileiros. Estes são poucos e dominam facilmente a opinião pública, criando e destruindo reis com a presteza do mago Merlin. A mídia regional é dependente deles ou desaparece na comparação.

Nos EUA, os meios de influenciar o povo estão muito mais repartidos. Nenhuma organização tem hegemonia, e a soma das grandes se retrai no confronto com a multiplicidade das pequenas. Jornalistas individuais, distribuindo seus artigos a centenas de jornais e estações de rádio do interior, podem ter platéias maiores que a de Ted Turner. Para vocês fazerem uma idéia, o New York Times vende em média 1.600.000 exemplares no domingo, 1.100.000 em dias de semana. A CNN, no primeiro debate eleitoral, alcançou cinco milhões de telespectadores. Mas o radialista Rush Limbaugh, republicano roxo, é ouvido diariamente por 38 milhões de americanos. E a internet bagunçou tudo, na luta pela atenção pública. Hoje, mesmo a modesta agência de jornalismo eletrônico WorldNetDaily (www.wnd.com) mete medo nos maiorais. As sucessivas denúncias de fraudes jornalísticas mudaram toda a hierarquia de credibilidade. Passou o tempo em que o New York Times podia ocultar impunemente, durante sete anos, o genocídio pela fome na Ucrânia. Foi a iniciativa espontânea de milhares de internautas que estourou a farsa montada pela CBS contra George W. Bush.

Se não fosse por essas coisas, o sucesso local do presidente americano seria inexplicável, pois toda a grande mídia, com exceção da Fox, está contra ele. E o ódio que se despeja sobre ele de todos os quadrantes explica-se em parte pelo fato de que em muitos países os canais básicos de informação sobre os EUA são os mesmos que chegam até aqui.

O resultado é um descompasso total entre o que os americanos sabem de si mesmos e o que o restante do mundo — a começar pelo Brasil — imagina que eles pensam. Ninguém põe em dúvida que o destino da humanidade se decide nos EUA. Seria ótimo se as províncias em torno tivessem uma idéia mais real do que se passa na capital do planeta. Mas, para isso, seria preciso perder a ilusão de que o prestígio internacional de um canal de mídia faz dele uma autoridade para os americanos.

Enquanto essa ilusão não passa, fica difícil para o pessoal da província entender, por exemplo, que John Kerry não é o representante de uma política mais bondosa em oposição ao “imperialismo” de George W. Bush, e sim o agente do imperialismo mais avassalador que já existiu, o de uma burocracia internacional que dia após dia vai se autoconstituindo em governo do mundo sem a menor consulta às preferências da espécie humana. Todos os eleitores de Bush sabem disso, mas no Brasil a coisa ainda soa inverossímil como uma “teoria da conspiração”. Também não é segredo para aqueles eleitores, mas um tabu entre nós, o fato de que estão com Kerry e não com Bush, além da mídia chique, os interesses petrolíferos que lucraram com a ditadura de Saddam Hussein, as megacorporações que subsidiam movimentos de esquerda no Terceiro Mundo, os bancos internacionais que sustentam a falsa prosperidade chinesa e as organizações narcotraficantes ansiosas para tornar-se legalmente um comércio monopolístico global. Ainda mais impensável parece aqui a idéia de que entre esse gigantesco esquema de poder e o terrorismo islâmico possa haver alguma ligação. Por isso, quando se revela que a ONU emprega gente do Hamas, ou que funcionários desse organismo foram presos em Israel por envolvimento direto com grupos terroristas, o brasileiro reage com a típica autodefesa caipira: faz de conta que não viu nada.

__________________________
__________________________

👆OPINIÃO DO AUTOR

Fontes de água limpa
(por Ricardo Pagliaro Thomaz)
23 de Outubro de 2023







Não se pode conseguir água de qualidade de fontes de água suja. Aqui em Ribeirão Preto a gente tem o Rio Pardo passando. Muitas pessoas não entram lá devido ao alto grau de contaminação das águas do rio. Já houve até projeto que visava limpar o Rio Pardo, mas não foi pra frente. A comparação com a mídia suja não parece nada absurda, uma vez que a gente já viu centenas e centenas de vezes ela mentindo para nós e caluniando quem era honesto, muito por causa de interesses vindos de fora que envolvem agenda ideológica.

Pois bem, o que eu quero dizer a vocês é que da mesma forma que você não iria nas margens do Rio Pardo para se banhar correndo o risco de pegar uma infecção (muito embora tenha gente louca que arrisca andar de jetski por lá), você não deveria ir até essa mídia nojenta para se banhar no mar de desinformação e mentiras que eles propagam.

O que eu quero te dizer com isso é o seguinte: há muita discussão por aí em relação à recente guerra entre o estado de Israel e o grupo terrorista do Hamas. Muita gente desmiolada nesses veículos de informação estão vomitando em você informações desencontradas, mentiras, erros, julgamentos e sentimentalismos bobos e de uma hipocrisia monumental.

E se me permitem dizer, até mesmo nos círculos aqui da nossa direita tem também gente assumindo torcida por um lado da história sem nem sequer conhecer as origens e razões do conflito. Não sabem o que é de fato um estado sionista, não sabem as origens do terror que nos assola, não sabem o histórico de uma coisa e nem de outra, e ficam abraçando essa ou aquela posição por achismos e sentimentalismos. O duro é que quando são confrontados com o lado que defende o terrorismo, que é muito bem preparado e está milhas à frente da direita brasileira, já não sabem justificar uma coisa e nem outra, quando deveriam se calar e aprenderem algo primeiro antes de ter uma opinião, como o nosso bom e saudoso professor Olavo de Carvalho nos ensinou.

Posto tudo isso, o ÚNICO VEÍCULO que está tratando o assunto com a seriedade que ele merece, é o Terça Livre. Sim, é o trabalho incansável do jornalista Allan dos Santos - a quem manifesto PROFUNDO RESPEITO - que está trazendo à luz através da sua conta no Locals e de sua conta no serviço do Rumble a informação que você realmente PRECISA para entender a questão toda. NENHUM outro veículo está trazendo algo parecido. NENHUM, repito!

Através dos boletins de informação e formação do Allan, como os recentes "O que está por trás dos conflitos em Israel" parte I e parte II, e do atual "O REAL INIMIGO - 19/10/23", Allan está descortinando todas as conexões e influências que existem por trás desse conflito e permitindo que nós possamos compreender as ações, reações e desdobramentos da forma correta, com honestidade e seriedade, sem meias-verdades.

Quando a gente não é qualificado para falar de algo, o melhor que a gente pode fazer é calar a boca e deixar quem sabe mais que a gente falar sobre o assunto pra não ficar vomitando porcarias por aí. Daí se aprende e se pode formar os outros. É sabendo da origem sionista do estado de Israel que você vai tomar uma posição consciente a favor deles, da mesma forma que é sabendo que o Hamas cumprimentou o bandido de nove tentáculos pelo que as urnas diziam ano passado dele que você vai saber que não pode compactuar com terroristas e apoiadores do terror e dormir tranquilo a noite em seu travesseiro.

Dessa forma eu estou te convidando a acompanhar o trabalho do Allan com sua cobertura, feita com grande dificuldade visto o que ele tem passado nesses últimos anos.

Não vá se banhar em águas sujas ou turvas. Eu não sei como que tem pessoas que aguentam cair com seu jetski lá no Rio Pardo, até hoje isso não entrou na minha cabeça. Só sei que quanto mais limpa a fonte, melhor a qualidade da água. Eu prefiro água limpa, pura. O que o Allan tem pra te oferecer são fontes límpidas de informações, sem distorções e sujeiras. Vá se banhar por lá antes de sair falando sobre Israel por aí. Se algo de bom acontecer depois dessa guerra, não vai ser por causa da mídia suja, até porque ela também será jogada a escanteio pelos terroristas em momento oportuno a eles, mas sim por causa de homens corajosos e determinados como Allan dos Santos que recusaram o silêncio mesmo frente à ameaças de um careca tirano de capa preta e sua turma de bandidos.

__________________________
__________________________

👆 HUMOR

E nas True Outstrips de hoje:

- É... o bullying já não é mais como antigamente... nem pra um lado, nem pro outro... geração de m...;

- Depois o Alan (Harper) e o Charlie discutem filmes e o Charlie invoca a sabedoria do Olavão! Meu... a Berta com certeza diria algo assim: "a coisa tem que estar muito doida pra de repente o Charlie Harper começar a ter razão, mesmo que nas costas de outra pessoa!" Meeeeeeeeeeeeeen!;

- Aí nosso mestre explica a razão da casa dele ter um distinto apelido! Hehehe!;

- A seguir... FRAUDE! Pra surpresa de 0 pessoas!;

- E o jornalistE explica ao mestre uma mal-explicada Síndrome de Estocolmo;

- E rola outra bat-discussão... daquelas em que o Bátima fica sem resposta diante do preparo do mestre Olavo! Esse Bátima só pode ser dos anos 40! Fica perdido feito uma barata tonta! Hahaha!;

- De bônus, mais um BAT-papo! Mestre Olavo fecha explicando a um Bátima meio transtornado pela realidade o detalhe da "cueca por cima da calça". Ah, já sei, esse Bátima é do Frank Miller... ou não? Ah, vai saber... depois a gente deBAT! Hehehehe!;

- E por fim, como diria o Chaves... "EXTRA EXTRA, MAIS UM JUMENTO ENGANADO, EXTRA, EXTRA!" 😁

---

- Ah, e quem puder, colabore com as True Outstrips! É você que as mantém funcionando sem dinheiro de Rouanet, Secom, e cia limitada!
(23/10/2023)

E como sempre... 

Se nada acontecer comigo, a gente se vê de novo em 15 dias!
E não se esqueçam! CHEGOU NAS LIVRARIAS...
EU AVISEI!! ORAPORRA!!|



__________________________
__________________________


👆
 
LEITURA RECOMENDADA

A recomendação de hoje fica justamente pela HQ do nosso querido Giorgio Cappelli! Corra garantir a sua!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Edição XCI - Terça Livre, opinião do autor e mais

Edição XC - Extraordinária de fim de ano (Terça Livre, Revista Esmeril 51, Revista Exílio, espaço do autor e mais)

Edição LXXXV (Terça Livre, Revista Esmeril 47, opinião e mais)